Quando se trata de Jair Bolsonaro, nunca é difícil tomar a pior decisão possível —e a autoridade do presidente já evapora antes mesmo de as coisas ficarem realmente feias para o Brasil na epidemia que se alastra.
Caminhamos para ter um zé-ninguém descontrolado e inútil no comando do país, só atrapalhado as pessoas racionais justamente na hora mais difícil de nossa geração.
Mesmo que mude de rumo, o que é improvável, seu confronto aberto com a ciência, a mídia que informa e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, vai transformando Bolsonaro em um pária, alvo de panelaços cada vez mais ferozes e do desprezo de quem ainda procura atravessar a atual crise com alguma altivez e solidariedade.
Não foi só a avaliação negativa do desempenho de Bolsonaro na epidemia que subiu de 33% para 39% entre meados de março e agora. O desempenho positivo do Ministério da Saúde saltou de 55% para 76%, fortalecendo justamente a figura com quem o encrenqueiro do Planalto comprou briga na véspera.
Avaliação do desempenho de Jair Bolsonaro em relação ao coronavírus
Resposta estimulada e única, em %
5
2
10
20
30
39
18 a 20 de março
1 a 3 de abril
Ruim/péssimo
Ótimo/bom
Regular
Não sabe
18 a 20 de março
Avaliação do desempenho do Ministério da Saúde em relação ao coronavírus
Resposta estimulada e única, em %
2
1
20
40
60
76
18 a 20.mar.2020
1 a 3.abr.2020
Ótimo/bom
Regular
Ruim/péssimo
Não sabe
55
31
12
2
O presidente não poderia ter escolhido um alvo pior e o momento mais inadequado para fazer isso. De certa forma, é um alívio, pois encurtará o processo de deterioração de sua figura, que poderia custar mais se corresse em um tempo mais lento.
Como mostra o Datafolha, o antagonismo entre a figura de Bolsonaro e Mandetta tornou-se tamanho que até erros imperdoáveis da Saúde ficaram secundários na avaliação da população —como o fato de o ministério ter esperado que a transmissão do coronavírus se tornasse comunitária para anunciar a compra e a massificação de testes.
Com sua insistência mal elaborada em querer as pessoas de volta às ruas de qualquer jeito, o presidente também interditou um debate que poderia ser racional sobre a suspensão das medidas horizontais de isolamento indiscriminado em todo o país.
Na área médica, crescem as preocupações a respeito do isolamento geral sobre a nutrição e a saúde da população mais pobre. Entre economistas, sobre os impactos nas linhas de produção de alimentos e de outros itens básicos, assim como na inflação e no futuro do emprego.
Mesmo podendo ter um ponto aqui, a limitação intelectual e os modos do presidente não permitem que se avance em discussões que poderiam ser convenientes.
Não há vácuo no poder e Bolsonaro vai abrindo mão do seu. Com o colapso na saúde e a recessão que vêm ai, isso pode estar garantido.
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