sábado, 31 de julho de 2021

Bolsonaro insulta o Brasil (Editorial do Estadão)



O presidente Jair Bolsonaro insultou o Brasil inteiro ao mobilizar as atenções do País para o espetáculo imoral e degradante que protagonizou na noite de quinta-feira. Usando recursos públicos, com transmissão pela TV Brasil e pelas redes oficiais da Presidência, desde o Palácio da Alvorada, residência oficial, e ao lado do ministro da Justiça, Anderson Torres, Bolsonaro disseminou mentiras escandalosas para minar a confiabilidade do sistema de votação brasileiro. Foi um ataque direto e inequívoco à democracia.

Bolsonaro passou a semana prometendo apresentar “provas” – uma “bomba”, segundo definiu – de que as urnas eletrônicas foram fraudadas para prejudicá-lo na eleição passada. Faz três anos que Bolsonaro anuncia ter as tais “provas”, mas nunca as mostrou. Chegado o momento, o presidente passou mais tempo ofendendo o Tribunal Superior Eleitoral – em particular seu presidente, ministro Luís Roberto Barroso, acusado por Bolsonaro de impedir que haja eleições “limpas”, para favorecer o petista Lula da Silva – do que demonstrando a alegada vulnerabilidade do sistema.

Quando afinal resolveu exibir as tais “provas”, limitou-se a mostrar vídeos com falsas denúncias que circulam há anos na internet, um deles produzido por um astrólogo que diz fazer acupuntura em árvores, e a dar crédito a análises estatísticas claramente distorcidas.

Por fim, admitiu candidamente que “não temos prova” e que “não tem como comprovar que as eleições foram ou não foram fraudadas”. Bolsonaro disse haver “indícios”, mas nem isso foi apresentado pelo presidente.

As agências de checagem de informações e a Justiça Eleitoral trabalharam dobrado para verificar, em tempo real, todas as mentiras de Bolsonaro. Mas, na prática, é ocioso esperar que a exposição da patranha seja suficiente para constranger o presidente, pois a mentira é a essência de Bolsonaro e do bolsonarismo.

Afinal, a Justiça Eleitoral já demonstrou inúmeras vezes que o sistema de votação, um dos mais modernos do mundo, é confiável e totalmente auditável. Ou seja, se tivesse um mínimo de boa-fé, Bolsonaro já teria abandonado suas acusações a respeito das urnas eletrônicas.

É muito provável, portanto, que Bolsonaro continue sua campanha para minar a democracia, ao lançar dúvidas sistematicamente sobre a lisura das eleições e ao informar, de forma clara, que não pretende aceitar o resultado do pleito do ano que vem, caso perca.

Evidência disso é que, no mesmo pronunciamento em que pretendeu desmoralizar o sistema de votação, Bolsonaro convocou sua militância a ir às ruas protestar contra o atual sistema de votação. “Eu tenho certeza, se eu pedir ao povo no dia tal, comparecer na Paulista, em São Paulo (...), vai comparecer 1 milhão de pessoas lá”, jactou-se. E emendou: “Se a demonstração popular não sensibilizar as autoridades do Brasil, o que podemos esperar? Que o povo se revolte? Queremos isso?”.

Trata-se de ameaça explícita de insurreição. Ao agir dessa maneira, Bolsonaro torna-se tóxico para a democracia e, convém lembrar, para quem a ele se alia.

Não faz muito tempo, acreditava-se que os militares da ativa e da reserva que integram o governo fossem capazes de moderar o presidente, um insubordinado desde seus tempos de Exército. Se tentaram, fracassaram.

Agora, imagina-se que o Centrão, na figura do novo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, conseguirá refrear os ímpetos liberticidas de Bolsonaro, no mínimo para evitar um impeachment. Contudo, na mesma semana em que nomeou Ciro Nogueira, Bolsonaro chocou o País com seu pronunciamento golpista contra o sistema de votação, reiterou suas acusações levianas contra a Justiça Eleitoral, disse que o Supremo Tribunal Federal “cometeu crime” ao defender o princípio federativo no combate à pandemia de covid-19 e, de quebra, chamou os eleitores de Lula da Silva de “jumentos”.

Bolsonaro, portanto, é caso perdido. Mesmo que quisesse, não saberia ser moderado. O conflito permanente é seu combustível, e arruinar a democracia, sua meta. Nesse caso, só a lei é capaz de moderar Bolsonaro. Está na hora de aplicá-la.

Voto impresso seria igual a eletrônico, certo? Isso expõe natureza do golpe



Há que se entender o significado da declaração do ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo, quando afirma que é preciso pôr fim à "conversa fiada" sobre as urnas eletrônicas. É evidente que Jair Bolsonaro não quer apenas a "impressão do voto". Isso nem mesmo faz sentido. Afinal, se as urnas estivessem contaminadas, como ele assegura, para garantir a vitória de Lula, então a suposta fraude eletrônica seria idêntica à impressa, certo? Ou estaria Bolsonaro a dizer que a conspiração STF-urnas para eleger o petista existirá apenas na versão eletrônica, mas não na impressão do voto?

Vale dizer: a tese não é fraudulenta apenas na sua essência — e nós vimos as "provas" de que dispõe Bolsonaro —, mas também nas intenções. Não é voto impresso o que ele quer. Ele quer golpe. Afinal, como eliminar, então, o que ele chama de "risco de fraude", que risco não é — uma vez que existem múltiplos controles? Ora, seria preciso voltar ao velho voto impresso, sem base eletrônica nenhuma. E, nesse caso, por óbvio, a fraude comeria solta, especialmente nos rincões do Brasil, infensos aos controles oficiais e pouco submetidos à transparência democrática.

Insista-se nisto: Bolsonaro quer pôr fim à urna eletrônica. Quer a volta do voto de papel com caneta. Também se contentaria em ver o eleitor sair da cabine com o votinho impresso na mão, com o nome do escolhido. Imaginem como seria isso nas áreas dominadas pelas milícias o pelo narcotráfico... Ou ainda nas nossas vastas solidões ainda submetidas ao coronelismo. Não, meus caros! Isso não acabou. O que a urna eletrônica fez — isto, sim — foi aumentar a autonomia dos "cavalgados", desobrigando-os de votar nos "Cavalcantis".

Então ficamos assim: em sua ambição estupidamente reacionária, o presidente quer a volta da eleição decidida na base da pistola e do mapísmo, pondo fim à segurança que a votação eletrônica — submetida a vários controles — garante. Esse é seu universo de longo prazo. Essa é sua utopia. Esse é seu ideal. No fim das contas, o que ele quer mesmo é reduzir ao mínimo possível o sigilo do voto, para que os pistoleiros que apoiam esse governo possam, afinal, controlar parte ao menos do eleitorado.

No prazo mais curto, evidencia que só aceitará a vitória. Com ou sem voto impresso. Afinal, imaginem que apenas se acoplasse — e já não seria simples — uma impressora a cada urna para depositar numa caixa os votos. Se o tiranete não gostasse do resultado, faria o quê? Pediria recontagem, certo? Então se verificariam os votos físicos. Ora, eles seriam idênticos aos eletrônicos — afinal, a "conspiração comunista internacional", associada ao STF e ao TSE, seria eficiente em seu trabalho... Bem, então só restaria declarar: "A eleição não vale porque eu não ganhei".

Os generais Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos, em companhia do ministro da Justiça, Anderson Torres, estavam presentes ao anúncio de uma futura tentativa de golpe. De verdade, o que eles todos querem é o fim de eleições livres e diretas. Chegaram à conclusão de que a sua concepção de poder só se impõe mesmo pela força.

Creiam: Bolsonaro não é o único por ali que já disse que é preciso fuzilar uns 30 mil no Brasil.

Augusto Aras continua mudo. Mas o Ministério Público Federal não depende apenas dele para agir. Ainda voltarei ao tema.

Por Reinaldo Azevedo

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Bolsonaro garante o ouro na Olimpíada da desinformação



O Brasil ainda luta por medalhas em Tóquio, mas já garantiu o ouro na Olimpíada da desinformação. Na última década, nenhum país da América Latina caiu tanto nos rankings que medem o respeito à liberdade de expressão. A queda se agravou nos primeiros dois anos do governo de Jair Bolsonaro.

Em relatório divulgado ontem, a organização britânica Artigo 19 mostra que o Brasil despencou para a 86ª posição numa lista de 161 países. Agora aparece atrás de nações como Albânia, Afeganistão e Haiti.

No documento, Bolsonaro desponta como um mentiroso contumaz. Só no ano passado, disparou 1.682 declarações falsas ou enganosas. Isso equivale a mais de quatro cascatas por dia, sem descontar domingos e feriados.

O mentirômetro do Planalto registrou novos recordes na pandemia. Em vez de enfrentar o coronavírus, o capitão sabotou as medidas de distanciamento, fez propaganda de remédios ineficazes e tentou maquiar o número de mortos pela doença.

Para a Artigo 19, a aposta na desinformação une o presidente brasileiro a outros populistas autoritários, como o venezuelano Nicolás Maduro. “Isso é estratégico: ao estimular a desconfiança do público e a polarização, muitos autocratas reforçam sua base de apoio”, afirma a entidade.

Em queda livre nas pesquisas, o mitômano tem reforçado a artilharia contra o sistema eleitoral. Ontem ele prometeu provar irregularidades na urna eletrônica. Depois de muito falatório, tropeçou na própria língua. “Não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas”, admitiu.

Apesar do sincericídio, Bolsonaro deve insistir na teoria conspiratória. “A desinformação tem o objetivo claro de minar a confiança na estrutura política do país e na democracia”, alertou o sociólogo Marco Aurelio Ruediger, da Fundação Getulio Vargas, em debate promovido na semana passada pela SBPC.

Nesta quarta, o Supremo Tribunal Federal testou um novo antídoto aos ataques do presidente. Em vez de divulgar mais uma nota de repúdio, produziu um vídeo curto, com linguagem típica das redes sociais. A mensagem era simples: uma mentira repetida mil vezes não se torna verdade. Pela reação furiosa de Bolsonaro, a estratégia funcionou.

Mentiras de Bolsonaro são crimes. Ele ignora sentido de "indício". E Aras?



Aquilo a que se viu nesta quinta, tendo Jair Bolsonaro como protagonista, foi de tal sorte ridículo que quase nos esquecemos de que estava cometendo crimes.

Como se viu, não tem nenhuma prova de fraude nas eleições de 2014 ou de 2018. O que ele tem em mãos é uma teoria furada, inventada por um lunático, que se assenta, de resto, em dados errados. Vale dizer: a hipótese já é, por si, fraudulenta. E os números que a alimentam não valem. E daí? Lá estava ele, na sua live-coletiva, sem direito a perguntas, escoltado por dois representantes do Partido Militar: os generais Augusto Heleno, chefe do GSI, e Luiz Eduardo Ramos, agora na Secretaria-Geral da Presidência.

O evento, marcado para ser o "Dia D" das provas, foi um fiasco, mas certamente um sucesso para aqueles apelidados de "gado" nas redes sociais -- apelido que, note-se, seus seguidores assumiram de bom grado. A frase-símbolo da patuscada poderia ser esta:
"Não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas. São indícios. Crime se desvenda com vários indícios"

Creio que seja o que conseguiu aprender de alguma aula rápida que André Mendonça, ex-ministro da Justiça, e Anderson Torres, o atual, também ali presente, tentaram lhe soprar no vácuo entre as orelhas.

O Código de Processo Penal abriga desde 1941 o Artigo 239, que define:
"Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias."

Então cabe a pergunta: onde estão as "circunstâncias conhecidas e provadas"? Onde estão as provas indiciárias? E a resposta óbvia é esta: em lugar nenhum. Há a teoria amalucada da suposta alternância na liderança de votos entre Aécio e Dilma, com uma constância que seria impossível, e palpiteiros da Internet que dizem ter quebrado o código-fonte das urnas. A primeira afirmação é mentirosa: a tal alternância, numa constante, não existiu. E a segunda já se mostrou muitas vezes fraudulenta.

DESASSOMBRO PARA A MENTIRA
Ocorre que Bolsonaro conta mentiras com desassombro impressionante. Sustenta, por exemplo, que a apuração das urnas eletrônicas é secreta. Não é. De cada uma delas sai um boletim impresso, que é público. Os aparelhos não são ligados à Internet e ficam devidamente lacrados. Antes do início da votação, emite-se uma espécie de boletim, verificável, evidenciando que as urnas estão zeradas.

Bolsonaro fez outra afirmação escandalosamente falaciosa:
"Será que esse modo de se fazer eleições é seguro, é blindado? Os que me acusam de não apresentar provas, eu devolvo a acusação. Me apresente provas [de que] não é fraudável".

Nem se trata de afirmar aqui que caberia a ele apresentar as provas ou indícios de fraude, já que é aquele que alega. Mas deixemos esse rigor de lado. O sistema já foi submetido a testes. Mais: há mecanismos de verificação que, então, provam que as urnas são invioláveis. Ocorre que Bolsonaro não aceita os fatos. Assim como não admite que as drogas que propagandeia como tratamento preventivo contra a Covid-19 são ineficazes. Sempre viveu numa realidade paralela. E nela continua.

O cerne na teoria matemática, que sustenta a acusação infundada de fraude, é um delírio de um sujeito conhecido por fazer acupuntura em plantas usando pregos em lugar de agulhas. Ele jura que funciona. Bolsonaro arrumou um coronel da reserva — sempre o Partido Militar — para vocalizar a bobajada.

CRIMES
Tudo foi de um ridículo tão atroz que tendemos a nos esquecer de que crimes estavam sendo cometidos ali. O presidente não está apenas pondo em dúvida o sistema eleitoral -- "Será que...?" Não! Ele assevera a existência de duas fraudes, leva muita gente a acreditar que dois tribunais -- TSE e STF -- participam de um complô para fraudar a vontade do eleitor e acusa essa conspiração de beneficiar um candidato: no caso, Lula. O mesmo que, ora vejam, o derrotaria por larga margem se a eleição fosse hoje.

Mais cedo, antes da live, o presidente já havia acusado, aí abertamente, o STF de ter agido em favor do petista para elegê-lo presidente da República. E, até agora, o procurador-geral da República olha para o outro lado.

CONVOCAÇÃO PARA PROTESTOS
É claro que Bolsonaro sabia não ter nada em mãos. Com a anúncio, quis apenas usar uma audiência ampliada para convocar pessoas para a manifestação em favor do voto impresso neste domingo. Ali estava mobilizada parte da estrutura do governo federal, com transmissão pela TV Brasil, para propagandear uma tese que não é de interesse público. Empregava a máquina para atender a interesses pessoais do mandatário: improbidade administrativa na veia.

A degradação a que está submetido o Estado brasileiro não tem precedentes. Anderson Torres estar presente é um escracho. Ainda que a PF seja independente, subordina-se administrativamente à Justiça. A mesma PF que jamais conseguiu encontrar indício de fraude. A presença de Augusto Heleno, a quem está subordinada a Abin, faz supor que a área de Inteligência possa estar ligada a teorias lunáticas, que agridem as instituições.

Bolsonaro queria vender seu peixe podre. Ampliou a convocação, atraiu as atenções, contou mentiras em penca e, assim, tenta garantir sobrevida à PEC do voto impresso. "Mas voto impresso para quê?" Para que, se derrotado, ele se dê por vencido? Obviamente, não. A reivindicação só faz sentido se, diante de números adversos, ele procurasse judicializar a apuração, não os reconhecendo, pedindo a recontagem urna por urna, o que impediria a proclamação do resultado.

A sua postulação, pois, se assenta, de saída, em duas declarações de má-fé:
1: se ele não vencer, é sinal de que houve fraude;
2: não vencendo, só aceita a apuração do voto impresso.

CONCLUO
O encontro serviu também para que ele anunciasse à imprensa que, a seu juízo, faz o melhor governo da história do Brasil. E, se mais não faz, é porque os outros Poderes não deixam. Além, claro, de atacar Lula.

Neste sábado, Bolsonaro completa dois anos e sete meses de governo. Ameaça o país com a não realização de eleições, no 33º ano do voto direto depois do fim da ditadura, e se volta a especular sobre golpe.

E lá estavam os representantes do Partido Militar a lhe dar suporte.

Braga Netto não deve ter comparecido só por um inesperado gesto de delicadeza institucional.

Onde está Augusto Aras?

Processando colunista de jornal.

Por Reinaldo Azevedo

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Faria, neoextremista de direita, quer ser vice. Lembra da Dilma, Bolsonaro?



Antes de a palavra "narrativa" entrar na moda e integrar o léxico da extrema direita brucutu — que nem sabe do que está falando; não parece que Carlucho seja exatamente um estudioso das ciências da linguagem —, os delinquentes intelectuais, políticos e morais recorriam com frequência à palavra "contexto". A maior barbaridade, a coisa mais estúpida, o ataque mais covarde, tudo, enfim, poderia ser resolvido com uma desculpa: "Tal coisa foi tirada do contexto".

Não que isso seja impossível. É. Pode-se picotar uma fala para lhe atribuir sentido inverso ao pretendido pelo emissor. Não é um caso de contexto, mas de mentira mesmo. As milícias bolsonaristas fazem isso com frequência. Por que essas considerações iniciais?

A Secom resolveu homenagear o "Dia do Agricultor" com uma foto extraída de um banco de imagens que mostra um homem portando uma arma. Vinha acompanhada do seguinte texto:
"Hoje homenageamos os agricultores brasileiros, trabalhadores que não pararam durante a crise da Covid-19 e garantiram a comida na mesa de milhões de pessoas no Brasil e ao redor do mundo".

A imagem foi retirada do ar depois de protestos vindos, inclusive, do agronegócio. Marcello Brito, presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), por exemplo, escreveu:
"Esse post não representa os agricultores brasileiros. Não andamos com armas no ombro, mas com o suor de quem trabalha honestamente de sol a sol. Essa publicação envergonha o setor, as mulheres e homens do campo e o Brasil. Absurdo".

Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à Presidência, também se manifestou:
"Pelo amor de Deus, onde o governo Bolsonaro quer chegar? Veja que foto absurda postaram, hoje, supostamente para homenagear o Dia do Agricultor. É a simbologia do ódio e da morte em todos os espaços. Basta!"

FANÁTICO PELA MORTE
Ciro foi ao ponto. Esse é um governo fanático pela morte. O Brasil ainda abriga conflitos agrários: entre proprietários, grileiros e sem-terra e entre esses todos e índios. Em vez, então, de o governo celebrar a produtividade do campo, prefere estimular o conflito. Ao enunciar que a resolução das demandas se dá a bala, nega as funções primordiais do Estado: evitar o confronto, fazer Justiça, buscar o consenso.

E qual foi a desculpa que veio lá das paragens de Fábio Faria, hoje uma das vozes mais estridentes do que o governo Bolsonaro tem de pior? Leio no Painel da Folha:
"A Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom/MCom) alterou uma imagem da série de publicações em homenagem ao Dia do Agricultor. A imagem utilizada anteriormente, em referência à segurança no campo, deu margem a interpretações fora do contexto".

Desafio Faria, o especialista em agricultura, a dizer por que Marcello Brito, que representa o agronegócio, está errado. Este senhor, que se grudou a Lula e a Dilma, em 2014, para eleger Robinson, o pai, governador do Rio Grande do Norte — o que, infelizmente para o povo do Estado, conseguiu — resolveu se fazer ideólogo e porta-voz das catacumbas do bolsonarismo.

NEGACIONSIMO OBTUSO
Além da óbvia apologia da violência, a mensagem também é estupidamente negacionista, tentando opor o trabalho no campo àquilo que ocorreu nas grandes cidades em matéria de distanciamento, como se não fossem realidades absolutamente distintas. Caminhamos para 560 mil mortos mesmo com as medidas adotadas -- ainda que mal executadas em razão, em grande parte, da sabotagem do governo federal.

Ao tentar explicar o contexto, Faria produziu esta pérola:
"O Governo Federal reafirma a importância dos trabalhadores rurais, categoria que não parou durante a pandemia e que assegurou a produção de alimentos. O governo continuará adotando medidas que proporcionem mais tranquilidade e segurança em respeito ao agricultor e à sua família".

Se o "não parar" virou uma categoria moral, então agridem essa moralidade "fariana" todos os que aderiram a alguma forma de distanciamento. Podemos imaginar quantos seriam os mortos se o Brasil tivesse seguido, então, as recomendações de Bolsonaro e Faria — que, como fica óbvio, defendiam que se levasse uma vida normal. Afinal, "todo mundo morre um dia".

O governo que o sr. Faria integra não conseguiu fornecer nem oxigênio a todos os brasileiros que dele precisavam. Ah, a terra dos senhos de Faria! A indústria da morte bateria recordes ainda mais vistosos de produtividade.

FOME
Se Faria quiser explicar o que significa "garantir comida ao redor do mundo", à vontade. O que se sabe é que a fome campeia "ao redor do Brasil", para ficar na língua falada pelo ministro. E os que com fome não estão pagam muito mais caro pela comida, com uma inflação pornográfica.

A demanda mundial vai bem, as exportações de commodities agrícolas idem, mas os brasileiros pobres — esses seres que insistem em atrapalhar as fantasias do rapaz — estão com fome. Temos o mais baixo consumo de carne em 25 anos. Há produtos que tiveram uma majoração de preço de 50%.

O SBT poderia lançar o quadro "Quem quer feijão?". Ou oferecer cestas básicas na "Porta da Esperança". Ou premiar com um bife as "colegas de trabalho" que acertarem perguntas no "Show do Bifão".

CELERADOS
O agronegócio brasileiro já enfrenta ondas de desconfiança em razão da política ambiental delinquente de Ricardo Salles, o defenestrado. Tereza Cristina, ministra da Agricultura, está "ao redor do mundo" tentando demonstrar que o Brasil respeita as regras. Faz o seu trabalho. É uma pena, no entanto, que sua pasta não tenha resposta para a inflação de alimentos que não seja o dar de ombros. A ideia de Paulo Guedes é distribuir sobras de restaurantes "para mendigos".

Uma postagem como aquela piora tudo.

Trata-se de um governo particularmente incompetente. E essa incompetência é extremada por seu delirante reacionarismo.

Não há contexto que possa amenizar isso.

A mensagem é criminosa mesmo.

QUER SER VICE DE BOLSONARO
Faria entrou na corrida para o posto de vice de Bolsonaro. Está de mudança para o PP. Apagou das redes sociais os elogios que fazia a Lula. Mas não consegue apagar as imagens nem as notícias publicadas pela imprensa.

Na condição, agora, de extremista de direita, chegou a criticar as personalidades públicas do Brasil que lamentaram a marca de 500 mil mortos. Achava que todos deveriam seguir seu padrão moral: não lamentar.

Vice? Será mesmo? Bolsonaro é bronco, mas não é muito burro. Deve se perguntar — ou, então, Carlucho pergunta em seu lugar: "Por que esse ex-puxa saco de Lula se tornou mais bolsonarista do que eu?" Não é possível que o Tico e o Teco não se conectem para responder: "ambição".

Faria pediu o apoio de Dilma e Lula para a eleição do pai em 2014, como evidenciam as fotos, e se tornou um militante do impeachment dois anos depois.

E aí o Tico e o Teco se perguntam de novo: "Quem trai uma vez está propenso a não trair nunca mais ou a trair sempre"?

Convenham: Bolsonaro não confia nem mesmo em um vice fiel.

Vai que se reeleja... Convenham: nessa hipótese, só o impeachment continuaria a contemplá-lo.

Por Reinaldo Azevedo

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Estabelecimentos poderão funcionar até meia-noite a partir de 1º de agosto em SP; limites serão extintos dia 17



O governador João Doria (PSDB) anunciou nesta quarta-feira (28) que haverá flexibilização do horário de funcionamento de comércios e limite de ocupação a partir de 1º de agosto em São Paulo.

Segundo Doria, o limite, hoje às 23h, será estendido até a meia noite. A capacidade de ocupação passará dos atuais 60% para 80%.

As medidas valerão de 1º até 16 de agosto.

A partir do início do próximo mês, também não haverá mais toque de restrição na madrugada.

A partir de 17 de agosto, com adultos vacinados, Doria anunciou que não haverá mais limites de ocupação ou de horário.

Doria disse que a vida está voltando ao normal, mas pediu para a população continuar se prevenindo ao usar máscaras e álcool em gel.

"Muitos países do mundo não deram esse passo de retomada com tanta gente vacinada como nós estamos fazendo agora", disse Patrícia Ellen, secretária estadual de Desenvolvimento Econômico.

Patrícia Ellen diz que é obrigatório haver o distanciamento de apenas um metro, uso de máscaras e demais respeito aos protocolos.

A partir de 1º de agosto, todos os parques estaduais voltam ao horário de funcionamento normal.

Liga dos párias: Bolsonaro e a extrema direita alemã



Em entrevista ao CQC, o então deputado Jair Bolsonaro classificou Adolf Hitler como um “grande estrategista”. A gravação voltou a circular nesta segunda, depois que ele posou para fotos com uma representante da extrema direita alemã.

Beatrix von Storch é vice-líder da Alternativa para a Alemanha (AfD), partido populista e xenófobo. Em março, a sigla passou a ser investigada sob suspeita de abrigar neonazistas e conspirar contra a democracia alemã.

A deputada é neta de Schwerin von Krosigk, ministro das Finanças de Hitler. Ele foi preso pelas tropas aliadas e condenado por crimes de guerra no Tribunal de Nuremberg.

Parentesco não é destino, mas Von Storch parece compartilhar parte do ideário do avô. Ela se elegeu com falas contra imigrantes e já foi suspensa de uma rede social por incitar o ódio contra muçulmanos.

Líderes de países democráticos evitam se encontrar com a turma da AfD. Os extremistas só costumam ser recebidos por párias como o ditador sírio Bashar al-Assad e o autocrata bielorruso Alexander Lukashenko. Agora conseguiram montar seu palanque no Palácio do Planalto.

A família Bolsonaro sonhava integrar um movimento global de extrema direita. Com as derrotas do americano Donald Trump e do italiano Matteo Salvini, sobrou a companhia de figuras periféricas como o premiê húngaro Vikor Orbán e os aloprados da AfD.

O espectro do nazismo já havia rondado o governo quando o então secretário de Cultura, Roberto Alvim, plagiou um discurso de Goebbels. Ele caiu por pressão da embaixada de Israel, mas sua plataforma de guerra cultural foi encampada pelo atual secretário Mario Frias.

Em nota contra a visita de Von Storch, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) classificou a AfD como um “partido extremista, xenófobo, cujos líderes minimizam as atrocidades nazistas e o Holocausto”.

Há três meses, o presidente da entidade, Claudio Lottenberg, participou de um jantar em que Bolsonaro foi aplaudido por empresários paulistas. Ao fim do repasto, ele elogiou o governo e disse que o capitão foi “muito simpático”. A ver se a ficha cai depois das fotos com a populista alemã.

Bolsonaro admite governo zumbi. E mais uma lição aos militares pretensiosos



O Brasil viveu mesmo dias do balacobaco. Só um conjunto formidável de excepcionalidades e aberrações, que já caracterizei muitas vezes ao longo do tempo, explica a eleição de Jair Bolsonaro. A rusticidade de seu pensamento é de tal ordem que, mesmo sabendo tudo o que sabemos, ainda há lugar para a estupefação. O modo como o presidente justificou a ida do senador Ciro Nogueira para a Casa Civil é espantoso — embora, se deva notar, goste-se ou não, seu governo passará a ter, pela primeira vez, um eixo. Se vai facilitar ou dificultar a campanha eleitoral dos adversários, vai dizê-lo o tempo. Tendo a achar que dificulta. Mas isso fica para outra hora.

Comecemos pela metáfora a que recorreu o presidente em entrevista a uma rádio. Afirmou estar entregando a Nogueira -- e, pois, ao centrão -- o que chamou de "a alma do seu governo". Por alguma razão, achou que isso pode se confundir com um autoelogio. Nem o ex-presidente Lula, hoje seu alvo principal, foi tão, como direi?, fundo... Disse o petista nas redes sociais:
"E o Bolsonaro que ficava falando que ia acabar com a 'a velha política'... Qual é a nova política dele? Ficar refém do centrão? Não cumpriu uma coisa que ele falou. Falava tanto de corrupção... Ainda ontem à noite eu vi o Queiroz ameaçando ele".

O presidente até tentou responder. Mas não se deu bem. Convenham: um refém estaria contrariado. Bolsonaro já passou da fase da "Síndrome de Estocolmo". Entregou logo a alma. Seu governo, pois, agora é um zumbi. A pergunta que se tem de fazer, com resposta imediata: "Ele tinha saída?" Não!

Bolsonaro deve ter achado que estava sendo duro e ferino com o opositor ao responder o seguinte:
"O Ciro está feliz. Ele falou para mim que o sonho da vida dele era ocupar um ministério como esse. E dizer ao senhor presidente Lula (que) não é o Ministério das Minas e Energia, onde o orçamento é milionário. Não é o Transporte, não é o Desenvolvimento Regional. É a chefia da Casa Civil, é a alma de um governo. É realmente a nossa interlocução aumentando com o Parlamento de forma salutar e não de forma comprada como acontecia no passado".

Ciro, claro!, deve estar muito feliz. Mas prestem atenção ao que diz o presidente. Começo pelo fim: aquele a quem ele entrega "a alma do governo" apoiou os governos Lula e Dilma. Em entrevista concedida em 2018, chamou Bolsonaro de "fascista" e disse que o petista foi o maior presidente da história do Brasil, especialmente bom para o Piauí.

Observem que ao responder ao adversário, destaca que o novo ministro não vai lidar com verbas — embora a Casa Civil seja a pasta mais importante no direcionamento e execução dos gastos do governo. Mas, com efeito, a pasta não tem sua própria dotação orçamentária, exceto recursos destinados ao custeio da máquina. É como se o presidente dissesse: "Ele não vai roubar porque não terá como". É do balacobaco!

A rigor, não está dando essa resposta a Lula, que sabe muito bem como funciona a máquina pública. Tenta mobilizar os seus fanáticos, que ficaram sem discurso. Não que eles tenham para onde migrar, convenham: continuarão com o "Mito" até o fim. Desenvolveu-se nesses bolsões uma espécie de seita milenarista, de que o presidente é o profeta. Tem-se a impressão de que, se o Jim Jones do Cerrado pedir que tomem veneno, todos tomarão. Fica aqui uma ideia para consideração. Um teste e tanto de confiança... Exagero? Não! Muitos deixam de tomar vacinas por espírito de fidelidade ao líder — e, assim, se expõem ao risco de morte.

MILITARES DESPREPARADOS
A imprensa ficou sabendo que Nogueira ocuparia a cadeira de Luiz Eduardo Ramos antes do general, seu amigo há quase 40 anos e grande entusiasta de seus dons... Ramos deixou o Comando Militar de Sudeste para substituir o também general Santos Cruz na Secretaria de Governo. Por algum tempo, exerceu o cargo estando na ativa.

Dali saltou para a Casa Civil, substituindo o incompetente Braga Netto — aquele que deveria ter coordenado os esforços contra a Covid-19... —, que migrou para a Defesa. Bolsonaro já tinha percebido que este era ruim o bastante para não resistir a ordens absurdas. Por isso decidiu se livrar de Fernando Azevedo e Silva. Queria alguém que realizasse a tarefa de usar as Forças Armadas para ameaçar os Poderes da República. Conseguiu.

Uma das observações que os críticos do governo fazem com frequência diz respeito ao despreparo dos militares para lidar com as questões políticas. E também com as administrativas, é bom dizer. Os fardados de pijama respondem por boa parte da ruindade do governo. Não foram feitos para isso.

E como é que Bolsonaro explicou a migração de Ramos, o último a saber, para a Secretaria-Geral da Presidência, onde poderá, por exemplo, cuidar do estoque de leite condensado e de papel higiênico dos Palácios? Assim:
"Coloquei o Ciro porque preciso melhorar a interlocução com o Congresso. O general Ramos é uma excepcional pessoa, é meu irmão. Agora, com o linguajar do parlamento, ele tinha dificuldade. É a mesma coisa que pegar o Ciro Nogueira e botar ele para conversar com generais do Exército. O Ciro não saberá falar com eles por melhor boa vontade que tenha."

Ficamos sabendo, então, que o presidente reprovava o desempenho do seu amigão. Dada a fórmula acima — que, digamos de passagem, está essencialmente correta —, então é preciso demitir todos os militares que ocupam cargos que os obriguem a se relacionar com os políticos. Agora vem outra pergunta de resposta também óbvia: "e qual não obriga?" Nenhum! Obviamente, há uma penca de ministros disfuncionais que nunca passaram pelo quartel. Mas os que passaram disfuncionais são. Estão no lugar errado. "Ah, é Tarcísio Freitas, da Infraestrutura?" Era burocrata estatal já fazia tempo. Poucos se lembram de que serviu ao governo Dilma na CGU, no DNIT e na Secretaria Especial do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), De resto, tem a rara qualidade de ser competente em criar a fama de que é competente...

CONCLUO
Bolsonaro está mudando o governo -- entregando a terceiros a sua alma -- no esforço de se manter no poder, de tornar viável a sua candidatura à reeleição e de melhorar a interlocução no Senado. O afastamento de Nogueira do Senado implica que deixará a CPI, substituído pelo sempre inacreditável Luiz Carlos Heinze (PP-RS), o que eleva Flávio Bolsonaro à suplência. Mas esse é um efeito colateral. O objetivo da nomeação é bem mais amplo.

O "capitão" vai se disciplinar? Ciro teria pedido "carta branca" para fazer a articulação no Senado. Esse documento-fantasma já foi dado a Paulo Guedes e a Sergio Moro. E nada vale porque, afinal, nada há escrito nela. Só não chamem o que Bolsonaro está fazendo de tiro no pé. Trata-se de um ato em favor de sua sobrevivência no governo.

Braga Netto ameaçou Arthur Lira com um golpe por intermédio de Ciro Nogueira. Não vai ter golpe. Vai ter centrão.

Por Reinaldo Azevedo

Aras, diga a Mendes a coisa certa sobre pedidos para investigar Braga Netto



O ministro Gilmar Mendes, do Supremo, encaminhou a Augusto Aras, procurador-geral da República, a solicitação para que se manifeste sobre quatro notícias-crime apresentadas ao tribunal contra o titular da Defesa, Braga Netto. Cobram que o militar da reserva seja investigado por ter ameaçado o processo eleitoral. Conforme revelou o Estadão, o general afirmou a Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, que, sem voto impresso, não haveria eleições no ano que vem. O ministro nega. Lira apenas diz que há coisas mais relevantes na pauta.

As petições são de autoria de Alexandre Frota (PSDB-SP), Natália Bonavides (PT-RN) e Bhon Gass (PT-RS) e do advogado Rena Wilewski. Natália aponta ainda que, tendo acontecido a ameaça, trata-se de crime de responsabilidade, o que predispõe o ministro a uma denúncia por crime de responsabilidade, com base na Lei 1.079. Poucos se lembram, mas ministros podem ser impichados.

Só para lembrar: o envio do pedido — que vale por uma ordem, já que não pode ser ignorado — para que Aras se manifeste é parte da regra do jogo. O caso é tão grave que será, por si, um escândalo se a PGR não se manifestar favoravelmente à abertura de um inquérito. Até porque já se conhecem outras personagens do imbróglio. Quem levou o recado a Lira foi o próprio senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, que vai assumir a Casa Civil.

O resto da história é conhecida de dois modos. Sabedor da ameaça, Lira foi a Bolsonaro. Segundo apuração do Estadão, o presidente teria tranquilizado o presidente da Câmara. Segundo o que apurei, o "Mito" teria concordado com a fala do seu ministro da Defesa. Até porque o recado chegou ao deputado no dia 8 deste mês. No dia seguinte, o próprio presidente afirmou que não haveria eleição caso se mantenha o atual sistema de votação.

CONSULTA PRÉVIA?
Segundo afirma Mônica Bergamo na Folha, Aras está disposto, antes de tomar uma decisão sobre se posicionar a favor ou contra a abertura de inquérito, a ouvir previamente Braga Netto e Arthur Lira. Não parece um caminho adequado à gravidade do caso. Procurador Geral da República não exerce cargo de "ouvidor". O que lhe cabe é avaliar, nesta fase, se estão dados ou não os elementos para recomendar a abertura de inquérito, encaminhando ao relator do Supremo a posição do órgão.

Se a PGR avaliar que há elementos, Mendes, relator do caso no Supremo, oficia a PF, e se determina a abertura de inquérito. Se não vir motivos para tanto, entrega seu parecer, de que o ministro pode discordar, mandando abrir a investigação ainda assim. Afinal, não se trata ainda de uma denúncia. Nesse caso, sim, não há como o ministro dissentir do órgão que é o titular da Ação Penal. Se a considera descabida, não há nada que o relator no Supremo possa fazer.

Essa audiência prévia, que, consta, Aras pretende fazer corresponde à tática do "deixe como está para ver como é que fica". Afinal o procurador-geral não deve esperar que Braga Netto, Lira ou ambos confirmem a informação: "É, ameacei sim"; "É, ele me ameaçou". E aí a responsabilidade de mandar investigar ou não recairia apenas sobre o ministro do Supremo. É preciso que cada órgão arque com a sua responsabilidade na República.

IMPEACHMENT
As petições enviadas ao Supremo são notícias-crime, que podem resultar em inquérito e, a depender do que este apure, em uma Ação Penal. A deputada Natália Bonavides pede que se avalie também o cometimento de crime de responsabilidade, que pode resultar em impeachment de ministro de Estado. E não há dúvida de que este também foi cometido.

Os crimes que resultam no impeachment de ministro são os mesmos que atribuíveis a um presidente da República, segundo dispõe a Lei 1.079. O texto define de maneira inequívoca, no Artigo 7º, ser crime de responsabilidade:
- "impedir por violência, ameaça ou corrupção, o livre exercício do voto";
- "utilizar o poder federal para impedir a livre execução da lei eleitoral";
- "subverter ou tentar subverter por meios violentos a ordem política e social";
- "incitar militares à desobediência à lei ou infração à disciplina;
- "provocar animosidade entre as classes armadas ou contra elas, ou delas contra as instituições civis".

Embora a lei seja a mesma, o rito de um processo de impeachment contra ministro, segundo jurisprudência do Supremo, segue caminho próprio, já que a Lei 1.079 é toda atrapalhada a respeito. Nesse caso, cabe à PGR apresentar a denúncia ao Supremo, sem prévia autorização da Câmara.

Vamos ver. Essa anunciada audiência prévia corresponderia a perguntar a Braga Netto: "O senhor acha que deve ser investigado?" Suponho que vá dizer que não. Até porque é a PF que cuida do inquérito, certo?, não o procurador-geral.

ENCERRO
Ah, sim, é muito provável que o inquérito chegasse ao fim sem nada conclusivo. Ainda que outros que também ficaram sabendo da história confirmassem à PF que sabiam da ameaça, tudo se enfraquece bastante com as negativas do próprio general, de Lira e de Nogueira.

Não importa.

Algo muito grave aconteceu, e todos sabem. E é preciso que isso deixe uma cicatriz no Estado legal. Não cabe ao procurador-geral da República atuar como maquiador de fealdades políticas.

Por Reinaldo Azevedo

terça-feira, 27 de julho de 2021

Partido Militar tenta barrar centrão na Casa Civil. Vice, cunhado, peculato



Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil), o maior amigão que Jair Bolsonaro tinha no governo antes de Braga Netto (Defesa) entrar na concorrência pelo coração do presidente, tenta resistir. Que coisa! Nunca tantos generais, ainda que da reserva, disputaram assim o coração de um capitão indisciplinado. Parece romance ruim dos bastidores da caserna... Um pouco humilhante também. Fato: Ramos quer continuar no cargo que ficará com o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP. Isso deve ser sacramentado nesta terça.

O Partido Militar não se conforma. Parte dele não se aceita ter de ceder ao centrão um naco de poder — e é possível que seja só esse. Bolsonaro tinha o sonho de ser presidente, com suas momices de extrema direita e a elite que conseguia reunir: gente como Fabrício Queiroz, o reclamão, que agora se sente desprestigiado.

Esses membros da ala mais reacionária das Forças Armadas que foi servir a Bolsonaro — e também se servir do poder: para si mesmos e para a corporação — sempre ambicionaram ter o controle do capitão semiescolarizado. Parecia um projeto de sonhos: finalmente um governo militar pelas urnas! Esqueceram-se dos demais Poderes da República. Tendo a, vamos dizer assim, "propriedade" do presidente, imaginaram que o resto viria por ação da gravidade.

Bem, não veio. Já são nove generais demitidos. Os que ficaram estão percebendo que aquele capitão meio arruaceiro tinha as suas próprias — e más — ideias. Não que as dos generais fossem muito melhores. Partilhavam com o candidato destrambelhado a convicção de que ONGs, em parceria com interesses estrangeiros, queriam internacionalizar a Amazônia. E se tem o desastre ambiental em curso. Viam um país corroído pela corrupção e pelos interesses subalternos dos políticos — é assim desde os anos pré-1964, diga-se —, e o lavajatismo veio para conferir verossimilhança a esse moralismo estridente e ignorante.

Não tinham uma impressão muito generosa sobre o povo brasileiro, quem sabe preguiçoso demais, apegado a privilégios demais... Não os militares, claro! Estes apenas amam a Pátria incondicionalmente. E, finalmente, queriam fazer o que julgavam ser uma justiça histórica: banir a esquerda do poder para nunca mais. Daí que o Sergio Moro, que condenou Lula sem provas, gozasse de grande prestígio entre uniformizados. Mas ainda era preciso dar um tempero para atrair o mercado: eis Paulo Guedes. Nunca foi o preferido da turma, mas vá lá... Era o preço a pagar para ter a turma do dinheiro.

DEU TUDO ERRADO
A equação -- que repudia a democracia por princípio, diga-se, porque não prevê a política -- já vinha dando errado antes da pandemia. Com ela, os desacertos se tornaram mais agudos. E então se fez a mais desastrada de todas as opções: entregou-se a um general bronco e obediente o comando do Ministério da Saúde. Já passamos a contagem dos 550 mil mortos por Covid-19 e começou a dos 560 mil.

A soma de desastres levou à CPI da Pandemia, e esta tornou visível um fantasma que costuma fazer apenas ruídos: o impeachment. Mais: Bolsonaro tem algumas tarefas pela frente. Uma delas é aprovar André Mendonça para o Supremo. Pode não ser um seguro, mas sempre pode ajudar.

Os militares, à diferença do que se supõe, também não têm um projeto de poder que não seja apenas reativo. Sabem o que fazer tanto quanto Bolsonaro. Não custa lembrar que, naquela espetacular reunião de 22 de abril de 2020, Braga Netto, então na Casa Civil, tinha as suas próprias ideias sobre um projeto de desenvolvimento. Foi torpedeado por Paulo Guedes, aquele que é apenas tolerado pela turma. Mas também é nome em que os mercados ainda têm alguma confiança. Governo, propriamente, não há.

Pior: os militares, que chegaram ao poder com o golpe da República, tinham a ambição, no fim do século 19 e começo do século 20, de fazer do conhecimento científico uma espécie de religião. O Positivismo — talvez por alguns aspectos reacionários — era a sua metafísica. Hoje, temos um Braga Netto a vituperar contra urnas eletrônicas. E coube a um general instituir o picareta "tratamento precoce" contra a Covid-19, em oposição a medidas sanitárias de contenção do vírus. O resultado se conta em milhares de corpos. Os fardados do lema "Ordem e Progresso" da bandeira passaram a acreditar em bruxaria.

ELE PRECISA
Bem, Bolsonaro precisa do centrão. E o centrão pode ou não precisar de Bolsonaro porque sempre tem como se ajeitar nos desvãos do poder. O sonho dos milicos, vocês se lembram, era emparedar o Congresso, não negociando nada com aqueles que general Augusto Heleno chamava de "ladrões" por força da rima. Guedes teve uma de suas fabulosas ideias: conseguiria apoio do Congresso por intermédio das chamadas "bancadas temáticas" -- uma forma delicada de dizer que achava possível governar o país acima dos partidos.

Bem, o resultado é o que se vê aí. Em vez de os generais conduzirem Bolsonaro, ele é que os conduz. O ministro da Defesa ousou bater o porrete na mesa, dando uma espécie de ultimato a Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara: ou voto impresso ou nada de eleições. Ao mesmo tempo, o presidente achou que poderia jogar o Fundão Eleitoral no colo daqueles que seguram a sua barra no Parlamento.

Falhou. E Ciro Nogueira deve ir mesmo para a Casa Civil de Luiz Eduardo Ramos, que será encostado na Secretaria-Geral da Presidência. O Partido Militar pode até ameaçar com as armas — a questão é saber quanto tempo se manteria no poder se as usasse —, mas não tem votos. E que se note: Ramos não vai sair por indisciplina ou porque tenha ideias próprias sobre qualquer assunto. Ele não tem aquilo de que Bolsonaro precisa: votos no Congresso.

MOURÃO E O CUNHADO
Outro general foi tratado aos chutes nesta segunda, o que não é novidade: Hamilton Mourão. Em entrevista a uma rádio da Paraíba, Bolsonaro se referiu assim a seu vice:
"O Mourão faz o seu trabalho, tem uma independência muito grande. Por vezes aí, atrapalha um pouco a gente. Mas o vice é igual cunhado, né? Você casa e tem que aturar o cunhado do teu lado. Você não pode mandar o cunhado embora".

É de lascar! Não está falando de um qualquer, mas do vice-presidente da República, que foi eleito. De resto, não se conhece até hoje uma deslealdade do vice. É provável que o desamor mais recente se deva ao fato de que Mourão tratou como absurda a hipótese de não haver eleições em 2022, com ou sem o voto impresso.

De resto, note-se: Mourão não pode ser demitido porque foi eleito. Segundo Andrea Siqueira Valle, irmã de Cristina, ex-mulher do presidente e mãe de Jair Renan, Bolsonaro, quando deputado, demitiu um cunhado, sim: André Siqueira Valle. Este foi funcionário do gabinete do "Mito" — nos moldes em que o clã costuma contratar familiares — e teria descumprido as regras da rachadinha — conhecida no Código Penal por "peculato".

Vejam o caminho escolhido pelo Partido Militar para "arrumar" o Brasil. Podem até ter arrumado a própria aposentadoria. Mas sabem que são protagonistas do período mais tenebroso da nossa história. E seus nomes serão devidamente honrados pela historiografia.

Por Reinaldo Azevedo

A vacina salvadora é a "U". Incompetência, não só negacionismo, também mata


Marcelo Queiroga: ele não sabe explicar por que o Ministério da Saúde ficou seis dias com vacinas estocadas, sem distribuição.

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro segue, por intermédio do discurso ao menos, sabotando a Coronavac — a vacina que, no Brasil, tem o Instituto Butantan como parceiro —, o número de contaminados e mortos despenca no Chile e no Uruguai. Nesse país, que aplicou a "vacina chinesa", a mortalidade caiu 97%. A verdade inequívoca é uma só: a vacina mais eficaz — desde que tenha a devida certificação científica — não é a A, B ou C, mas a "U". A vacina que realmente cura, então, é a vacinação universal.

E o que se vê no Brasil? A aplicação da primeira dose teve de ser suspensa em pelo menos nove capitais nesta segunda em razão da falta de imunizante: Belém, Rio, Salvador, João Pessoa, Campo Grande, Florianópolis, Maceió, Natal e Vitória. Será que estava faltando vacina em estoque? Não!

É que o Ministério da Saúde, comandando por Marcelo Queiroga — lançado por Bolsonaro como candidato a governador da Paraíba —, ficou seis dias sem entregar os imunizantes. E olhem que a pasta recebeu 16 milhões de doses entre a segunda-feira retrasada e ontem.

E por que a demora? Informa reportagem do Estadão:
O órgão ressaltou que, após a entrega dos imunizantes pelos laboratórios, "as doses passam por um controle de qualidade rigoroso, contagem e rotulagem no Centro de Distribuição Logístico, em Guarulhos (SP)". Só depois dessa etapa, diz o órgão, "os imunizantes são liberados para distribuição, os planos de voos são definidos e os lotes chegam aos estados em até 48 horas, em uma operação logística complexa e realizada em tempo recorde". O ministério não explicou o motivo da demora atípica na entrega e por que ficou seis dias sem enviar nenhuma remessa de vacinas.

Ninguém consegue explicar.

Os índices de contaminação e morte estão em queda no Brasil, mas ainda se encontram entre os mais altos do mundo. E isso se deve, é evidente, à vacinação tardia e a um ritmo incompatível com a urgência. Não é o só o negacionismo que mata. A incompetência também.

Atenção: os vacinados com a primeira dose, nesta segunda, estão abaixo de 50%: 45,49% (96.332.312). Mas os que receberam a imunização plena, com duas doses (ou uma, no caso da Janssen), estão muito longe disso: apenas 17,96% da população (38.026.271). É pouco para que tenhamos a queda drástica que se espera. Atingimos nesta segunda a marca escandalosa de 550.586 óbitos.

Assim, a vacina que já salvou milhares de vida no Chile e no Uruguai e que exibe, no caso deste segundo país, uma eficácia de 100% contra mortes, é desdenhada aqui pelo presidente da República. Seguindo a rotina de incompetência que tem sido a marca do Ministério da Saúde na gestão Bolsonaro, a vacinação é interrompida em nove capitais porque a pasta não consegue fazer o imunizante chegar a seu destino.

O presidente da República está ocupado demais com outros assuntos. Dedica seu tempo a fazer proselitismo contra as urnas eletrônicas e a anunciar uma fraude que só existe em seus delírios.

Por Reinaldo Azevedo

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Incendiar a democracia é bem mais grave do que incendiar Borba Gato. Mas...



Enquanto milhares de pessoas pediam o seu impeachment país afora, no sábado, o presidente Jair Bolsonaro voltava a ameaçar as eleições de 2022. Afirmou àquela gente estranha que fica às portas do Palácio da Alvorada:

"Na quinta-feira, vou demonstrar em três momentos a inconsistência das urnas, para ser educado. Não dá para termos eleições como está aí".

Haverá eleições em 2022. E, tudo indica, como está aí — vale dizer: sem voto impresso. E, nota-se, o presidente agora não se limita a contar mentiras. Ele marca data para a lorota. Não vai provar nada. Mas a reiteração da ameaça indica que ele não desistiu de atear fogo às instituições.

CRIME MAIS GRAVE
Incendiar a Constituição é crime bem mais grave do que meter fogo na estátua de Borba Gato, é claro! Nesse caso, estamos diante de uma estupidez de meia-dúzia de cretinos que, na prática, fazem o jogo do bolsonarismo. É gente que não aprendeu nada com 2013 -- QUANDO BOLSONARO COMEÇOU A SER ELEITO -- e que, incapaz de entender a política no Brasil e suas vicissitudes, resolve importar dos EUA modelos de contestação. Mais ou menos como Sergio Moro importou daquele país uma legislação anticorrupção.

Felizmente, representam uma minoria espalhafatosa e irrelevante. Mas o bolsonarismo, é certo, saberá usar o seu "juveniilismo" incendiário a seu favor. Não! Essa gente nada tem a ver com o povo. Como não tinham os violentos de 2013. E não porque esse povo seja bom e cordial... Isso é besteira. É que os pobres precisam ganhar a vida. Não têm tempo de fazer barricadas de desejos vagos e burros de reparação.

Não creio que prosperem desta vez. De todo modo, não lhes faltam pneus e disposição para a burrice. Torçamos para que prospere o bom senso — muito especialmente nos setores da esquerda capazes de pensar e ponderar. A ver. Parece que será assim. Quem tem miolos está ocupado em fazer alianças contra o governo, não em assustar a população.

De resto, as iniquidades que temos como herança têm de ser corrigidas por políticas públicas, não com extremismo minoritário para sair nas redes sociais.

DE VOLTA A BOLSONARO
As manifestações contra Bolsonaro deste sábado, embora menores do que as anteriores -- e convém pensar se o excesso de protestos não acaba por banalizá-los -- foram notícia mundo afora. As tentações golpistas do presidente e o papel das Forças Armadas no país foram destaques, entre outros, no The Guardian, no Le Monde e no Washington Post. Este último foi o mas claro ao abordar o eventual risco que a democracia corre no país.

É certo que a piromania institucional de Bolsonaro é, por si, perigosa — e se destaque que queimar a estátua de Borba Gato, ainda que uma burrice, não é tão grave como a morte de 550 mil pessoas —, mas também de difícil realização, não é? Já vimos que não lhe faltam setores obtusos da caserna, ainda que de pijama, mas também é preciso considerar que, para sobreviver, ele teve de buscar a saída na política. E se ajoelhou no altar que, durante a campanha de 2018, jurou destruir: o centrão.

Nesta segunda, ele se encontra com o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, que vai assumir a Casa Civil. Qualquer pessoa que se acerque de maneira fria e objetiva do quadro há de reconhecer que o acordo torna mais distante a hipótese de impeachment, o que não quer dizer que as forças que se opõem à sua permanência no poder devam deixar de evidenciar a delinquência do seu governo. O nome disso é luta política. Penso, no entanto, não ser o caso de convocar novo protesto para daqui duas ou três semanas. O que o segura no cargo também o desgasta. E é preciso que se dê o devido tempo para metabolizar a operação. Bolsonaro vai insistir na retórica incendiária porque o seu público quer ouvir suas teorias conspiratórias. Mas observem que seus blindados estão no centrão.

HORA DA POLÍTICA
E, parece-me, é mesmo da política que devem cuidar os que anseiam, para o bem da democracia, a cadeira hoje mal ocupada por Bolsonaro. Reportagem publicada pelo Globo informa que José Dirceu, por exemplo, já se encontrou com José Sarney, com Gilberto Kassab, com dirigentes da Força Sindical...

Ele não exerce cargo no partido, e sua influência não é nem sombra do que já foi, mas tem dito que o PT deve se aproximar de setores de centro, buscar interlocução com os evangélicos, dialogar com forças que não são de esquerda. Na sua visão, é preciso conversar com os que não querem Bolsonaro na Presidência, deixando a eleição para 2022. Vale dizer: a frente antibolsonarista é distinta de uma aliança eleitoral. A tese está correta.

E é, diga-se, o que Lula vem fazendo. Não existe interdição para o diálogo. Não se vence uma eleição no Brasil sem conquistar o eleitorado de centro e centro-direita — anda que as pessoas não se identifiquem por esses nomes. E também não se governa sem uma aliança com esses setores no Congresso. Daí que o ex-presidente converse com quem quer conversar. E isso não exclui nem o centrão. Como ele disse na entrevista que me concedeu no dia 1º de abril, aqueles parlamentares foram eleitos pelo povo.

Lula não é idiota e nunca foi do tipo que incendeia estátuas. Nem navios.

E A TERCEIRA VIA?
Por enquanto, a possibilidade de um único candidato da chamada "terceira via" parece difícil. E, com isso, não estou a dizer que uma postulação com essas características -- tão logo sejam definidas -- seja impossível. Mas é preciso não cair em certas ilusões.

A rejeição a Bolsonaro (59%) é alta, mas ela carrega, por óbvio, o eleitorado lulista. A de Lula é bem mais baixa, embora significativa (37%), mas ela carrega o eleitorado bolsonarista. Ocorre que as de outros postulantes, segundo o Datafolha, especialmente quando confrontadas com as diminutas intenções de voto, não são assim tão baixas: João Doria (37%), Ciro Gomes (31%), Luiz Henrique Mandetta (23%) e Eduardo Leite (21%). Note-se à margem: a baixa rejeição também pode ser falta de conhecimento, o que é um problema. Mais: por enquanto, novos pré-candidatos vão chegando para disputar o voto nem-nem — nem Lula nem Bolsonaro.

Também nesse caso, é hora da política, não é? Eu não acredito na construção do que chamo de "candidaturas negativas" — que representem só o repúdio à mal chamada "polarização". Para ser competitivo em 2022, é preciso criar uma identidade: bem ou mal — e eu acho malíssima e maligna —, Bolsonaro tem a sua. Ainda que acene com isso ou aquilo na economia, insistirá na guerra de valores. Lula retomará a bandeira do social e destacará a resposta necessária às iniquidades, que cresceram na gestão Bolsonaro. E, por óbvio, vai apelar à memória ainda bastante presente de seus anos de governo.

Como é que o candidato (ou candidatos) de um caminho alternativo a esses dois fala ao imaginário do eleitorado, afirmando a própria voz? Antes que alguém se consolide como "a" terceira via, convenham, é preciso que ganhe uma identidade.

Não adianta acusar Lula e Bolsonaro de tentarem sabotar esse nome alternativo porque não cabe a eles criá-lo, ora. É incorreto acusar a dupla de tentar tornar o país refém da polarização. A ideia de uma "terceira via", por si, é refém voluntária dessa construção. E precisa sair desse lugar.

CONCLUO
Ah, sim: teremos eleições no ano que vem. Nem o piromaníaco das instituições, que lidera um governo fanaticamente homicida, nem seus aliados objetivos -- os gatos-pingados que querem brincar de incendiar estátuas -- vão impedir.

Por Reinaldo Azevedo

domingo, 25 de julho de 2021

Crise aguda no governo Bolsonaro mexe com tabuleiro para eleição de 2022



A crise do governo de Jair Bolsonaro, que na semana que passou deu um cavalo de pau na composição política do Planalto, acentuou as composições do presidente e de seus rivais visando as eleições de 2022.

O presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB) e José Luiz Datena (PSL) se movimentam de olho no novo cenário pela deterioração da posição de Bolsonaro. Até Sergio Moro reapareceu em conversas sobre o ano que vem.

O presidente experimentou um tombo em pesquisas no primeiro semestre na esteira da crise da pandemia e da associação de seu governo com acusações de corrupção feitas na CPI da Covid.

Houve ainda os entrechoques institucionais promovidos por Bolsonaro, que colocou a pauta da adoção do voto auditável por impressão como cavalo de uma batalha perdida e resolveu sugerir risco para a eleição em si.

Para temperar, a presença do fantasma militar com a polêmica da defesa do voto impresso pelo ministro da Defesa, Walter Braga Netto.

Tudo isso aumentou a instabilidade no Planalto e fez com que Bolsonaro cedesse espaço ao centrão, personificado na presença de Ciro Nogueira (PP-PI) na Casa Civil.

Rasgando o que dissera de 2016 até aqui, Bolsonaro até se declarou integrante do grupo político --segredo de polichinelo, mas para quem se elegeu prometendo acabar com a "velha política", é um golpe de imagem ainda a ser mensurado entre sua base mais fiel.

A aposta dos apoiadores do presidente é que a eleição está longe, e uma retomada econômica bombada pelo ciclo de commodities em curso e a anunciada distribuição de renda aos mais pobres, somada ao avanço da vacinação contra a Covid-19, darão uma chance de recuperação a ele.

Neste cenário, Bolsonaro se manteria como um candidato viável, acima dos 20%-25% que tem registrado de intenção de voto, barrando adversários no campo da centro-direita rumo ao segundo turno com o hoje líder Lula.

Aí, afirma um cacique do centrão, ele ser contraditório ou autoritário valeria menos.

Discorda dessa avaliação o petismo, que neste momento acredita em um Bolsonaro enfraquecido e sem discurso para 2022. A desconstrução seria mais política, independendo tanto da economia.

Com efeito, Lula tem ampliado, assim como Bolsonaro, a presença em programas de rádio no interior do Brasil. No dia 8 de agosto, deverá iniciar um giro pelo Nordeste, sua base eleitoral mais forte, no que será visto como o início formal de sua pré-campanha --que, de resto, está em curso desde sua inabilitação para concorrer em 2018.

O impeachment de Bolsonaro, que passou a ter apoio majoritário na população segundo o Datafolha, parece ter ficado mais distante com a ocupação do governo pelo centrão, provavelmente às expensas da ala militar.

Assim, Lula defenderá retoricamente o impedimento, mas sua real torcida segue sendo pela manutenção de um Bolsonaro enfraquecido até o pleito. Não por acaso, ambos os rivais adotaram discursos semelhantes em relação às opções da chamada terceira via, de desprezo que denota algum temor.

No petismo, preocupa também o que chamam de alquimia de golpe, a discussão sobre o sempresidencialismo para retirar poder do Planalto.

Em outra sinalização, um alto cacique do PT procurou na semana retrasada um tucano de alta plumagem para dizer ter certeza de que Bolsonaro tentará um golpe à la crise do Capitólio de Donald Trump, conclamando apoiadores ao conflito caso venha a perder a eleição.

Sua sugestão de pacto de não agressão com o PSDB mirando o primeiro turno, a quem considera jogador certo no xadrez, não foi levada pelo valor de face, até porque embutia a esperteza de servir ao interesse de Lula. Interlocutores do ex-presidente, contudo, disseram que essa não é a posição do chefão petista.

Além disso, o principal ator tucano, Doria, não foi sondado. Se fosse, o emissário ouviria uma negativa do governador paulista.

Se não está batendo particularmente em Lula nesses dias, o governador paulista tem um longo histórico de antipetismo e sacará essa carta na campanha, cedo ou tarde.

A posição política de Doria está robustecida, faltando neste ponto a intenção de voto. Mirando as prévias de novembro, ele tem se movimentado, passando pelo circuito de rádios do interior e TVs.

Antes de ficar no estaleiro pela reinfecção pela Covid, no qual seu bom estado virou um outdoor para a eficácia da vacina que quer usar como mote de campanha, ele vinha com agenda de visitas estaduais.

Doria também resolveu fazer o dever de casa. Para fortalecer a candidatura do vice Rodrigo Garcia (ex-DEM, agora PSDB) à sua sucessão, promoveu a filiação de quase 50 prefeitos paulistas.

O governador encurralou o tucano Geraldo Alckmin, que queria voltar ao Palácio dos Bandeirantes, ao dizer que ele fugiu das prévias estaduais. O ex-governador, que deve ir para o PSD, agora enfrenta o dilema de concorrer sem a máquina, situação na qual perdeu eleições em 2006, 2008 e 2018.

Há ainda dúvidas sobre o impacto da adesão formal do PP a Bolsonaro em algo que não é lateral, a participação da sigla na pessoa de Alexandre Baldy (Transportes Metropolitanos) no secretariado de Doria. Uma saída parece ser o cenário mais provável.

O rival de Doria nas prévias, o governador gaúcho Eduardo Leite, também tem se mexido após apresentar-se ao país quando assumiu ser gay. Em viagens que têm sido criticadas no seu estado por ocorrerem durante dias de semana, ele tem percorrido a convite pontos estratégicos.

Leite tem o apoio tácito dos outros competidores nominais das prévias, Tasso Jereissati (CE) e Arthur Virgílio (AM), mas é uma certeza no partido que a disputa será entre o gaúcho e o paulista.

Na visão do decano do tucanato, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Doria deverá levar a melhor ao fim, embora precise polir sua inserção política.

A insistência do paulista, alvo de objeções por parte do PSDB e de alguns aliados, tem sido avaliada por caciques como um trunfo. Os outros nomes da dita terceira via estão em extinção, com exceção de Ciro Gomes (PDT), que de todo modo tem dificuldade de se posicionar num jogo em que Lula está presente.

O pedetista é muito de esquerda para ser atraente à direita, e a esquerda tem dono. Outras figuras, como o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM), carecem de musculatura nacional, e o apresentador Luciano Huck preferiu ficar com o seu novo contrato na Rede Globo.

Sem se mexer está Rodrigo Pacheco (DEM-MG, rumo ao PSD), o presidente do Senado vendido por Gilberto Kassab (PSD) como a terceira via ideal. Não se espera nada dele até a virada do ano.

Já o apresentador José Luiz Datena, recém-filiado ao PSL pelo qual Bolsonaro se elegeu, joga fechado em copas. Ele já ameaçou entrar na política diversas vezes, mas integrantes da direção de seu partido dizem que ele estará no páreo presidencial se estiver marcando dois dígitos no começo de 2022. Se não, Senado ou nada são opções.

Um ponto à parte é o ex-ministro e ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro. Dado como carta fora do baralho, ele autorizou a volta da especulação em torno de seu nome, animado justamente pela debacle política de Bolsonaro.

Mas a avaliação consensual entre seus rivais é de que Moro, ainda uma figura popular, mas desgastado após ser rotulado de parcial no julgamento de Lula pelo Supremo Tribunal Federal, acabará sendo um participante do processo, mas não como candidato.

Na Folha

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Recibo de estelionato: Bolsonaro e o governo do centrão



A ida de Ciro Nogueira para a Casa Civil muda o desenho dos negócios em Brasília. Até aqui, o Centrão se limitava a fazer escambo: alugava apoio parlamentar e sacava sua parte em cargos e benesses. Agora o bloco vai trocar o balcão pela gerência da loja. Passará a mandar sem intermediários.

O chefão do PP se reaproximou do poder em junho de 2020, quando Jair Bolsonaro começou a sentir o cheiro do impeachment. Para socorrê-lo, Nogueira exigiu o comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. A autarquia cuida de temas que não costumam emocionar os políticos, como a aquisição de livros didáticos e a organização do transporte escolar. Seu segredo está no orçamento, que ultrapassa os R$ 50 bilhões anuais.

Em fevereiro deste ano, Bolsonaro ajudou outro pepista, Arthur Lira, a se eleger presidente na Câmara. A ascensão do deputado aumentou o poder de barganha do Centrão. O grupo capturou o Ministério da Cidadania, abocanhou a Secretaria de Governo e agora assume a Casa Civil, coração da máquina federal.

No presidencialismo brasileiro, o chefe da Casa Civil acumula poderes próximos aos de um premiê. Coordena os ministérios, comanda investimentos em infraestrutura e filtra o que sai no Diário Oficial. É o cargo dos sonhos para quem gosta de políticas públicas e para quem busca outros tipos de recompensa do poder.

Para acomodar Nogueira, o capitão chutou mais um general: Luiz Eduardo Ramos será rebaixado a secretário-geral da Presidência. O militar se disse “atropelado por um trem”, mas não demorou a recuperar os sentidos. Horas depois da demissão, sorria ao lado do chefe num estádio de futebol.

O novo ministro é um bolsonarista tardio. Há três anos e meio, descrevia o capitão como “um fascista”. Seu modelo de estadista era Lula, “o melhor presidente da história deste país”. A seu favor, ele não é o único a mudar repentinamente de opinião.

Na campanha, Bolsonaro prometeu combater a “velha política” e definiu o Centrão como “a nata do que há de pior no Brasil”. Ontem ele escancarou que o personagem vendido em 2018 era pura ficção. “Eu sou do Centrão”, disse. “Eu nasci de lá.” Ao autografar a nomeação de Nogueira, o presidente assinará mais um recibo de estelionato eleitoral.

Bolsonaro tenta usar Braga Netto para recuar quase 60 anos em menos de três



Uma continha simples evidencia como dois anos e sete meses de Jair Bolsonaro podem representar um atraso de quase 60, especialmente quando um general obtuso e autoritário, como Braga Netto, confunde as Forças Armadas com milícias a serviço do mandatário de turno.

Quando se realizarem as eleições de 2022, já serão 33 anos de pleitos diretos em todos os níveis. Antes destes dias tenebrosos que vivemos, não ocorreu a ninguém ameaçar as urnas, pouco importando quem pudesse ser o vencedor. O tempo de democracia eleitoral plena, pois, já é maior do que aqueles 29 sem disputas presidenciais. A disputa anterior a 1989 havia se dado em 1960, quando Jânio Quadros se elegeu presidente, e João Goulart, vice. Mas que se note: sob a influência propriamente da ditadura, foram 25 anos sem eleição. A prevista para 1965 foi suspensa, e se instaurou o voto indireto.

Não é impressionante? Caso Braga Netto tivesse condições de levar adiante o seu intento, o país recuaria 57 anos no tempo, lá ao longínquo 1965.

MILITARES COMO VÍTIMAS? ORA..
A conversa de que um ingênuo Braga Netto acabou sendo enredado pelo centrão, que estaria malignamente se articulando para tirar do poder os pobres militares patriotas, é conversa para lustrar coturno. A ameaça aconteceu. Se o general resolveu tirar o centrão para dançar e acabou tropeçando nas próprias pernas, isso se deu em razão da sua atabalhoada incompetência e da sua truculência. Os que lhe deram um olé não têm nada com isso.

"Ah, mas por que isso vazou só agora e não antes?" Pelas razões pelas quais cada coisa vaza no seu tempo. É claro que há sempre gente jogando xadrez. Essa questão é irrelevante. O que importa é saber se a ameaça aconteceu ou não. E aconteceu. Aliás, Braga Netto não consegue disfarçar o intento nem na nota em que nega o arreganho autoritário. Escreveu:
"Em relação à matéria publicada em veículo de imprensa, no dia de hoje, que atribui a mim mensagens tentando criar uma narrativa sobre ameaças feitas por interlocutores a Presidente de outro Poder, o Ministro da Defesa informa que não se comunica com os Presidentes dos Poderes, por meio de interlocutores.
Trata-se de mais uma desinformação que gera instabilidade entre os Poderes da República, em um momento que exige a união nacional.
O Ministério da Defesa reitera que as Forças Armadas atuam e sempre atuarão dentro dos limites previstos na Constituição. A Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira são instituições nacionais, regulares e permanentes, comprometidas com a sociedade, com a estabilidade institucional do País e com a manutenção da democracia e da liberdade do povo brasileiro.
Acredito que todo cidadão deseja a maior transparência e legitimidade no processo de escolha de seus representantes no Executivo e no Legislativo em todas as instâncias.
A discussão sobre o voto eletrônico auditável por meio de comprovante impresso é legítima, defendida pelo Governo Federal, e está sendo analisada pelo Parlamento brasileiro, a quem compete decidir sobre o tema."

A nota é falaciosa. O processo de escolha é transparente. O sistema é auditável. Que outro ministro da Defesa, nas democracias mundo afora, entrega-se a essas considerações? Se o ministro conclui que "compete ao Parlamento brasileiro decidir", então que o deixe decidir. E vai. Acredito que sua colaboração será inestimável para enterrar de vez a tolice autoritária da volta do voto impresso. "Autoritária por quê?" Porque é evidente que Bolsonaro pretendia usar as urnas físicas, caso perdesse a eleição, para questionar o resultado. Como fez Trump, seu amigão. E, naquele caso, porque não existe voto eletrônico.

Parece que há gente com o coração partido porque a coordenação política do governo vai para as mãos de Ciro Nogueira, uma das pérolas do centrão. O meu se conserva intacto. Sai de lá um general que comandava tropa até outro dia: Luiz Eduardo Ramos. Continuará fora do lugar na Secretaria-Geral da Presidência, mas é algo menos deletério.

SIMPATIA NEGATIVA PELO CENTRÃO E REPULSA AO GOLPISMO
Vá pesquisar tudo o que já escrevi sobre o centrão e sobre a eleição de Lira. A minha simpatia pelo grupo é negativa. Quando menos porque, por óbvio, desconfio de quem nunca é oposição, sempre governo. O próprio Nogueira, como vimos, chamava Bolsonaro de fascista há pouco mais de três anos e dizia que Lula havia sido o maior presidente da história do Brasil. Agora, vai compor o núcleo duro não só do esforço para Bolsonaro se segurar no poder como da sua tentativa de reeleição.

Ocorre que tenho repulsa por golpistas. Os próceres do centrão chegam ao poder pelo voto. E pelo voto podem ser tirados. Com os militares, é diferente. Não são eleitos por ninguém e, em alguns casos, ameaçam suspender o próprio pleito. Acreditam que podem tutelar a sociedade brasileira. Uma coisa é enfrentar politicamente forças que você repudia. Outra, muito distinta, é ter de correr para não ser preso por fardados a serviço de tiranos ou de tarados morais.

Sim, uma parte do centrão vai tentar segurar a onda de Bolsonaro para mantê-lo no poder. Vai se esforçar para tentar reelegê-lo. Quem quer Bolsonaro impichado ou quem não quer um segundo mandato, o que seria um desastre, que se organize segundo o seu intento: mas dentro das regras do jogo.

Braga Netto tentou enquadrar o centrão e foi enquadrado por ele. Deu-se mal. Isso, em si, é uma boa notícia. Contra o centrão, é possível se mobilizar inclusive em praça pública. Já os golpistas querem pôr seus adversários na cadeia — no mínimo.

Não é assim tão difícil saber qual é o mal menor. Garantida a democracia, que cada um busque seu sonho.

Este sábado é um bom dia para começar. Ou para continuar na luta. Agora, também contra o golpe.

PARA ENCERRAR
O general Hamilton Mourão -- ele foi eleito --, vice-presidente da República, disse a coisa certa sobre eleições e golpe:
"É lógico que vai ter eleição. Quem é que vai proibir eleição no Brasil? Por favor, gente. Nós não somos República de banana. Lógico que não tem espaço para um regime autoritário. Que regime autoritário? O Brasil é um país... A sociedade brasileira é complexa. Acontece que tem muita gente ainda na sociedade brasileira que está olhando pelo retrovisor; olha 50, 60 anos atrás, sem entender o processo histórico que nós estamos vivendo."

E assim voltamos ao começo deste artigo.

Por Reinaldo Azevedo