O presidente Jair Bolsoanro terá de ter muito sangue frio. E isso, como se sabe, é tudo o que ele não tem. Abusou da sorte e da paciência dos brasileiros. O coronavírus, como ele mesmo lembrou em mais um pronunciamento oficial — desta vez, com alguma sensatez —, está entre nós. Os estragos nos sistemas de saúde público e privado já começaram, com a contaminação em massa também de profissionais da área. Os mortos vão se amontoando: alguns deles com o devido diagnóstico confirmado; outros, muitos outros, sem ele. Podem não entrar nas estatísticas, mas estão na história e na memória das pessoas.
Não sei como se deu no bairro em que vocês moram. Sei o que ouvi no meu e bairros conexos, dadas a melodia e a percussão próximas e distantes: não ouvi nesta terça apenas o maior panelaço dos 15 que já houve contra Bolsonaro. Foi o maior de todos os panelaços, incluindo aqueles que acompanharam Dilma rumo ao impeachment.
A economia vai piorar. A vida das pessoas vai piorar. As condições gerais de convivência social vão piorar — quando pudermos sair de casa. A capacidade que têm Bolsonaro e seus filhos de produzir desastres, frases infelizes, crispações inúteis, confrontos desnecessários, ofensas gratuitas, insultos asquerosos, acrescentem aí: tal capacidade é inesgotável.
À degradação econômica, juntam-se as incertezas de milhões de brasileiros sobre o seu futuro profissional e o sustento da família. Há ainda a angústia que todos sentimos de permanecer numa espécie de prisão domiciliar. Convenham: uma crise assim — e inexistem culpados pelo vírus — seria menos sofrida se fosse menor o estoque de ódio no país.
Ocorre que, no Palácio do Planalto, onde despacha o presidente, existe um grupo que compõe justamente o chamado "Gabinete do Ódio". Carlos Bolsonaro, chefe das milícias digitais, agora tem uma sala na sede do governo.
Que se note: a tragédia já está entre nós. Até ontem, a fala oficial de Bolsonaro sobre as vítimas fatais era esta: "Todo mundo morre um dia", acrescentando não ser do tipo "politicamente correto", como se a vida e a morte integrassem a clivagem dos que pensam (ou não) segundo um código de correção da linguagem. É um despropósito.
Será muito difícil o presidente conseguir se levantar da crise que atinge o seu nome, a sua reputação, a sua condição de líder maior do país — é esse o papel reservado ao chefe do Executivo no Presidencialismo.
Ocorre que as ações de combate ao vírus estão se dando à sua revelia mesmo quando partem do governo federal.
Muitos outros panelaços virão. Bolsonaro foi colecionando crimes de responsabilidade nestes 15 meses de governo. Até hoje, perderam todos os que apostaram que ele iria se vergar à institucionalidade e exercer o seu papel de presidente segundo as regras do jogo e do decoro.
Não custa lembrar que, até agora, estamos lidando apenas com antevisões da crise: tanto a econômica como a do coronavírus. E Bolsonaro já fez o que fez. Vamos ver como será quando formos, de verdade, colhidos pela onda.
O megapanelaço desta terça indica que o presidente deveria criar um Gabinete do Amor. Mas ele prefere o do Ódio.
E que se note: uma nova linguagem dos protestos também se populariza com o "Fora Bolsonaro": a projeção de luminosos nos prédios. Panelaço para se fazer ouvir e ver.
Por Reinaldo Azevedo
Não sei como se deu no bairro em que vocês moram. Sei o que ouvi no meu e bairros conexos, dadas a melodia e a percussão próximas e distantes: não ouvi nesta terça apenas o maior panelaço dos 15 que já houve contra Bolsonaro. Foi o maior de todos os panelaços, incluindo aqueles que acompanharam Dilma rumo ao impeachment.
A economia vai piorar. A vida das pessoas vai piorar. As condições gerais de convivência social vão piorar — quando pudermos sair de casa. A capacidade que têm Bolsonaro e seus filhos de produzir desastres, frases infelizes, crispações inúteis, confrontos desnecessários, ofensas gratuitas, insultos asquerosos, acrescentem aí: tal capacidade é inesgotável.
À degradação econômica, juntam-se as incertezas de milhões de brasileiros sobre o seu futuro profissional e o sustento da família. Há ainda a angústia que todos sentimos de permanecer numa espécie de prisão domiciliar. Convenham: uma crise assim — e inexistem culpados pelo vírus — seria menos sofrida se fosse menor o estoque de ódio no país.
Ocorre que, no Palácio do Planalto, onde despacha o presidente, existe um grupo que compõe justamente o chamado "Gabinete do Ódio". Carlos Bolsonaro, chefe das milícias digitais, agora tem uma sala na sede do governo.
Que se note: a tragédia já está entre nós. Até ontem, a fala oficial de Bolsonaro sobre as vítimas fatais era esta: "Todo mundo morre um dia", acrescentando não ser do tipo "politicamente correto", como se a vida e a morte integrassem a clivagem dos que pensam (ou não) segundo um código de correção da linguagem. É um despropósito.
Será muito difícil o presidente conseguir se levantar da crise que atinge o seu nome, a sua reputação, a sua condição de líder maior do país — é esse o papel reservado ao chefe do Executivo no Presidencialismo.
Ocorre que as ações de combate ao vírus estão se dando à sua revelia mesmo quando partem do governo federal.
Muitos outros panelaços virão. Bolsonaro foi colecionando crimes de responsabilidade nestes 15 meses de governo. Até hoje, perderam todos os que apostaram que ele iria se vergar à institucionalidade e exercer o seu papel de presidente segundo as regras do jogo e do decoro.
Não custa lembrar que, até agora, estamos lidando apenas com antevisões da crise: tanto a econômica como a do coronavírus. E Bolsonaro já fez o que fez. Vamos ver como será quando formos, de verdade, colhidos pela onda.
O megapanelaço desta terça indica que o presidente deveria criar um Gabinete do Amor. Mas ele prefere o do Ódio.
E que se note: uma nova linguagem dos protestos também se populariza com o "Fora Bolsonaro": a projeção de luminosos nos prédios. Panelaço para se fazer ouvir e ver.
Por Reinaldo Azevedo
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