Podemos assistir nesta segunda, quem sabe?, ao "Grande Milagre do messias Bolsonaro". Neste domingo, em que convocou a população a fazer jejum, o presidente dirigiu-se, como sempre, às portas do Palácio da Alvorada para conversar com apoiadores. Provocou aglomeração, abraçou admiradores, fez selfies... Tudo o que não deve. Tudo o que não pode.
Convidado por um pastor, ajoelhou-se enquanto ouvia orações e cantos do louvor.
Foi a vez, então, de o religioso determinar: a partir daquele instante, disse o homem, ninguém mais morreria de Covid-19 no Brasil porque o país estaria sendo, atenção!, abençoado por Deus e... por Bolsonaro!
Ah, bom.
Entendi agora como funcionam essas seitas que fazem por minuto mais milagres do que Cristo ao longo da vida... O que dizer quando for divulgado o número de mortos nesta segunda? Ora, basta o tal alegar que a lista é mentirosa e que as pessoas não foram vítimas da doença ou, então, melhor ainda: acuse-se o diabo! Mais uma vez, resolveu atrapalhar os planos de Deus e... de Bolsonaro!
Ou por outra: ele, pastor, determinou, e o Altíssimo foi obediente. Deu tudo certo. Ocorre que o demônio está sempre a espreitar, não é mesmo?
O general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria de Governo, estava presente. Ele é, segundo sei, batista — e tem até um "Baptista" no sobrenome... Frequentador da Igreja Memorial Batista em Brasília, teve de ouvir, ali, com o presidente de joelhos, o anúncio da intervenção divina que blindaria só o Brasil contra o coronavírus. E ainda um milagre a quatro mãos: duas de Deus e duas de Bolsonaro... Como sabemos, protestantes e evangélicos não cultuam nem santos...
Ah, sim: uma das características da denominação batista é a separação entre Estado e igreja.
Definitivamente, quando realmente se tem fé, não deve ser uma tarefa fácil. Não invejo o general. É um serviço difícil.
Na tarde deste domingo, anunciaram-se os números: 11.130 doentes, com 486 vítimas fatais. Em 24 horas até então, foram registrados 852 novos casos em todo o país, e 54 pessoas morreram.
A fé, felizmente, é livre no Brasil.
Os representantes do Poder Público podem ter fé, claro! Mas precisam ter um mínimo de pudor.
Por Reinaldo Azevedo
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