Jair Bolsonaro, como se sabe, é valente. Gosta de dizer que não tem medo de usar a caneta. A sobrevida de Henrique Mandetta no cargo de ministro da Saúde impõe à valentia do presidente uma certa ponderabilidade cômica.
Mal comparando, Bolsonaro fica numa posição parecida com a do sujeito que diz que vai quebrar a cara do outro, mas expõe tantas condicionantes para levantar da cadeira que acaba comprometendo a seriedade da cena.
Na Saúde, a coragem à moda Bolsonaro fez do governo um desgoverno. Mandetta virou aberração administrativa: um ex-ministro em pleno exercício do cargo. O próprio Bolsonaro tornou-se anômalo: uma espécie de sub-presidente, que condiciona o movimento da caneta ao aval de subordinados militares.
Tanta anormalidade é potencializada pela crise do coronavírus. A pandemia pede nitidez. O governo oferece dubiedade. Mandetta diz uma coisa. Bolsonaro pratica o contrário. O ministro move-se como se estivesse cheio de vida. O presidente o trata como um auxiliar jurado de morte.
A saída de Mandetta, quando ocorrer, terá um custo para Bolsonaro. O ministro é mais bem avaliado do que o chefe na administração da crise. O preço pode ser mais alto se o capitão nomear um substituto que bata continência para sua retórica anti-isolamento social.
A essa altura, porém, o pior que poderia acontecer é não acontecer nada. Ou Bolsonaro tira a caneta do bolso ou Mandetta pedia a conta ou os dois naufragam abraçados.
Bolsonaro precisa dar ao Ministério da Saúde uma cara de Bolsonaro, assumindo os riscos. Não há mais espaço para a terceirização de responsabilidades. Despreza a ciência? Pois que nomeie um terraplanista! Vamos lá. Coragem, presidente.
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