sexta-feira, 17 de abril de 2020

Na guerra com Maia, Bolsonaro agora negocia cargos na Saúde com o centrão


Dilma Rousseff fez com Eduardo Cunha o que Bolsonaro agora tenta fazer com Rodrigo Maia: negocia nacos no poder em troca de apoio para enfraquecer o chefe da Câmara Mauro Pimentel/AFP - Diego Vara/Reuters

Em guerra com o Congresso, Jair Bolsonaro decidiu se unir aos caciques do centrão da Câmara para minar o comando de Rodrigo Maia no Legislativo.

Seu antigo partido, o PP, topou abrir caminho ao presidente para começar a boicotar a liderança de Maia, mas colocou preço: quer aproveitar a queda de Luiz Henrique Mandetta nesta quinta para retomar nacos perdidos no Ministério da Saúde.

Diante da clara proposta no estilo “toma lá dá cá”, Bolsonaro — veja quanta mudança! — prometeu pensar. Nesta quinta, ao apresentar o novo chefe da Saúde, Nelson Teich, o presidente da República avisou a todos que será ele quem escolherá os secretários da Saúde.

“Foram sugeridos nomes, sim, para começar a formar um ministério que siga a orientação do presidente de ver o problema como um todo, e não uma questão no particular”, disse Bolsonaro.

É o primeiro passo para fazer a alegria do centrão. Foi comandando secretarias do Ministério da Saúde que o PP de José Janene pavimentou os caminhos de Lula no mensalão. Ao topar entregar pedaços do ministério ao centrão para minar os poderes de Maia, Bolsonaro age como Dilma Rousseff, que tentou esvaziar Eduardo Cunha. Quem lembra os idos de 2016 sabe bem como a história acabou.

Bolsonaro adoraria que Maia atuasse como Cunha, aceitando o pedido de impeachment que repousa na Câmara contra ele. Uma guerra política no momento em que o país se prepara para ultrapassar as 2.000 mortes por coronavírus seria péssima para o país, mas muito útil para o interesse do presidente de desviar o foco do que realmente importa.

Em defesa de Bolsonaro, diga-se que ele mesmo, em entrevista recente, admitiu que o seu governo já acabou. De governante, Bolsonaro e seu ministério passaram a ser governados pela crise do coronavírus. A agenda de reformas se foi, é preciso gastar para socorrer a população, os estados e municípios, mas Bolsonaro continua pregando que o país, convalescente, levante e vá trabalhar. É por isso que o Congresso não vê necessidade de impeachment.

“É só deixar o tempo e o próprio presidente fazerem sua parte”, ironiza um aliado de Maia, sobre a ruína do Planalto.

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