segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Bolsonaro transforma ‘lua-de-mel’ num pesadelo



De acordo com uma lei não escrita da política, todo novo governo tem direito a cem dias de tolerância. Jair Bolsonaro ainda não sabe se lhe será concedida a deferência de uma lua-de-mel. Mas já transformou a praxe em pesadelo. Fez isso ao marcar para 11 de abril uma celebração do aniversário de cem dias de sua administração. 

Auxiliares do capitão avaliam que a agenda dos 100 dias pode virar uma bola de ferro se o governo não conseguir deslanchar rapidamente. Para esse grupo, o mais adequado teria sido levar os primeiros feitos à vitrine antes de marcar a exposição. O maior receio é o de que reformas como a da Previdência se arrastem em ritmo de novela. 

Um dos aliados de Bolsonaro comparou-o a um noivo que, por impetuoso, desconsidera o risco de ocorrer uma inundação na suíte nupcial. Ou um curto-circuito na fiação do abajur. Fiascos do gênero converteriam a festa de 11 de abril numa celebração em torno do nada.

domingo, 30 de dezembro de 2018

O país improvável



É o que vem ocorrendo com o Brasil, em especial, nos últimos 50 anos. Tome-se probabilidade no sentido dado pela linguagem usual: chance. Sem adereços matemáticos.

O Brasil vem desafiando frequentemente a chance de dar certo, correndo o risco de dar errado e, como nos seriados, termina dando, mais ou menos, certo. Isto porque muda. Segundo alguns analistas, muda por saturação.

Sem contar com o Estado Novo, o Brasil saturou de regimes autoritários; operou uma complicada transição política, marcada pela tragédia da morte de Tancredo; escreveu, com solidez pétrea, regras democráticas que prevaleceram a dois impeachments e graves crises conjunturais. O que era improvável – a democracia política – tornou-se um patrimônio da sociedade brasileira.

Em matéria de inflação, o Brasil é um caso exemplar de resistência à devastação da desordem econômica que derrotou seis planos de estabilização. No limite, o “improvável Presidente”, como se autodenomina o próprio FHC, fez valer um engenhoso plano, o Real; dominou a inflação e abriu novos caminhos de possibilidades para uma economia estável, previsível e próspera. A sociedade brasileira não suportava mais a zoada das máquinas, remarcando diariamente o preço das mercadorias e os assalariados perdendo poder de compra para o calendário. Estávamos saturados.

Na sequência, o imigrante nordestino se transformou na maior liderança popular do país; manteve a estabilidade econômica; surfou nos bons ventos da economia internacional e elegeu a maior fraude política da história: Dilma Rousseff.

Crescimento econômico mais políticas compensatórias fizeram a festa de consumo dos emergentes. O Brasil decolou? De repente, a “Presidenta” pensou que entendia de economia. Um desastre.

De outra parte, o antigo vício da corrupção assumiu proporções gigantescas. Sistêmica. Organizada. Como um tsunami, não poupou o tesouro; penetrou no cofre das estatais; quebrou a União, Estados e Municípios. Escandalosamente. E em regra, obedecido o devido processo legal, foram presos e condenados poderosos e celebridades, personagens do “café society”, diria Ibrahim Sued. A corrupção e a impunidade atingiram o ponto de saturação.

O país está diante do futuro depois de uma eleição e um presidente eleito improváveis. Vai dar certo? Com a palavra, tarólogos e astrólogos. O novo governo recebe uma herança razoável: inflação dentro da meta, câmbio estável, recuperação lenta da economia.

Saturação: um Estado monstruosamente deficitário, ineficiente, e que suga, em tributos, mais de um terço da renda da sociedade. Sem ajuste fiscal, não há salvação.

Por Gustavo Krause

sábado, 29 de dezembro de 2018

Marinha lança míssil antinavio e coloca Brasil entre potências no setor



Míssil Antinavio Nacional de Superfície MANSUP sendo lançado
 
A cerca de um mês, a Marinha do Brasil lançou pela primeira vez o Mansup, míssil nacional antinavio de longo alcance. O teste, considerado um sucesso, foi realizado a 300 quilômetros do litoral sul do Rio de Janeiro.

O equipamento, que está nos planos da Marinha para a exportação, coloca o país em um seleto grupo de apenas dez nações no mundo com esse desenvolvimento tecnológico no setor, como Estados Unidos, Rússia e China. A tecnologia brasileira foi inspirada na francesa, parceira das Forças Armadas.

Disparado a partir da corveta, o míssil, que mede 5,7 metros e pesa 860 quilos, voou a 1.000 km/hora bem próximo da superfície, acompanhando o movimento da água do mar. Caiu no ponto central das coordenadas programadas. Havia um alvo, o casco do G-27 Marajó, um navio-tanque de 13.000 toneladas, desativado há dois anos. Era só uma referência na operação. Não houve explosão. O Mansup do teste levava uma carga de sensores eletrônicos para fazer medições de telemetria. Em um ataque real, estaria recheado com até 180 quilos de explosivos de alto rendimento – o suficiente para afundar, por exemplo, uma fragata de 5.000 toneladas.

O Mansup é o primeiro modelo de uma família. A sequência prevê o Mansub, lançado por submarinos submersos a partir do mesmo tubo dos torpedos, e o Manaer, para aviões de combate e helicópteros pesados. O arranjo mais ambicioso, diz um especialista do Centro de Tecnologia da Marinha, é o Mansub. O míssil é acomodado dentro de uma cápsula, ejetada por uma carga de ar comprimido. Quando chega à superfície, um sensor digital reconhece essa condição e faz a ignição do motor. Os quatro novos submarinos diesel-elétricos brasileiros da classe do S-40 Riachuelo – recebido pela Força há duas semanas – e a também a variante nuclear vão incorporar o sistema.

O programa de desenvolvimento começou há apenas dez anos. Até agora consumiu 380 milhões de reais. No dia do ensaio, uma zona de exclusão com o dobro de extensão do alcance máximo do míssil fora declarada com vários dias de antecedência para garantir ausência de tráfego marítimo durante a prova.

A bordo, na sala do controle de fogo, a tripulação seguiu os protocolos de uma situação real. Iluminação reduzida, proteção extra, times completos. No “zero'”da contagem de disparo, apenas uma palavra, “Mansup!”, seguida da abertura do tubo de lançamento e do rugido do motor primário.

O Mansup funciona em duas fases: um acelerador, o “booster”, dinamiza a etapa do ganho inicial de velocidade por poucos e intensos segundos até que entre em ação o propulsor principal. A navegação e o direcionamento são estabelecidos por meio de uma caixa de guiagem inercial, com radar interno ativo na etapa final da trajetória para afinar a precisão em relação ao objetivo. O míssil não é de cruzeiro, busca um alvo marcado, ou seja, não faz navegação própria até o impacto. Todavia, há pesquisas em andamento nos EUA e na China para permitir alguma capacidade desse gênero aos modelos Harpoon e Dragão de Seda, expandindo as possibilidades de emprego.

A Marinha pretende liberar o Mansup para vendas internacionais. O empreendimento, sob a direção de agências oficiais, está sendo executado por quatro empresas do setor privado. A expectativa é de que ao menos dez nações da América do Sul, África, Ásia e Oceania considerem a substituição dos antigos Exocet B1 e B2. O preço comercial do míssil ainda não foi definido.

Na Veja.com

No Congresso, time de Bolsonaro é leão que mia



Presidentes da República em início de mandato costumam ser picados pelo mosquito que transmite a febre da megalomania. Infectado, Jair Bolsonaro frequenta a briga pelos comandos da Câmara e do Senado numa condição inusitada. Ele pensa que dispõe de uma força de leão. Mas emite um som de gato quando ruge. 

No momento, os candidatos favoritos às presidências da Câmara e do Senado são o deputado Rodrigo Maia e o senadsor Renan Calheiros. Bolsonaro faz cara de nojo para ambos. Teria duas alternativas: construir maioria capaz de impor outros nomes ou posar de equidistante. Preferiu fazer uma opção pela trapalhada. 

Nesta sexta-feira, Onyx Lorenzoni, futuro chefe da Casa Civil de Bolsonaro, posou de leão numa reunião com o presidente do PRB, Marcos Pereira, e o candidato do partido à presidência da Câmara, o deputado-pastor João Campos. A chance de Campos prevalecer sobre Maia é inexistente. Fora do escritório de transição, pouca gente leva o projeto do pastor a sério. 

Após o encontro, propagou-se a tese segundo a qual o novo governo condiciona seu apoio na disputa pelos comandos das Casas legislativas à formação de uma base partidária que dê suporte legislativo a Bolsonaro. A formulação exclui Rodrigo Maia, cuja candidatura atrai simpatias num raio que vai do centrão ao PCdoB. 

No início de dezembro, coube ao senador eleito Flávio Bolsonaro encenar a pose de leão. " Não há a menor condição de apoiar Renan Calheiros para a presidência do Senado", disse o filho mais velho do presidente. 

"Rodrigo Maia já teve seu tempo à frente da Câmara, não conseguiu garantir o quórum suficiente para a votação da reforma da Previdência. O novo momento do Brasil pede um presidente inédito" na Câmara, acrescentou o primogênito. 

Hoje, pendurado nas manchetes na companhia tóxica do ex-assessor Fabrício 'Faço Dinheiro' Queiroz, o 'Zero Um' da dinastia dos leões anda sumido. Mas outros operadores de Bolsonaro continuam soltando a franqueza da coleira sem verificar se há viabilidade política por trás dos rugidos cenográficos.

Por Josias de Souza

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

PIZZA PRÓ-BOLSONARO?


Fabrício Queiroz: devemos todos torcer para que se recupere, mas
interesse público diz que sua doença torna o depoimento mais urgente

Nunca ninguém havia tido esta suspeita antes, mas agora está confirmado: o Ministério Público tem coração. Ao menos o Ministério Público do Rio — refiro-me ao Estadual. Com a devida vênia, até me corrijo um pouco. Eu já suspeitava disso ao menos excepcionalmente. Ou Sérgio Cabral não teria ido tão longe, não é mesmo? No caso do ex-governador, parece que também o MPF, na seção fluminense, estava um tanto inebriado pelos sucessos e eventos de que aquele político era protagonista. Se a gente acrescentar o adesismo de certa imprensa carioquista ao frenesi cabralino, com Copa do Mundo e Olimpíada então pela frente, temos contada a história do “Rei Caído do Rio”: entre o palácio e Bangu 8. E por que começo este texto apontando o coração mole do MP do Rio?

O órgão resolveu emitir uma nota atestando que Fabrício Queiroz, o ex-suposto motorista de Flávio Bolsonaro, vai passar por uma “cirurgia urgente”. É aquele senhor que estava lotado até outubro no gabinete do deputado estadual e senador eleito e que, em entrevista, declarou uma habilidade que o faria um bom candidato ao cargo de Paulo Guedes: ele disse que sabe “fazer dinheiro”. Já chego lá.

Queiroz faltou a dois depoimentos marcados pelo Ministério Público para explicar como conseguiu movimentar R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. A promotoria informa que ele apresentou atestados que “comprovam grave enfermidade”. E emendou: “Seus advogados informaram ainda que Queiroz estará à disposição para prestar depoimento tão logo tenha autorização médica”. O ex-auxiliar de Flávio Bolsonaro afirma estar com câncer.

Obviamente, não vou duvidar de que esteja doente. E torço para que o tal senhor se recupere, que é o que faço com toda gente. Mas não Jair Bosonaro, por exemplo. Em 2015, indagado se Dilma concluiria seu mandato, ele disparou a seguinte delicadeza: “Eu espero que acabe hoje, infartada ou com câncer”. Não é sentimento decente, que se deva alimentar. Se presente, não é algo que deva ser vocalizado. Voltemos ao ponto.

Pergunta: Queiroz pediu aos médicos, que o proíbem de prestar depoimento ao Ministério Público, autorização para conceder a entrevista ao SBT? Ou, nesse caso, ele atuou por conta própria? Mais: desde que, se necessário, com a devida assistência médica, o que o impede de prestar depoimento?

Eu estou enganado ou, no que concerne ao interesse público passado e futuro — já que o assunto diz respeito, queiramos ou não, àquele que será presidente a partir de 1º de janeiro —, o fato de Queiroz estar sujeito a uma intervenção que comporta algum risco torna seu depoimento ainda mais urgente e inadiável?

A promotoria informa ainda: “Outras diligências já anunciadas estão previstas para ocorrer, entre as quais a possível oitiva do deputado estadual Flávio Bolsonaro, sugerida para o dia 10 de janeiro. No mais, o caso permanece sob total sigilo”. É, permanece mesmo! Até agora, nada de vazamento, não é? O provável é que nem haja o que vazar por falta de investigação.

Por Reinaldo Azevedo

Novo governo fala em cortar gastos e promete presente de R$ 17 bi aos ruralistas



Jair Bolsonaro mandou distribuir aos ministros cartilha com orientações para os primeiros 100 dias de governo. O desafio primordial é cortar gastos. Para facilitar o entendimento da plateia, Onyx Lorenzoni, o futuro chefe da Casa Civil, recorreu à velha analogia doméstica. "A gente tem que ter um governo que faça como as famílias fazem. Se não dá para trocar o tênis, não troca o tênis. Tem que apertar o cinto, aperta o cinto. Se tem que negar o vestido para a filha, a gente tem que negar o vestido para a filha. É isso que esse governo vai fazer." 

Aplicado a um caso específico, o reducionismo didático de Onyx faz da bancada ruralista uma espécie de filha preferida de Jair Bolsonaro. Como chefe da nova família imaginária de Brasília, o capitão cogita dar um presente de R$ 17 bilhões aos ruralistas. É algo para deixar os outros filhos —de industriais a trabalhadores— traumatizados pelo resto da vida. Confirmando-se o mimo, existe também o risco de a plateia concluir que a família-modelo não leva a sério sua própria lição. 

Prestes a assumir um governo quebrado, Bolsonaro informou aos líderes ruralistas que colocará o peso do Planalto a serviço da aprovação de projeto de lei que perdoa dívidas acumuladas do agronegócio com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural, o Funrural. A providência permitiria que parte da arrecadação do governo saísse pelo ladrão. E transformaria a analogia hipertrofiada de Onyx —"não troca o tênis", "aperta o cinto" e "nega o vestido para a filha"— numa nova versão do mesmo papo furado de sempre.

Por Josias de Souza

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Aos trouxas: O amigo do clã Bolsonaro é um exemplo a ser seguido


Resultado de imagem para Fabricio Queiroz no SBT

A boa notícia é que Fabrício Queiroz está bem. A ótima notícia é que o 'faz-tudo' de Flávio Bolsonaro emergiu do seu álibi hospitalar para revelar ao país que não é o sujeito desonesto que muitos imaginavam. Ao contrário, o amigo do clã Bolsonaro é um exemplo a ser seguido.

Se você está desempregado ou recebe um salário abaixo das necessidades, seus problemas acabaram. Largue tudo o que não está fazendo. Reorganize-se como um Queiroz. E realize o sonho da movimentação bancária "atípica". Ele repousa sobre quatro rodas. E está ao alcance de todos.

"Eu sou um cara de negócios, eu faço dinheiro", declarou Queiroz ao SBT. "Compro, revendo, compro, revendo. Compro carro, revendo carro, sempre fui assim. Gosto muito de comprar carro de seguradora. Na minha época lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar, revendia. Tenho uma segurança."

O resultado, como se sabe, foi estupendo. Entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão na sua conta bancária —média de R$ 100 mil por mês. Coisa incompatível com os cerca de R$ 23 mil que Queiroz recebia como motorista e segurança de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio e policial militar.

Queiroz poderia ter atuado como laranja do filho mais velho de Jair Bolsonaro. Ele poderia ter transformado sua conta em esconderijo para ocultar um pedágio extraído dos contracheques dos assessores do gabinete de Flávio Bolsonaro. O 'faz tudo' poderia ter efetuado vários saques na boca do caixa para distribuir dinheiro vivo aos Bolsonaro por baixo da mesa. Mas Queiroz estava apenas —quem diria?!?— comprando e revendendo automóveis.

A crise poupou Queiroz. Tudo poupou Queiroz. Ele parecia ter descoberto a camuflagem perfeita para passar pelo mundo incólume. Disfarçado de assessor do primogênito da dinastia Bolsonaro, Queiroz comercializaria veículos a vida inteira sem que ninguém suspeitasse. Mas de repente…

Sobreveio a Operação Furna da Onça, que pilhou uma penca de deputados estaduais fluminenses no contrapé. Acionado, o Coaf mapeou o vaivém atípico de dinheiro nas contas de dezenas de assessores da Alerj. Entre eles Fabrício 'Compro e Revendo' Queiroz.

Não fosse pela indiscrição do Coaf, Queiroz poderia se abster de declarar "não sou laranja", pois ninguém suspeitaria que sua conta pudesse abrigar uma espécie de caixa dois com verbas da folha do gabinete de Flávio Bolsonaro.

Queiroz tampouco precisaria justificar os R$ 24 mil repassados à futura primeira-dama Michelle Bolsonaro —"O nosso presidente já esclareceu. Eu tive um empréstimo de R$40 mil e eu passei dez cheques de R$ 4 mil."

Num mundo sem Coaf, Queiroz também não teria de fugir de uma pergunta sobre os oito assessores de Fabrício Bolsonaro que realizaram depósitos regulares em sua conta —"Esse mérito de dinheiro eu queria explicar ao Ministério Público."

Agora que já veio à luz a explicação "plausível" que Flávio Bolsonaro dissera ter escutado do seu ex-assessor há 20 dias, a plateia já pode tirar suas próprias conclusões. Descobriu-se que Queiroz atribui a movimentação bancária atípica de R$ 1,2 milhão à compra e revenda de carros. Não foi exibido um mísero documento.

Quanto aos depósitos feitos na conta atípica por oito assessores de Flávio Bolsonaro, Queiroz nega a existência de uma "caixinha" fornida com verbas da folha do gabinete. Mas ele se nega a explicar o que motivou tantos depósitos. Alega que prestará os esclarecimentos ao Ministério Público. De resto, Queiroz ecoa o lero-lero sobre o "empréstimo" de R$ 40 mil supostamente recebido de Jair Bolsonaro. Mas não exibe comprovantes nem explica as razões que levaram um correntista atípico a pedir dinheiro emprestado.

A certa altura, Queiroz resumiu numa frase o objetivo de sua aparição às vésperas da posse de Jair Bolsonaro. "Quero pedir desculpa à família Bolsonaro. Tira a imprensa deles. Vem em cima de mim. Eu sou o problema, não eles."

Quem não quiser fazer papel de bobo deve iniciar a avaliação sobre o caso respondendo rapidamente uma indagação tão simples quanto embaraçosa: Você compraria um carro usado na mão do Queiroz?

Vídeo: 


segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Bolsonaro lava roupa suja na beira do tanque; vídeo divulgado por assessoria é populismo bobo; eleito mimetiza Lula com sinal invertido



Que interesse pode haver em um vídeo em que um homem lava roupa num tanque — segundo consta, roupa de mergulho? Bem, cumpre perguntar à assessoria de Jair Bolsonaro. O filme é de uma criatividade encantadora. Vê-se o presidente eleito, de bermuda cinza e camiseta azul, esfregando e torcendo duas peças. Em seguida, ele as dependura no varal.

Não há texto, não há contexto, não há nada. Nem romance sueco pós-moderno é tão minimalista. É pena que Lars Gustaffson, que escreveu “A Morte de um Apicultor”, não vá poder saborear a cena porque se foi em 2016. A rotina de Lars Westin, o apicultor que é personagem de seu romance, pareceria novela de cavalaria comparada ao vídeo que veio a público.

Bem, a coisa não teria interesse nenhum não fosse o fato de que se trata do presidente eleito. Opa! Esperem aí: aumenta a fata de importância, não é mesmo?

A intenção parece clara: demonstrar que Bolsonaro é um homem comum, simples, desapegado, que leva uma rotina como a nossa. Ele também lava roupa. E, creio, tenta-se demonstrar, adicionalmente, que não é machista. Quando John Bolton o visitou nem sua casa, no Rio, todos vimos a mesa bagunçada do café…

Bolsonaro passou o domingo numa área da Restinga da Marambaia, no Rio, que é administrada pelas Forças Armadas. É a região onde os torturadores e assassinos desovaram o corpo do deputado Rubens Paiva.

O eleito está com uma bolsa de colostomia e não pode mergulhar. Não se sabe de quem era a vestimenta que lavava.

Se um presidente assim o quiser, nunca tocará num trinco de porta porque alguém se encarrega de abri-la. Também não precisa gastar um miserável tostão com alimentação ou administração do lar porque o poder público se encarrega desses custos. Percebam o aparato de pessoas e veículos de segurança que acompanha Bolsonaro a cada vez que ele se desloca. O filme divulgado é demagogia populista. Há um exército de mordomos invisíveis cuidando de Bolsonaro e de sua família. A menos que ele não resista a um tanque ou que considere uma distinção moral lavar roupa, é evidente que há um batalhão que pode fazer isso por ele.

Espero que resistam à tentação de filmá-lo fazendo faxina nos palácios da Alvorada e do Planalto a partir de 2 de janeiro.

Poucos se dão conta de que Bolsonaro tenta ser uma espécie de Lula no espelho. Também o presidente petista gostava de exibir a sua simplicidade, a sua origem humilde, o seu desapego, a sua informalidade. Ao mesmo tempo, não perdia uma só oportunidade de exibir os supostos marcos inaugurais de seu governo.

Bolsonaro mimetiza Lula — e o próprio general Augusto Heleno já destacou em entrevista essa proximidade, embora, claro!, tenha criticado o petista. Mas, como resta evidente, o presidente eleito espelha — e, pois, inverte — o sinal ideológico. Chegou a vez da versão de extrema-direita do homem do povo.

Para quem caça metáforas, uma fica à solta na imagem: Bolsonaro está lavando roupa suja. De quem?

Por Reinaldo Azevedo

Colaborador da transição na equipe de Guedes é investigado por PF e Receita; em busca em sua casa, polícia encontrou maconha e cocaína



Na manhã de 27 de novembro, policiais federais e fiscais da Receita entraram no apartamento do advogado Thiago Taborda Simões, em São Paulo, em busca de provas sobre a suposta atuação de uma quadrilha que operava um esquema de fraude, sonegação e lavagem de dinheiro que pode ter dado prejuízo de R$ 500 milhões ao Fisco.

Durante as buscas, os investigadores apreenderam documentos, encontraram uma caixa com maconha e cocaína e um crachá de acesso ao local de trabalho da equipe de transição do governo do presidente Jair Bolsonaro, em Brasília.

Segundo a operação, batizada de Chiaroscuro, a suposta quadrilha funcionava a partir de um escritório de advocacia que atuava em conjunto com empresas laranjas e reais.

A PF afirma que as empresas simulavam a venda de produtos e serviços e, ao receber os pagamentos e emitir notas fiscais sobre as transações fictícias, distribuíam os valores para contas no Brasil ou no exterior, ou realizavam a entrega de dinheiro em espécie aos envolvidos no grupo.

“Há indícios de que esses pagamentos eram realizados para diminuir valores devidos em impostos, lavar dinheiro e pagar propinas a agentes públicos”, diz a polícia.

As empresas teriam continuado a operar mesmo após passar pela fiscalização de um funcionário da Receita que pertencia ao grupo. 
(…)
Simões não é formalmente da equipe de transição, mas participou de reuniões com o grupo comandado pelo economista Paulo Guedes, futuro ministro da Economia.

O advogado admitiu à Folha, via sua assessoria, que teve dois encontros com a equipe de Guedes como especialista convidado. Teria atuado, segundo ele, como consultor em assuntos tributários.

Ex-conselheiro do Carf (Conselho Administrativo da Receita Federal), órgão administrativo que julga processos em segunda instância na Receita, Simões é ligado aos irmãos Abraham e Arthur Weintraub, integrantes da equipe de transição na área econômica.

Um episódio recente ilustra a proximidade do advogado com os irmãos. Foi a Simões que Arthur Weintraub recorreu quando decidiu processar por dano moral uma aluna sua da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que o acusou de ser “mau caráter”.

Isso apesar de Simões ser tributarista, quando o normal para esse tipo de processo é que fique a cargo de um especialista na área cível.
(…)
Abraham é cotado para assumir como secretário-executivo da Casa Civil, para ser o principal articulador da reforma da Previdência. 

Na Folha

domingo, 23 de dezembro de 2018

Os Boquirrotos


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Grafite com beijo entre os dois boquirrotos que depois acabou apagada no Ceará 

Começo citando dois gigantes: Leonardo da Vinci e Henry David Thoreau. O grande artista do Renascimento disse em carta para Ludovico Sforza: “Nada fortalece mais a autoridade do que o silêncio”. Já o magnífico ensaísta americano deixou para a posteridade esse belo pensamento: “Se você quer convencer um homem que ele está errado, faça o certo. Não tente convencê-lo. Os homens acreditam naquilo que vêem. Deixe que vejam”.

Infelizmente, os dois governos mais boquirrotos da história, tanto dos EUA quanto do Brasil, não seguem esses conselhos.

Falam sem parar sobre todos os assuntos e estão convencidos de como são brilhantes. Talvez nem se deem conta do quanto têm que se desdizer logo adiante. Ou talvez não se importem em se desmentir diariamente. Sei lá. O que sei é que, na minha idade, nunca vi governos tão boquirrotos quando os de Bolsonaro e Trump.

Periga o Brasil ficar falando sozinho, já que aos poucos, Bolsonaro e seu chanceler espicaçam países com os quais, até prova em contrário, temos boas relações. Com alguns, é verdade, não nos relacionamos tão bem, mas é melhor agir com elegância e delicadeza, do que dar caneladas a torto e a direito.

Convidar e desconvidar, não creio que haja algo mais grosseiro em matéria de relações pessoais ou entre países. Sair por aí dizendo que está insuportável viver em algumas partes da França, diante de tantos imigrantes, francamente, só é menos polido do que declarar, como o fez o embaixador Ernesto Araujo, que o Velho Continente vive um vazio cultural. Recebemos foi uma resposta cheia de picardia do embaixador da França nos EUA, Gerard Araud, em sua redes sociais: “63.880 homicídios no Brasil em 2017, 825 na França. Sem comentários”.

Trump, o escolhido pela família Bolsonaro como o exemplo e líder mundial que irá nortear o Brasil, troca membros de seu gabinete com a velocidade com que troca de camisas. O despenteado presidente americano está encabeçando todas as listas de malfeitos que um governo pode fazer. Vai à Rússia, diz que sua visita foi um sucesso e o mundo aguarda até agora provas do tal sucesso. Vai à Coreia do Norte, faz relatos fantásticos de seus papos com o baixinho da Coreia que logo em seguida continua a fazer o que sempre fez e ignora totalmente o americano.

Trump é um boquirroto de marca maior. Pensou, falou, ou melhor, tuitou, e seu país que amargue as consequências.

Boquirrotos daqui e dos States, por favor, aprendam com Jonathan Swift, o irlandês: “É melhor manter a boca fechada e deixar que as pessoas pensem que você é bobo, do que abri-la e remover todas as dúvidas”.

E lembrar sempre: quem fala o que quer, ouve o que não quer, dizia-se no tempo de meus bisavós. O que continuamos a dizer em nossos dias…

Um Bom Natal para todos, são meus votos.

Por Maria Helena Rubinato de Souza

Temer receia ser preso após deixar o Planalto


Sob o impacto da terceira denúncia da Procuradoria-Geral da República, Michel Temer discutiu sua situação penal com um grupo restrito de auxiliares. Abalado, deixou transparecer seus maiores receios. Está pessimista. Avalia que deve ser preso após deixar o Planalto. O risco é real, concordaram seus interlocutores.

Temer foi aconselhado a passar uma temporada no exterior. Mencionou-se Portugal, onde tem amigos. Discutiu-se a ideia de dar aulas na universidade de Coimbra. Temer refugou o conselho. Ele descartou também a hipótese de cavar a indicação para uma embaixada —o que lhe garantiria a manutenção do escudo do foro privilegiado.

A poucos dias de passar a faixa presidencial para Jair Bolsonaro, o quase-ex-presidente vive a síndrome do que está por vir. O blog apurou que, ao explicar aos auxiliares por que excluiu do seu baralho a carta da saída via aeroporto internacional, Temer soou categórico: "Vão dizer que estou fugindo. E eu não vou fugir, vou enfrentar."

Há muito por enfrentar. Na denúncia que reacendeu os temores de Temer, a procuradora-geral da República Raquel Dodge acusou-o de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O caso envolve esquema no setor de portos, com desvios estimados em R$ 32,6 milhões entre agosto de 2016 e junho de 2017.
Entretanto, o contencioso penal que inquieta Temer é bem mais amplo. Envolve outras duas denúncias formuladas pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot a partir das delações do grupo JBS. Congeladas pela Câmara no ano passado, serão retiradas do freezer.

Sedado a pedido da Procuradoria, voltará a andar também o pedaço de um inquérito que envolve Temer numa encrenca de 2014, anterior ao início do seu mandato-tampão na Presidência. O caso envolve repasse de R$ 10 milhões do departamento de propinas da Odebrecht para Temer e seu grupo político.

De resto, Raquel Dodge requereu a abertura de cinco inquéritos novos. São filhotes da investigação sobre portos. Ou seja, Temer coleciona um total de nove pesadelos: três denúncias, um inquérito já instaurado e cinco inquéritos por instaurar. Todo esse contencioso descerá do Supremo Tribunal Federal para a primeira instância do Judiciário. O que potencializa o desassossego do réu.

Na última quinta-feira, sem mencionar o nome de Raquel Dodge, Temer acusou o baque sofrido na véspera, com a chegada da terceira denúncia ao Supremo. "Eu levo isto como uma mágoa, foram os ataques de natureza moral", disse ele, num rápido pronunciamento feito durante cerimônia de final de ano com servidores do Planalto.

Temer prosseguiu: "Vocês percebem que, sem embargo estar na vida pública e na política brasileira, eu não me transformei em carro alegórico. Pelo contrário. Eu sempre fui extremamente discreto em tudo aquilo que eu faço. E, portanto, quando vêm os ataques de natureza moral, daí que realmente isso me caceteia, me chateia, me aborrece. É a única coisa que me aborrece. No mais, só posso orgulhar-me do que fiz ao longo do tempo."

Por Josias de Souza

sábado, 22 de dezembro de 2018

Motorista atípico invade Presidência de Bolsonaro



De duas, uma: ou o clã Bolsonaro bolou uma estratégia genial, capaz de causar inveja às almas mais encrencadas da política, ou meteu-se numa tática desastrosa, enfiando a conta "atípica" de um motorista desgovernado para dentro do Palácio do Planalto. 

Pela segunda vez em 48 horas Fabrício Queiroz, o correntista de R$ 1,2 milhão, faltou ao depoimento marcado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Na quarta-feira, ausentara-se por conta de uma "inesperada crise de saúde". Nesta sexta, alegou-se que teve de ser internado para "realização de um procedimento invasivo com anestesia". 

Que procedimento? A defesa não informou. Nome do hospital? Nada. O médico? Nem sinal. Laudas e atestados? Quem sabe na semana que vem. Falsa ou verdadeira, a motivação não atenua as consequências. Enquanto Queiroz não abre o bico, continuam penduradas na conjuntura as palavras mais recentes de Bolsonaro sobre a encrenca: 

1) "Temos um problema pela frente no caso do ex-assessor nosso que está com movimentação atípica. Deixo bem claro aqui: eu não sou investigado, meu filho Flávio Bolsonaro não é investigado. E, pelo que me consta, o senhor…, esse ex-assessor nosso será ouvido pela Justiça na semana que vem. A gente espera que ele dê os devidos esclarecimentos para o que vem acontecendo." 

2) "Agora, se algo estiver errado —seja comigo, com meu filho ou com o Queiroz— que paguemos a conta deste erro. Não podemos comungar com erro de ninguém." 

3) "O que a gente mais quer é que seja esclarecido o mais rápido possível, que sejam apuradas as responsabilidades —se é minha, se é do meu filho, se é do Queiroz. Ou de ninguém. Afinal de contas, o Queiroz também não estava sendo investigado." 

Bolsonaro tem razão quando diz que "temos um problema pela frente". Quanto a quem está ou não sob investigação, recomenda-se ao capitão que se atualize. Fabrício Queiroz é investigadíssimo. Seu silêncio, por ensurdecedor, levou à fogueira o deputado estadual Flávio Bolsonaro (agora senador eleito). 

O primogênito do novo presidente foi convidado pelo Ministério Público a depor no dia 10 de janeiro. Terá de explicar por que oito de seus assessores realizavam depósitos regulares na conta tóxica de Queiroz em datas contíguas ao dia do pagamento na Assembléia Legislativa do Rio. 

Logo, logo o próprio Jair Bolsonaro terá de explicar em termos mais convincentes os R$ 24 mil que migraram da conta "atípica" do amigo Queiroz para a conta da futura primeira-dama Michelle Bolsonaro. Soou inverossível aquele lero-lero de que seria parte do pagamento de um empréstimo não-declarado de R$ 40 mil. Que foi parar na conta da mulher por falta de tempo do marido-presidente para ir ao banco. 

Conforme já foi comentado aqui, o "faz-tudo" Queiroz pode seguir duas trilhas quando sua saúde ou a conveniência dos Bolsonaro permitir que preste depoimento. Numa trilha, o correntista toca fogo nas próprias vestes. Noutra, incendeia o circo da dinastia Bolsonaro. Por ora, as únicas novidades disponíveis sobre o caso são as seguintes: 1) O correntista piromaníaco continua sumido. Já lá se vão 15 dias. 2) O espetáculo da autocombustão foi transferido para os primeiros dias da Presidência de Jair Bolsonaro.

Por Josias de Souza

Neste Natal oremos caçapavenses




Semana que antecede o Natal, mais uma comemoração do nascimento de Jesus, e como todo bom brasileiro católico e cheio de esperança, oremos. Oremos para que a vida melhore, para que nosso país prospere e cresça com desenvolvimento. Para que nossa cidade se livre dos vigaristas ordinários, dos ignorantes que não conseguem fazer sucesso na vida pessoal e fazem da política local seu meio de vida e sustento. Oremos para que apareça alguém de fibra, de honra que enfrente sem medo os enganadores e aproveitadores que tanto prejudicam o crescimento e desenvolvimento de Caçapava. 

Oremos mais, e muito mais, para que Deus ilumine, inspire e de discernimento aos caçapavenses para afastar da vida pública pessoas despreparadas e mal-intencionadas como tem aparecido tanto. 

É nesse ponto, da atuação dos caçapavenses na política local, que eu quero tocar. Caçapava está politicamente abandonada pelo seu cidadão mais tradicional, deixando para os quadrilheiros políticos, oportunistas e despreparados, os rumos da cidade. 

Caçapava tem um bom sujeito como prefeito. Ele teria tudo pra mudar e proteger a cidade dos vigaristas políticos caso fosse um bom líder, mas, além de não ter vontade pra isso não sabe fazer política. Sofre de frouxidão crônica. Na Câmara, os vereadores são de uma fragilidade de cristais. E de tanta fragilidade estão sempre sujeitos a manipulação. 

Bem, minha gente, por que digo que os cidadãos de bem devem se preocupar com a política local. Imaginem a cidade administrada ou influenciada politicamente por um estelionatário, por uma pessoa que passou boa parte da vida aplicando golpes em bancos, que foi surpreendido pela policia com documentos falsos e talão de cheques roubados. Imaginem e acreditem, na política tem dessas coisas: Uma mulher, esposa e mãe, que não respeita a própria família, vive de muitos amantes, chega a apanhar em público de esposa enfurecida por se deitar com seu marido; expondo-se e desonrando filho e marido. Será que ela respeitaria a sociedade que a elegeu? Será que bandidos, estelionatários e mulheres sem moral seriam boas pessoas públicas? Não acredito nisso! 

O parágrafo anterior pode parecer um tanto exagerado, mas não é! Na política tem de tudo. O risco de Caçapava ser dominada politicamente por gente absolutamente desqualificada é real. 

Então, minha gente... Houve de tudo neste ano pouco santo. Este dezembro tem medo no ar. E um não saber sabendo que as perplexidades estão longe do fim. Que virá? Que será?

Uma semana e lá estaremos festejando, trocando – presentes, abraços, olhares, desejos. Nada disso ou tudo disso. Porque é Natal. E, como sempre, o Natal é para todos, embora nem todos tenham Natal.

Não custa desejar, sinceramente: Feliz Natal. Que seja leve, que clareie.

PS: Ficamos sabendo que nesta terça (18) foi eleita para o próximo mandato de presidente da Câmara de Caçapava, a vereadora Preta da Rádio. Comento na próxima edição!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Na equipe de Bolsonaro, há cinco investigados e um condenado


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A equipe de ministros de Bolsonaro já contava com cinco integrantes que ou são investigados ou já respondem a ações Justiça: Ônix Lorenzoni (Casa Civil), Paulo Guedes (Economia), Tereza Cristina (Agricultura), Luiz Mandetta (Saúde) e Marcelo Álvaro Antônio (Turismo). Agora há um sexto. E em situação judicial um pouco mais complicada. Ricardo Salles, indicado para o Meio Ambiente, foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa. Ainda cabe recurso. Em entrevista publicada nesta quinta, Gustavo Bebbiano, futuro titular da Secretaria-Geral da Presidência, afirmou o seguinte: “Não vou falar especificamente sobre ele (Salles), porque não conheço detalhes que envolvem o processo. Mas, de forma geral, o que o presidente Jair Bolsonaro já disse foi que ficha suja não vai ficar no governo”.

Renan Calheiros insulta Marco Aurélio no Twitter



Renan Calheiros endereçou no Twitter insultos ao ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo. Inconformado com a decisão do magistrado de impor o voto aberto na eleição para a presidência do Senado, o cacique do MDB questionou-lhe a inteligência. Abstendo-se de citar o nome do seu alvo, Renan chegou mesmo a associar o ministro da Suprema Corte às "antas". 

"Não podemos deixar de defender a separação dos Poderes", escreveu o senador. "Se a democracia ficar exposta a pedrada de doido e a coice de burro, será mais complicado defendê-la. Todo dia tem que matar um leão. Mas o difícil é enfrentar as antas." 

Deve-se a decisão de Marco Aurélio a um mandado de segurança impetrado no Supremo pelo senador Lasier Martins (PSD-RS). Na última quarta-feira, horas depois da divulgação do despacho do ministro, Renan queixara-se no plenário do Senado: "O voto secreto é princípio de eleição. Não há nenhuma eleição no mundo que não seja por voto secreto. O regimento desta Casa diz isso." 

Renan realçara que o próprio regimento do Supremo Tribunal Federal prevê votação secreta na escolha do presidente da Corte. Irônico, ele dera um conselho ao correligionário Eunício Oliveira (MDB-CE), que preside o Senado e o Congresso: 

"Se o Supremo entender que não precisa cassar a decisão do ministro Marco Aurélio, é muito melhor, senhor presidente, o senhor entregar a chave do Congresso Nacional ao ministro Marco Aurélio." Curiosamente, há um quê de Gilmar Mendes na manifestação ofensiva de Renan. 

Amigos, Gilmar e Renan têm em comum o desapreço por Marco Aurélio. No ano passado, o então procurador-geral da República Rodrigo Janot pediu formalmente no Supremo que Gilmar fosse impedido de julgar casos envolvendo o empresário Eike Batista. Na epígrafe do documento que redigiu para rebater os argumentos de Janot, Gilmar escreveu o mesmo provérbio português usado por Renan contra Marco Aurélio: "Ninguém se livra de pedrada de doido nem de coice de burro". 

Na hipótese mais benigna, Renan apenas inspirou-se na peça redigida por Gilmar. Na hipótese mais maligna, as ofensas do senador ecoam a divisão interna que anda corroendo a supremacia da Supremo Corte. 

A melhor forma de guerrear contra uma decisão judicial é a apresentação de um recurso próprio. Algo que, no caso do voto aberto, Eunício Oliveira já providenciou. O problema é que a perspectiva de uma eleição com voto aberto no Senado deixa Renan fora de si. O que o leva a expor na vitrine das redes sociais o que tem por dentro. 

O senso comum ensina que não é exemplo de inteligência um personagens que, tendo telhado de vidro, sai atirando pedras como um doido. Protagonista de mais de uma dezena de processos no Supremo, Renan não tem apenas o telhado de vidro, mas o paletó, a gravata, a camisa, o calcanhar… Tudo no senador parece ser de vidro. 

De resto, o Brasil seria um país extraordinário se o mais difícil desafio imposto ao sistema democrático fosse "enfrentar as antas". A faxina iniciada pela Lava Jato revelou que a democracia brasileira é assediada por bichos bem mais perigosos. Por vezes, juntam-se hienas, raposas, aves de rapina, abutres e roedores de toda espécie para assegurar posições estratégicas. Por exemplo: a presidência do Senado.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Equipe de Bolsonaro já tem seu primeiro ministro condenado. Antes mesmo da posse


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O advogado Ricardo Salles (Novo), futuro ministro do Meio Ambiente no governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa no fim da tarde de ontem – cabe recurso.

A decisão é do juiz Fausto José Martins Seabra, da 3.ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, sobre ação do Ministério Público que acusava o futuro ministro de ter favorecido empresas de mineração em 2016, ao acolher mudanças feitas nos mapas de zoneamento do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Tietê. Na época, Salles era secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo, durante a gestão do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Na decisão, o juiz faz a ressalva de que não houve prejuízo efetivo ao meio ambiente, já que o plano alterado por Salles acabou não sendo aprovado. Ele também afirma não houve incidência nas hipóteses mais graves dos artigos da lei de improbidade administrativa que versam sobre enriquecimento ilícito e lesão ao erário.

Seabra determinou a suspensão dos direitos políticos de Salles por três anos, pagamento de multa e proibição de contratar com o Poder Público. A ação foi movida pelos promotores Silvio Marques, Leandro Lemes, Thomás Yabiku e Jaime do Nascimento Júnior, do MP-SP.

Defesa
Procurado pela reportagem, Salles afirmou ao Estado que irá estudar a decisão com seus advogados e, possivelmente, recorrer. “O juiz diz na decisão com todas as letras que não houve nenhum benefício da minha parte, eu não auferi nenhuma vantagem pessoal”, diz o futuro ministro.

“Embora ele, infelizmente, na minha opinião, entenda que o fato de eu ter agido como agi seja improbidade, na prática, o que ele disse é que não houve dano e que não houve nada grave”, afirmou Salles.

Diplomata da França ironiza crítica de Bolsonaro



Algumas pessoas não conseguem trabalhar em silêncio. Jair Bolsonaro vai além: pensa em voz alta. Em sua última aparição ao vivo no Facebook, na noite de terça-feira, o capitão cutucou a França. O embaixador francês nos Estados Unidos, Gérard Araud, decidiu passar recibo no Twitter. E o fez com grossa ironia. 

A pretexto de prometer mais rigor no controle da entrada de imigrantes no país, Bolsonaro insinuara que não permitiria que o Brasil virasse uma França. "Todo mundo sabe o que está acontecendo com a França. Está simplesmente insuportável viver em alguns locais da França. E a tendência é aumentar a intolerância." 

A resposta de Gérard Araud veio curta e incisiva: "63.880 homicídios no Brasil em 2017, 825 na França. Sem comentários." O que o diplomata francês quis dizer, com outras palavras, foi mais ou menos o seguinte: "Em matéria de caos, convém não discutir com especialistas."

Por Josias de Souza

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Governo Bolsonaro recua três horas depois de fazer anúncio e tira demarcação de terra indígena da alçada de ruralista



Três horas depois de anunciar que o ruralista Luiz Antônio Nabhan Garcia tocaria “a regularização fundiária, incluindo as atividades de identificação e demarcação de terras indígenas e quilombolas, o licenciamento ambiental e as políticas de reforma agrária”, o governo Bolsonaro recuou.

Em uma “nota de esclarecimento”, o Ministério da Agricultura afirmou que a Secretaria Especial de Assuntos Fundiários, para a qual Nabhan Garcia foi nomeado, “será responsável pela definição de políticas fundiárias do país”.

Mas que “a execução dessas políticas caberá ao Incra, inclusive relativas a questões indígenas e quilombolas, por exemplo”, reformulou o ministério a ser comandado por Tereza Cristina, ao qual a secretaria estará ligada.

“A Funai, que integrará o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, continuará a atuar nos assuntos ligados aos índios”, continuou.

“Questões que envolvam demarcações ou conflitos de terras serão submetidas a um Conselho Interministerial, em processo de criação, que reunirá as pastas da Agricultura, Defesa, Meio Ambiente, Direitos Humanos e Gabinete de Segurança Institucional.”

Nabhan Garcia é presidente da UDR (União Democrática Ruralista) e próximo a Bolsonaro. O próprio presidente eleito defendeu rever a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.

Atualmente, a demarcação de terras indígenas começa na Funai, que faz estudos de identificação e delimitação.

O Ministério da Justiça faz a declaração dos limites.

A Funai então faz a demarcação física e, em conjunto com o Incra, promove um levantamento fundiário de avaliação de benfeitorias implementadas pelos ocupantes não-índios.

A homologação da demarcação compete à Presidência da República.
Na Folha

Queiroz pode se imolar ou tocar fogo no circo



O Ministério Público espera ouvir nesta quarta-feira (19) o depoimento de Fabrício Queiroz. Ele sobe ao palco duas semanas depois de ter entrado em cartaz. Antes de virar um correntista "atípico", Queiroz era só um figurante. Desses que aparecem no final da lista dos papeis numa peça teatral: "mendigo, prostituta, motorista, segurança etc…" Fabrício era o "etc." da história. Graças à família Bolsonaro, virou protagonista. Dispõe de dois roteiros. Num, toca fogo nas próprias vestes. Noutro, incendeia o circo. O país logo saberá que papel Queiroz escolheu encenar. 

Até aqui, Queiroz limitava-se a compor o fundo contra o qual se cumpria o destino glorioso de uma dinastia promissora. De repente, viu-se no epicentro de um drama em três atos. No primeiro ato, o Coaf enganchou na sua figura sombria a movimentação atípica de uma cifra reluzente: R$ 1,2 milhão. No segundo ato, Jair Bolsonaro e o primogênito Flávio Bolsonaro terceirizaram as justificativas ao ex-figurante. O Queiroz tem que explicar isso daí, deu de ombros o pai. Quem tem que dar explicação é o ex-assessor, ecoou o primeiro-filho. 

Pois bem. Vem aí o terceiro ato. A menos que Fabrício Queiroz se apresente como beneficiário de uma herança insuspeitada, o risco de a peça acabar bem é pequeno, muito pequeno, diminuto. Tocando fogo no circo, Queiroz fará dos Bolsonaro políticos capazes de tudo. Imolando-se Queiroz os transformará em seres incapazes de todo —só cegos atoleimados não perceberiam tanta atipicidade ao redor. Em nenhuma das duas hipóteses o pai-presidente e o filho-senador serão os representantes que seus eleitores idealizaram. 

No livro em que revelou detalhes de suas conversas com o Billy Wilder, Cameron Crowe listou os dez mandamentos de Wilder para os roteiristas de cinema. A chave do fracasso consta do sexto mandamento: 'If you have a problem with the third act, the real problem is in the first act'. Em português: "Se você está tendo problemas com o terceiro ato, o verdadeiro problema está no primeiro ato." Bingo!

No tempo em que ainda era apenas o "etc." da história, Queiroz teve sua conta atípica abastecida pelos depósitos de oito assessores do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio. O dinheiro entrava nas pegadas da liberação dos contracheques. E saía nos dias subsequentes, em saques feitos na boca do caixa. Sacaram-se em dinheiro vivo pelo menos R$ 324 mil. Numa exceção que vale como uma espécie de marca do Zorro, Queiroz brindou a futura primeira-dama Michelle Bolsonaro com um cheque de R$ 24 mil. Coisa já rastreada. 

Ou seja: a apenas 12 dias da posse do capitão na Presidência da República, a dinastia Bolsonaro vê sua reputação enroscada num roteiro que começou a desandar no instante em que o Coaf percorreu o rastro pegajoso que agora conduz os investigadores do Ministério Público para o primeiro ato. O grande problema desse tipo de espetáculo é que os roteiristas nunca se lembram de ensaiar a plateia para o papel de palhaço.

Por Josias de Souza

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Bolsonaro recorre ao Twitter para negar intenção de se livrar de obras sacras; sobre “Orixás”, ele nada disse



O presidente eleito, Jair Bolsonaro, recorreu ao Twitter, para tratar da destruição dos Budas de Bamyian. Ops! Quis dizer: do despejo de obras de arte do Palácio da Alvorada. Afirmou:

“Fui surpreendido com a notícia que minha esposa retiraria imagens católicas da futura residência oficial devido sua religião. Ela evangélica e eu católico, ambos temos objetos que lembram nossa fé em nossa casa! Não por acaso, criam narrativas para nos desgastar a todo custo!”

Claro! Daqui a pouco, ele faz uma “live” para esculhambar a imprensa.

Sobre o quadro “Orixás”, de Djanira, que está para ser expulso do Palácio do Planalto, nada disse.

E as coisas vão se sucedendo desse modo…

Essa gente não perdoa o fato de que a imprensa fique sabendo das coisas.

O que o casal estava prestes a fazer era, antes de mais nada, uma agressão cultural. A questão religiosa, aí, é até secundária porque, afinal, cada um tem a sua crença, e dona Michelle Bolsonaro tem todo o direito de não gostar de imagens. O que ela não tem é o direito de interferir no patrimônio cultural brasileiro em razão da sua fé. E o mesmo vale para seu marido.

O problema dessas versões oficiais é que infantilizam o público, né?

General Heleno sai em socorro de Bolsonaro, diz ser tudo invenção da imprensa e que Mourão pediu Santa Bárbara

Vejam o que diz o general Augusto Heleno, futuro chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional:

“Liguei para o presidente hoje de manhã comentando sobre a repercussão altamente negativa disso aí na comunidade católica e ele já desmentiu categoricamente. É mais uma notícia inventada”.

General Heleno tem reputação de pessoa séria. E sempre levou adiante com correção a sua profissão. O que se depreende da frase acima? Se o presidente nega, então é coisa inventada pela imprensa. É claro que nem ele acredita na fórmula.

Vamos pensar em que circunstância isso aconteceria… Não tendo nada mais a fazer, os jornalistas pensam: “Ah, vou inventar que Michelle quer tirar cinco obras sacras do Palácio da Alvorada e que Bolsonaro quer se livrar do quadro ‘Orixás’, da Djanira”.

Mas, claro, dedicados, os profissionais ligam para o general:
“Eu acabei de inventar, general, que o senhor vai receber uma Santa Bárbara lá no Jaburu, oriunda do Palácio do Planalto…”

Para não deixar o repórter constrangido, o vice eleito confirma a transferência.

E Heleno também falou a respeito quando indagado se o vice se equivocou:

“Ele não se equivocou. O general pediu que a imagem de Santa Bárbara, que é a patrona da artilharia brasileira, fosse levada para o Palácio do Jaburu. Ele é oficial de artilharia e tem um apreço muito grande pela imagem. Só, o resto é fake news”.

Tá bom, futuro ministro!

General Heleno tem de se cuidar: não pode ser porta-voz de quem produz notícias negativas; tarefa é outra

Então ficamos assim: um dia, dá na veneta de Mourão pedir a Santa Bárbara entalhada em madeira. Eu nem sabia — e ninguém sabia, nem Mourão — que o vice eleito é um frequentador assíduo do Palácio da Alvorada. De tanto visita-lo e de andar por suas larguezas, veio a ideia: “Ah, por que não mando essa Santa Bárbara lá para o Palácio do Jaburu, onde vou morar?”

O general Heleno é muito sabido, mas, mesmo assim, vou me permitir lhe fazer uma sugestão, nunca um conselho: melhor ter logo um porta-voz, e do tipo que respeita a imprensa, para essas coisas. Isso não é função de Gabinete da Segurança Institucional. Ou o senhor põe a sua credibilidade a serviço de histórias da Carochinha, não e mesmo general? E, por óbvio, o senhor sabe que estou certo.

Nem os jornalistas inventaram a história. Nem Mourão teve a ideia, do nada, de pedir a Santa Bárbara, cuja existência talvez até desconhecesse. De resto, convenham: Mourão é, sim, opiniático e altivo, mas não deve ser do tipo que pede que o presidente eleito se livre de peças de sua futura residência oficial para decorar a dele, general.

Há uma boa maneira de Bolsonaro e sua família se verem livres de notícias negativas: parar de produzir notícias negativas, na certeza de que, depois, nas redes sociais, pode-se dar um jeito.

Sim, a expectativa sobre o novo governo, apontam as pesquisas, é positiva. Mas informo aqui: só não percebe que a corrosão da imagem já começou quem não quer. E a imprensa não tem nada com isso. Os únicos responsáveis são os Bolsonaros.

Por Reinaldo Azevedo

Michelle manda tirar obras sacras do Alvorada - É Uma Vergonha - É uma agressão à pluralidade, às artes, à cultura, à história e à tradição brasileira



Michelle manda tirar obras sacras do Alvorada; atitude lembra a destruição dos Budas de Bamiyan

É uma vergonha! Se não houver um recuo, obras sacras serão retiradas do Palácio da Alvorada, futura morada do casal Bolsonaro, porque Michelle, primeira-dama a partir de 1º de janeiro, não as quer lá. Evangélica da Igreja Batista, ela se indispôs com a temática religiosa das obras de arte, de inspiração católica. A notável senhora deve considerar que tais manifestações são incompatíveis com a sua crença. Trata-se de um despropósito, de um despautério, de uma agressão à pluralidade, às artes, à cultura, à história e à tradição brasileiras. Qual é a diferença entre a decisão de Michelle e a dos terroristas dos Taliban, que mandaram dinamitar os dois Budas de Bamiyan, no Afeganistão? Em essência, nenhuma. É apenas de grau. Sim, claro!, o destino das obras é outro: Michelle mandou tirar da sua vista; os terroristas deram um fim nas esculturas do Século V, que precediam a existência do próprio islamismo. Então o que há em comum? As duas posturas se caracterizam por intolerância religiosa e acreditam que seu Deus, ou sua forma de entendê-lo, deve ter um poder normativo que apaga até a história do país em que atuam.

Michelle vai despejar do Alvorada anjos barrocos, Santa Bárbara e mais 3 santos. Mourão vai abrigá-los

Vamos ver. Há um par de anjos barrocos na Biblioteca, que será certamente o setor menos frequentado do Palácio da Alvorada. Eu a conheço. Há preciosidades por lá. Nos anos petistas, não foi o lugar mais lustrado pelos sapatos do poder. Não será também desta feita. As origens históricas da Igreja Batista, a original, se confundem com o Barroco, no século XVII. Não havia se manifestado, até o advento de Michelle, a incompatibilidade entre eles — ao menos como manifestações, ambas, da cultura. Mas, acreditem, teremos um governo destinado a assombrar o mundo.

Quatro imagens de santos também serão despejadas do Palácio da Alvorada para poder abrigar Michelle e sua fé excludente. Estão no salão de Música e de Estado. Uma delas é uma Santa Bárbara entalhada em madeira, do século XVIII. Irá, com as demais obras sacras, para o Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente — e, pois, a ser ocupada pelo general Hamilton Mourão e sua mulher, que são católicos. Ele receberá as obras de bom grado, em especial a santa, que é padroeira da artilharia, arma a que pertence. Mas a intolerância também chega ao Palácio do Planalto, sem a participação de Michelle, até onde se sabe.

Eleito vai despejar, aí do Palácio do Planalto, “Orixás”, de Djanira, um dos ícones da pintura brasileira

O saguão do segundo andar da sede do Executivo exibe a obra “Orixás”, da pintora brasileira Djanira (1914-1979), nome de relevo entre os pintores brasileiros mais reputados em todos os tempos. Há quem não goste, claro! Mas Djanira é parte da nossa história e tem obra no acervo permanente no Museu do Vaticano. Não serve aos olhos exigentes de Jair Bolsonaro e seus pensadores. Também a Djanira será despedida do Planalto — o presidente eleito deve considerar que esse papo de “Orixás” é concessão ao politicamente correto. O destino da obra pode ser o MASP (Museu de Arte de São Paulo). Sim, certamente será vista por mais gente e por olhos mais competentes. Mas isso não minimiza as manifestações evidentes de intolerância. Daqui a pouco começa o show de desconversa: “Ah, não é bem isso…” Ou: “Não há preconceito nenhum nas escolhas”.

Por Reinaldo Azevedo


Ajuste no bolsa-teto de juízes é como confissão


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O Conselho Nacional de Justiça se reúne nesta terça-feira para aprovar resolução sobre o auxílio-moradia de R$ 4.377 pago mensalmente aos juízes brasileiros. A ideia é restringir esse benefício aos juízes transferidos para outras cidades, onde não possuam residência. Seria algo temporário, pago mediante apresentação de recibo de aluguel. Essa regulamentação vale como uma espécie de confissão de culpa. Desde 2014, graças a uma decisão liminar do ministro Luiz Fux, do Supremo, o auxílio-moradia vinha sendo pago a todos os juízes, mesmo os que já têm teto. Por quatro anos, Fux manteve na gaveta a liminar que garantiu a farra. Evitou submeter a encrenca ao plenário da Suprema Corte.

De repente, num acerto com Michel Temer, Fux e o presidente do Supremo, Dias Toffoli, trocaram o auxílio moradia por um reajuste salarial que elevou os seus próprios salários para mais de R$ 39 mil por mês, com direito a um efeito cascata que custará R$ 4 bilhões ao ano. Fux cassou sua liminar, sem que o Supremo julgasse a imoralidade. É nesse contexto que o CNJ, sob a presidência de Toffoli, deve moralizar a coisa. Fará isso depois que muita gente com boa fama e belas residências achou normal embolsar o bolsa-teto. 

Foi assim com Sérgio Moro, quando era juiz. Marcelo Bretas, que cuida da Lava Jato no Rio, recebe o beneficío em duplicidade com sua mulher, que também é juíza. O desembargador Manoel Pereira Calças, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, disse o seguinte sobre os R$ 4.377 que lhe caem na conta: "Eu acho pouco. Tenho vários imóveis, não um só." Agora, o CNJ deve esclarecer que o mimo não é para todos. O futuro a Deus pertence. A questão é saber: quem responderá pela despesa imoral do passado?

Por Josias de Souza

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Embraer e Boeing chegam a acordo e esperam decisão do governo



As fabricantes de aviões Embraer e Boeing chegaram a um acordo para a criação de uma joint venture (um empreendimento conjunto) para desenvolvimento e comercialização de aeronaves para aviação comercial. De acordo com comunicado emitido nesta segunda-feira, 17, pela Embraer, falta apenas a anuência do governo brasileiro para que o negócio seja selado.

Segundo o comunicado, a Boeing pagará a Embraer 4,2 bilhões de dólares (equivalente a 16,4 bilhões de reais na cotação de hoje) por 80% de seu negócio de aviação comercial. Esse segmento, uma das quatro linhas de negócio da companhia brasileira, será desmembrada e integrará a nova joint venture, da qual a Embraer ficará com 20%. Pelo valor pago pela Boeing, o negócio de aviação comercial da Embraer foi avaliado em 5,26 bilhões de dólares (20,5 bilhões de reais, no câmbio desta segunda-feira). As sinergias – ganhos de operação – devem somar anualmente 150 milhões de dólares (588,2 milhões de reais em valores estimados nesta segunda-feira).

“A Boeing e a Embraer possuem um relacionamento estreito graças a mais de duas décadas de colaboração. O respeito mútuo e o valor que enxergamos nesta parceria só aumentou desde que iniciamos discussões conjuntas no começo deste ano”, disse Dennis Muilenburg, presidente, chairman e CEO da Boeing.

“Estamos confiantes que esta parceria será de grande valor para o Brasil e para a indústria aeroespacial brasileira como um todo. Esta aliança fortalecerá ambas as empresas no mercado global e está alinhada à nossa estratégia de crescimento sustentável de longo prazo”, disse Paulo Cesar de Souza e Silva, presidente e CEO da Embraer.

Além da aviação comercial, as empresas também chegaram a um acordo sobre os termos de uma segunda joint venture, para promover e desenvolver novos mercados para o supercargueiro KC-390. De acordo com a parceria proposta, a Embraer deterá 51% de participação na joint venture e a Boeing, os 49% restantes.

Nesse caso, a Boeing não participará do desenvolvimento da aeronave, apenas na comercialização dela.

Segundo a Embraer, “a transação está sujeita à aprovação do governo brasileiro, ratificação pelo Conselho de Administração da Embraer e autorização deste para assinatura dos documentos definitivos da transação”, disse, em nota. “Após a celebração dos documentos definitivos pelas partes, a parceria estratégica será submetida à aprovação dos acionistas, das autoridades regulatórias, bem como a outras condições pertinentes à conclusão de uma transação deste tipo. Caso as aprovações ocorram no tempo previsto, a expectativa é que a negociação seja concluída até o final de 2019.”

Na Veja.com

Caso Coaf aproxima o clã Bolsonaro de Havana



Jair Bolsonaro trocou um dedo de prosa com os repórteres neste domingo. Espremido, recusou-se a falar sobre Fabrício Queiroz, o correntista "atípico" que assessorava o primogênito Flávio Bolsonaro. Destravou a língua, entretanto, para reiterar suas críticas à forma como Cuba explorava os médicos que atuavam nesta terra de palmeiras. "Não podemos admitir o trabalho escravo no Brasil com a máscara de trabalho humanitário voltado a pobres", declarou o capitão, sem se dar conta de que o Caso Coaf aproxima a família Bolsonaro de Havana. 

Fabrício Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão numa conta bancária abastecida com depósitos de servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. O brasileiro espera por uma explicação razoável há 12 dias. E nada. A demora potencializa a suspeita de que teria ocorrido a cobrança de pedágio sobre o contracheque dos assessores, prática tão reles quanto usual nos legislativos do país. Mal comparando, é algo muito parecido com o que Cuba fez ao confiscar 70% dos salários dos médicos enviados para prestar serviços no Brasil. 

Há duas diferenças: os médicos cubanos tiveram de suar o jaleco. E todo mundo sabe que o confisco previsto no contrato celebrado sob Dilma Rousseff ajudou a financiar a ditadura cubana. No gabinete de Flávio Bolsonaro, o suor era uma contrapartida contornável. E os saques feitos pelo faz-tudo Fabrício Queiroz. na boca do caixa, em dinheiro vivo, camuflaram o destino da verba. A exceção foi o repasse de R$ 24 mil à futura primeira-dama Michelle Bolsonaro, feito por meio do velho, bom e rastreável cheque. 

Deve-se a Lula a decisão de Bolsonaro de reativar os ataques a Cuba. Em mensagem dirigida aos mais de 8 mil médicos cubanos que retornaram a Havana, o grão-mestre do petismo escreveu: "Eu lamento que o preconceito do novo governo contra os cubanos tenha sido mais importante que a saúde dos brasileiros que moram em comunidades mais distantes e carentes." 

Abespinhado, o capitão lamentou que "as informações estejam "chegando erradas na cadeia." Antes de encontrar-se com os repórteres, ele escreveu no Twitter: "Diferente do que diz o corrupto preso Lula sobre o novo governo ser preconceituoso por retirar médicos cubanos do país, foi Cuba que os retirou por recusar-se a pagar salário integral a eles…". 

Espera-se que Fabrício Queiroz, um velho amigo de Bolsonaro e seus filhos, reapareça nesta semana para prestar esclarecimentos ao Ministério Público do Rio de Janeiro. Enquanto a movimentação bancária do correntista "atípico" não for acomodada em pratos higienizados, a conversa de Bolsonaro sobre gente que se recusa "a pagar salário integral" a servidores não passa de uma nova variação do velho hábito de atirar contra o próprio pé.

Por Josias de Souza

Flávio Bolsonaro cairá na mesa de Raquel Dodge



O senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) tem um encontro marcado com Raquel Dodge. Caberá a ela, na condição de procuradora-geral da República, decidir se o relatório do Coaf sobre movimentações bancárias atípicas no âmbito da Assembleia Legislativa do Rio justifica ou não o envio ao Supremo de um pedido de abertura de inquérito contra o filho mais velho de Jair Bolsonaro. 

Responsável pelo controle das operações financeiras no país, o Coaf fisgou 75 assessores de duas dezenas de deputados estaduais do Rio. Juntos, movimentaram de forma suspeita R$ 207 milhões em um ano. O vaivém detectado na conta de Fabrício Queiroz, o ex-motorista de Flávio Bolsonaro, somou R$ 1,2 milhão. A cifra continua pendente de explicação. 

A partir de fevereiro, com a posse de Flávio Bolsonaro no Senado, o pedaço da encrenca que passa pelo gabinete dele subirá do Rio para Brasília. E Raquel Dodge terá de se debruçar sobre o caso. Logo ela, uma personagem que não desperta em Jair Bolsonaro a mais remota simpatia. 

O mandato de Dodge no comando da Procuradoria termina em setembro 2019. Bolsonaro já sinalizou que não tem a intenção de reconduzi-la ao posto. Não se conforma com o fato de ter sido denunciado por ela sob acusação de racismo. O arquivamento do processo no Supremo não arquivou a aversão de Bolsonaro por Dodge.

Por Josias de Souza

domingo, 16 de dezembro de 2018

As artes e os artistas de todos os matizes, exceto os apoiadores confessos do ex-capitão, passaram a ser a encarnação do mal



Cultura custa pouco e rende muito. Em todos os sentidos. E, para desgosto dos bolsonaristas fieis que entopem as redes sociais com achincalhes a artistas, demonizados e tratados como bandidos, os incentivos via Lei Rouanet geram mais postos de trabalho e riqueza do que os concedidos a qualquer outro segmento.

E isso no Brasil não é pouco. O país torra 5,1% do PIB em incentivos a empresas privadas. No próximo ano deve abrir mão de R$ 376 bilhões – R$ 306 bilhões em renúncia fiscal e R$ 69,8 bilhões em subsídios. Para a cultura são destinados apenas 0,64% desse total, algo em torno de R$ 1,6 bilhão.

Estudo da PrincewaterhouseCoopers encomendado pelo Ministério da Cultura do governo Michel Temer aponta que cada R$ 1,00 em incentivo cultural gera R$ 1,64 para o país. E o setor responde por mais de um milhão de empregos diretos. Cinco vezes mais do que o setor automotivo, generosamente agraciado com R$ 7,2 bilhões para 2019, cifra três vezes maior do que os R$ 2,3 bilhões de 2018.

Próximo de seu fim, o Ministério da Cultura, que será incorporado à pasta da Cidadania sob a batuta do deputado Osmar Terra, ex-ministro de Temer, alardeou o estudo. E, talvez para tentar influenciar e convencer o próximo governo da importância da Lei Rouanet, o fez com viés econômico, que, embora importante, está longe de ser o de maior peso quando o tema é cultura.

A guerra de bolsonaristas contra a Lei Rouanet se acirrou no segundo turno das eleições, quando dezenas de artistas endossaram o movimento #elenão. E ganhou força com as baterias disparadas pelo candidato Jair Bolsonaro contra os “famosos”, acusando-os de terem sido comprados com dinheiro público.

Essa batalha disseminou-se nas redes. As artes e os artistas de todos os matizes, exceto os apoiadores confessos do ex-capitão, passaram a ser a encarnação do mal.

No Programa do Faustão do domingo passado, Fernanda Montenegro, indignada, mas sem perder a elegância que lhe é característica, tentou dar um basta: “Estende-se por este país uma visão negativa, torpe, agressiva em cima de nós… Não somos ladrões da Lei Rouanet… Não somos corruptos, somos dignos”. Foi aplaudida de pé, mas ignorada pelos bolsonaristas detratores de artistas.

A Lei Rouanet não é imexível. Tem de ser aperfeiçoada e, principalmente, melhor fiscalizada. Algo que, caso a turma do presidente eleito desconheça, é defendido por todos os artistas e produtores culturais sérios.

Cultura custa pouco e rende muito. Em todos os sentidos. Ela não se produz em um ministério, nos gabinetes de Brasília. Mas não se faz com milagres, embora seja quase um ver que, entre 47 filmes em cartaz na cidade de São Paulo na semana passada 24 eram nacionais, mais da metade deles com três estrelas ou mais. Os créditos finais de cada um é prova inconteste de quantos empregos eles geram. Valem cada centavo dos incentivos que recebem.

Cultura custa pouco e rende muito. Denegri-la mata um povo, enterra um país.

Por Mary Zaidan

sábado, 15 de dezembro de 2018

Tratar caso Coaf como ‘irrisório’ magnifica o erro



O caso Coaf imita uma pedra jogada do alto da montanha. Seu primeiro movimento foi lento. Mas a notícia rola há dez dias sem uma explicação capaz de detê-la. Redobrou a velocidade. Os membros da dinastia Bolsonaro e seus súditos começam a se dar conta de que ficou difícil interromper uma crise que, não tendo sido contida no nascedouro, ganhou dinâmica própria. 

A coisa ficou muita parecida com uma avalanche: a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta do faz-tudo Fabrício Queiroz, os R$ 24 mil repassados à futura primeira-dama Michelle Bolsonaro, os nove assessores do gabinete do primogênito Flávio Bolsonaro gotejando parte do salário na conta tóxica, os saques em dinheiro vivo na boca do caixa, a filha de Fabrício transitando do gabinete de Flávio para o de Jair Bolsonaro sem dar expediente em nenhum deles...

Zonzos, os devotos do novo presidente temem fazer papel de bobos por falta de material para as barricadas. Parte dos apologistas do capitão começam a aderir à linha de defesa esgrimida pelo general Augusto Heleno, futuro ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional. 

"O presidente tá isento disso aí", disse o general ao repórter Pedro Bial. Heleno completou: "O que apareceu dele é irrisório, uma quantia pequena, e ele mesmo já explicou." Nessa versão, caberia apenas ao faz-tudo Fabrício prover novas e definitivas explicações. Mais: eventuais transgressões atribuídas a membros do clã Bolsonaro seriam encrencas para o juizado de pequenas causas se comparadas com escândalos como mensalão e petrolão.

Mantendo-se nessa trilha, os supostos defensores de Bolsonaro não conseguirão senão magnificar o erro. Na prática, estão afirmando, com outras palavras, o seguinte: ainda que fossem comprovados, os indícios que saltam do relatório do Coaf seriam honrosos para a família Bolsonaro que, ao desviar dinheiro público, desvia pouco. 

O argumento ganha ossatura antropológica quando visto sob a ótica de um clássico: o "Sermão do Bom Ladrão", do padre Antônio Vieira. Deus pôs Adão no paraíso, anotou Vieira, com poder sobre todos os viventes, como senhor absoluto de todas as coisas criadas. Exceção feita a uma árvore. Eis que, com a cumplicidade da mulher, Adão provou do único fruto que não lhe pertencia.

"E quem foi que pagou o furto?", pergunta Vieira. Ninguém menos que Deus, materializado na pele de Jesus. Condenado à cruz, pregado entre ladrões, ofereceu um exemplo aos príncipes. Um sinal de que são, também eles, responsáveis pelo roubo praticado por seus ministros. Quer dizer: não dá para dissociar os Bolsonaro de Fabrício, o correntista "atípico". 

Ao sobrepor a imagem do "troco" à dos "bilhões", os aliados de Bolsonaro evocam involuntariamente outro trecho do "Sermão do Bom Ladrão". Conta Vieira que, navegando em poderosa armada, estava Alexandre Magno a conquistar a Índia quando trouxeram à sua presença um pirata dado a roubar os pescadores.

Alexandre repreendeu o pirata. E ele replicou: "Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?" Citando Lucius Annaeus Seneca, um austero filósofo e dramaturgo de origem espanhola, que serviu em Roma como conselheiro de Nero, Vieira arremata seu raciocínio: se o rei da Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata, todos —rei, ladrão e pirata—merecem o mesmo nome. 

Assim, beliscar nacos do salário de assessores e desviar bilhões das arcas da Petrobras são irrupções de um mesmo fenômeno. O tamanho do desvio importa pouco. De troco em troco também se chega ao bilhão. E quem se desonra no pouco mais facilmente o fará no muito.

Durante a campanha, Bolsonaro imaginou-se numa guerra do bem contra o mal. Cobrou dos adversários petistas e tucanos um comportamento de mulher de César. Agora, afirma: "Se algo estiver errado —seja comigo, com meu filho ou com o Queiroz— que paguemos a conta deste erro. Não podemos comungar com erro de ninguém." E espera receber um tratamento diferente do que dispensou aos rivais. Não receberá. É melhor 'Jair' se acostumando.

No limite, a adoção da fórmula do general Heleno —"O presidente tá isento disso aí, pois o que apareceu dele é irrisório"— levaria à criação de uma inusitada escala ética. Poderia se chamar escala São Dimas, em homenagem ao bom ladrão do Evangelho. 

Quem furtasse com parcimônia na esfera pública estaria livre da sanha dos opositores, da curiosidade da imprensa e, sobretudo, estaria a salvo de órgãos de controle como o Coaf. O único inconveniente é que Bolsonaro teria de mudar o seu slogan. Ficaria mais ou menos assim: "O meu acima de tudo, a hipocrisia acima de todos."

Por Josias de Souza