quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Sabatina simultânea de Gonet e Dino piora ritual já bem precário



"As melhores pessoas que eu podia indicar", diz Lula sobre Dino e Gonet

O inciso 3º do artigo 52 da Constituição atribui ao Senado poderes para aprovar ou vetar indicações feitas pelo presidente para alguns dos mais importantes cargos do Estado. Entre eles o de ministro do Supremo e o de procurador-geral da República. A história revela que o processo de análise dos nomes foi convertido numa pantomima. O presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Davi Alcolumbre, move-se nos bastidores para piorar um ritual que já é bem precário.

Antes que seus nomes cheguem ao plenário do Senado, Flávio Dino e Paulo Gonet, indicados respectivamente para o Supremo e para a chefia da Procuradoria, precisam ralar arguições na CCJ. Deveriam ser questionados pelos senadores em sessões separadas. Mas Alcolumbre trama marcar as duas sabatinas para o mesmo dia, 13 de dezembro. O objetivo oculto da manobra é facilitar a vida de Dino. Os adversários do atual ministro da Justiça, sobretudo os integrantes da banda bolsonarista do Senado, teriam menos tempo para fustigá-lo.

Para que as nomeações sejam avalizadas, os indicados de Lula precisam amealhar no plenário 41 votos dos 81 senadores. Dá-se de barato que os nomes serão aprovados. Desde a redemocratização, o Senado jamais rejeitou uma indicação para a Procuradoria. Em toda a história do Brasil, apenas um presidente teve indicações vetadas para o Supremo. Rejeitaram-se cinco nomes escolhidos pelo marechal Floriano Peixoto. Isso aconteceu há 129 anos, em 1894, no alvorecer da República Velha.

Além de desnecessária, a operação subterrânea de Alcolumbre ofende, desrespeita e avilta o processo. O senador é ofensivo com o próprio Dino, pois insinua que o personagem não dispõe de preparo e serenidade para se contrapor às caneladas dos opositores de sua indicação. É desrespeitoso com a plateia, que mereceria do Senado sabatinas capazes de extrair dos indicados a ministro do Supremo e a procurador-geral esclarecimentos sobre a disposição de ambos de colocar o interesse público acima de ideologias e posições pessoais. O movimento é aviltante porque é motivado pelo interesse patrimonialista de Alcolumbre de obter favores do Planalto.


Embraer e Netherland Industries assinam MOU para oportunidades na indústria de defesa da Holanda


Embraer anuncia acordo de cooperação com o setor de defesa e segurança da Holanda — Foto: Divulgação/Embraer

A Embraer e a Netherlands Industries for Defense & Security (NIDV) assinaram um Memorando de Entendimento (MoU) durante a 34ª Exposição NIDV para Defesa e Segurança (NEDS 2023). A assinatura do MoU é um elemento-chave no relacionamento estratégico desenvolvido entre a Embraer e a Holanda e inclui iniciativas já em curso, associadas ao C-390 Millennium e ao A-29 Super Tucano.

O comunicado foi feito pela companhia (BOV:EMBR3) nesta quinta-feira (30).

O Memorando de Entendimento com a NIDV soma-se às parcerias e aos relacionamentos estratégicos da Embraer no país. Além disso, o acordo estabelece uma estrutura conjunta destinada a explorar oportunidades futuras, alinhadas com as prioridades da Estratégia da Indústria de Defesa da Holanda.

Essas oportunidades podem incluir serviços e desenvolvimento de novas capacidades dentro dos projetos já existentes da Embraer, contribuindo ainda mais para a aplicação de conhecimento em defesa, tecnologias e capacidades industriais no país. Um dos principais objetivos é reforçar a participação da indústria holandesa na cadeia de suprimentos do C-390.

“A colaboração com a Embraer é importante para a NIDV e seus membros. A Embraer é uma fabricante voltada para o futuro, com um forte foco em inovação e novas ideias para contribuir com a prontidão operacional de suas plataformas. Estou convencido de que a Embraer agrega valor à Base Industrial e Técnica de Defesa da Holanda”, afirma Hans Huigen, Diretor do NIDV.

“Estamos satisfeitos em aprofundar a nossa parceria com a NIDV. Estamos confiantes de que as estratégias de colaboração deste MoU trarão mais valor ao ecossistema holandês de defesa e segurança, incluindo institutos de pesquisa e a comunidade empresarial em diferentes setores”, afirma Bosco da Costa Junior, Presidente e CEO da Embraer Defesa & Segurança.

As contribuições da NIDV aprofundaram a colaboração da Embraer com a base técnica e industrial de defesa da Holanda, que por sua vez estão alinhadas com as diretrizes do Ministério da Economia e Política Climática do país. A parceria foca no desenvolvimento de soluções inovadoras em defesa e no apoio à plataforma multimissão C-390 Millennium. Este acordo está alinhado com vários outros Memorandos de Entendimento em vigor, envolvendo parceiros tecnológicos e industriais como Fokker Services Group e MultiSIM, e institutos de pesquisa como o Royal Dutch Aerospace Centre (Royal NLR) e a Netherlands Organization for Applied Scientific Research (TNO).

Por Repórter ADVFN

Uma piscina de '500 mil bombas de hidrogênio' que faz estourar os termômetros: conheça o El Niño, vilão do calor extremo



El Niño e as mudanças climáticas aumantam a temperatura global
El Niño e as mudanças climáticas aumantam a temperatura global — Foto: Arte O GLOBO

Observou bem a figura acima? Ela conta a evolução da temperatura média global em 200 anos. Pois bem: a Terra não é mais azul, está mais para Marte, até aqui o planeta vermelho. E você sente isso na pele. A onda de calor que arde um terço do Brasil promete marcas históricas nos termômetros a partir de hoje, bem acima dos 40 graus. Mas você sabe por quê?

O Oceano Pacífico virou uma piscina de água quente do tamanho da Amazônia brasileira, acumulando uma quantidade de energia equivalente a 500 mil bombas de hidrogênio de 20 megatons. É o El Niño, vilão da temporada climática.

O verdadeiro planeta vermelho

O GLOBO mergulhou no fenômeno mais temido da meteorologia em mais um especial do Tem que Ler, produto exclusivo para assinantes que visa a tirar dúvidas, entreter e informar nos mais variados formatos.

No capítulo de hoje, nesta série de três dias, mostramos, com mapas animados, como se forma o El Niño e como ele pode fazer de 2023 e 2024 os anos mais quentes da História do Planeta Terra. Porque o mundo já sofre com os efeitos das mudanças climáticas. Mas o El Niño torna tudo bem pior.

Tá quente. Pode piorar?

Pode, sem rodeios. E não é só o calor que vai nos perturbar. O El Niño desequilibra os eventos climáticos mundo afora. Tudo fica extremo. No Brasil, podemos esperar calor e tempestades na Região Sudeste, chuvas extremas e inundações na Região Sul e seca e queimadas nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. No mundo? A lista avança.

O que mais vem por aí?

Amanhã, o especial do Tem que Ler traz um videográfico que explica em minutos o impacto do calor no corpo humano e dá dicas de como evitar derreter no dia-a-dia.

Em O Globo

Quem já pratica bom jornalismo não será afetado por tese do STF



O Supremo Tribunal Federal aprovou, em julgamento concluído nesta quinta-feira, uma tese que irá nortear decisões do Judiciário sobre o exercício da liberdade de imprensa no país. Ficou decidido que veículos de comunicação podem ser condenados por danos morais quando divulgam entrevista na qual o entrevistado imputa a alguém uma acusação falsa de prática de ato ilícito.

O caso que deu origem à decisão do Supremo envolve uma disputa entre a família do ex-deputado Ricardo Zarattini Filho, morto em 2017, e o Diário de Pernambuco. O jornal havia sido condenado a pagar indenização de R$ 50 mil por uma entrevista. Nela, o entrevistado acusara o ex-parlamentar de ser responsável por atentado a bomba no aeroporto de Guararapes, em 1968, durante a ditadura militar. Algo que não ficou comprovado.

O Supremo já havia confirmado a condenação. Mas entendeu que seria necessário definir os parâmetros a serem aplicados pelo Judiciário no julgamento de casos similares. Entidades representativas da imprensa agiram para evitar incompreensões ruinosas. Acabou prevalecendo, por maioria de votos e com ajustes, a tese do ministro Alexandre de Moraes. Para ele, a liberdade de imprensa não é um direito absoluto. Deve ser exercida com "responsabilidade".

Ficou estabelecido o óbvio: Não se admite a censura prévia. Mas avaliou-se que é possível responsabilizar veículos que divulguem entrevistas com "informações comprovadamente injuriosas, difamantes, caluniosas, mentirosas." A decisão combina o direito à informação com outros direitos também previstos na Constituição. Os "direitos à honra, intimidade, vida privada e à própria imagem" dos acusados.

Num instante em que a sociedade exige das plataformas digitais responsabilidade pelo conteúdo das informações que divulgam, não seria razoável que a imprensa profissional reivindicasse a inobservância da obrigação elementar de verificar a veracidade de fatos e acusações.

Se as imputações são antigas, como no caso de Pernambuco, a checagem é um imperativo historiográfico. Se a notícia envolve acusações contemporâneas, como nos casos da entrevista de Pedro Collor contra o irmão-presidente ou das revelações de Roberto Jefferson sobre o mensalão, cabe exercer o dever profissional de ouvir o "outro lado" —não como aplicação mecânica de uma regra, mas com o propósito sincero de dar oportunidade genuína ao exercício do contraditório.

Tudo isso já é levado em conta pelas redações onde se pratica o bom jornalismo. Conviria ao Supremo aperfeiçoar o texto de sua tese, pois há desafios que transbordam a decisão tomada nesta quinta-feira. Por exemplo: nas entrevistas ao vivo, a instantaneidade impede a verificação imediata de eventuais imputações criminosas atribuídas a terceiros. Cabe, nesses casos, buscar o contraditório com a rapidez devida. De novo, algo que já está introjetado na prática do jornalismo profissional.

Não faria sentido a essa altura impor travas artificiais à imprensa livre. Ela pode, naturalmente, ser boa ou ruim. Mas será sempre precária sem liberdade.

Embraer fecha acordo para venda de 25 jatos em negócio de US$ 2,1 bilhões


Embraer fecha acordo para venda de até 25 jatos em negócio de US$ 2,1 bilhões. — Foto: Divulgação/Embraer

A Embraer anunciou, nesta quarta-feira (29), um acordo com a empresa Porter Airlines para venda de até 25 aeronaves, em um negócio avaliado em US$ 2,1 bilhões.

O acordo prevê a venda de 25 aviões da família E195-E2 e se somam aos 50 jatos já encomendados pela companhia aérea canadense. Os jatos selecionados pela empresa têm capacidade para até 146 assentos.

Segundo a Embraer, a Porter Airlines tem sede no Canadá e tem como objetivo ampliar a operação em toda a América do Norte.

Recentemente, a companhia anunciou novos destinos, incluindo Las Vegas, Miami, São Francisco e Los Angeles, todos nos Estados Unidos da América, além de planejar também voar para o México e Caribe.

A encomenda entrou para a carteira de pedidos firmes do quarto trimestre de 2023 da Embraer. A data de entrega das aeronaves não foi divulgada.


No G1 Vale

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Embraer recebe pedido firme de 25 jatos E195-E2 da canadense Porter Airlines

Logo da Embraer em pavilhão no Reino Unido 20/7/2022 REUTERS/Peter Cziborra/Arquivo © Thomson Reuters

A Embraer informou nesta quarta-feira que a companhia aérea canadense Porter Airlines fez um novo pedido firme de 25 de seus jatos E195-E2, somando-se a 50 jatos já encomendados, totalizando agora 75 pedidos firmes, com 25 direitos de compra remanescentes.

O acordo, avaliado em 2,1 bilhões de dólares a preço de lista, marca uma expansão da frota da Porter Airlines, que utilizará os jatos da Embraer para ampliar seu serviço a destinos na América do Norte, de acordo com o comunicado.

O pedido adicional será integrado à carteira de pedidos firmes da Embraer no quarto trimestre de 2023.

"Os 25 jatos adicionais permitirão a expansão de nossa malha para mais destinos em toda a América do Norte", disse em nota o presidente-executivo da Porter Airlines, Michael Deluce.

A Porter, cliente de lançamento do E195-E2 na América do Norte, já recebeu 24 dos jatos encomendados até agora, segundo a Embraer.

Os jatos da Porter possuem capacidade para até 146 assentos, e oferecem uma configuração de 132 assentos, todos de classe econômica.

Agência Reuters

Lula flerta com conto do vigário saudita que vitimou Bolsonaro


Lula com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro e primeiro-ministro da Arábia Saudita



A caminho da cúpula da ONU sobre meio ambiente, em Dubai, Lula fez escala na Arábia Saudita, maior produtor de petróleo do mundo. Reuniu-se com o príncipe-ditador Mohammed bin Salman. Conversaram sobre a suposta intenção dos sauditas de despejar US$ 10 bilhões em investimentos no Brasil. Os mesmos petrodólares foram prometidos a Bolsonaro em outubro de 2019. Nunca passaram do estágio de lero-lero diplomático a serviço da máquina de propaganda saudita.

Presente à reunião, o ministro Rui Costa (Casa Civil) disse que há um "leque de opções" para a aplicação dos bilhões sauditas no Brasil. Mencionou áreas como energia, produção de alimentos e infraestrutura". Anunciou a formação de um grupo de trabalho. Esse tipo de grupo serve para que os governos discutam exaustivamente os problemas. Em muitos casos, os participantes sentem-se tão exaustos que se desobrigam de encontrar soluções.

Em outubro de 2019, depois de um encontro com o mesmo Bin Salman, Bolsonaro soou exultante. "Logo que cheguei, ele me falou: 'Você não vai voltar amanhã sem levar nada para o Brasil", ele contou aos jornalistas. Estão garantidos US$ 10 bilhões para investimentos no Brasil."

Supondo-se que Lula não tenha recebido nenhuma joia saudita de presente, restaram da visita o flerte com um conto do vigário no qual o antecessor já caiu e o constrangimento da reunião com um príncipe das trevas. Bin Salman mandou esquartejar um jornalista, mantém a mãe em cativeiro e proíbe o funcionamento de igrejas. Não fosse pelos petrodólares, ninguém lhe dirigiria um reles bom-dia.

Embraer fecha acordos na Arábia Saudita durante visita de Lula



A Embraer firmou, nesta quarta-feira (29), acordos de cooperação com a Arábia Saudita nas áreas de aviação civil, defesa e mobilidade aérea urbana.

O anúncio ocorre durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que participará do Seminário Embraer em Riad, quando os acordos serão anunciados nesta quarta.

O Palácio do Planalto disse que são três cooperações firmadas com o país árabe: memorando de entendimento de cooperação e parcerias com o governo saudita (com Ministério de Investimento e o GACA, autoridade aeronáutica saudita); memorando de entendimento com a Sami, empresa saudita de Defesa; e memorando de entendimento da EVE, o "carro voador", com a operação de táxi aéreo saudita, FlyNas.

O governo não divulgou valores dos acordos, mas diz que eles criam oportunidades de investimentos e parcerias com a indústria local e incrementam as exportações brasileiras.

Uma das principais missões da comitiva presidencial no giro do Oriente Médio é justamente firmar acordos de parceria e trazer investimentos ao Brasil, sobretudo ao Novo PAC (Programa de Aceleração e Crescimento).

O programa é uma das principais vitrines do governo Lula 3. Os investimentos totais, considerando o Orçamento da União, dinheiro das estatais e recursos privados, estão estimados em R$ 1,7 trilhão, sendo R$ 1,4 trilhão até o fim do mandato de Lula e outros R$ 300 bilhões após 2026.

Diversos ministros acompanham Lula na viagem ao Qatar e à Arábia Saudita, antes de embarcarem para a COP28 em Dubai. Mas o ministro Rui Costa (Casa Civil), com Marcus Cavalcanti, secretário especial de PPI, estão com a missão de trazer investimentos ao Brasil.

Desde o final do governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL), a monarquia autoritária vem sinalizando interesse em ampliar sua cartela de investimentos no Brasil. Lula teve reuniões ampliada e privada com o xeique Mohammed bin Salman na segunda-feira, o mesmo que deu joias de presente a Bolsonaro.

Nesta quarta-feira (29), Lula terá encontros empresariais. Pela manhã, será o da Embraer, e à tarde, um da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

Em Doha, no dia seguinte, o presidente participará de fórum com empresários e de um encontro com o emir Tamim bin Hamad al-Thani. De lá, parte para a COP28.

Após a conferência do clima, Lula vai para a Alemanha no dia 3 de dezembro. Eles jantarão com o premiê Olaf Scholz e, no dia seguinte, o presidente brasileiro terá uma bilateral com seu homólogo alemão, Frank-Walter Steinmeier, após nova reunião de trabalho com Scholz.

Deve haver assinatura de declaração conjunta e acordos. Há ainda a previsão de reunião com empresários e parlamentares.

Na Folha de S. Paulo

Ataque de áreas da imprensa a Dino prova que fascistoides não foram em vao



Li um artigo em que Flávio Dino (Justiça), indicado por Lula para o Supremo, é chamado de "beligerante". Como se pode encontrar com facilidade, a palavra deriva de "belligero" — "belligerare" no infinitivo. Nos dicionários latinos, verbos aparecem na primeira pessoa do indicativo. Significado? "Fazer a guerra", "guerrear". O substantivo é "bellum" (guerra). Daí o famoso lema "Si vis pacem, para bellum": se queres a paz, prepara a guerra.

"Parabellum" é o nome de uma pistola produzida pela empresa alemã Deustsche Waffen und Munitionsfabrik (D.W.M.). Ficou famosa, entre os que curtem essas coisas estranhas, no começo do século passado. Os brasucas criamos a palavra "parabelo" como sinônimo de trabuco. Em "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Gláuber Rocha, ao clamor para que Corisco se entregue, este responde, no canto de Sergio Ricardo, parceiro de Glauber na música: "Eu me entrego só na morte, de parabelo na mão". Segue a letra:
"Se entrega, Corisco!
Eu não me entrego, não!
Eu não sou passarinho
Pra viver lá na prisão.
Se entrega, Corisco!
Eu não me entrego, não!
Não me entrego ao tenente,
Não me entrego ao capitão,
Eu me entrego só na morte
De parabelo na mão
Se entrega, Corisco!
Eu não me entrego, não!
(Mais forte são os poderes do povo!)"

Pois é... O povo quase nunca se dá bem no fim dos filmes, pior ainda nos da vida real. Até porque se vai aprendendo que "povo", propriamente, como unidade, não existe. Há "povos". O desafio é garantir a todos a dignidade na diversidade.

"Que viajada, hein, Reinaldo Azevedo!" Admito: um pouco. É que fiquei cá a me indagar o que leva alguém, e não é só a ignorância etimológica — quem sabe a vontade servir... —, a tachar Dino de "beligerante". E, pois, isso significa que ele estaria disposto à guerra. Mais até: o homem a promoveria, buscando, de modo deliberado, o confronto.

DIVERGÊNCIAS

As pessoas divergem sobre gostos. Sempre há aquelas que curtem coisas exóticas. Eu, por exemplo, sou o "louco do coentro". Vou com certa frequência a um restaurante em que há um arroz levemente salpicado pela erva. Peço uma porção extra da dita-cuja. Garçons ficam um tanto hesitantes diante da demanda, a um passo de dizer: "O senhor é doido, é?" Não consigo compreender quem gosta de carne de frango, impossível para mim. Sinto gosto de pena escaldada. "E que gosto tem pena escaldada, maluco?" O de carne de frango, ora!

Dino da guerra? Não se trata de um solipsismo do paladar. Não é como investir numa overdose de coentro ou pedir: "Você poderia dispensar o frango só hoje? Eram dinossauros, coitados!" Até essa saída haurida da evolução eu já tentei. Que nada! Um franguinho grelhado é considerado o pretinho básico, o jeans com que se pode ir à festa, à casa da mãe ou a uma "manif dos antifas". Já o coentro é a exposição de um gosto inconfessável, matéria que só se vocaliza ali pelo terceiro ano de análise.

HUMOR DE SALVAÇÃO

"Belligero", "belligerare", "bellum"... O ex-governador do Maranhão tem até um humor incomum na categoria a que pertence. Quando atacado com vilezas, responde com moderado sarcasmo ilustrado, apelando a certo didatismo -- que chega a ser pedagógico no caso do tal Nikolas (não que ele vá aprender tão cedo) e aparições afins. Contendores se ofendem às vezes, muito especialmente quando não entendem as respostas.

Entrevistei o ministro no podcast "Reconversa", que divido com o advogado Walfrido Warde. Na sua prosa, há citações cobertas de Eça de Queirós, Santo Tomas de Aquino, Santo Agostinho... São partes constitutivas do seu pensamento. E o faz sem arrogância. As referências fluem porque ali está um homem que tem não apenas o notório saber jurídico, e até isso lhe pretendem negar os "espadachins da reputação alheia". Há, de fato, notório saber civilizatório, que parece andar fora de moda em certos círculos que começam ignorando o sentido das palavras e seguem depredando a ordem democrática.

DEGRADAÇÃO

É do jogo, fazer o quê?, que bolsonaristas produzam bolsonarices. A degradação da vida pública não é uma jabuticaba nativa, como não cansa de gritar o mundo à volta. Infelizmente, nem a imprensa profissional ficou imune à degeneração rançosa. O grande mau passo, depois da redemocratização, se deu com a adesão incondicional à feitiçaria da Lava Jato -- e as Viúvas Porcinas de Moro Santeiro continuam por aí, a vender fofoca como se fosse jornalismo isento.

Coube ao Supremo recolocar o país no trilho da institucionalidade, depois de ter se livrado, ele também, de encantos e sortilégios. Ocorre que o resgate da ordem legal teve, felizmente, consequências. E uma delas foi a eleição de Lula. Os que foram derrotados pelo triunfo da Constituição e os que esperavam a tal "terceira via" criaram a fantasia de que há uma aliança tácita, ou conluio (depende a fúria do retórico), a unir o tribunal e os "progressistas"

Políticos de direita e de extrema-direita insistem nessa fantasmagoria. Seu papel é vender bugigangas ideológicas. Ocorre que, sob o pretexto de garantir a pluralidade, fatias do jornalismo passaram a dispensar a conspiradores e conspiracionistas o status de vozes aceitáveis no universo da democracia. Os fascistoides não foram em vão.

Onze meses depois do ataque de 8 de janeiro, acumulam-se os artigos contra a Corte. Com alguma frequência, são de uma ignorância específica que despertariam piedade, não fosse a má consciência que exalam. Dino, que fez o devido enfrentamento político com os inimigos da ordem democrática, é chamado "beligerante", e magistrados que se articularam para peitar os golpistas, enquanto muitos se acanalharam, são tratados como usurpadores.

ENCERRO

A pluralidade é o sol da terra, e uma de suas formas de ser é a divergência, inclusive a ideológica. Mas é preciso que se faça a devida distinção entre a opinião (e o gosto) e a mentira objetiva.

Deus e o diabo seguem lutando na terra do sol. "Se entrega, Corisco!" Eu não me entrego, não. Só me entrego na morte, de coentro na mão.


domingo, 26 de novembro de 2023

Cinismo bolsonarista permeia o protesto contra morte de preso


Cleriston da Cunha, de 46 anos, morreu após mal súbito na Papuda, em Brasília

Convocado para este domingo pelo pastor Silas Malafaia, com o apoio de Bolsonaro e de sua milícia parlamentar, o ato em memória de Cleriston Pereira da Cunha é o cirnismo levado às fronteiras do paroxismo. Preso em flagrante dentro do Senado no 8 de janeiro, Cleriston morreu na penitenciária da Papuda na última segunda-feira. A morte despertou no bolsonarismo um insuspeitado apreço pelos "direitos humanos dos presos" e pelo "Estado Democrático de Direito", os dois motes da manifestação programada para a Avenida Paulista.

A politização do cadáver de Cleriston faz lembrar um episódio que envolve Picasso e o seu "Guernica", quadro que mostra a destruição da cidade de mesmo nome durante a guerra civil espanhola. Um graduado militar alemão fez uma visita a Picasso em seu estúdio. Ao dar de cara com uma reprodução de "Guernica" na parede, perguntou: "Foi o senhor que fez?" E Picasso: "Não, não. Foram os senhores".

O questionamento às circunstâncias que permeiaram a morte do preso é plenamente justificável. Cleriston ostentava saúde precária. Diabético e hipertenso, arrostava complicações decorrentes da Covid. A defesa havia formulado oito pedidos de liberdade. As investigações estavam concluídas. O denunciado convertera-se em réu pela prática de crimes como associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.

Em manifestação enviada ao Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria Geral da República avalizara o pedido de soltura. Sustentou que Cleriston poderia aguardar o julgamento arrastando uma tornozeleira eletrônica em prisão domiciliar. Relator dos inquéritos sobre os atos golpistas, o ministro Alexandre de Moraes absteve-se de julgar o pedido.

Numa evidência de que o caso de Cleriston pode ter sido tratado com negligência, Moraes já determinou a soltura de oito presos depois da notícia sobre a morte na Papuda, três deles em despachos sigilosos. O que desqualifica o ato da Paulista é o fato de que não haveria "patriotas" na Papuda se Bolsonaro e seus devotos não tivessem insuflado o golpismo que levou à depredação das sedes do Congresso, do Supremo e do Planalto.

Mal comparando, o 8 de janeiro foi a Guernica do bolsonarismo. Bolsonaro e os seus apoiadores cultivam a mania de olhar com distanciamento típico dos "scholars" o quadro de ruína que o golpismo produziu na democracia brasileira. Agem como se não fosse com eles. A atitude é cômoda. Muito cômoda. Mas criminosamente hipócrita.

O capitão e seus seguidores deveriam desperdiçar um naco de sua existência ruinosa para fazer uma introspecção. Pode ser após o despertar neste domingo, barriga colada à pia do banheiro, enquanto espalham o dentifrício pelas cerdas da escova.

Levando a experiência a sério, depois de bochechar e lavar o rosto, os bolsonaristas que cultuam a memória de Cleriston enxergarão no espelho, no instante em que erguerem os olhos para pentear os cabelos, o reflexo cínico e deslavado da culpa.

Mais fácil punir ofensa a general do que desacato à Constituição



No total, 109 réus do 8 de janeiro continuam presos. Um deles, Cleriston Pereira da Cunha, morreu no pátio da Papuda na semana passada, durante o banho de sol. Quase três dezenas de pessoas já foram condenadas. Há no rol de detidos e sentenciados um hediondo déficit de fardas.

É impossível elucidar em termos categóricos os fatos que levaram ao quebra-quebra nas sedes dos Três Poderes sem incluir no roteiro o papel desempenhado pelos militares. Oficiais bolsonaristas contribuíram —por ação ou omissão— com a formação da conjuntura que produziu a tentativa de golpe. Nenhum deles foi punido a sério.

Há três dias, surgiu o primeiro militar hipoteticamente "condenado", o coronel do Exército Adriano Camargo Testoni. Nada a ver com os rigores do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. A "condenação" foi decretada pela Justiça Militar. O crime do sentenciado foi xingar generais e o alto comando do Exército.

Acompanhado de sua mulher, o coronel Testoni marchou sobre a Esplanada dos Ministérios no dia da intentona bolsonarista. Irritou-se com as Forças Armadas, pois, na sua percepção, as tropas deveriam ter sido mobilizadas para proteger os "patriotas" que se insurgiram contra o resultado das urnas. Ele divulgou nas redes sociais um vídeo com os xingamentos.

Ofendeu especificamente os generais Ridauto Lúcio Fernandes, Marco Antônio Freire Gomes, Carlos Duarte Pontual de Lemos e Cristiano Pinto Sampaio. Foram dois os xingamentos mais eloquentes. Num, o coronel referiu-se à genitora dos seus superiores como pessoas que, exercendo a profissão de prostituta, o que torna impossível saber com precisão quem seriam seus pais, lhes deu à luz. Noutro, recomendou aos generais que se dedicassem à irrealizável tarefa da autofornicação.

Por mal dos pecados, o ofensor postou o vídeo em grupos de WhatsApp frequentados pelos ofendidos. No dia dos ataques, o coronel prestava serviços no Hospital das Forças Armadas, em Brasília. Foi exonerado em janeiro. Só na semana passada, amargou uma condenação mixuruca: um mês e dezoito dias de prisão em regime aberto. Ainda pode recorrer ao Superior Tribunal Militar. Reformado, continua recebendo aposentadoria de cerca de R$ 25 mil por mês.

Ironicamente, a Justiça Militar não enxergou problemas na presença de um coronel do Exército brasileiro no cenário do surto antidemocrático. Ao contrário. A sentença anota que "o réu agiu como cidadão no seu livre direito de se manifestar (pacificamente, por óbvio)." O problema foi que direcionou "suas descrenças e dissabores a superiores hierárquicos, olvidando a sua condição inafastável de militar, ainda que da reserva remunerada."

Concluiu-se que "a perda de controle emocional do acusado, naquelas circunstâncias, se distancia em muito do que era esperado de um oficial superior, pertencente à Arma de Combate (Infantaria) do Exército Brasileiro, não servindo como escudo a presença de sua esposa naquela manifestação popular".

Observada isoladamente, a "condenação" do coronel Testoni é apenas ridícula. Analisada num contexto em que nenhum outro militar foi lançado no rol dos culpados pelo 8 de janeiro, a novidade é constrangedora e aviltante.

Constrange porque são abundantes as evidências de que integrantes da cúpula das Forças Armadas foram cúmplices de Bolsonaro na incitação à tentativa de golpe. Avilta porque ficou entendido que é mais fácil simular a punição à ofensa a um grupo de generais do que condenar o desacato de oficiais à Constituição e ao regime democrático.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Embraer usa tecnologia para pousar uma águia gigante em São José dos Campos, SP



Uma águia gigante pousou nesta quinta-feira (23) próxima à ponte estaiada em São José dos Campos , no interior de São Paulo (veja vídeo acima).

As imagens foram divulgadas pela Embraer e fazem parte de uma estratégia da empresa para divulgar o retorno à sede da aeronave E195-E2 com a pintura Tech Eagle, que traz a imagem de uma ave na fuselagem.

Embraer usa tecnologia para pousar águia gigante em São José dos Campos — Foto: Reprodução


A pintura especial foi exibida pela primeira vez pela Embraer neste mês em uma feira de aviação em Dubai.

A volta da aeronave a São José dos Campos foi anunciada com auxílio de computação gráfica, que colocou uma águia gigante na ponte estaiada.

Segundo a Embraer, a pintura Tech Eagle visa transmitir os conceitos de alta tecnologia, desempenho, eficiência e baixo ruído.

A estratégia de associar as características dos aviões com forças da natureza já vem sendo usada pela Embraer há alguns anos. As referências usadas nas customizações são a águia, o tubarão e o leão.


No G1 Vale

Embraer entrega à FAB a quinta aeronave modernizada EMB 145 AEW&C


Embraer entrega à FAB a quinta aeronave modernizada EMB 145 AEW&C

A Embraer entregou à Força Aérea Brasileira (FAB) a quinta aeronave modernizada EMB 145 AEW&C, designada na FAB como E-99M. A E-99M executará funções de Alarme Aéreo Antecipado e Controle e Alarme em Voo, além de missões de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento Aéreo.

O comunicado foi feito pela companhia (BOV:EMBR3) nesta quinta-feira (23).

A entrega do quinto E-99 é um importante marco para o projeto E-99M. Essa é a primeira aeronave entregue na configuração FOC – Full Operational Capability com os sistemas totalmente certificados para emprego pela Força Aérea Brasileira na proteção do Brasil e de sua soberania nacional, afirma Bosco da Costa Junior, Presidente e CEO da Embraer Defesa & Segurança. As quatro aeronaves entregues previamente serão atualizadas para a versão FOC, para que possam desempenhar plenamente todas as missões para quais foram projetadas.

Desenvolvido sobre a plataforma do bem-sucedido jato regional ERJ 145, o E-99 da FAB é capaz de detectar, rastrear e identificar alvos em sua área de cobertura e transmitir essas informações via Data Link. A aeronave realiza missões de vigilância do espaço aéreo, controle e gerenciamento de interceptação, inteligência eletrônica e monitoramento de fronteiras.

Com a modernização, a aeronave E-99M passa a contar com os sistemas Radar Erieye e Comando & Controle (C2) totalmente modernizados. A aeronave também possui novos sistemas de Guerra Eletrônica (Non-Communication NCOM), novo IFF Transponder, 7 rádios V/UHF definidos por software, novo sistema de Áudio de Missão de tecnologia VOIP e novo gravador de Áudio e Dados de Missão, além da função Data Link adaptada à nova arquitetura.

O interior da aeronave também foi atualizado para aumentar o conforto da tripulação e ampliar a capacidade de operação, com cinco consoles reprojetados e otimizados para melhor emprego dos sistemas modernizados.

O projeto E-99M é conduzido pela Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC) junto à Embraer e fornecedores internacionais, como a SAAR Aeroelectronica International (AELI) e Rohde & Schwarz. A Atech, empresa do grupo Embraer, participa do projeto no desenvolvimento de parte do sistema de comando e controle, fornecendo seis estações de planejamento e análise de missão, que serão empregadas no treinamento e aperfeiçoamento das tripulações.

Além da operação pela FAB, o EMB 145 AEW&C também é operado pelas forças aéreas da Índia, México e Grécia.

Informações Agência CMA

Barroso aponta risco às instituições e lembra a 1ª tentação de autoritários


Roberto Barroso, presidente do Supremo: sem ambiguidade ou flerte com o despropósito, minitro apontou ataque à instituição
Imagem: TV Justiça/Reprodução


A resposta do Supremo ao arreganho autoritário do Senado contra a Corte veio à altura do agravo. Se alguns valentes fingiram não ter entendido o que se disse, lá vai a tradução: a Constituição reserva à Corte a tarefa de julgar a constitucionalidade de qualquer disciplina legal, inclusive daquelas que pretendem manietar o Judiciário. Ademais, havia um subtexto evidente: "Não finjam que estamos aqui a tratar apenas da PEC que se aprovou ontem; há uma escalada contra o tribunal, que tem de ser interrompida".

A questão, deixou claro Roberto Barroso, presidente do STF, é de natureza institucional:

"Não há institucionalidade que resista se cada setor que se sentir contrariado por decisões do tribunal quiser mudar a estrutura e funcionamento da Corte. (...) Não se sacrificam instituições no altar das conveniências políticas. O Supremo Tribunal Federal não vê razão para mudanças constitucionais que visem a alterar as regras do seu funcionamento. Num país que tem demandas importantes e urgentes, que vão do avanço do crime organizado à mudança climática, que impactam a vida de milhões de pessoas, nada sugere que os problemas prioritários do Brasil estejam no Supremo Tribunal Federal".

E não estão. Conhecemos as razões por que Davi Alcolumbre (União-AP), presidente da CCJ, e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que preside o Senado, resolveram voltar as suas armas contra os magistrados. A parceria com o bolsonarismo é escancarada. Ao mesmo tempo, tentaram estabelecer pontes com o governo federal. E então se viu Jaques Wagner, líder do governo na Casa, a salvar, como já apontei aqui, a dupla de uma derrota. Sem Wagner, seu voto e sua mobilização, a PEC teria sido derrotada. É uma vergonha.

As razões por que o fez ainda seguem um tanto obscuras. Mas cumpre ao presidente Lula deixar claro se ele opera ou não em seu nome no Senado, que é isso o que faz um líder do governo. Se sim, fez o que fez e continua na função. Se não, então tem de ser substituído ou de pedir para sair.

Não! O Supremo tem sido solução, nunca problema, como lembrou Barroso:

"Nos últimos anos, o Supremo Tribunal Federal enfrentou o negacionismo em relação à pandemia, salvando milhares de vidas; o negacionismo ambiental, enfrentando o desmatamento da Amazônia e a mudança climática, bem como funcionou como dique de resistência contra o avanço autoritário. Por esse papel, o tribunal sofreu ataques verbais e a criminosa invasão física que vandalizou as instalações da Corte. Após esses ataques verbais e físicos, o tribunal vê com preocupação avanços legislativos sobre a sua atuação, Nos últimos 35 anos, o Brasil viveu situações institucionais complexas, quem em outros tempos, teriam levado à ruptura constitucional e democrática: crises econômicas, inflação descontrolada, escândalos de corrupção e dois impeachments. Apesar de tudo o que ocorreu, o país preservou a estabilidade institucional e a democracia. E cumpre lembrar: em todos os países que recentemente viveram um retrocesso democrático, a erosão das instituições começou por mudanças nas supremas cortes. Os antecedentes não são bons".

A lembrança é precisa. Hugo Chávez na Venezuela — já faz tempo...; Viktor Orbán na Hungria ou Benyamin Netanyahu, em Israel... Todos os delírios autoritários começam com a vontade de controlar a Justiça.

Por aqui, não passarão.

Mendes repudia intimidação e lembra o óbvio sobre impeachment de ministros


Gimar Mendes desmonta delírio autoritário que resultou na PEC que integra uma escalada do Senado contra o STF Imagem: Reprodução/TV Justiça

A reação de ministros do STF à sanha do Senado foi concertada. Cada um dos que falaram cumpriu o seu papel. Roberto Barroso foi muito firme, não deixando espaço para tergiversações no reconhecimento de que a Casa que ele preside está sob ataque. Mas, na sua função, a verdade flamejante pode ser vazada em linguagem mais fria.

Já a tarefa de um decano, como o guardião da hora da memória do tribunal, é ir para a primeira linha do enfrentamento. E, como se sabe, esse nome é Gilmar Mendes. Ainda que tal condição não exibisse, não é do tipo que foge a embates se necessário. E ele chamou tudo por seu devido nome:

"O fato é que este Supremo Tribunal Federal, sempre atento às suas responsabilidades institucionais e ao contexto que o cerca, está preparado, não tenham a menor dúvida, para enfrentar, uma vez mais, e caso necessário, às investidas desmedidas e inconstitucionais agora eventualmente provenientes do Poder Legislativo. Lembro aos ministros: recados da rua chegam a todos nós, dando conta de que o projeto de emenda aprovado é mal menor, tendo sido endereçado a esta Casa, agora, como forma de impedir possíveis reformas ainda mais drásticas ao funcionamento da Corte ou mesmo à instauração de processos de impeachment contra membros deste tribunal. No particular, senhor presidente, é preciso altivez para rechaçar esse tipo de ameaça de maneira muito clara. Esta Casa não é composta por covardes. Esta Casa não é composta por medrosos. Cumpre dizê-lo com serenidade, mas com firmeza e com o desassombro que esse tipo de investida exige de todos nós, membros destas casa multicentenária: este Supremo Tribunal Federal não admite intimidações".

Traduza-se:
1 - chama o que está em curso por aquilo que é: intimidação, uma vez que a PEC aprovada é apenas uma das iniciativas em curso para tentar subordinar o colegiado a interesses de ocasião;
2 - Mendes não cita o impeachment por acaso. Cabe ao presidente do Senado -- um de seus poderes monocráticos -- pôr para tramitar pedidos de impeachment. Ora, se é esse mesmo presidente a liderar a investida, é evidente que resta, ainda que de maneira sub-reptícia, uma ameaça;
3 - ele dá destaque a conversas que circularam nos bastidores, que tentavam convencer os integrantes da Corte a condescender com a emenda como uma espécie de "preço baixo" a pagar, já que poderia ter vindo algo muito pior;
4 - como se nota, tem-se toda uma urdidura destinada à intimidação;
5 - e então vem a conclusão do trecho: o STF não admite intimidações.

Como o impeachment vive a ser pregado nas redes pela extrema-direita -- nem Rodrigo Pacheco (o do poder monocrático nem Davi Alcolumbre (União-AP), a mão que balança o berço, o ignoram --, Mendes notou que também uma eventual ação dessa natureza está afeita à jurisdição do STF. Seja PEC, seja uma ação de impedimento, seja outros expediente qualquer, nada disso prosperará contra a ordem legal. Deixemos que ele fale:

"Cabe lembrar -- e eu já fiz isso várias vezes, e nós já tivemos a oportunidade de fazê-lo -- a esses propagadores do caos institucional que os processos de responsabilidade dos ministros desta Corte hão de estar submetidos ao crivo judicial garantidor do devido processo legal, impedindo que acusações mambembes turvem a independência judicial, cânone inafastável do Estado democrático de direito. Não se brinca de impeachment. Isso é uma medida séria, e é preciso ser tratada por gente séria. Ainda, é desnecessário dizer que, ao realizar essa forma de controle, este tribunal certamente não estará inovando em sua atuação jurisdicional, pois foi esse mesmo proceder que, num resgate da da boa política, afastou do cenário institucional a ameaça a inúmeros agentes públicos, representada por tantos falsos heróis, como aqueles que compuseram a chamada República de Curitiba".

Se posso deixar ainda mais claro o que disse: eventuais processos de impeachment estarão sob o controle jurisdicional do próprio STF. A menos que esses novos "patriotas" estejam dispostos a convocar as Armas para fechá-lo.

E Mendes fez uma indagação que eu mesmo já havia levado ao ar, no dia anterior, no programa "O É da Coisa": por que esses bravos reformadores não tentaram pôr fim à prerrogativa dos ministros de, monocraticamente, conceder habeas corpus? Estariam cavalheiros tão dedicados à pátria a pensar no próprio pescoço?

"Causa perplexidade que o Senado tenha sido cirúrgico ao proibir decisões monocráticas no curso de ações que questionem políticas públicas, como casos que ocorreram: facilitação de acesso a armas de fogo pela população ou desmonte de políticas ambientais... Foram as liminares concedidas naquele momento. Mas não tenham previsto idêntica vedação para ações constitucionais que são usualmente manejadas no interesse de agentes políticos investigados em procedimentos criminais. Ainda bem que não se lembraram de impedir a concessão de liminar em um 'habeas corpus' ou inquéritos originários, mecanismo muitas vezes utilizado pela defesa de agentes políticos que ontem se articularam para restringir as competências da corte constitucional".

Traduzo: os valentes querem impedir liminares quando se trata de defesa do interesse público, mas as querem, claro!, quando se trata do próprio interesse. Eu mesmo havia instado Rodrigo Pacheco, na quarta, a propor uma PEC proibindo decisões monocráticas em habeas corpus para senadores e deputados.

O CONGRESSO QUER UMA PAUTA?



Mendes lembrou a atuação dos magistrados na defesa da democracia e contra o arbítrio e listou alguns problemas graves e urgentes do país, que estão a cobrar, inutilmente, a atuação do Congresso:

"Com o devido respeito, chega a seu curioso, quiçá irônico, que, após os bons serviços prestados por esta Suprema Corte, no decorrer dos últimos anos, diria anos heroicos, difíceis... Vejo aqui ao meu lado o ministro [Dias] Toffoli, que teve a clarividência de instaurar um inquérito inicialmente chamado de "das fake news", em 2019... Vejo à minha frente o ministro Alexandre de Moraes, que aceitou o encargo de conduzir esse inquérito e que serviu de elemento de contenção ao arbítrio que se desenhava, como todos nós sabemos havemos de reconhecer. E, no entanto, agora se descobre que o grande problema do Brasil é o Supremo Tribunal Federal; que a grande ameaça à democracia é o Supremo Tribunal Federal; que a grande ameaça à democracia é o Supremo Tribunal Federal. Não são relevantes as ações da milícia do Rio de Janeiro, o narcotráfico, a ocupação de território por essas organizações criminosas. Isso não faz parte da pauta. As ameaças que vieram de setores das Forças Armadas contra este tribunal e contra a democracia não merecem respostas. Até agora continuam elegíveis os militares. Nenhuma solução nesse sentido. Policiais continuam a fazer carreira, se elegem (...). Nenhuma resposta em relação a temas que são urgentes para a democracia. O problema é o Supremo Tribunal Federal, suas liminares. Estranha a prioridade!"

O trecho é de uma clareza solar. E acrescento: os reais e dramáticos problemas da sociedade brasileira, apontados por Mendes, não merecem a atenção dos "caçadores de ministros" porque, afinal, convenham, constituem o caldo de cultura dos fascistoides — os mesmos que estão interessados em cassar, agora com essa ortografia, os togados.

ENCERRO

PECs inconstitucionais não passarão pelo Supremo. Tampouco eventuais processos de impeachment que ofendam o devido processo legal. E ponto.

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Ministros do STF veem Senado 'tigrão' com corte e 'tchutchuca' com militares


Cerimônia no Quartel-General do Exército, em Brasília — Foto: José Cruz /Agência Brasil

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) passaram a cobrar senadores sobre o andamento de medidas que atingem os militares, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que obriga aqueles que concorrerem às eleições a irem para a reserva.

O movimento acontece em meio ao aumento de tensão entre a corte e o Senado, que aprovou, na quarta-feira, o projeto que limita decisões monocráticas do Supremo.

Um ministro relatou à coluna que hoje o sentimento sobre a Casa é que “o Senado é tigrão com o STF e tchutchuca com os militares”. Como informou a coluna, os magistrados enxergam a PEC das decisões monocráticas como uma “provocação” à corte, pois não veem grandes efeitos práticos na medida. Agora, caberá à Câmara aprovar a proposta.

Jorge Kajuru (PSD-GO), relator do texto que obriga militares candidatos a irem para a reserva, leu seu parecer nesta quarta e deixou de fora o veto à ida de membros das Forças para o primeiro escalão do governo. O senador voltou atrás porque disse que a PEC seria derrotada no plenário da Casa, se esse trecho fosse mantido.

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) pediu vista e, com isso, a análise da PEC na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) foi adiada.

Integrantes do governo Lula avaliam que a PEC dos militares deve ser apreciada apenas no ano que vem pelo Senado.

LDO ganha cara de um Programa de Aceleração das Campanhas



Em fase final de elaboração, a Lei de Diretrizes Orçamentárias, que fixa regras para a confecção do Orçamento federal de 2024, contém um conjunto de providências que têm a aparência de rasteiras no governo. Na primeira pernada, o relator da LDO, deputado Danilo Forte, turbinou de R$ 37 bilhões para R$ 46 bilhões as emendas que os parlamentares utilizarão para enviar verbas para os seus redutos no ano das eleições para prefeitos.

Há na peça outras duas rasteiras. Numa, o relator cria um calendário de pagamento para as emendas individuais (R$ 25,1 bilhões) e as de bancada (R$ 12,5 bilhões). Noutra, converte um pedaço do orçamento do PAC numa espécie de Programa de Aceleração das Campanhas, deslocando verbas destinadas a obras que o governo trata como prioritárias para o fundão que financiará as eleições para prefeitos e vereadores.

O pagamento das emendas individuais e de bancada já é obrigatório. O governo não tem como se esquivar. Mas o Planalto costuma manobrar para que as liberações ocorram às vésperas de votações estratégicas. Com a fixação de um cronograma de pagamentos, os operadores políticos de Lula perdem o poder de sedução exercido pelo velho toma-lá-dá-cá. No total, o calendário da LDO retira do balcão do troca-troca R$ 37,6 bilhões.

Na proposta que enviou ao Congresso, o governo destinou R$ 939 milhões para o fundão eleitoral. O Legislativo estimou o custo da campanha em R$ 5 bilhões. Estava entendido que a diferença seria deduzida das emendas de bancada. Os congressistas torceram o nariz. Daí a ideia do relator de dividir o custo com o Planalto, beliscando um pedaço do orçamento do PAC.

Há mais: Danilo Forte cogita turbinar um terceiro tipo de emenda, as de comissão. Saltariam de R$ 6,8 bilhões para R$ 11 bilhões. Há pior: essas emendas de comissão, cujo pagamento é tratado como opcional, também passariam a ser impositivas.

O governo enxerga nos movimentos do Congresso uma lógica uniforme: cada rasteira imposta ao Planalto eleva o poder de Arthur Lira, o imperador da Câmara. A votação da LDO deve ocorrer na semana que vem.