terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Nunca se viu e jamais se verá um governo como esse


Damares avisa que quer sair

O primeiro ano da Era Bolsonaro começou com uma controversa declaração da ministra Damares Alves, dos Direitos Humanos, sobre gênero (“Menino veste azul, menina veste rosa”). E acabou com outra de natureza homofóbica disparada pelo próprio presidente contra um jornalista (“Você tem uma cara de homossexual terrível”).

Entre uma e outra, não teve para mais ninguém – só para Bolsonaro, que protagonizou os fatos mais relevantes do ano e produziu os disparates mais absurdos. Bolsonaro superou-se. Postou no Twitter um vídeo pornográfico (março) e tentou acabar com a multa para quem transportasse crianças sem o uso da cadeirinha (junho).

Conseguiu, em abril, desgostar dois governos estrangeiros ao mesmo tempo. Em visita a Israel, declarou que o Holocausto que dizimou 6 milhões de judeus durante a 2ª Guerra Mundial seria perdoável, e lá mesmo ouviu que não seria possível. Então diisse que o nazismo foi de esquerda – e o governo alemão respondeu que foi de direita.

Julho e agosto foram meses infernais para quem acreditou que Bolsonaro, aos poucos, seria forçado a entrar nos eixos. Ele ofendeu a mulher do presidente francês, culpou ONGs pelos incêndios que destruíram parte da floresta amazônica e sugeriu aos brasileiros que fizessem cocô dia sim, dia não, para preservar o meio ambiente.

Fevereiro foi o único mês onde Bolsonaro comportou-se com razoável moderação. Operado mais uma vez em São Paulo, ficou preso a uma cama de hospital durante mais de 15 dias. Aproveitou que convalescia para bater boca pelo celular com o ministro Gustavo Bebbiano, Secretário-Geral da presidência. De volta a Brasília, demitiu.

Segue uma modesta coleção das mais barulhentas trapalhadas do governo de um presidente acidental. Com os votos de feliz Ano Novo para os leitores deste blog.

Janeiro
Menino veste Azul. Menina, rosa

Fevereiro
MEC pede hino nacional em todas as escolas

Março
Após postar vídeo com pornografia, Bolsonaro pergunta o que é ‘golden shower’

Abril
Presidente Jair Bolsonaro censura campanha do Banco do Brasil focada na diversidade

Após dizer que é possível perdoar Holocausto, Bolsonaro tenta se retratar com israelenses

No Memorial do Holocausto, Bolsonaro diz que nazismo era de esquerda

Maio
Bolsonaro sobre estudantes que protestam: “são uns idiotas úteis, uns imbecis”

Junho
Bolsonaro quer fim da multa a quem transportar criança sem cadeirinha

Julho
Passar fome no Brasil é uma grande mentira’, diz Bolsonaro

“Daqueles governadores de ‘Paraíba’, o pior é o do Maranhão” diz Bolsonaro

Bolsonaro usa informações falsas para atacar Miriam Leitão e diz que ela não foi torturada: “drama mentiroso”

Bolsonaro defende trabalho infantil e diz que “não prejudica em nada"

Agosto
Após ofender mulher de Macron, Bolsonaro diz que não a ofendeu

Sem apresentar nenhuma prova, Bolsonaro tenta ligar ONGs a queimadas

Fazer cocô dia sim, dia não, vai melhorar o meio ambiente, propõe Bolsonaro

Bolsonaro: ‘Trabalhadores deveriam tentar empreender para ver como é barra pesada ser empresário’

“Sem limite de compras: Bolsonaro usa e abusa do cartão de crédito da Presidência”

Setembro
Bolsonaro erra hino e canta margens flácidas

Bolsonaro ataca pai de Bachelet, morto sob Pinochet, e defende golpe no Chile

Outubro
Bolsonaro pede para apoiador esquecer o PSL e diz que Bivar está ‘queimado’

Bolsonaro diz que vídeo com leão e hienas foi ‘erro’ e pede desculpas ao Supremo

Novembro
”Nunca teve ditadura no Brasil”, diz Bolsonaro sobre questões do Enem

Dezembro
“Você tem uma cara de homossexual terrível”

No Blog do Ricardo Noblat

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Governo multa Facebook em R$ 6,6 mi por compartilhamento indevido de dados



O Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil aplicou multa de 6,6 milhões de reais ao Facebook por compartilhamento indevido de dados de usuários, informou o órgão nesta segunda-feira, 30. A sanção vem na esteira do escândalo da Cambridge Analytica, que colocou em xeque o comprometimento da rede social com a segurança dos dados de seus usuários.

De acordo com o ministério, o caso começou a ser investigado após notícia veiculada pela imprensa em abril de 2018, informando que usuários do Facebook no país poderiam ter sido vítimas de uso indevido de dados pela consultoria de marketing político Cambridge Analytica.

Procurado, o Facebook não respondeu até a publicação da reportagem. Segundo o ministério, as empresas Facebook Inc. e Facebook Serviços Online do Brasil Ltda têm um prazo de até dez dias para entrar com recurso e de trinta dias para pagar a multa.

Após a apuração, o governo disse que foi identificada uma prática abusiva da empresa, investigada por violação dos dados pessoas dos usuários da plataforma levando em consideração a forma de consentimento do consumidor e concluiu que houve falha da empresa com os dados. 

Segundo o ministro da Justiça, Sergio Moro, a ação do órgão mira o futuro da proteção do consumidor, que está nas redes digitais.

O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), órgão do ministério, concluiu pela existência de prática abusiva por parte do Facebook Inc. e Facebook Serviços Online do Brasil Ltda. Segundo a decisão, “resta evidente que dados dos cerca de 443 mil usuários da plataforma estavam em disposição indevida pelos desenvolvedores do aplicativo thisisyourdigitallife para finalidades, no mínimo, questionáveis, e sem que as representadas conseguissem demonstrar eventual fato modificativo de que tal número foi efetivamente menor”.

Ainda de acordo com o DPDC, as empresas, em razão do compartilhamento automático de dados de amigos/amigos de amigos de usuários com os aplicativos, “deveriam ter um cuidado muito maior na gestão desses dados, uma vez que o modelo de consentimento adotado teve implicações relevantes para o número de pessoas com dados expostos (o qual é certamente muito maior do que se fosse adotado um modelo de opt-in para tal compartilhamento de tais dados). Neste particular, deve ser ponderado que tal lógica fez parte (pelo menos dentro do período em que se deram as condutas apuradas) do modelo de negócios da plataforma e, como tal, as Representadas também devem arcar com os riscos daí decorrentes quanto à proteção dos direitos de personalidade e da privacidade de seus usuários. Ainda quanto aos fatos em análise, as Representadas falharam em oferecer a proteção correspondente”.

O ministério avalia também que houve falha de informação por parte do Facebook aos seus usuários a respeito das consequências do padrão de configuração de privacidade, especialmente quanto aos dados dos amigos/amigos de amigos dos usuários e a relação com os dados compartilhados com desenvolvedores de aplicativos que tais amigos venham a utilizar.

domingo, 29 de dezembro de 2019

Doria aparece como melhor nome da centro-direita para enfrentar Bolsonaro



Uma pesquisa divulgada esta semana pelo Instituto Paraná Pesquisas deixou o entorno do governador João Doria animado. O instituto quis saber quem era o principal adversário do presidente Bolsonaro nas próximas eleições presidenciais.

O ex-presidente Lula aparece com 32%, seguido por Ciro Gomes que tem 15,6% e Doria que atinge 11,7%. A leitura é que o desempenho de Doria surpreendeu positivamente porque ele jamais disputou uma eleição presidencial.

Além disso, aliados de Doria lembram que Lula e Ciro representam o espectro da esquerda, o que torna Doria o principal candidato da centro direita. Doria tem três pontos a mais que Luciano Huck (8,3%) e aparece quatro vezes melhor do que o seu colega, o governador Wilson Witzel, que obteve 3% na mesma sondagem.

O Instituto ouviu 2.222 pessoas em 166 cidades entre 14 e 18 de dezembro.

No Radar da Veja.com

Datafolha: STF é reprovado tanto quanto Bolsonaro



A atuação do STF (Supremo Tribunal Federal) foi considerada ruim ou péssima por 39% da população, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada neste domingo, 29. Considerando-se a margem de erro, de dois pontos percentuais para mais ou para menos, o valor é equivalente à reprovação do governo do presidente Jair Bolsonaro (36%). O Congresso Nacional tem rejeição maior: 45%.

Foram ouvidas 2.948 pessoas em 176 municípios em 5 e 6 de dezembro e foi a 1ª vez que o Datafolha avaliou o STF na mesma escala que os outros Poderes (Executivo e Legislativo). Apenas 19% dos entrevistados avaliaram a atuação do Supremo como boa ou ótima; 38% qualificaram como regular e 4% não responderam.

Em 2019, o Plenário do Supremo, composto pelos 11 ministros, ganhou destaque no noticiário em diversas ocasiões, como no julgamento da constitucionalidade do julgamento em segunda instância – que levou à soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva –, e como a decisão de que crimes comuns investigados como crimes eleitorais devem ser processados na Justiça Eleitoral e não na Federal, o que foi considerado uma derrota para a Operação Lava Jato.

sábado, 28 de dezembro de 2019

Bolsonaro prova nas redes sociais do mesmo veneno que serve



Foi demais para o presidente Jair Bolsonaro a reação dos que o seguem nas redes sociais à criação da figura do juiz das garantias que, segundo o ministro Sérgio Moro, tornará mais difícil a punição de acusados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Desde que passou a aparecer ao vivo no Facebook uma vez por semana, sua fala de ontem foi, de longe, a mais defensiva, queixosa e patética.

– Se entrar em vigor [a lei que ele assinou], eu não sei se vai entrar, se te prejudicar não vota mais em mim. Afinal de contas, se eu fizer 99 coisas a favor de vocês e uma contra, vocês querem mudar. Paciência, é um direito de vocês, eu sempre agi assim. Logo estou preocupado com o voto do eleitor, em fazer bem para o próximo, em agradar, mas eu não posso ser escravo de todo mundo – desculpou-se.

O juiz das garantias ficará responsável por decisões tomadas ao longo do processo, tais como a requisição de documentos, a quebra de sigilos, a autorização de produção de prova, a prorrogação da investigação e a aprovação de delação premiada. Um segundo juiz se encarregará da sentença que poderá condenar ou absolver o réu. A lei entrará em vigor dentro de 30 dias, mas levará bem mais tempo até que comece a ser cumprida.

Bolsonaro gastou boa parte do seu dia em monitorar as redes sociais. Recebeu de assessores números atualizados a cada momento sobre comentários elogiosos e críticos à lei. E surpreendeu-se com o balanço claramente desfavorável ao item mais controverso que não fazia parte do pacote anticrime que Moro propôs ao Congresso. Foi inserido no pacote quando ele ainda tramitava na Câmara dos Deputados.

O Senado o avalizou porque recebera de Bolsonaro a promessa de que vetaria a criação do juiz das garantias. Ali, cerca de 40 senadores, de um total de 81, estava disposto a votar contra, o que faria com que o pacote voltasse para a Câmara. Isso não interessava ao governo. Moro acreditou na palavra de Bolsonaro e orientou seus aliados no Senado a votarem a favor. Bolsonaro preferiu ficar de bem com a Câmara a manter a palavra empenhada.

No Facebook, acusou o golpe. “Eu não quero polemizar mais, eu não tenho que explicar essa situação. O que me surpreende é um batalhão de internautas constitucionalistas, juristas para debater o assunto”, desabafou. “Muitas vezes, é: ‘me traiu, não voto mais’. Falam e ligam a alguma coisa familiar. Me desculpem (sic) aqui: sai fora da minha página. Se não sair, eu vou lá e bloqueio. Eu aceito críticas fundamentadas, mas muita gente fala abobrinha.”

Não ousou criticar Moro, que embora tenha assinado a lei junto com ele, fez questão de manifestar publicamente sua divergência quanto ao juiz das garantias. Mas passou recibo do fato de Moro ser 20 pontos percentuais mais popular do que ele quando afirmou:

– O Moro tem um potencial enorme, é adorado no Brasil. Pessoal fala que ele vai vir candidato a presidente. Se o Moro vier que seja feliz, não tem problema, vai estar em boas mãos o Brasil, e eu não sei se vou vir candidato em 2022. Se estiver bem pode ser que eu venha, se não estiver, estou fora. Já cansei de dizer, tem milhares de pessoas melhores do que eu para disputar uma eleição.

Bolsonaro atravessou a rua e foi pisar na casca de banana jogada pelo Congresso. Não foi a primeira vez que procedeu assim. Depois de cair no banheiro do Palácio da Alvorada, teme despencar no Twitter, Instagram e Facebook. No momento, prova do mesmo veneno corrosivo que sempre serviu aos seus adversários.

Por Ricardo Noblat

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Grupo integralista diz ter atacado sede do Porta dos Fundos



Um suposto grupo integralista reivindicou nesta quarta-feira, 25, a autoria do atentado contra a sede do grupo de humoristas Porta dos Fundos, na Zona Sul do Rio de Janeiro, na madrugada da terça-feira 24. O ataque na véspera do Natal foi feito com coquetéis molotov, arremessados contra o prédio da produtora, no bairro do Humaitá. A Polícia Civil do Rio investiga o caso.

Em um vídeo que circula no WhatsApp e no Youtube (veja abaixo), integrantes do “Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Integralista Brasileira” assumem o atentado, represália contra o especial de Natal do Porta dos Fundos, A Primeira Tentação de Cristo, disponível na Netflix. O filme mostra Jesus Cristo como homossexual, além de um triângulo amoroso entre Deus, Maria e José.

No vídeo divulgado pelos supostos criminosos, que traz imagens do ataque, aparecem três homens encapuzados e vestidos com as camisas verdes integralistas, à frente de uma bandeira com o símbolo do movimento. Um deles, sentado, lê com uma voz distorcida a declaração em que reivindica a autoria do atentado, chamado pelo grupo de “ação direta revolucionária” e “justiçamento”.

“Nós do Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Integralista Brasileira reivindicamos a ação direta revolucionária que buscou justiçar os anseios de todo povo brasileiro contra a atitude blasfema, burguesa e antipatriótica que o grupo de militantes marxistas culturais Porta dos fundos tomou quando produziu seu especial de natal a mando da mega corporação bilionária Netflix, deixando claro para todo o povo brasileiro, mais uma vez, como o grande capital anda de mãos dadas com os ditos socialistas”, diz o homem.

Na mensagem, ele afirma ainda que o grupo humorístico busca “destruir o nosso povo, nossas crenças, nosso patrimônio imaterial, com o intuito de nos enfraquecer”. “O Porta dos Fundos resolveu fazer um ataque direto contra a fé do povo brasileiro se escondendo atrás do véu da liberdade de expressão. Esses malditos servos do grande capital blasfemaram contra o Espírito Santo quando chamaram nosso senhor Jesus Cristo de bastardo e Maria de prostituta de adúltera”, diz.

O “Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Integralista Brasileira” admitiu ter sido o responsável pelo furto de bandeiras antifascistas no campus da UniRio em Botafogo, em dezembro de 2018. Os integrantes reivindicaram a autoria do episódio em um vídeo, que mostra as faixas sendo queimadas.

Assista ao vídeo:


Em nota publicada na sua página de Facebook, o Porta dos Fundos disse que “condena qualquer ato de violência e, por isso, já disponibilizou as imagens das câmeras de segurança para as autoridades e espera que os responsáveis pelos ataques sejam encontrados e punidos”.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Polícia Civil do Rio de Janeiro e questionou se o vídeo faz parte da investigação, mas ainda não obteve resposta até o momento.
O especial da discórdia

A trupe humorística tem sido alvo constante de ataques na internet por polêmicas com seu programa especial de Natal. O vídeo tem 46 minutos e estreou na Netflix no início de dezembro. O enredo se passa no aniversário de 30 anos de Jesus e satiriza seu retorno após 40 dias de jejum no deserto.

No vídeo, Jesus, interpretado por Gregório Duvivier, leva para casa um amigo diferente, interpretado por Fábio Porchat, com quem vive um romance gay, espantando José, Maria, os reis magos e até de Deus. A sátira já traz na sinopse que é “um especial de Natal tão errado que só podia ser do Porta dos Fundos”.

Na Veja.com

2019: um ano repleto de turbulências e perplexidades


TERRA EM TRANSE - O presidente protesta contra reportagem de TV sobre o caso Marielle que o envolvia:
ameaças Reprodução/Facebook

Foi o ano de todos os desvarios. Ou seria melhor dizer “o ano de todas as perplexidades”? Foi o ano das explosões nas ruas, da Bolívia a Hong Kong, do Equador ao Iraque, do Irã ao Chile. Também se poderia dizer que foi o ano das “monumentais demonstrações de impaciência”, conforme o jornalista inglês Jeremy Harding classificou o movimento dos coletes-amarelos da França. Os desvarios marcaram o ano por efeito do comportamento de líderes como Donald Trump, nos Estados Unidos, Boris Johnson, no Reino Unido, e Jair Bolsonaro, no Brasil, entre outros. Criadores de uma estratégia do estardalhaço, exploraram-na como um meio de atrair atenções, ganhar novas adesões e garantir as antigas. As perplexidades vão por conta dos protestos de massa que nascem por um nada e evoluem para um tudo.

Foi o ano de alarmes trágicos e de derrocadas cômicas. O Dicionário Oxford, que desde 2004 elege a palavra do ano, anunciou que climate emergency, emergência climática, era a vencedora de 2019. “Neste ano, o crescente interesse do público pela ciência do clima, e a miríade de suas implicações para comunidades ao redor do mundo, gerou enorme discussão sobre o que o secretário-geral da ONU chamou de ‘a definidora questão de nossa época’ ”, justificaram os responsáveis pela escolha. Também pesou o fator quantitativo. Ao fim de pesquisas em um amplo espectro de sites de língua inglesa, o Dicionário Oxford descobriu que climate emergency apareceu neste ano, até setembro, 100 vezes mais do que em igual período do ano passado. Mundo afora, desvarios do fogo (nos incêndios da Califórnia) e da água (na enchente de Veneza) vieram a concorrer com os desvarios humanos. No Brasil foram quatro, em 2019, as tragédias do meio ambiente: Brumadinho, devastação da Amazônia, óleo nas praias e governo Bolsonaro.

Derrocada cômica foi a do Brexit, que até a vitória conservadora, em dezembro, quando as coisas se desanuviaram, continuou fazendo que ia e não foi. O escritor inglês de origem búlgara Julian Popov chegou a projetar para o futuro distante, e divulgou pelo Twitter, a seguinte notícia: “O ano é o de 2192. O primeiro-ministro britânico visita Bruxelas para pedir uma extensão do prazo do Brexit. Ninguém se lembra de quando começou essa tradição, mas todo ano ela atrai muitos turistas do mundo inteiro”. Do vai não vai também emergiu uma nova palavra na língua inglesa: “brexiting”, assim descrita pelo Urban Dictionary: “Despedir-se das pessoas numa festa e continuar por lá”. O mesmo dicionário dá um exemplo: “O que há com Boris? Pensei que ele tivesse ido embora”, comenta um dos convivas. Outro responde: “Aparentemente, ele está brexiting”. Um ano, como se está vendo, pode se caracterizar pelas palavras que invoca. Já citamos algumas: desvario, perplexidade, emergência climática, brexiting. O governo Bolsonaro produziu as suas próprias. Qual o leitor prefere: “marxismo cultural”, “ideologia de gênero” ou “excludente de ilicitude”?

TEMPERATURA – Manifestação dos coletes-amarelos, no centro de Paris: movimento de quem
não aguenta mais e explode Alain Jocard/AFP

O sociólogo espanhol Manuel Castells, pioneiro no estudo das sociedades em rede, contribui com mais uma forte expressão: “explosão social”. Castells empregou-a numa palestra em Valparaíso, no Chile, enquanto ocorriam nesse país as caudalosas manifestações que tantas interrogações suscitaram. “O que se passa no Chile reflete o que se passa no mundo”, começou ele. A origem seria o “total descrédito” da política tradicional, do qual se seguiriam três consequências. A primeira é a transformação “fragmentária e caótica” dos sistemas políticos. A segunda, o surgimento de movimentos sociais, entidades que não se confundem com movimentos políticos. Os movimentos sociais buscam “a emergência, a difusão e o debate de novas formas culturais”. A terceira consequência são as explosões sociais. Elas surgem não para mudar esta ou aquela instituição. São produzidas, “simplesmente, por gente que não aguenta mais e explode”. Castells concluiu: “Não pensem que isso vai passar. Não é como um sonho que desaparece. Há causas muito profundas. As soluções, quem tem de encontrar são vocês, sociedade chilena, mas ninguém pense que com quatro medidas de algum tipo isso se vai”.

Tal qual a explosão chilena, que nasceu do protesto contra o aumento da passagem do metrô e virou protesto contra tudo, o movimento dos coletes-amarelos, na França, nasceu contra o aumento da gasolina e evoluiu para uma pauta em que o céu é o limite. Ainda tal qual o chileno, o movimento francês filia-se ao gênero que causa perplexidade — o chileno por ocorrer no país mais bem-ar­rumado da América Latina, o primeiro da mesma turma em que o Brasil está matriculado, e o francês por ocorrer num dos países mais ricos do mundo. Para seguir a formulação de Castells, o movimento francês é, tipicamente, dos que surgem de gente que não aguenta mais e explode. O professor Alexandre Mendes, da Faculdade de Direito da Uerj, acompanhou em Paris uma das primeiras manifestações dos coletes-amarelos, ainda em fins do ano passado, e descreveu a experiência em artigo no site UniNomade. Nele, cita o depoimento de “um senhor de aproximadamente 60 anos”, aposentado, morador dos subúrbios da capital francesa:

“Estou cansado de ver a minha aposentadoria ficar cada vez menor, estou cansado de ter que devolver metade do que ganho para o Estado, a minha mulher foi procurar um apartamento de 100m2 em Paris e não pôde nem continuar em função do preço (…) Fui educado na escola tendo que baixar a cabeça, depois no trabalho com as ameaças do gerente, agora é o governo que impõe todas as medidas como se tivéssemos que aceitar tudo em silêncio. Não concordo com aquilo ali (apontando para uma fogueira no meio da rua), mas o importante é que estamos equilibrando o medo. Chega de sentir medo sozinho, agora eles também vão ter que sentir medo”.

“Equilibrar o medo” é um achado. Teria chegado a hora de os governos sentirem a mesma dose de medo que impõem à sociedade. A expressão é de um anônimo e, não fosse o professor, tenderia a permanecer guardada na mente de seu autor. Passou longe, muito longe, de se tornar viral, como se diz em “internetês”. Mas, com toda a sua modéstia e limitado alcance, contém mais uma chave de decifração deste nosso enigmático mundo das explosões sociais. Entre outros muitos episódios, serve-nos, a nós brasileiros, para tornar mais clara a invocação do Ato Institucional Nº 5 por dois condestáveis do regime, o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes.

ESCURIDÃO – O ministro Paulo Guedes, que se referiu a um eventual retorno do Ato Institucional Nº 5:
 fantasma do passado Pedro Ladeira/Folhapress

Os dois desenvolveram a mesma hipótese: no caso de as cidades brasileiras serem tomadas de protestos, como ocorre em países vizinhos, a consequência poderia ser a decretação de medidas semelhantes às adotadas por aquele ato da ditadura. Ora, quando Guedes repetiu o que Eduardo já havia dito, as únicas multidões que tomavam as ruas eram de torcedores do Flamengo. O que ambas as declarações traem é um medo antecipado, em torno de algo que ainda não existe, contra o qual antecipam à sociedade o medo de medidas que fechem o Congresso, manietem o Supremo Tribunal, cassem mandatos, prendam, censurem e abram o famoso excludente de ilicitude para torturar e matar inimigos políticos. É medo contra medo.

A “gente que não aguenta mais” tem provocado na Europa dois fenômenos: um, a procura de uma democracia que não a representativa; o outro, o fortalecimento dos partidos de extrema direita. Do primeiro tipo é o Cinco Estrelas da Itália, fundado pelo comediante Beppe Grillo e de trajetória tão avassaladora que, no seu nono ano de existência, em março de 2018, se tornou o mais votado do país, o que o credenciou a participar, como força dominante, do governo então formado. O Movimento Cinco Estrelas pretendia-se plural, nem fechado nas bandeiras da esquerda, nem fechado nas da direita, e, principalmente, pregava a democracia direta, exercida por meio da internet.

Não foi o primeiro movimento a sonhar com a democracia direta, algo mais ou menos espalhado pelo mundo desde a consolidação da internet como meio instantâneo de comunicação de todos com todos, mas foi o que chegou mais longe. A internet, muito mais que as convenções e os comícios, foi o instrumento que lhe possibilitou a rápida ascensão. Seguiram-se deliberações internas on-line, escolha de candidatos e comunicação de eleitores com eleito por meio de uma rede própria, significativamente chamada Rousseau. A rede não permite, porém, a comunicação de um usuário com outro, e com o tempo seu uso declinou. Também declinou a suposta convivência de diferentes bandeiras e opiniões quando o movimento se tornou uma força que exigia coesão para não cair numa estéril cacofonia, e assim, além de o M5S (Movimento Cinco Stelle) ficar cada vez mais parecido com um partido comum, o sonho da democracia direta continuou apenas sonho.

PORTO INSEGURO – Imigrantes chegam à Itália: ódio local Elio Desiderio/ANSA/AP

O parceiro do Cinco Estrelas, no governo que durou de junho de 2018 a agosto de 2019, foi a Liga, a antiga Liga Norte, o exemplo mais exitoso da extrema direita, a outra opção dos que “não aguentam mais”, na Europa Ocidental. Seu líder é Matteo Salvini, que, apesar de ter precipitado, com sua sede de protagonismo, a saída do partido do poder, permanece como o político mais popular da Itália. A Liga Norte surgiu como movimento separatista, a favor de uma república constituída apenas das ricas regiões do norte do país. Nesse tempo, Salvini não se furtava a cantar hinos em que os napolitanos eram descritos como sujos. Às eleições de 2018 o partido apresentou-se apenas como Liga, e trocou o ódio aos sulistas pelo ódio aos imigrantes, mais afinado com os instintos do eleitorado. Salvini, enquanto estava no poder, fez-se o machão que pessoalmente ia aos portos para impedir o atracamento dos navios de imigrantes. Também se apresentava com um rosário na mão, em desafio à laicidade do Estado, realizava discursos nas praças preferidas de Mussolini para arengar às multidões e uma vez pregou a formação de um novo “eixo Roma-Berlim”, revivendo a denominação dos tempos de aliança entre a Itália de Mussolini e a Alemanha de Hitler.

Salvini, cultuado pela família Bolsonaro, é espécime de um gênero de líder atualmente em voga — o do político bufão. A bufonaria, descobriu-se, especialmente nos meios de extrema direita, é a forma mais rápida e eficiente de galgar à condição de “carismático”, se é que se pode usar essa nobre palavra para qualificar os tipos vulgares e em geral ignorantes que hoje dominam o universo político. Os bufões não são apenas de direita porque Hugo Chávez, pela esquerda, também o era, e Maduro tenta sê-lo. À categoria também pertencem, estes na rica galeria da direita, Donald Trump, Boris Johnson e Jair Bolsonaro. Não são bufões só de fazer rir. São bufões pelo jeito espalhafatoso de impor sua presença, pelo vocabulário rasteiro e agressivo, pela sem-cerimônia com que lançam ao ar mentiras e falsos argumentos, pela jactância, pela falta de seriedade.

Numa entrevista à imprensa em outubro, na Casa Branca, tendo ao lado o presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, Trump respondeu a questionamentos sobre suas relações com a Ucrânia e o processo de impeachment de que é objeto com grosserias contra a imprensa, feita de “gente corrupta” e propagadora de “fake news”, e, no auge das bufonadas, qualificou a si próprio como “o mais produtivo presidente da história”. Boris Johnson tem sua marca num despenteado tão elaborado quanto o ameaçador tsunami que Trump ostenta na cabeça para esconder a calva, e em confissões entre escandalosas e hilariantes como a de que não sabe quantos filhos tem.

NOSTALGIA – Hitler ovacionado em 1938: o crescimento da extrema direita na Alemanha hoje
 em dia já chama atenção Keystone/Getty Images

Bolsonaro destaca-se, tanto quanto Trump, ou mais, pela audácia na manipulação do insulto e do ultraje, evidenciada, ao longo do ano, em episódios como o do vídeo de dois homens em cena de alta pornografia, postado em suas redes no Carnaval, ou como o live contra a Rede Globo, por causa de notícias que o situavam perigosamente perto dos matadores da vereadora Marielle Franco. “Por que, Rede Globo, essa patifaria por parte de vocês?”, disse. Aos gritos, os braços jogados para cima e para baixo, os cabelos em desalinho, ameaçou cassar a concessão dos canais do grupo: “Vocês, Rede Globo, o tempo todo infernizam a minha vida, porra!”. Já até nos acostumamos com aquilo a que nunca deveríamos nos acostumar, o fato inaudito, assombroso, teratológico, de ter uma família no governo. Os Bolsonaro juniores pintaram e bordaram ao longo do ano — na metralhadora giratória dos tuítes, na fritura de ministros, nos indícios de envolvimento com figuras do submundo carioca. Um deles quase foi feito embaixador em Washington; outro termina o ano enredado em cabeludas denúncias de corrupção.

No capítulo das infâmias, jamais esquecer o dia em o presidente comentou um post com fotos de Brigitte Macron e de Michelle Bolsonaro acompanhado da legenda: “Entende agora pq Macron persegue Bolsonaro?”. “Não humilha cara. Kkkkkkk”, anotou Jair Messias. Ou, com mais razão, o dia em que, irritado com o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, soltou aos ventos: “Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto”. Bolsonaro, que tanto cita o versículo “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, nunca teve pejo em espalhar falsidades como a de que o estudante Fernando Santa Cruz teria morrido bêbado, num incidente no Carnaval, ou justiçado pelos próprios companheiros, e não torturado e assassinado pela ditadura.

O colunista David Brooks, do The New York Times, um conservador da estirpe clássica, escreveu, em meados do ano: “Trump é um revolucionário cultural, não um revolucionário em políticas públicas. Ele opera, e está sutilmente transformando a América, em um nível muito mais profundo. Opera no nível do domínio e da submissão, no nível em que o medo assoma nas pessoas e emerge o desprezo. (…) Todos nós estamos sendo sutilmente corrompidos enquanto essa pessoa é nosso líder. E ao longo desta campanha ele fará de si mesmo e de seus valores o centro da conversação. Todo dia encenará um pequeno drama cuja finalidade é redefinir quem somos, quais valores devemos acalentar e quem devemos odiar”. O que foi talhado para Trump veste bem em Bolsonaro.

Entre desvarios e perplexidades atravessamos um ano acelerado, irracional, violento, transcorrido menos ao vivo do que na brutalidade das redes sociais. No que vai dar tudo isso? Fechamentos de regime ameaçam um pouco por toda parte. Em Dresden, na Alemanha, a Câmara Municipal declarou estado de “emergência nazista”. A medida, equivalente à “emergência climática”, e sem efeito prático, chama atenção para o crescimento da extrema direita na cidade e na região. “Significa que temos um problema sério”, disse o vereador Max Aschenbach, autor da proposta. “A sociedade democrática e aberta está em perigo.” Nos lugares em que as multidões em revolta enfrentam as forças de repressão, corre sangue. No que vai dar tudo isso? Em qualquer época se pode indagar sobre o futuro: no que vai dar? Os atropelos deste ano tornam a indagação mais dramática, mais carregada de maus presságios.

Publicado em VEJA, edição nº 2667

País estaria ‘em boas mãos’ com Sergio Moro, diz Bolsonaro sobre 2022


O ministro da Justiça, Sergio Moro, e o presidente Jair Bolsonaro em solenidade do lançamento do Projeto em Frente Brasil

Depois de sancionar a criação da figura do juiz de garantias no pacote anticrime, contrariando o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro declarou na noite desta quinta-feira, 26, que o ex-juiz federal tem feito um “trabalho excepcional” na pasta e que, se ele for candidato a presidente em 2022, “não tem problema”. Embora tenha admitido diversas vezes que pretende disputar a reeleição, o presidente citou em uma transmissão ao vivo em seu perfil no Facebook a possibilidade de não ser candidato.

“Eu ouço o Moro, já discordei do Moro no passado, ele sabe disso, quando discutimos a questão do armamento, já discordei dele como já discordei de outros ministros também. Acho que a taxa de concordância é em torno de 95%, tá indo muito bem. Moro tem um potencial enorme, ele é adorado no Brasil, pessoal fala dele vir candidato a presidente. Se o Moro vier, que seja feliz, não tem problema, vai estar em boas mãos o Brasil. Eu não sei se vou vir candidato em 2022 ou não, se estiver bem pode ser que eu venha, se não estiver, estou fora”, disse o presidente.

Pesquisa VEJA/FSB divulgada no início de dezembro mostra Moro com 32% das intenções de voto no primeiro turno quando ele é considerado como o candidato do governo ao Palácio do Planalto. Bolsonaro aparece com o mesmo número, mas o desempenho do ministro é superior ao do presidente em um hipotético segundo turno contra o ex-presidente Lula, opositor mais bem colocado no levantamento. Em entrevista a VEJA na semana passada, Bolsonaro declarou que uma chapa composta por ele e Moro seria “imbatível”.

Ainda sobre 2022, Jair Bolsonaro declarou que há “milhares de pessoas melhores” que ele para disputar uma eleição e criticou o que chamou de “joguinho de fogo amigo para entregar [o governo] para a ‘esquerdalha’, como a Argentina fez”.

Alvo de críticas de parte de seu eleitorado, mais especificamente os lavajatistas, por ter sancionado a criação do juiz de garantia apesar da posição contrária de Sergio Moro, Bolsonaro não deu certeza sobre a entrada em vigor da medida e disse que não houve nenhum acordo com o Congresso para vetar este ponto do pacote anticrime aprovado pelos parlamentares.

“Eu não fiz nenhum trato com ninguém sobre vetar o juiz de garantias. É um absurdo eu falar ‘vocês aprovam aí que eu veto aqui’. Isso é um contrassenso. Só uma pessoa que não tem caráter pra falar uma coisa dessa. E tem alguns parlamentares falando uma barbaridade dessas, querendo se eximir do que a Câmara aprovou. Se foi bom ou não o juiz de garantia, não interessa, interessa é que aquele parlamentar trabalhou contra ou a favor”, afirmou o presidente.

Proposta por uma emenda do deputado oposicionista Marcelo Freixo (PSOL-RJ), a figura jurídica do juiz de garantias vai acompanhar de perto as investigações de um processo, incluindo a decretação de prisões preventivas, por exemplo, mas não terá autoridade para julgar o caso em questão. No vídeo, Bolsonaro negou que a sanção da medida vai criar despesas e disse que ela fará parte do orçamento do Judiciário.

“O juiz de garantia, se entrar em vigor, eu não sei se vai entrar em vigor, se te prejudicar, é simples: não vota mais em mim. Afinal de contas, se eu fizer 99 coisas favoráveis a vocês e uma contra, vocês querem mudar, daí muda, paciência, o direito é de vocês e sempre agi assim. Lógico que estou preocupado com o voto do eleitor, preocupado em fazer o bem para o próximo, agradar, mas não posso ser escravo de todo mundo, muita gente defende o juiz de garantia” completou.

Bolsonaro sanciona lei que acaba com prisão disciplinar de PMs e bombeiros



O presidente Jair Bolsonaro sancionou o Projeto de Lei que extingue a prisão administrativa de policiais militares e bombeiros como punição para transgressões disciplinares. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira, 26, cerca de duas semanas após o texto ser aprovado no Senado e seguir para sanção presidencial.

A medida determina que essas corporações sejam regidas por um Código de Ética e Disciplina, aprovado por lei estadual específica. Além disso, esse código de ética deve regulamentar o devido processo administrativo-disciplinar e definir as sanções disciplinares.

De acordo com a decisão, os estados e do Distrito Federal têm o prazo de 12 meses para implementar a mudança em suas legislações estaduais referentes ao Código de Ética e Disciplina.

O senador Acir Gurgacz (PDT-RO), relator do projeto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, afirmou que a pena de privação de liberdade foi concebida para punir crimes graves e não para questões disciplinares. “É fundamental que a própria corporação militar respeite todos os direitos e garantias fundamentais de seus membros”, apontou Gurgacz no relatório.

O PL foi apresentado originalmente na Câmara, em 2014, pelo deputado Subtenente Gonzaga (PDT-MG) e pelo então deputado, hoje senador, Jorginho Mello (PL-SC). Na justificativa do projeto, os parlamentares afirmam que a Constituição de 1988 não contemplou policiais e bombeiros militares na garantia de direitos.

Na Veja.com

Você voaria em um Boeing 737 MAX?


Boeing 737 MAX é exibido em feira de aviação em 2018:
aeronaves estão fora de operação Ben Stansall/AFP

A pergunta acima foi feita a milhares de viajantes das principais companhias aéreas do mundo a pedido da Boeing, a fabricante dos aviões. O resultado da enquete foi duro: apenas cinco em cada dez entrevistados embarcaria com tranquilidade no modelo, versão modernizada do avião mais popular e lucrativo da empresa, o 737. 

Realizada no dia 9 de dezembro e divulgada na véspera do Natal pelo jornal The New York Times, a pesquisa reflete a mais severa crise de imagem vivida pela Boeing. “A preocupação com os problemas do modelo 737 MAX, de modo geral, é alta em todos os países”, concluiu a empresa a partir dos dados. No epicentro da tempestade estão as quedas de dois aparelhos novos (na Indonésia e na Etiópia), resultando em 346 mortes — e a maneira como a Boeing reagiu aos acidentes.

A conduta dos executivos da empresa depois do primeiro acidente, em novembro de 2018, foi um misto de negação com doses de má-fé. Na época, chegou-se a insinuar que a perda de controle da aeronave, operada pela empresa indonésia Lion Air, foi causada por erro da tripulação. Tal posicionamento não mudou quando o segundo acidente aconteceu em março, com um avião da Ethiopian Airlines, em circunstâncias muito semelhantes.

O sinal vermelho só acendeu quando as investigações internacionais apontaram que havia falhas no software de controle de voo e que tais defeitos tiveram peso decisivo nas tragédias. Com a notícia, a China determinou a paralisação dos voos dos mais de 100 modelos MAX em operação no país. Centenas de companhias aéreas do mundo inteiro (entre elas a brasileira Gol), corroboraram a decisão e estacionaram seus MAX.

Pressionada pelos órgãos de fiscalização da aviação comercial, a Boeing levou longos meses para reconhecer a falha e tomar medidas mais severas para conter a crise. Apenas no dia 17 de dezembro paralisou a produção na fábrica onde os 450 aviões já entregues foram montadores e outros 400 aguardam para serem entregues. E foi só na segunda-feira (23) que demitiu seu presidente global, Dennis Muilenburg, responsável pela resposta errática aos problemas. 

A conduta dos executivos da Boeing frente aos acidentes foi um típico caso de arrogância e cegueira corporativa. Em um roteiro que mistura pressão política e econômica sobre o órgão regulatório de aviação dos Estados Unidos (a empresa é a maior exportadora do país), sonegação de informações a empresas clientes, insensibilidade com familiares das vítimas e prepotência frente às proprietárias das aeronaves acidentadas, a Boeing cometeu todos os erros possíveis. 

Mesmo quando surgiram evidências de falhas no sistema digital de controle de voo, a empresa continuou a alegar que era um problema menor e não havia necessidade de paralisar as operações das aeronaves já entregues — a brasileira Gol, por exemplo, tem sete aviões e outros 17 a receber. Segundo o comunicado da Boeing em que foi anunciada a demissão de Muilenburg, a mudança na cúpula da empresa foi destinada a “restaurar a confiança na companhia assim como à reparação de seu relacionamento com os órgãos reguladores, clientes, funcionários, fornecedores e acionistas”. Pelos resultados da pesquisa divulgadas na véspera do Natal, a empresa tem uma trabalheira enorme pela frente.

Na Veja.com

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Em pleno Natal, Bolsonaro presenteia Moro com mais uma desfeita


Carolina Antunes/PR

Sergio Moro vive um paradoxo: com 53% de aprovação no Datafolha, é o ministro mais popular do governo. Mas Jair Bolsonaro, 23 pontos percentuais menos popular do que Moro, não perde a oportunidade de demonstrar que não passava de conversa fiada aquela história de que concedera uma carta branca ao titular da pasta da Justiça. Em pleno Natal, o presidente presenteou o ministro com mais uma desfeita.

Ao sancionar a nova Lei Anticrime, Bolsonaro ignorou uma das principais sugestões de veto feitas por Moro. Contrariando o pedido do ministro, manteve no texto a figura do "juiz de garantias". Trata-se de um magistrado que cuidará da instrução do processo, supervisionando as investigações e decidindo sobre medidas como quebra dos sigilos fiscal e bancário, escutas telefônicas, batidas de busca e apreensão e prisões provisórias.

Hoje, o mesmo juiz que supervisiona o inquérito emite a sentença. Com a nova lei, caberá a um outro juiz decidir se o réu é culpado ou inocente. Num exemplo prático, se essa lei existisse quando Sergio Moro dava as cartas na 13ª Vara de Curitiba, um outro magistrado teria decidido sobre o caso do tríplex, que levou Lula à cadeia.

A ideia do juiz de garantias não é nova. Mas ganhou força depois do vazamento das conversas trocadas no escurinho do Telegram entre Moro e o procurador Deltan Dallagnol. Ironicamente, injetou-se no pacote anticrime elaborado por Moro um artigo "anti-Moro". No afã de constranger o ministro, os parlamentares deram de ombros para a realidade.

Em 40% das comarcas do Brasil, há apenas um juiz. Ou seja: para que a nova lei seja implantada será necessário contratar novos magistrados ou deslocar juízes de outras praças. Nas duas hipóteses, além de complicações operacionais, haverá novas despesas. Faltou informar de onde virá o dinheiro.

Ao contrariar Sergio Moro, Bolsonaro potencializou a impressão de que a investigação que encrenca o seu primogênito Flávio levou-o a se reposicionar no palco. Já não enxerga certas posições de Moro como posições certas. No caso do juiz de garantias, Bolsonaro preferiu ficar do lado das duas bancadas que se empenharam para aprovar a novidade no Legislativo: a bancada dos encrencados e a dos cúmplices.

Por Josias de Souza

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Amigo secreto!


Capitão perdoa 83,4% de penas impostas a policiais


Adriano Machado/Reuters

O indulto concedido por Jair Bolsonaro a policiais condenados criminalmente foi de uma generosidade sem precedentes. O capitão perdoou 83,4% das penas de agentes de segurança pública enviados à cadeia após condenação por crimes culposos (sem intenção). O decreto presidencial prevê a abertura das celas dos criminosos que já cumpriram um sexto da pena (16,6%).

Além de policiais federais, rodoviários, civis e militares, serão alcançados pela clemência de Bolsonaro os agentes penitenciários, bombeiros, guardas municipais, agentes de trânsito e guardas portuários. O decreto perdoa também militares das Forças Armadas condenados por crimes não intencionais cometidos em operações de Garantia da Lei e da Ordem, as chamadas GLOs.

Bolsonaro foi mais condescendente com os presos da sua base eleitoral do que Michel Temer com os condenados por corrupção. Em decreto assinado às vésperas do Natal de 2017, Temer incluiu os ladrões de dinheiro público entre os beneficiários do indulto. Condicionou o perdão ao cumprimento de um quinto da pena (20%). Ou seja, apagou 80% das penas.

De acordo com o Código de Processo Penal, um preso só pode obter a liberdade condicional após cumprir pelo menos um terço da pena (33%). Quer dizer: Bolsonaro e Temer foram mais complacentes com seus condenados de estimação do que a mais benevolente das hipóteses aprovadas no Congresso para a concessão de liberdade a condenados —ainda assim liberdade condicional.

Previsto na Constituição como um ato discricionário do presidente da República, o indulto não pode se confundir com prêmio a criminosos ou condescendência com o crime. Não é razoável que o presidente subverta por meio de decreto as leis aprovadas pelo Legislativo, anulando de forma genérica as penas impostas pelo Judiciário em casos julgados sob os rigores do devido processo legal.

Na prática, Bolsonaro impôs na marra a versão natalina de uma obsessão pessoal que o Congresso acaba de rejeitar: o excludente de ilicitude, regra que permitiria aos juízes isentar de culpa policiais e militares que praticam violência ou matam sempre que o "excesso decorrer de escusável medo, surpresa ou violenta emoção".

Em novembro do ano passado, quando o Supremo discutia se o indulto de Temer era ou não inconstitucional, Bolsonaro foi às redes sociais para avisar que, depois de sua posse, não haveria mais clemências com sentenciados.

O então presidente eleito escreveu: "Fui escolhido presidente do Brasil para atender aos anseios do povo brasileiro. Pegar pesado na questão da violência e criminalidade foi um dos nossos principais compromissos de campanha. Garanto a vocês, se houver indulto para criminosos neste ano, certamente será o último". Fez papel de bobo quem acreditou.

Assinado também pelo ministro Sergio Moro (Justiça), o decreto de Bolsonaro exclui do indulto os condenados por 38 tipos de violações —dos crimes hediondos ao estupro. E inclui o perdão a condenados que sofrem de doenças graves. A despeito das exceções, a oposição deve recorrer ao Supremo Tribunal Federal para tentar derrubar o pedaço tóxico do decreto.

Membros do Ministério Público avaliavam na noite desta segunda-feira (23) que o próprio procurador-geral da República Augusto Aras deveria questionar na Suprema Corte a constitucionalidade do decreto de Bolsonaro. 

Por Josias de Souza

Jair Bolsonaro cai no banheiro e vai para Hospital das Forças Armadas



O presidente Jair Bolsonaro sofreu um acidente doméstico na noite desta segunda-feira, 23, e foi levado ao Hospital das Forças Armadas, em Brasília.

As informações iniciais apontam que ele teria sofrido uma queda no banheiro, onde escorregou e bateu a cabeça, sem gravidade. Ele passou por exames e deve ficar em repouso até a manhã desta terça-feira.

Segundo nota assinada pelo médico oficial da Presidência, Ricardo Camarinha, Bolsonaro foi primeiramente atendido pela equipe médica do Planalto. Ainda segundo o texto, o presidente, já no hospital, foi submetido a “exame de tomografia computadorizada do crânio, que não detectou alterações”.

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, foi ao hospital para acompanhar a situação do presidente.

Na Veja.com

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Prefeito de Caçapava, Fernando Diniz (PV), é entrevistado pelo Link Vanguarda


Prefeito de Caçapava, Fernando Diniz (PV), é entrevistado pelo Link Vanguarda — Foto: TV Vanguarda/ Reprodução

O prefeito de Caçapava (SP), Fernando Diniz (PV), foi entrevistado nesta segunda-feira (23) no Link Vanguarda.

Na entrevista, o chefe do Executivo falou principalmente sobre problemas em infraestrutura, como no bairro Village das Flores, e na saúde pública.

Problemas em infraestrutura

Na entrevista, o prefeito Fernando Diniz foi questionado sobre reclamações comuns de moradores de muitos bairros: a infraestrutura e manutenção.

No bairro Village das Flores, onde os moradores protestaram colocando fotos do prefeito em buracos abertos nas ruas do bairro, o político afirmou que a solução dos problemas no local é complicado por se tratar de uma área de várzea.

Ainda assim, ele afirmou que contratou obras e que a situação das ruas do bairro deve melhorar até abril.

"Fizemos uma praça nesse bairro e sobrou um recurso. Solicitei autorização para que utilizasse esse recurso na recuperação das ruas do bairro. Mas recursos públicos temos que usar com muita parcimônia e responsabilidade. Tivemos que fazer sondagem de solo, uma série de providências para que pudéssemos lançar uma licitação para melhoria. Começamos agora a melhorar o bairro e estamos avançando", afirmou.

Ele ainda prometeu instalação de lâmpadas de LED na iluminação pública no bairro.

Na Vila Galvão, onde um morador protestou com uma faixa sobre os problemas no pavimento, o prefeito afirmou que o problema também será resolvido até abril. Ele afirmou que o local tem trânsito pesado de caminhões e precisou refazer a base do asfalto para suportar o tráfego.

"Nós realmente tiramos aquele asfalto ruim. Fizemos uma base, deixamos um tempo essa base no local e agora fizemos um trecho de pavimentação. E anteontem fizemos mais um trecho. Eles têm razão, é uma poeira insuportável. Eu entendo a ansiedade das pessoas, mas a gente precisa fazer uma obra que dure, não adianta fazer uma obra paliativa", disse.

O prefeito ainda respondeu sobre as reclamações dos moradores dos bairros Aldeias da Serra e Esperança. Ele se comprometeu a solucionar os problemas até julho e setembro, respectivamente.

Saúde

Alvo de reclamações constantes, a saúde também foi abordada na entrevista ao Link Vanguarda. O prefeito respondeu a um questionamento feito por uma internauta, que reclamou na espera por exames de sangue, falta de medicamentos e superlotação no atendimento da saúde pública.

Fernando Diniz reconheceu os problemas na saúde e culpou a falta de recursos.

"É um problema complexo em qualquer município. O SUS não remunera os municípios no valor que se exigiria. Então, os municípios completam os recursos. Os municípios são obrigados a gastar 15% [do orçamento] em saúde, a gente gasta 30% e ainda assim não dá conta", justificou.

Veja vídeo da entrevista aqui, no G1

Embraer realiza primeiro teste com motor elétrico da WEG



A Embraer realizou na última quinta-feira o primeiro teste estático com o motor elétrico da WEG, após concluir com sucesso a integração do novo sistema que será usado no avião de demonstração da tecnologia de propulsão aeronáutica 100% elétrica.

Nessa fase da campanha de ensaios, o protótipo utilizou-se de uma fonte externa de energia para alimentar o sistema elétrico de alta tensão e acionar o Powertrain (motor e inversor) que foram instalados na plataforma do avião. O ensaio ocorreu na unidade da Embraer em Botucatu, interior de São Paulo, onde a aeronave está sendo fabricada.

Nas últimas semanas, as equipes de pesquisa da WEG, com sede em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, e da Embraer avançaram nessa importante fase do desenvolvimento da aeronave. Está prevista para o início de 2020 a chegada do conjunto de baterias de alta voltagem que permitirá os avanços dos ensaios em condições de operação real e primeiro voo do protótipo.

SOBRE A COOPERAÇÃO TECNOLÓGICA.

A proposta de desenvolvimento tecnológico para eletrificação aeronáutica, formalizada num sistema de cooperação entre Embraer e WEG, anunciado em maio de 2019, é um instrumento eficaz e eficiente para a capacitação e maturação das tecnologias antes da aplicação em produtos futuros.

A parceria, no âmbito de pesquisa e desenvolvimento pré-competitiva, busca acelerar o conhecimento das tecnologias necessárias à utilização e integração de motores elétricos visando o aumento da eficiência energética dos sistemas propulsivos de aeronaves inovadoras.

Para os ensaios será utilizada como plataforma demonstradora uma aeronave de pequeno porte monomotor, baseada no EMB-203 Ipanema, que realizará avaliação primária das tecnologias de eletrificação.

O processo de eletrificação faz parte de um conjunto de esforços realizados pela Embraer e outras empresas do setor aeronáutico que visam atender seus compromissos de sustentabilidade ambiental, a exemplo do que já vem sendo feito com biocombustíveis para redução de emissões de carbono.

Ao estabelecer parcerias estratégicas por meio de mecanismos mais ágeis de cooperação, a Embraer estimula redes de conhecimento que permitem um significativo aumento de competitividade do país e a construção de um futuro sustentável.

Em O Vale

Contratos de informática geram prejuízo de R$ 250 milhões ao erário


TCU (1)

Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) identificou irregularidades em 16 de 17 contratos de serviço de informática firmados por oito órgãos do governo federal.

O prejuízo ao erário atinge R$ 250 milhões, que correspondem quase a metade dos R$ 534 milhões do valor total desses contratos.

Os tipos de ilegalidades encontradas incluem superfaturamento, pagamento de serviço não executado, direcionamento de contratação e pesquisa simulada de preço.

Os serviços que deveriam ter ocorrido são de desenvolvimento de softwares, de Sistema Eletrônico de Informação (SEI), de segurança, de mascaramento de dados.

Em alguns casos, o prejuízo é igual ao total do valor pago do contrato. O maior prejuízo nominal se deu no Ministério da Saúde. Do total de R$ 327 milhões pagos, o prejuízo encontrado foi de R$ 170 milhões.

Outro contrato, envolvendo a sede do Dnit, todo o valor pago, de R$ 22,7 milhões, foi considerado gasto com serviço irregular.

Foram localizadas irregularidades também no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia -Confea – (R$ 2,5 milhões), na Funasa (R$ 4,3 milhões), no Ministério da Integração Nacional (R$ 8,5 milhões) e no INSS (R$ 4,6 milhões). Entra nessa lista a unidade do Dnit em Sergipe e Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp).

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