“VAIDADE” - A deputada estadual do PSL sobre o ex-aliado Jair Bolsonaro: “É impossível seguir apoiando alguém que se mostra irresponsável e egocêntrico” Bruno Santos/Folhapress |
Como a senhora avalia o comportamento do presidente Jair Bolsonaro diante da crise do coronavírus? Eu gostaria muito de defender o sucesso dele. Sofri muito para tirar o PT. Mas é impossível seguir apoiando alguém que se mostra irresponsável e egocêntrico.
A senhora pediu que Bolsonaro se afastasse do cargo depois de ele ter estimulado as manifestações de 15 março. Mantém sua posição? Infelizmente, mantenho. Depois da primeira reação, negacionista, ele aparentemente vem mudando o discurso. O problema é que Bolsonaro tem um comportamento ambíguo. Foi muito bem no último pronunciamento, mas continua fazendo postagens inadequadas para o momento. Enquanto ele permitir que os ministros trabalhem, é possível seguir. Se transformar o discurso equivocado em ações, precisará ser retirado rapidamente. Por enquanto, não foi além do mau exemplo. Entendo que para o país seria melhor que ele saísse logo.
A senhora assinaria um pedido de impeachment contra ele? Não pretendo. Contra o PT, não havia ninguém para pedir. Agora é diferente, os formadores de opinião odeiam Bolsonaro.
A senhora vem sendo procurada para falar sobre o assunto? Sim, gente que me chamou de golpista tem mandado intermediário para pedir que eu tome providências. Gente que desmereceu meu trabalho, falando uma coisa para o público e outra para mim, também tem me sondado. Entra por um ouvido, sai pelo outro. Que trabalhem!
Muitos não querem falar em afastar o presidente agora porque haveria uma nova crise, que dispersaria a energia no combate ao vírus. Mas qual é o limite para a tolerância? Não querem pedir o afastamento porque dá trabalho, nada além disso. Esse povo gosta de não fazer nada e ficar causando em redes sociais. Só quem segurou um processo de impeachment sabe o trabalho que dá.
Por que Bolsonaro se comporta de maneira tão diversa da de outros líderes e de forma tão contraditória com a própria equipe? Ele é muito vaidoso. No lugar de se alegrar com a capacidade de seus ministros, se sente ofuscado por eles. Ele deveria liderar a batalha. Mesmo com impactos na economia, sairia fortalecido. Mas lhe falta grandeza.
Até onde é possível que os ministros trabalhem no combate ao coronavírus contra a vontade do presidente? Por isso digo que, por ora, dá para tolerar. Bolsonaro erra no discurso, mas sua equipe acerta nos atos. Se ele começar a trocar os ministros, colocando capachos, como são alguns deputados que o aplaudem, a situação vai piorar.
Publicado em VEJA desta bsemana, edição nº 2681
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