Num instante em que Jair Bolsonaro intensifica a pregação em favor da "volta à normalidade", o governo de São Paulo prepara uma campanha publicitária em defesa do isolamento social. Exibirá cenas dramáticas vividas em países que menosprezaram o coronavírus e pagaram a negligência com a elevação do número de cadáveres.
A ideia é causar um impacto capaz de elevar a taxa de adesão ao isolamento para patamares entre 60% e 70% da população do Estado. Nas palavras de um dos idealizadores da campanha, pretende-se conscientizar as pessoas por meio do "choque".
Deseja-se "chamar a atenção para o fato de que a morte está batendo à porta." Avalia-se que "é melhor sofrer o impacto da imagem dos mortos que o vírus produziu em outros países do que assistir à repetição das mesmas cenas aqui."
A campanha é parte do esforço do governo paulista para evitar que o isolamento tenha que evoluir para a quarentena (lockdown, em língua inglesa). Nesse estágio, admite-se a cobrança de multas e o uso de força policial para impor as restrições à movimentação das pessoas.
A meta de elevar a adesão ao isolamento para a faixa de 60% a 70% não é aleatória. Segue a orientação do grupo de 15 médicos que assessoram a tomada de decisões do governador João Doria (PSDB), sob a coordenação do infectologista Davi Uip. Sustenta-se que, abaixo desse patamar, o isolamento não conseguirá evitar o colapso do sistema hospitalar de São Paulo.
A orientação médica é combinada com estudos feitos pela consultoria Delloite. Contratada pelo governo paulista, a empresa mantém 22 consultores numa sala do Palácio dos Bandeirantes. Fazem o cruzamento de dados sobre acertos e erros cometidos pelos governos de 56 países na guerra contra o coronavírus.
O ministro Henrique Mandetta (Saúde) e sua equipe incluem São Paulo na lista de "áreas de risco", nas quais a velocidade da infecção do coronavírus pode ser maior do que a capacidade dos hospitais de acomodar e tratar os doentes.
Nos planos de contingência elaborados pelo governo estadual, o confinamento é a providência mais extrema. Em privado, Doria diz que não hesitará em adotá-la se for necessário. Alega que quis dar um "choque térmico" na população ao mencionar a hipótese de lançar mão de medidas como multas e prisões.
Doria e seus auxiliares alarmaram-se com a constatação de que a adesão ao isolamento, que já foi de 59%, despencou para 48% na semana passada. Chegou-se a essa informação a partir do monitoramento dos sinais dos aparelhos celulares. Hoje, 98% dos habitantes de São Paulo possuem telefones móveis.
Nesta segunda-feira, em nova entrevista coletiva, Doria deve atualizar os dados. Espera-se por um aumento do número de pessoas que respeitaram o recolhimento domiciliar no final de semana da Páscoa. Até porque cidades litorâneas bloquearam a entrada de visitantes.
Por Josias de Souza
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