quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Embraer entrega 44 jatos no 3º trimestre de 2019



A Embraer anunciou nesta quinta-feira que entregou 44 jatos no terceiro trimestre de 2019, dos quais 17 foram comerciais e 27 executivos (sendo 15 leves e 12 grandes).

Trata-se de queda de 13% na comparação com o volume de entregas do segundo trimestre, quando a fabricante colocou no mercado 51 jatos, sendo 26 comerciais e 25 executivos.

Mas representa aumento de 13% comparado ao terceiro trimestre de 2018, quando a Embraer entregou 39 jatos, com 15 comerciais e 24 executivos.

No acumulado de janeiro a setembro, a Embraer aumentou a quantidade de aeronaves entregues em 2019 frente ao mesmo período do ano passado, com 117 contra 112, crescimento de 4,46%.

O resultado deve-se ao desempenho da Aviação Executiva, que cresceu 14,55%, com 63 jatos entregues no ano contra 55, no ano passado.

A Aviação Comercial caiu 5,26%, fechando os nove meses com 54 jatos entregues contra 57, no ano passado.

De acordo com a Embraer, a carteira de pedidos firmes a entregar em 30 de setembro deste ano totalizava US$ 16,2 bilhões, abaixo dos US$ 16,9 bilhões no fim do segundo trimestre. A carteira conta com 345 pedidos firmes a entregar e 442 opções de compra.

NOVO JATO.

Entre os destaques da companhia no terceiro trimestre, está a entrega do primeiro jato E195-E2 para a AerCap, maior companhia de arrendamento de aeronaves do mundo.

A operadora global do jato é a Azul Linhas Aéreas Brasileiras, que encomendou 51 aviões do mesmo modelo e receberá outras cinco unidades ainda em 2019.

A Embraer também entregou o primeiro KC-390 à FAB (Força Aérea Brasileira), em cerimônia na Base Aérea de Anápolis (GO), no começo de setembro.

Também fechou com o governo de Portugal a venda de cinco unidades do KC-390, em um contrato de 827 milhões de euros, cerca de R$ 3,68 bilhões.

Na Aviação Executiva, a fabricante fechou um contrato de US$ 1,4 bilhão para fornecer frota de jatos Praetor 500, Praetor 600 e Phenom 300 para a empresa norte-americana Flexjet, uma das líderes no mercado de transporte via jatos particulares.

Em O Vale

Radicalização bolsonarista preocupa Forças Armadas


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A radicalização proposta pelo entorno ideológico do presidente Jair Bolsonaro (PSL) é a principal fonte de preocupação institucional na cúpula das Forças Armadas.

Oficiais-generais da ativa, das três Forças, dizem não haver apoio generalizado a eventuais aventuras repressivas sugeridas pelo grupo.

Os dois mais recentes episódios, envolvendo a publicação do “vídeo das hienas” contra o Supremo Tribunal Federal e a reação à reportagem sobre movimentações de acusados de matar Marielle Franco no condomínio de Bolsonaro, geraram o que um oficial-general definiu como “alta ansiedade”.

O alerta vem circulando desde que o bolsonarismo encampou o discurso de que os protestos no Chile e Equador, a volta do peronismo na Argentina e até o derramamento de óleo no Nordeste fazem parte de uma trama da esquerda que precisa ser combatida.

As teorias conspiratórias chegaram não só aos usualmente falantes filhos presidenciais Carlos e Eduardo, mas também ao general da reserva Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), que hoje está numa frequência bastante diversa daquela registrada na ativa.

Influenciado, Bolsonaro emulou o entorno ideológico e sugeriu que convocaria as Forças Armadas caso houvesse um contágio dos protestos chilenos em ruas brasileiras.

Na sequência, publicou o infame vídeo em que hienas representando o Supremo, a OAB, órgãos de mídia e adversários amorfos como o feminismo, ameaçam o leão personificando o presidente.

Aqui ficou evidente a pressão do grupo ideológico, discípulo do escritor Olavo de Carvalho. Bolsonaro recuou e pediu desculpas ao Supremo, e só ele, pelo vídeo. Mas seu assessor internacional, Filipe Martins, redobrou a crítica em redes sociais mesmo depois da retratação.

Na noite de terça (29), foi a vez do vereador carioca Carlos (PSC) complicar a narrativa presidencial de que a postagem era problema de terceiros com acesso às suas contas. No Twitter, o filho quis defender o pai de críticas, mas sublinhou que a postagem havia sido feita por Bolsonaro —em resumo, o contradisse.

Havia um objetivo não declarado na confusão, que era o de tirar a atenção sobre as ameaças feitas por Fabrício Queiroz, o antigo faz-tudo do clã Bolsonaro que levou a investigações sobre seu último chefe, o hoje senador Flávio (PSL-RJ). Com a revelação do próprio presidente de que já sabia do caso do condomínio, feita nesta quarta, a tática ficou clara.

Antes de o Jornal Nacional veicular a reportagem sobre o caso Marielle, o deputado Eduardo foi à tribuna da Câmara para sugerir que a história se repetiria caso houvesse protestos ao estilo chileno no Brasil. Foi acusado de defender medidas ditatoriais pela oposição.

O grau máximo de tensão veio com a “live” do presidente. Demonstrando o que mesmo aliados consideraram uma apoplexia desnecessária, ele fez críticas à Rede Globo e acusou o governador Wilson Witzel pelo relato em apuração do caso da vereadora assassinada em 2018.

Na manhã desta quarta (30), antes de o Ministério Público derrubar o pilar central da suspeita ao dizer que o porteiro do condomínio de Bolsonaro havia mentido sobre o contato de um acusado da morte de Marielle com a casa do então deputado, houve uma modulação da crise.

Filhos, parlamentares e ministros enfocaram fragilidades do relato, o que com o aval da Promotoria deve garantir a vitória bolsonarista na guerra de versões no momento.

Destoou do processo e manteve o tom conspiratório justamente Heleno. “Tentam criar fato político que desestabilize o país e fomente violentas manifestações, como as que ocorrem em outros países da América Latina”, escreveu no Twitter, comentando a reportagem.

Há elementos nas Forças Armadas, notadamente no Exército, que compartilham de tal visão. Ela só não é majoritária hoje em instâncias como o Alto-Comando da Força terrestre e é francamente minoritária na Marinha e na Força Aérea.

Chamou a atenção o posicionamento espontâneo do vice-presidente, general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), que descartou a gravidade do episódio —assegurando, ao mesmo tempo, que ele prejudica “o serviço”.

Mantido à distância por Bolsonaro e seus filhos, após vários episódios em que se mostrou ostensivamente como ator político mais racional no Planalto, Mourão agora faz um jogo de observação.

Ele não é exatamente querido na ativa do Exército, mas é sempre lembrado em conversas nas quais riscos de ruptura institucionais são mencionados, como “a nossa saída constitucional” —afinal de contas, teve os mesmos votos de Bolsonaro.

A relação dos militares com Bolsonaro, um capitão com histórico de indisciplina e reformado por isso, é complexa. No poder, a ala militar no governo perdeu força e integrantes nos embates com os olavistas, com quem fez alianças pontuais, mas também não age em ordem unida.

A ativa associou-se à formação de seu governo, cuja equipe na campanha era coalhada de fardados, a começar por Heleno. Diversos quadros migraram para o serviço civil, incluindo 8 de 22 ministros. Hoje, após as diversas crises com os olavistas, a ativa afastou-se preventivamente do governo, enfatizando seu caráter de ente de Estado.

Um dos que integram o governo é o influente ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas. Mas seu poder é declinante: a postagem pressionando o Supremo na véspera da votação da questão da prisão em segunda instância surtiu críticas, enquanto medida semelhante em 2018 foi vista como gesto de autoridade.

Parte disso diz respeito a Luiz Inácio Lula da Silva, que poderia sair beneficiado nos dois episódios. Villas Bôas sugeriu risco à paz social, mas o fato é que tanto no governo, quanto na ativa, militares já “precificaram” eventual libertação do petista preso por corrupção e lavagem de dinheiro.

Bolsonaro e seu entorno torcem pela libertação de Lula, pois isso manteria o clima de polarização do país, teoricamente o favorecendo.

Se o ex-presidente for beneficiado por uma revogação da prisão após duas instâncias e solto nas próximas semanas, já há militares perguntando se o bolsonarismo radical não irá unir todas esses fios narrativos para instigar confrontos de rua.

Neste caso, o artigo 142 da Constituição é claro sobre a manutenção da lei e da ordem recair sobre os militares, sob ordens civis. É uma armadilha algo inescapável, caso venha a ocorrer como profecia auto-realizável.

Por Igor Gielow na Folha

Tal qual!


MP-RJ faz besteira, e Bolsonaro cobra inimputabilidade para toda a família


Simone Sibilio, promotora do caso Marielle: destrambelhamento
do MP está sendo explorado por Bolsonaro.

Devagar com o andor! 

As trapalhadas do Ministério Público do Estado do Rio e a publicação, pelo Jornal Nacional, do vazamento de uma investigação que, segundo consta agora, já era matéria vencida na Procuradoria-Geral da República e no STF, estão servindo para que o presidente Jair Bolsonaro e seu entorno busquem uma espécie de inimputabilidade permanente sobre casos do passado, do presente e do futuro.

Vamos ver. Sabe-se lá por quê, o MP do Rio diz ter tido acesso ao resultado da perícia sobre as conversas entre a guarita e os moradores do condomínio Vivendas da Barra só nesta quarta, um dia depois da publicação da reportagem do Jornal Nacional. Pergunta: por que não se fez a dita-cuja antes?

Como vimos na terça, a reportagem informava que dois depoimentos de um porteiro sustentavam que uma voz parecida com a de Jair Bolsonaro havia autorizado o ingresso de Élcio Queiroz no condomínio. Ele é um dos acusados de ter matado a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.

Segundo a tal perícia, quem autorizou a entrada do carro em que estava Queiroz foi o próprio Ronnie Lessa, o outro acusado. Assim, o porteiro teria entrado em contato com a casa que leva os números 65 e 66, onde mora Lessa, não com a de número 58, que é a de Bolsonaro.

Ocorre que não é esse o registro físico que o porteiro fez no livro. Lá está escrito que o Logan conduzido por Queiroz iria à casa de Bolsonaro, embora tenha se dirigido para o lugar em que mora Lessa. Os depoimentos do porteiro foram colhidos já no curso da investigação. Mas o registro em livro foi feito no dia em que o carro entrou no condomínio: 14 de março de 2018, às 17h10. Marielle e Anderson foram assassinados por Lessa e Queiroz por volta das 21h30 daquele dia.

Fato: membros do MP Estadual do Rio já haviam atropelado o juiz do caso e ido diretamente ao Supremo para falar com o ministro Dias Toffoli e saber se o aparecimento do nome do presidente no caso levaria a investigação para o Supremo. Do que dá para entender, o ministro acionou Augusto Aras, procurador-geral da República, que não teria visto razão para procedimento investigativo. Mais: se visse, estaríamos diante de uma questão. Presidentes não podem ser responsabilizados, no curso do mandato, por atos anteriores à posse, segundo dispõe o Parágrafo 4º do Artigo 86 da Constituição.

Pergunta: por que o MP do Rio atropelou a Justiça estadual e apelou diretamente ao Supremo? Estamos diante de uma coincidência realmente do balocobaco! No dia em que o presidente grava um vídeo acusando uma grande conspiração para derrubá-lo, envolvendo setores da imprensa, Wilson Witzel (governador do Rio) e a própria polícia do Estado, o MP Estadual divulga, então, o resultado da perícia que, por ora, transforma o porteiro ou em vilão ou em instrumento da suposta conspiração.

Tenho de constatar: com a mesma sem-cerimônia com que a promotora Simone Sibilio atropelou a Justiça Estadual e foi ao Supremo, ela afirmou em entrevista coletiva que o porteiro mentiu. Depois amenizou: disse que a informação prestada por ele "não guarda compatibilidade com a prova técnica".

E aí as coisas começam a se complicar bastante. No vídeo furioso que gravou para responder à Globo e aos inimigos, Bolsonaro reclama das investigações que também dizem respeito a seus filhos. Ora, que houvesse lambança no gabinete de Flávio Bolsonaro quando deputado estadual, sob a gerência de outro Queiroz, o Fabrício, eis um fato admitido até pelo ex-faz-tudo do agora senador.

Também são salientes as evidências de que fantasmas transitaram pelo gabinete do vereador Carlos Bolsonaro. O pai presidente, no entanto, ao negar com veemência qualquer ligação com o caso Marielle, aproveitou para assegurar a inocência também dos filhos e para desqualificar as investigações que dizem respeito à dupla. 

Há uma diferença entre apontar inconsistência ou improcedência no depoimento de um porteiro e tentar ganhar uma espécie de salvo-conduto permanente para toda a família, a despeito dos fatos.

Por Reinaldo Azevedo

Advogado do presidente mistura porteiro e Adélio e acusa “forças ocultas”


Frederick Wassef: advogado de Bolsonaro
vê "forças ocultas" contra o presidente

Em entrevista à Folha, Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, vai na mesma linha e aproveita para evocar, mais uma vez, o nome de Adélio Bispo de Oliveira, que desferiu a facada no então candidato do PSL.

Sobre o porteiro, afirmou: 
"Não podemos analisar a gravidade dos fatos ocorridos no dia de ontem [terça-feira] como um engano, um porteiro que simplesmente se enganou e resolveu fazer uma mentirinha boba. O que está em curso é algo muito mais sério, muito mais grave. Isso foi um plano arquitetado. Trata-se de uma engenharia criminosa, onde através de um falso depoimento, de uma pessoa que foi plantada para testemunhar de forma mentirosa, tentar incriminar o presidente Jair Bolsonaro. O objetivo disso é destruir a imagem e a reputação do presidente da República."

Não é conversa de advogado, mas de uma espécie de militante político. Ele não dispõe, não ainda, de elementos para isso. De resto, a Procuradoria Geral da República já havia se encarregado de matar a coisa na raiz. E Wassef sabe disso. Como sabe que o presidente jamais poderia ser investigado sem a anuência do Supremo.

E acrescenta: 
"Temos que buscar é por que o porteiro mentiu. Foi uma coisa da cabeça dele? É um ato isolado? Não foi um ato isolado. Como não foi um fato isolado Adélio Bispo ter enfiado uma faca no corpo de Jair Bolsonaro. Trata-se de organizações criminosas, forças ocultas, pessoas que agem de bastidor para tentar destruir a vida de Bolsonaro."

Aí não dá! Uma coisa é o advogado apontar eventuais crimes cometidos contra seu cliente. Outra, distinta, é querer meter no mesmo balaio o tal Adélio e o porteiro, como se houvesse um ente a orientar essas ações. 

Bolsonaro precisa decidir se quer que se faça justiça nos casos que lhe dizem respeito e a familiares ou se está em busca da inimputabilidade absoluta e de carta-branca para fazer o que lhe der na telha, já que seria vítima das tais forças ocultas.

Isso é conversa de malucos e de quem está disposto a atropelar limites institucionais para combater supostos conspiradores. Não por acaso, o presidente ameaçou a Globo com a cassação da concessão, como se isso, de resto, dependesse apenas da sua vontade. 

Não tenho dúvida de que o Ministério Público Estadual do Rio fez besteira. Mas certamente não essa apontada pelo advogado. 

Dada a forma como fala, Wassef não tem um cliente, mas um mártir em busca de reparação.

Por Reinaldo Azevedo

Nesse angu tem caroço - Segundo Aras, MP enviou gravações ao STF sem perícia



Como se diz na minha terra, a coisa está começando a ficar enrolada. E nada orna. 

Então vamos ver. Sem o conhecimento da Justiça do Rio, o Ministério Público Estadual fez uma comunicação de fato ao Supremo sobre o surgimento do nome de Jair Bolsonaro no caso Marielle. Tratava-se justamente dos depoimentos do porteiro e, suponho, do registro no tal livro.

Simone Sibilio, membro do MPE que conduz a investigação, diz que a perícia no sistema de gravações das conversas da guarita com moradores do condomínio Vivendas da Barra só ficou pronta nesta quarta. 

Com base na perícia, concedeu a entrevista em que especulou sobre a eventual mentira contada pelo porteiro — ou incompatibilidade com o que ela chamou de "prova técnica".

Ouvido pela Folha, Augusto Aras, procurador-geral da República, afirmou, por seu turno, que o próprio MP do Rio havia enviado ao Supremo os registros da presença de Bolsonaro na Câmara e também as ligações da portaria com os condôminos. 

Como?

Então o MP do Rio mandou para o Supremo gravações que não tinham ainda sido submetidas à perícia, é isso? Afinal, doutora Sibilio garantiu que o resultado só ficou pronto nesta quarta. 

Há muito caroço nesse angu. 

"Está sugerindo alguma conspiração"? 

Não. Deixo isso para Bolsonaro e seu advogado. 

Meu ponto é outro. Está faltando clareza.

Por Reinaldo Azevedo

Antes de vazamento sobre porteiro, Bolsonaro encontrou Witzel e Toffoli


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Faltavam poucos minutos para 21h do dia 9 de outubro, uma quarta-feira, quando o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, entrou na sala em que o ministro Augusto Nardes, do TCU (Tribunal de Contas da União), comemorava antecipadamente seu aniversário de 67 anos. 

No salão envidraçado do Clube do Exército, em Brasília, uma pequena roda entre os convidados se desfez e o governador conversou a sós durante menos de dez minutos com o presidente Jair Bolsonaro (PSL), num canto que dava para o jardim.

Segundo Bolsonaro, naquela noite ele teria ouvido de Witzel que seu nome fora mencionado nas investigações que apuram o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). 

Embora o jantar em comemoração ao aniversário de Nardes não estivesse na agenda do presidente, a reportagem da Folha estava no local e presenciou o encontro.

De uma distância de cerca de 100 metros, do lado de fora do salão, o gesticular deles deixou transparecer que os ânimos estavam exaltados. 

Bolsonaro deixou a festa minutos depois da conversa com o governador fluminense e, segundo relatos de pessoas presentes, o clima pesou com a chegada de Witzel.

Desde então, o presidente se preparou para reagir a um possível vazamento da informação. Ele conversou sobre o tema, segundo auxiliares presidenciais, com amigos e aliados e fez consultas sobre como deveria proceder. 

Na versão de Bolsonaro, a conversa com Witzel teria ocorrido na capital fluminense, mas na data apontada por ele ambos estavam em Brasília. O governador nega ter vazado qualquer tipo de informação e disse que nem sequer teve acesso às investigações do caso Marielle.

"No dia 9 de outubro, às 21 horas, eu estava no Clube Naval do Rio de Janeiro quando o governador Witzel chegou para mim e disse: o processo está no Supremo", contou. "Que processo? O que eu tenho a ver? E o Witzel disse que o porteiro citou meu nome. Ele sabia do processo que estava em segredo de Justiça", disse.

As declarações foram feitas ao sair de hotel em Riad, na Arábia Saudita, depois da veiculação de uma reportagem na noite de terça (29), pelo Jornal Nacional, da TV Globo. 
(…) 

Na Folha.

Bolsonaro quer fazer a ‘caveira política’ de Witzel



Mudou de patamar o relacionamento de Jair Bolsonaro com Wilson Witzel. Evoluiu de ruim para muito pior. Um auxiliar do presidente explica: "Antes, o presidente estava em rota de colisão com o governador fluminense. Agora entrou no estágio da explosão. A diferença é que na colisão o abalroado não desaparece de cena."

Bolsonaro atribui a Witzel a "canalhice", a "patifaria" de vazar informações judiciais sigilosas sobre o depoimento em que um porteiro o envolveu "levianamente" no caso Marielle Franco. O presidente acusa o ex-aliado de ter ordenado à polícia civil do Rio a manipulação do inquérito —um "ato criminoso" de quem tem a ambição de chegar ao trono presidencial.

Ex-juiz, Witzel nega a violação de processo sigiloso. Insinua que o presidente da República não estava na plenitude do seu juízo quando o acusou. Lamentou que Bolsonaro, fora do seu "estado normal", tenha descambado para o "descontrole emocional". Sugere "retratação". Bolsonaro dá de ombros. Sua intenção é a de "fazer a caveira política" de Witzel, reivindicando o direito a um "excludente de ilicitude", pois estaria agindo em "legítima defesa".

Por Josias de Souza

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Mourão diz que há 'boa chance' de governo anunciar em breve responsável por derramamento de óleo


Agentes limpam óleo na Praia da Pituba, em Salvador Foto: Luca Castro/Fotoarena/Agência O Globo
Agentes limpam óleo na Praia da Pituba, em Salvador
 Foto: Luca Castro/Fotoarena/Agência O Globo

O presidente em exercício Hamilton Mourão afirmou nesta quarta-feira que existe uma "boa chance" de o governo federal anunciar ainda nesta semana o navio responsável pelo derramamento de óleo que atingiu o Nordeste. De acordo com Mourão, o objetivo é que o presidente Jair Bolsonaro , que retorna na quinta-feira de uma viagem internacional, faça o anúncio.

Mourão se reuniu na tarde desta quarta com o comandante da Marinha , almirante de esquadra Ilques Barbosa, que passou uma atualização das investigações.

— Conversamos sobre a situação do óleo, e a nossa investigação está chegando lá. Está chegando perto. Estamos aguardando o presidente chegar — disse Mourão, ao deixar o Palácio do Planalto, acrescentando depois: — Será uma notícia boa. A gente sempre aprende nos quarteis o seguinte: notícia boa é o comandante que dá, notícias ruins é o subcomandante. É assim que funciona.

Questionado sobre a chance de se fazer o anúncio ainda nesta semana, respondeu que há "uma boa chance". O presidente em exercício ainda explicou que acredita que o derramamento ocorreu durante o que chamou de "injeção de porão":

— Acho que o cara fez uma injeção de porão, pela quantidade de óleo que foi lançada. Acho. Ele tira um pouco do óleo. Por exemplo, está com um problema de flutuação, de balanço e tira um pouco do óleo para aumentar a estabilidade.

Mais cedo, após deixar a reunião, o comandante da Marinha foi mais cauteloso. Ilques Barbosa disse que a investigação está focada em dez navios, mas ressaltou que nenhuma hipótese pode ser eliminada.

— A partir do momento em que vamos abrir um inquérito, no âmbito da Polícia Federal, um inquérito no âmbito da Marinha, que se interagem constantemente com instituições estrangeiras, não se pode dizer "essa linha do dark ship foi abandonada, não foi". Estamos com um amplo espectro. Uma tem mais probabilidade, (que) é a de ser um navio mercante que passou pela nossa costa.

Nesta quarta-feira, o Grupo de Avaliação e Acompanhamento (GAA), formado por Marinha, Ibama e Agência Nacional de Petróleo (ANP), informou que já recolheu mais de 2 mil toneladas de resíduos de óleos no litoral nordestino. Ainda segundo o GAA, todas as praias do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba estão limpas.

Os estragos ao meio ambiente, porém, são visíveis. O GLOBO teve acesso ao laudo de necrópsia de uma tartaruga-oliva encontrada em Jericoacoara, no Ceará, na manhã de 24 de setembro. O petróleo penetrou a carcaça, atingindo a traqueia, o esôfago e o intestino do animal, misturando-se às suas fezes. De sua contaminação à morte, passaram-se apenas dez dias.

O Globo

Radicalização proposta por entorno de Bolsonaro alarma militares


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A radicalização proposta pelo entorno ideológico do presidente Jair Bolsonaro (PSL) é a principal fonte de preocupação institucional na cúpula das Forças Armadas. 

Oficiais-generais da ativa, das três Forças, dizem não haver apoio generalizado a eventuais aventuras repressivas sugeridas pelo grupo.

Os dois mais recentes episódios, envolvendo a publicação do "vídeo das hienas" contra o Supremo Tribunal Federal e a reação à revelação de movimentações de acusados de matar Marielle Franco no condomínio de Bolsonaro, geraram o que um oficial-general definiu como "alta ansiedade".

O alerta vem circulando desde que o bolsonarismo encampou o discurso de que os protestos no Chile e Equador, a volta do peronismo na Argentina e até o derramamento de óleo no Nordeste fazem parte de uma trama da esquerda que precisa ser combatida.
(…) 

Por Igor Gielow, na Folha.

Greta Thunberg rejeita prêmio ambiental de 200 mil reais


Greta Thunberg

A ativista Greta Thunberg rejeitou um prêmio ambiental do Conselho Nórdico no valor de 207.000 reais (500.000 coroas suecas). Segundo a adolescente sueca de 16 anos, “o movimento climático não precisa de mais prêmios”, mas sim que “os políticos e pessoas no poder comecem a ouvir a ciência”.

Em uma postagem no Instagram, Thunberg também criticou a política dos países nórdicos em relação ao meio ambiente.

“Os países nórdicos têm uma grande reputação em todo o mundo quando se trata de questões climáticas e ambientais”, escreveu. “Mas quando se trata de nossas emissões reais e de nossas pegadas ecológicas per capita – se incluirmos nosso consumo, nossas importações, além de aviação e transporte marítimo -, então é uma história totalmente diferente”.

“Pertencemos a países que têm a possibilidade de fazer mais. E, no entanto, nossos países basicamente não fazem nada ainda”, disse.

Segundo Greta, até que os países comecem “a agir de acordo com a ciência” e lutem pela diminuição da temperatura global, ela e seu projeto Fridays For Future não aceitarão o prêmio do Conselho Nórdico ou o dinheiro da premiação.

Greta começou o movimento Fridays For Future ao matar aula para protestar sozinha em frente ao Parlamento de seu país todas as sextas-feiras. Seu ativismo a tornou um dos rostos da luta contra a mudança climática em todo o mundo.

Em setembro, a adolescente discursou na abertura da Cúpula da Ação Climática das Nações Unidas e acusou os líderes mundiais de terem traído sua geração por meio da falta de ação diante do aquecimento global.

Na Veja.com

Morador de Caçapava 'agradece' prefeito em faixa por rua sem asfalto


Morador de Caçapava 'agradece' prefeito em faixa por rua sem asfalto  — Foto: Reprodução/ TV Vanguarda
Morador de Caçapava 'agradece' prefeito em faixa por rua
sem asfalto — Foto: Reprodução/ TV Vanguarda

Um morador de Caçapava (SP) colocou em uma rua do bairro Vila Galvão uma faixa com uma mensagem em que "agradece" o prefeito por não ter asfalto na via. A prefeitura admite problema na obra de pavimentação e disse que a situação deve ser resolvida em até 15 dias (leia mais abaixo).

O banner foi colocado em frente da casa de Paulo Henrique Bonifácio com a mensagem ironizando a situação: "obrigado prefeito pelo asfalto que o senhor retirou e não recolocou, nós estávamos precisando mesmo de pó".

Segundo o autor, os moradores convivem com a poeira devido à falta de asfalto há cerca de sete meses. "Há sete meses que foi tirado o asfalto. Quanto tem muito caminhão passando a gente tem que deixar tudo fechado", disse Paulo.

Ele contou que os moradores procuraram diversos departamentos da prefeitura, mas que nenhum deles se responsabilizou pelo problema. Para as pessoas que frequentam o ponto de ônibus do local, a poeira também é um incômodo.

"Todos os dias eu e muitas pessoas pegamos ônibus aqui, o banco fica empoeirado e não dá para sentar, é insuportável", disse uma moradora. "Você vem com a calça preta e fica com a calça branca", disse outra moradora.

O que diz a prefeitura

O secretário de obras, Claudiei Giovanelli, assumiu que o problema existe e explicou o motivo da retirada do material da rua. "Aqui na verdade não era um asfalto, era fresagem. Com esse movimento muito pesado de caminhões ele realmente se desfez, então a gente precisou tirá-lo", disse.

Segundo o secretário, a situação deve ser resolvida em até 15 dias. "Agora o material chegou e isso aqui vai ser reposto". Sobre a demora de sete meses para a resolução do problema, ele justificou que a prefeitura não havia tomado nenhuma providência por problemas financeiros.

G1 Vale (Com Vanguarda)

Descontrolado, Bolsonaro acusa Witzel e ameaça a Globo



A vinculação do nome de Jair Bolsonaro ao assassinato de Marielle Franco é, por ora, apenas um asterisco em meio a um inquérito crivado de pontos de interrogação. A despeito disso, ganhou ares de crise a notícia divulgada pelo Jornal Nacional de que o nome do presidente da República consta do processo sobre a execução da vereadora do PSOL.

Deve-se o fenômeno às relações perigosas da família Bolsonaro com milicianos. Para evitar que uma dificuldade aparentemente pequena se torne crítica e passe a influenciar o rumo do governo, Bolsonaro precisaria acender a luz de casa. Mas ele não parece disposto a fazê-lo.

Eis o que foi ao ar em horário nobre: no dia do assassinato de Marielle, um suspeito de participar do crime entrou num condomínio para visitar um comparsa, acusado de puxar o gatilho. Alegou na portaria que iria à casa de Bolsonaro, localizada no mesmo conjunto habitacional. Em depoimento à polícia, o porteiro disse ter obtido pelo interfone autorização do "seu Jair" para a entrada do visitante.

O livro de controle de acessos anota o nome do suspeito, a placa do carro e o número da casa de Bolsonaro: 58. Naquele dia, esclareceu a reportagem, Bolsonaro estava em Brasília. Registrou presença na Câmara. Divulgou vídeos nas redes sociais. A guarita do condomínio dispõe de equipamento que grava as comunicações feitas via interfone. A polícia tenta recuperar o áudio, para descobrir com quem, afinal, o porteiro conversou na casa de Bolsonaro.

A situação exige claridade e serenidade. Mas Bolsonaro, numa transmissão ao vivo pelas redes sociais, ficou fora de si (assista no vídeo lá do alto). Com isso, tornou-se mais fácil enxergar o que o capitão tem por dentro: muita raiva e um enorme apreço pelo breu. A irritação compromete o discernimento de Bolsonaro, impedindo-o de perceber que o nome da crise não é imprensa, mas família Bolsonaro.

A novidade chega num instante em que Fabrício Queiroz, um policial militar que trabalhou com os Bolsonaro, envia pelo WhatsApp sinais de que se considera abandonado. Ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio, Queiroz ainda não forneceu ao Ministério Público do Rio uma explicação que fique em pé sobre suas movimentações financeiras.

Amigo de Queiroz, o ex-capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, da PM do Rio, teve a mãe e a mulher pendurados na folha salarial do gabinete de Flávio Bolsonaro. Apelidado de "Caveira", o oficial Adriano foi expulso da corporação. Comandava uma milícia em Rio das Pedras. Está foragido.

É contra esse pano de fundo que a polícia civil do Rio encosta na biografia de Bolsonaro um letreiro de neon com o nome de Marielle. A novidade mistura-se aos passivos que não saem das manchetes.

Acusado de peculato e lavagem de dinheiro, Flávio Bolsonaro percorre os corredores do Senado como se nada tivesse sido descoberto sobre ele. Superblindado por duas liminares do Supremo —uma de Dias Toffoli, outra de Gilmar Mendes, o primogênito toma distância de Queiroz: "Não falo com ele há quase um ano". Bolsonaro ecoa o filho.

Afora os crimes de peculato e lavagem de dinheiro atribuídos a Flávio e a rachadinha administrada por Queiroz, o Ministério Público do Rio esquadrinha a folha do gabinete de Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, na Câmara Municipal do Rio. Recolheram-se indícios de que funcionava ali outro ninho de ilegalidades funcionais.

Num ambiente assim, presidente que se queixa da imprensa soa como capitão de navio que reclama da existência do mar. Só Bolsonaro sabe o tamanho real do buraco em que ele e sua família estão metidos. Toda crise tem um custo. O presidente precisa decidir quanto deseja pagar. A fatura vai aumentando com o tempo.

Em tese, Bolsonaro ainda dispõe de três anos e dois meses de governo. Não há blindagem que dure tanto tempo. Melhor acender a luz, nem que seja num dos cômodos: o quarto das crianças.

Por Josias de Souza

Caso Marielle: Não há razão para STF passar a ser foro. O Art. 86 da Carta



Um grupo do Ministério Púbico do Estado do Rio já foi a Brasília falar com o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo. A casa do então deputado federal Jair Bolsonaro, hoje presidente, apareceu na investigação como elemento de evidente relevo. A questão: o foro da investigação deixa a Justiça estadual do Rio e vai para o Supremo? Nessa hipótese, o caso passa a ser acompanhado pela Procuradoria Geral da República, sob o comando de Augusto Aras?

Toffoli ainda não respondeu. Bolsonaro tem prerrogativa de foro. Mas aí há uma questão: ele é investigado? Segundo o Parágrafo 4º do Artigo 86, "o Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções". E a morte de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes se deu antes da posse de Bolsonaro. 

Ocorre que jurisprudência do próprio Supremo já definiu que "não ser responsabilizado" não é sinônimo de suspensão da investigação.

Caso se defina que o STF passa a ser o foro, então se estará admitindo que o presidente é investigado. Uma investigação, no entanto, que não poderia resultar numa responsabilização, no curso do mandato, ainda que se encontrassem elementos para tanto. 

Já é pacífico no Supremo que investigados que não têm foro naquele tribunal permanecem sob a alçada das instâncias que lhes cabem, a menos que se considere que a unificação do foro, que se dará sempre pelo mais elevado, é essencial à condução do processo.

O mais provável que Toffoli responda que tudo o que disser respeito a Bolsonaro terá de necessariamente passar pelo crivo do tribunal. Mas não há razão nenhuma para o caso sair da alçada da primeira instância da Justiça do Rio, sob o comando da Polícia Civil e do Ministério Público do Estado, que também supervisiona a investigação.

Eduardo ameaça os brasileiros e comete o erro de achar que esquerda é burra


Eduardo Bolsonaro: sem embaixada, desocupado, Eduardo
Bolsonaro resolve fazer ameças. É patético!

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o candidato a intelectual da família e ex-quase embaixador, discursou na Câmara nesta terça. Ameaçou as esquerdas com repressão policial e, tudo indica, com um golpe!!! Acusou-as de querer "repetir no Brasil o que está acontecendo no Chile".

Não fosse a estupidez intrínseca do discurso, há uma questão factual que acena com a possibilidade de o parlamentar precisar de ajuda clínica: não há o menor sinal de que as esquerdas brasileiras estejam planejando um protesto à moda chilena. Até porque seria preciso combinar com o povo.

Para o deputado, "o Chile é a referência da América Latina com relação à economia. A maior renda per capita da América Latina, a referência em Previdência".

É verdade. Sobretudo em Previdência. Setenta por cento dos aposentados ganham menos do que um salário mínimo. É a referência de Eduardo. Tudo indica que ele pretende acenar com esse horizonte para os aposentados brasileiros. É o rapaz que fez questão de anunciar que votaria contra a reforma proposta pelo governo Temer porque, segundo ele, nem deficitário o sistema era.

Eis um homem de convicções. 

Sugiro que o deputado vá ao Chile e tente convencer a população daquele país de que está sendo injusta com um sistema que ele, Eduardo, acha exemplar.

E o deputado ameaçou: 
"Não vamos deixar isso aí vir para cá. Se vier para cá, vai ter que se ver com a polícia. E, se eles começarem a radicalizar do lado de lá, a gente vai ver a história se repetir. Aí é que eu quero ver como a banda vai tocar". 

Hein?

Protestos violentos, que desrespeitem as regras da civilidade democrática, já são reprimidos pelas polícias nos Estados sem que se faça necessária a intervenção de um Bolsonaro. Houve, por exemplo, confrontos violentos em 2013 em vários Estados.

Mais: não faltou repressão policial no Chile, não é? O pau comeu. Já são vinte os mortos. Nem por isso a população se intimidou. O presidente Sebastián Piñera teve de recuar de seu discurso beligerante e de admitir erros do governo e, mais amplamente, do, como posso dizer?, "sistema chileno".

"A gente vai ver a história se repetir"??? Que história, rapaz? A história brasileira — e, nesse caso, o deputado estaria ameaçando o país com um golpe — ou a história recente no próprio Chile, com seus 20 mortos? Em padrões brasileiros, seria como uma jornada de protestos deixar 233 vítimas fatais.

Sugiro a Eduardo que pegue seu cabo e seu jipe e vá pregar em outra freguesia. A chance de um golpe prosperar no Brasil é inferior a zero. E, acontecesse a tragédia de mais de 200 mortos em protestos contra isso ou aquilo, os Bolsonaros é que veriam a banda tocar. Seriam chutados do governo.

O discurso não passa de uma provocação tola, rasteira, primitiva. 

De resto, Eduardo e sua turma subestimam as esquerdas brasileiras, não é mesmo?

Por que elas iriam às ruas agora? Para dar ao mandatário o privilégio do discurso da "lei e da ordem", ainda que promova permanentemente a desordem? 

É muito mais eficaz, divertido e produtivo assistir à canibalização do bolsonarismo.

Por Reinaldo Azevedo

Leãozinho!


terça-feira, 29 de outubro de 2019

Citação a Bolsonaro pode levar caso Marielle ao STF


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A Polícia Civil do Rio de Janeiro teve acesso ao caderno de visitas do condomínio Vivendas da Barra, na Zona Oeste do Rio, onde têm casa o presidente Jair Bolsonaro e o ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado da morte da vereadora Marielle Franco. No dia 14 março de 2018, horas antes do crime, o ex-PM Élcio Queiroz, outro suspeito do crime, anunciou na portaria do condomínio que iria visitar Jair Bolsonaro e acabou indo até a casa de Lessa, informou o Jornal Nacional nesta terça-feira.

O caderno de registros do condomínio informa que, às 17h10 no dia do crime, uma pessoa de nome Élcio com um Logan cor prata anunciou que iria até a casa número 58, que pertence ao presidente Jair Bolsonaro. No condomínio, também mora o filho Carlos Bolsonaro na casa 36.

À polícia, o porteiro declarou que ligou para a casa 58. E que uma pessoa que se identificou como “seu Jair” liberou a entrada de Queiroz. O suspeito, no entanto, foi até a casa 66, onde mora Ronnie Lessa. O porteiro, então, telefonou novamente, e o mesmo “Seu Jair” anunciou que sabia para onde ele estava indo.

Lessa é acusado pela polícia de ser o autor dos disparos que mataram Marielle e Queiroz, de ser o motorista do carro que levava o matador.

Segundo o jornal, a citação a Bolsonaro pode levar a investigação da morte de Marielle ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo fato de o presidente ter foro privilegiado – na época, ele era deputado federal.

Conforme a reportagem, no dia da visita, Bolsonaro estava em Brasília e não em sua casa no Rio de Janeiro. Ele registrou a presença em duas votações.

Na Veja.com

Marco Aurélio diz que vídeo pode ser cortina de fumaça para caso Queiroz



O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello afirmou nesta terça-feira que o vídeo que compara o presidente Jair Bolsonaro a um leão, e o STF, PSL, OAB e outras instituições, a hienas, pode ser encarado como uma “cortina de fumaça” para desviar o foco das revelações dos áudios do ex-assessor Fabricio Queiroz, que é investigado por recolher dinheiro de funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), a chamada ‘rachadinha’. O vídeo foi publicado na conta oficial do presidente no Twitter nesta segunda-feira e depois foi apagado diante da forte repercussão negativa.

“Eu tenho que nada surge sem uma causa. Qual seria a causa? Qual é o descontentamento com o Supremo? (…) Agora, é uma coincidência muito grande que esse foco surja justamente numa hora em que aparece essas coisas envolvendo o assessor Queiroz”, afirmou à Rádio CBN o ministro, que é o segundo mais velho da corte depois de Celso de Mello, que também criticou a publicação.

Nesta semana, o jornal Folha de S. Paulo e o jornal O Globo divulgaram áudios em que Queiroz aparece falando sobre a demissão de uma funcionária do gabinete de seu filho vereador Carlos Bolsonaro, pois haviam suspeitas de que ela não trabalhava efetivamente no local.

“Na época, o Jair falou para mim que ele ia exonerar a Cileide porque a reportagem estava indo direto lá na rua e para não vincular ela ao gabinete. Aí ele falou: ‘Vou ter que exonerar ela assim mesmo’. Ele exonerou e depois não arrumou nada para ela não? Ela continua na casa em Bento Ribeiro?”, afirmou o ex-assessor. Em outra gravação, Queiroz diz que o “MP está com uma p*** do tamanho de um cometa para enterrar na gente”.

Em viagem pela Ásia, Bolsonaro pediu desculpas pelo vídeo postado em sua rede social, prometeu que “haverá retratação” e afirmou que a funcionária do gabinete do filho, Cileide Barbosa Mendes, não era fantasma e que a sua demissão “não tem nada para espantar”.

Na Veja

Celso de Mello reage: “O atrevimento do presidente parece não ter limites”



A baixaria publicada no Twitter do presidente deixou perplexos os ministros do Supremo. E Celso de Mello, o decano da Casa, foi porta-voz da insatisfação, manifestando-se com dureza rara. Afirmou em conversa com a Folha que o "atrevimento do presidente parece não ter limites".

E acrescentou: 
"Esse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de 'gravitas' e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de Poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República".

"Gravitas", em latim, quer dizer, originalmente, peso. Por associação de ideias, significa "dignidade", "seriedade", "apego à honra". Leiam no pé do post a íntegra da nota enviada pelo decano à Folha.

PASSOU DOS LIMITES 

Dias Toffoli, até por ser chefe de um Poder, é um dos interlocutores de Bolsonaro. O ministro tem atuado para tentar, vamos dizer, aparar as arestas na relação entre o presidente da República e a Corte. Diatribes e agressões que aparecem em nome do presidente nas redes sociais são atribuídas ao destempero do filho.

Mas os ministros já começam a se perguntar o óbvio: até onde Bolsonaro é, de fato, surpreendido pelas malcriações de Carlos e até onde se está diante de um jogo combinado? Afinal, se o presidente não quer ser atropelado por publicações que não são do seu agrado, por que Carlos continua a ser o dono das senhas das contas do pai nas redes sociais?

Os ministros do Supremo já se cansaram de ser saco de pancada do bolsonarismo. Convenham: até agora, o presidente não disse de própria voz e com todas as letras que ele, como chefe do Executivo, não tem de se meter em coisas como CPI da Lava Toga ou julgamentos em curso na Corte. 

Ou por outra: o presidente parece ter a ilusão de que pode ser, a um só tempo, o beneficiário dos cachorros loucos das redes sociais e da contenção institucional levada a efeito pelo Supremo, mas que excita as fúrias hidrófobas.

Segue a íntegra da nota de Celso de Mello: 
A ser verdadeira a postagem feita pelo Senhor Presidente da República em sua conta pessoal no "Twitter", torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um Chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma "hiena" culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores.

Esse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de "gravitas" e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República.

É imperioso que o Senhor Presidente da República —que não é um "monarca presidencial", como se o nosso país absurdamente fosse uma selva na qual o Leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados— saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, jamais haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o é a Magistratura do Brasil.

Por Reinaldo Azevedo

Toffoli propõe ao Congresso que mude lei para evitar prescrição de crimes


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O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, enviou nesta segunda-feira (28) ofícios aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), sugerindo que avaliem a pertinência de mudar a lei para evitar que processos penais prescrevam quando um réu recorrer às instâncias superiores.

Pela sugestão de Toffoli, o Código Penal deveria ser alterado pelo Congresso para interromper os prazos de prescrição quando houver recursos ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), que é considerado uma terceira instância, e ao Supremo.

"Com respeito à independência das Casas Legislativas, encaminho a Vossa Excelência sugestão de alteração legislativa no Código Penal, no sentido de impedir o transcurso do prazo prescricional no caso de interposição de recursos especial [ao STJ] e extraordinário [ao STF]", diz Toffoli nos ofícios. 

"Com a alteração legislativa sugerida, evitar-se-á eventual extinção da punibilidade por prescrição no âmbito dos tribunais superiores", continua o ministro.(…)

Por Reynaldo Turollo Jr, na Folha.

Com coceira na língua, Queiroz busca proteção


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Áudios como os que Fabrício Queiroz gravou no WhatsApp não chegam ao ventilador por acaso. Auxiliares do próprio presidente enxergam na divulgação das manifestações radioativas do amigo de Jair Bolsonaro e ex-assessor de Flávio Bolsonaro uma tentativa de assustar e obter proteção. Considerando-se as reações dos Bolsonaro, o recado foi recebido.

Num trecho dos áudios, Queiroz diz que o Ministério Público tem um falo —a palavra foi outra, mas não vale a pena repetir— "do tamanho de um cometa para enterrar na gente". Na prática, reconhece que há matéria-prima para complicar sua vida e a de seus amigos da primeira-família. Noutro trecho, Queiroz afirma: "Não vejo ninguém mover nada para tentar me ajudar…" Aqui, ele reclama de abandono, com todas as insinuações que esse tipo de observação carrega.

Os áudios de Queiroz são assustadores. Mas a reação do presidente e dos filhos, tíbia e envergonhada, espanta muito mais. As respostas que os Bolsonaro não têm condições de dar produzem um estrago maior do que as insinuações que Queiroz já não faz questão de ocultar.

Nesta segunda-feira, Bolsonaro achou que seria uma boa ideia continuar traçando um perfil benevolente do amigo Queiroz: "Eu nunca neguei que encontrei um bom soldado de infantaria", ele disse. "Nunca neguei minha amizade por ele. Depois do que aconteceu, eu me afastei, senão seria acusado de obstruir a Justiça." Flávio Bolsonaro também alega que se afastou do personagem há quase um ano.

O problema não é o suposto distanciamento atual, mas a proximidade de mais de três décadas com um personagem tão desqualificado. Nesse ambiente em que Queiroz parece coçar a língua, a superblindagem que Dias Toffoli e Gilmar Mendes fornecem para Flávio Bolsonaro no Supremo torna-se ainda mais absurda.

Por Josias de Souza

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Temendo o “astrofalo”, Queiroz parece personagem ideal para delação, não?



Os áudios divulgados pela Folha neste domingo, em que Fabrício Queiroz fala de seu passado junto ao clã Bolsonaro e sonha com o futuro, podem explicar parte da insônia do presidente. E talvez ajudem a elucidar a agressividade desses novos aristocratas. 

O ex-faz-tudo de Flávio Bolsonaro fala com alguém de seu círculo de relações, com quem tem intimidade. E, como resta evidente, o interlocutor tem acesso privilegiado ao presidente da República. E ambos são, nas suas palavras, fiéis àquele que chama de "chefe".

Sim, há algo de grande que Queiroz teme muito. E é claro que a coisa não vale pela metáfora, mas por aquilo a que esta alude. 

Mais: é perceptível que ele está meio cansado de, segundo o seu ponto de vista, ser o alvo da estrovenga. Leiam o que disse: "É o que eu falo, o cara lá está hiperprotegido. Eu não vejo ninguém mover nada para tentar me ajudar aí. Ver e tal… É só porrada. O MP [Ministério Público] tá com uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na gente. Não vi ninguém agir".

O "cara hiperprotegido", intui-se, ou é o próprio presidente ou é Flávio. Afinal, a tal "pica do tamanho de um cometa" que ameaça Fabrício tem a ver com o laranjal que brotou no gabinete do então deputado estadual, hoje senador, certo? É isso que faz dele um investigado. 

Percebe-se que Queiroz está um tanto ressentido, vendo-se como boi de piranha. E não nota esforços — não, ao menos, os de que gostaria — do clã Bolsonaro para preservá-lo.

"A GENTE" 
Perceberam? Queiroz fala em nome de uma espécie de família. Ele se sente parte do projeto e um da turma. Na conversa com o interlocutor, a que a Folha teve acesso, diz: 
"Era para a gente ser a maior força, a gente. Está todo mundo temendo, todo mundo batendo cabeça".

UMA LARANJA 
Queiroz comenta a situação de Cileide Barbosa Mendes, 43, doméstica da família Bolsonaro e "laranja" na empresa do ex-marido de Ana Cristina Valle —Ana é ex-mulher do presidente.

"Na época, o Jair falou para mim que ele ia exonerar a Cileide porque a reportagem estava indo direto lá na rua e para não vincular ela ao gabinete. Aí ele falou: 'Vou ter que exonerar ela assim mesmo'. Ele exonerou e depois não arrumou nada para ela não? Ela continua na casa em Bento Ribeiro?". 

LAPIDAR A BAGUNÇA 
Sempre apelando à metáfora, digamos, "astrofálica", Queiroz quer voltar ao jogo para ajudar o "Jair". E se juntar ao interlocutor para levar adiante o intento: "Resolvendo essa pica que está vindo na minha direção, se Deus quiser vou resolver, vamos ver se a gente assume esse partido aí. Eu e você de frente aí. Lapidar essa porra".

O falo meteórico continua a assombrar o ex-assessor de Flávio, mas ele não perde as esperanças: 
"Torcendo para essa pica passar. Vamos ver no que vai dar isso aí para voltar a trabalhar, que já estou agoniado. Estou agoniado de estar com esse problema todo aí, atrasando a minha vida e da minha família, a porra toda."

Não vê a hora de voltar a servir ao "chefe": 
"Politicamente, eu só posso ir para partido. Trabalha isso aí com o chefe aí. Passando essa ventania aí, ficamos eu e você de frente. A gente nunca vai trair o cara. Ele sabe disso. E a gente blinda, a gente blinda legal essa porra aí. Espertalhão não vai se criar com a gente".

O contexto deixa claro que Queiroz se refere ao PSL do Rio — e o Rio parece ser o território preferencial da "gente" do PM reformado. 

CRIMES? 
Nos áudios que vieram a público, não há a confissão ou a referência a crimes ou irregularidades, com a possível exceção do caso da doméstica Cileide Barbosa Mendes, laranja do ex-marido de Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente.

Os motivos de inquietação, dado o que se ouviu, estão na evidência de que Queiroz e a família Bolsonaro pertenciam a uma espécie de irmandade mesmo, não?, e de que o homem está insatisfeito com o tratamento que vem recebendo dos aliados. 

Afinal, ele não é, a seu juízo, um "hiperprotegido". 

Isso sempre pode ser um risco se o sujeito guarda alguns segredos do passado.

Mais: um pouco alheio, tudo indica, à realidade, ele não se dá conta dos riscos que representa para o clã Bolsonaro. Tanto é assim que julga poder ocupar a ribalta. 

Nas boas lava-jatos do ramo, seria a personagem ideal para uma delação premiada. 

"A gente nunca vai trair o cara" é frase que já foi dita por muito traidor. 

Ou traidor não seria, certo?

Por Reinaldo Azevedo

sábado, 26 de outubro de 2019

O amigo oculto e a sala da maldade


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Os que até recentemente orbitavam em torno do bolsonarismo têm feito revelações que o país precisa ouvir. São alertas importantes das sombras que cercam o novo poder no Brasil. Fabrício Queiroz negocia cargos públicos, como revelou O GLOBO. A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) confirma o que tem sido dito pela imprensa. Que dentro do Palácio do Planalto funciona um escritório de atividades ilegais de ataque aos supostos adversários do governo. O deputado Delegado Waldir (PSL-GO) alerta sobre a gravidade de o presidente oferecer vantagens para quem apoiasse o filho na liderança.

Só há um caminho seguro: esclarecer todas as sombras que cercam a presidência de Jair Bolsonaro. A administração tem mais de três anos pela frente e já deu para entender que ela trabalha com dois padrões de julgamento: condena nos outros as irregularidades que aceita para si e para os seus.

O que é preciso para que as autoridades que combatem a corrupção no Brasil entendam o caso Queiroz? Ele foge de depoimentos, o MP se contenta com um documento escrito do suspeito, ele se esconde, é encontrado pela imprensa, e agora este jornal traz um áudio incontornável. Nele, o ex-assessor comprova com todas as letras sua continuidade delitiva. Oferece nomeações políticas e pede dinheiro para isso. “20 continho aí pra gente”. Segundo ele disse, “há mais de 500 cargos” no Congresso e pode-se nomear sem que apareça a vinculação “ao nome”. Revela que sabe o cotidiano do gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). Ele estava sendo investigado, fora exonerado há meses, e exibiu sua influência sobre nomeações políticas.

Joice, uma aguerrida bolsonarista até recentemente, próxima do presidente e dos seus filhos, assinou uma lista e foi deposta da liderança, em retaliação. Reagiu contando parte do que sabe. Confirma o que a imprensa vinha divulgando, sobre como os filhos e o entorno do presidente criam e administram perfis falsos da rede para atacar o que eles consideram que são adversários políticos e divulgar mentiras que afetam a reputação desses alvos.

Isso é uma anomalia intolerável. O que está sendo revelado é que uma parte da comunicação do presidente da República é clandestina e age de forma ilegal usando como arma a prática de crime da calúnia e difamação. Isso se faz dentro de um gabinete no mesmo andar onde o presidente despacha e os salários dos difamadores são pagos pelos contribuintes. Do Rio, sem qualquer vinculação funcional com a administração federal, o vereador Carlos Bolsonaro é o porta-voz virtual do presidente da República e o coordenador dessa comunicação das sombras. O general Otávio Rêgo Barros faz seu dedicado trabalho de comunicação da Presidência, com seus briefings diários e respostas técnicas para a imprensa. Mas isso é apenas parte da comunicação de Bolsonaro. No mesmo palácio funciona essa “sala da maldade”, ou “gabinete de ódio”, que faz o trabalho sujo, pratica crimes, assassina reputações, constrói mentiras e as dissemina na rede. Os alvos podem ser políticos, jornalistas, pessoas vistas como adversárias, e até integrantes do governo. Eles já conseguem demitir ministros, como o general Santos Cruz.

O ex-líder Delegado Waldir disse que iria implodir o presidente ao divulgar um áudio. Perguntado depois sobre qual áudio, ele alertou que o que fora divulgado mostrava o presidente oferecendo vantagens e recursos para quem ficasse ao lado do filho dele. “Eu considero isso muito grave.” E é. Bolsonaro apenas insinua, mas suas palavras são claras. “É o poder de indicar pessoas, de arranjar cargos no partido, é promessa para fundo eleitoral,” diz o presidente a um correligionário pedindo a esse interlocutor que apoiasse seu filho Eduardo.

Tudo isso que está sendo revelado pelos ex-amigos e pela imprensa é gravíssimo. O dinheiro dos funcionários do atual senador Flávio, que passava pela conta de Queiroz, não está sendo investigado por ordem do ministro Dias Toffoli, do STF, até que seja julgado o poder de compartilhamento que tinha o extinto Coaf. Mas o deputado Delegado Waldir alerta que “a rachadinha nunca parou”, e Queiroz afirma no áudio: “salariozinho desse aí, cara, para a gente que é pai de família, cai como uma uva”. Tudo isso cai sobre a democracia brasileira. Não como uva. Como ameaça.

Por Mirian Leitão

Cabeça oca!


Bolsonaro e Salles decidiram aperfeiçoar os erros


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Um acerto dificilmente pode ser melhorado. Mas um erro pode ser sempre aperfeiçoado. E o governo de Jair Bolsonaro parece decidido a subverter o brocardo. Na área ambiental, a atual administração revela que é errando que se aprende… a errar. Desde que Bolsonaro tomou posse, houve três encrencas ambientais: o estouro da barragem da Vale, em Brumadinho; as queimadas na Amazônia e agora o vazamento de óleo na costa nordestina. A resposta de Brasília foi errática nos três casos.

Brumadinho revelou que o Brasil não tinha aprendido nada com o flagelo de Mariana, ocorrido pouco mais de três anos antes. Na esfera federal, verificou-se que a fiscalização de barragens é precária. Recém-chegado, o governo Bolsonaro prometeu providências. Nem sinal delas até agora. No caso dos incêndios na Amazônia, o governo questionou dados científicos, caluniou ONGs, rasgou dinheiro de doações internacionais e só acionou as Forças Armadas quando o fogo já havia consumido a imagem do Brasil no exterior.

No caso do vazamento de óleo, o governo não montou um gabinete de crise, como fizera no episódio de Brumadinho. Descobriu-se que a pasta do Meio Ambiente tinha revogado em abril dois comitês de reação a incidentes com óleo. E estava vago havia seis meses o comando do Departamento de Emergências Ambientais do ministério. O plano de contingência foi acionado com 41 dias de atraso.

Resultado: voluntários limpam as praias do Nordeste sem equipamentos adequados. E quando começam a aparecer os problemas de saúde provocados pelo contato com o óleo, o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, diz que o governo fez tudo certo. E insinua que um navio do Greenpeace pode ter derramado óleo em águas brasileiras. Falando desde a China, Jair Bolsonaro ecoa seu ministro: "Pra mim, isso é um ato terrorista. Esse Greenpeace só nos atrapalha". A Marinha brasileira, que centraliza as investigações, ainda não identificou culpados. Mas o ministro e seu chefe decidiram que é preciso aperfeiçoar os erros.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

As falcatruas do clã Bolsonaro


Crédito: Divulgação

A teia de interesses e arranjos que move o governo Bolsonaro ficou exposta em meio à brigalhada que o presidente, pessoalmente, seus filhos e partidários armaram em público nos últimos dias – houve trocas de acusações, xingamentos e chantagens, que, em alguns momentos, beiraram a infantilidade de alunos de jardim de infância. De lado a lado, existiu de tudo. Gravações em situações no mínimo constrangedoras. Numa delas, o presidente Jair Bolsonaro foi pilhado em flagrante pedindo a um parlamentar do PSL que apoiasse o nome do filho à liderança do partido. Do contrário, tal parlamentar sentiria a vingança presidencial, puro estelionato: “Assina, senão é meu inimigo”.

Aos que assinaram, foram distribuídos cargos públicos e promessas de ganho de recursos do fundo partidário. Depois dessa operação, Bolsonaro foi chamado de “vagabundo” pelo correligionário Delegado Waldir, que ameaçou “implodir” o governo. No submundo dessas tramóias, surgiram ameaças, denúncias e demonstrações explícitas de que muitos podres restavam escondidos ou não estavam devidamente protegidos, vindo à tona em debates acalorados. Em determinado momento, a ex-líder do governo Joice Hasselmann, remetendo-se à clássica obra de Lois Duncan, “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”, consagrou a rinha: ela afirmou, letra por letra, saber o que “eles fizeram no verão passado”. A cabeça de Joice rolou, adeus cargo de líder.

Lua de mel com dinheiro público

BAIXARIA Os deputados Joice Hasselmann (foto) 
e Delegado Waldir, tradicionais aliados, foram 
transformados em inimigos 

ISTOÉ mergulhou nos últimos dias nos subterrâneos dessas disputas e negociatas bolsonaristas, ouviu diversos interlocutores, checou inúmeros dados e descobriu uma assombrosa malha de práticas criminosas que já levaram no Brasil, legal e legitimamente, à abertura de processos de impeachment do mais alto mandatário da Nação – e, a se fazer valer a Constituição, poderia também encaminhar o atual presidente para idêntico destino. São situações e práticas que ferem o decoro de forma clara. Nesse campo, estão em jogo no clã bolsonarista circunstâncias aterradoras, como o pagamento das passagens da lua de mel do deputado Eduardo com dinheiro público do fundo partidário – na quarta-feira 23, ele declarou que no partido as pessoas têm de ter lealdade ao seu pai, não lealdade ao fundo. Convenhamos que isso tem uma lógica torta, mas é lógica: Eduardo, ao lançar mão do dinheiro do povo para a lua de mel, exerceu a deslealdade. Mas tem mais: ISTOÉ descobriu a manutenção de uma poderosa rede de milicianos digitais operados diretamente pelo Planalto, promíscuo fato que joga na marginalidade a República brasileira, transformando-a em republiqueta de fundo de quintal. Ou, melhor: fazendo da República uma associação criminosa de milicianos. Há também a revelação de que até o carro blindado do deputado Eduardo é pago com os recursos públicos do fundo partidário e que ele teria feito “rachadinha” com os salários da advogada do PSL.

A história da advogada expõe cruamente as vísceras do modus operandi de uma república administrada por personagens pouco escrupulosos. Relatos obtidos por ISTOÉ dão conta de que a advogada em questão, Karina Kufa, contratada pelo partido a pedido de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), teria sido a responsável por acertar os detalhes da viagem de lua de mel do deputado. Eduardo se casou com Heloísa Wolf no dia 25 de maio, no Rio de Janeiro, com as despesas pagas por amigos, mas faltava comprar as passagens da viagem de núpcias rumo as paradisíacas Ilhas Maldivas. Falando em nome de Eduardo, a advogada teria ligado para Antonio Rueda, vice-presidente nacional do PSL, pedindo dinheiro do fundo partidário.

Rueda, ex-aliado do Messias e agora próximo ao deputado Luciano Bivar, presidente nacional da legenda, chegou a confidenciar: “Não agüento mais essa mulher me telefonando para pedir dinheiro para o Eduardo”. Mas acabou liberando a grana. As mesmas fontes, checadas com dois deputados do PSL ligados a Rueda, confirmaram a informação já citada acima de que até carro blindado de Eduardo é pago com o erário. Hoje, ele é o presidente estadual do PSL paulista, depois de pressionar o senador Major Olímpio a desistir do cargo, e atualmente domina o caixa da legenda em todo o Estado, incluindo os diretórios municipais. Na quarta-feira, Olímpio manifestou sua intenção de pedir a dissolução do diretório.


Karina Kufa, conforme parlamentares ouvidos por ISTOÉ, era conhecida defensora dos interesses de Eduardo dentro do partido. Ela recebia salário de R$ 40 mil mensais, também pagos com dinheiro do contribuinte, mas dividiria o valor com o deputado, na proporção de R$ 20 mil para cada um. Eduardo também ficaria com parte do dinheiro que a advogada recebia do PSL a título de consultorias extras. Em pouco mais de oito meses de contrato com o partido, ela recebeu R$ 340 mil. Desse total, cobrou R$ 100 mil por seu trabalho na defesa da senadora Selma Arruda, ameaçada de cassação de mandato (a senadora trocou o PSL pelo Podemos depois de uma briga com o senador Flávio Bolsonaro, que berrou com ela ao telefone).

A defesa não teria ficado boa, obrigando o partido a contratar o advogado Gustavo Bonin de Guedes para substituí-la. Em razão disso, o PSL está exigindo o dinheiro de volta. Como Kufa queria determinar como o partido usaria os recursos do fundo partidário, a pedido do presidente Bolsonaro – para quem também advoga -, Luciano Bivar decidiu demiti-la há 15 dias, em meio à guerra pelo poder no partido. O domínio de Eduardo no PSL paulista é replicado por Flávio Bolsonaro no PSL do Rio de Janeiro, onde ele também é presidente. Aliás, o desdém da família em relação à ética é extensivo aos três filhos. Carlos, porém, é o mais desbocado. Diante do anúncio de que a CPMI das Fakes News quer ouvi-lo, o vereador fez um comentário digno da conduta daqueles que operam nos porões: “Vamos falar umas verdades a esses porcarias”. Detalhe: “porcarias”, em sua visão, são deputados e senadores.

As chaves do cofre

Os Bolsonaro não se dão por satisfeitos com o domínio territorial que já conseguiram. Querem agora controlar todo o PSL nacional, dono de um fundo partidário de R$ 150 milhões anuais e de um fundo eleitoral estimado em R$ 500 milhões para os pleitos de 2020 e de 2022, quando o “Mito” pretende ser candidato à reeleição. Na estratégia de “tomar o partido na mão grande”, nas palavras do deputado Delegado Waldir ditas à ISTOÉ, Bolsonaro decidiu que deveria afastar o deputado Luciano Bivar da presidência nacional. “Primeiro, disse que ele estava queimado para caramba e uma semana depois autorizou uma operação da PF em sua casa para desgastá-lo publicamente.

A operação teve como justificativa a investigação sobre o laranjal de Pernambuco, mas estranhamente não faz o mesmo com o ministro do Turismo, Álvaro Antônio, em Minas Gerais”, diz Waldir. Ainda segundo ele, os policiais “reviraram até as calcinhas da esposa do Bivar em busca de provas e nada encontraram. Foi apenas um circo”. O deputado entende que deveria haver uma investigação no Congresso para colocar a limpo o envolvimento do presidente na operação policial. “Foi uma ação abusiva por parte de Bolsonaro”, afirma ele. Waldir tem claro que o presidente quer “tão somente a chave do cofre” do partido. Membros da Executiva do PSL não acreditam que Bolsonaro terá sucesso em afastar Bivar da sigla.

Compra de cargos


Dando sequência ao projeto de tomar o PSL de assalto, o capitão reformado deu início ao processo de substituir os líderes na Câmara e no Congresso, que demonstravam estar alinhados a Bivar. O primeiro a ser fustigado foi o próprio Waldir. Ele, por exemplo, ficou contra a mudança do Coaf, defendeu a criação das CPIs da Lava Toga e Fake News, apoiou as medidas anticrime de Sergio Moro e a prisão após a segunda instância, contrariando o presidente. Dançou. O Planalto articulou para colocar Eduardo no cargo. Bolsonaro foi gravado por um correligionário dizendo: “quem ficar com a gente vai ter cargos no governo” – dá para lembrar Getúlio Vargas quando pregrava “aos amigos tudo, aos inimigos a lei”. Waldir perdeu, de fato, o posto para Eduardo. Waldir disse à ISTOÉ que o presidente autorizara o deputado Major Vitor Hugo e o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, a oferecerem cargos e dinheiro do fundo partidário a parlamentares do PSL que apoiassem Eduardo.

A farra por cargos na atual gestão atingiu um ponto tão descarado que até o ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, saiu de seu esconderijo para gravar um áudio divulgado por grupos de Whatasapp, no qual indica que continua influente na divisão de empregos públicos, com direito à “rachadinhas”. “Tem mais de 500 cargos lá, cara, na Câmara, no Senado… Pode indicar para qualquer comissão, alguma coisa, sem vincular a eles (família Bolsonaro) em nada. Vinte continho pra gente caía bem pra c…”. E mais adiante insinua que Flávio continua distribuindo cargos. “Pô, cara, o gabinete do Flávio faz fila de deputados pra conversar com ele. Faz fila. É só chegar, meu irmão: nomeia fulano aí, para trabalhar contigo. Salariozinho bom desse aí, cara, pra gente que é pai de família, p…, cai como uma uva”, diz um debochado Queiroz, que desviou R$ 1,2 milhão dos funcionários do gabinete de Flávio quando ele era deputado estadual no Rio de Janeiro. A dupla está sendo investigada pelo MP, mas o STF de Dias Toffoli mandou suspender as apurações, no que é chamado no Congresso de “acordão” com o presidente.

Configurada a derrota do Delegado Waldir, ele adotou o discurso de oposição: “Isso caracteriza um desrespeito à Constituição. O Executivo não pode interferir no Legislativo”. Waldir entende que da compra de votos pode até decorrer o impeachment, “mas isso quem pode analisar são entidades como a OAB”. Waldir até foi pego numa gravação chamando Bolsonaro de “vagabundo”: “Sempre fui fiel a ele. Quando foi candidato a presidente da Câmara, teve quatro votos. Um deles foi meu. Por isso, confirmo: chamei mesmo de vagabundo”. A rasteira que lhe foi dada por Eduardo trouxe ótimas conseqüências à diplomacia brasileira: após ter se tornado líder na Câmara, Eduardo desistiu de ser indicado pelo pai para a Embaixada em Washington. “Preciso ficar aqui para construir um Brasil conservador”, discursou Eduardo (Edmund Burke revirou no túmulo). O presidente já indicou para a embaixada o nome de Nestor Forster, ligado ao filósofo Olavo de Carvalho. Engana-se, porém, quem acha que a situação está resolvida. “Eduardo não tem condições de pacificar o PSL. Se houver uma eleição secreta para a liderança, ele perde”, disse o senador Major Olímpio (PSL-SP), líder da sigla no Senado.

Milicianos

Joice Hasselmann, quando está calma, parece furiosa; quando se enfurece, vira um tsunami. Alijada da liderança, ela afirmou ter sido retirada do cargo pelo simples fato de ter assinado a lista em favor do Delegado Waldir, em detrimento de Eduardo, e sentiu-se “traída”. Foi execrada publicamente pelos filhos do presidente, e Eduardo foi o primeiro a detoná-la com a divulgação de um post em que colocava o rosto da deputada em uma nota de R$ 3 – querendo dizer que ela é falsa. Em um dos memes, ela aparece obesa, com mais de 200 quilos, de forma chocante. Eduardo fez também posts relacionando-a a uma porca e uma vaca – como se vê, ele é de um cavalheirismo incrível. Ela contra-atacou: refereriu-se aos filhos como “moleques” e usando imagens de “viadinhos”, mas depois se arrependeu e apagou a postagem. Joice investigou de onde partiam os memes, e descobriu que os três filhos do presidente usam assessores parlamentares, “pagos com dinheiro público”, que agem como “milicianos digitais” para alimentar pelo menos 21 perfis no Instagram, 1.500 páginas no Facebook e centenas de contas no Twitter. De acordo com ela, a maioria é de perfis falsos que utilizam fake news para atacar quem ideologicamente não concorda com o bolsonarismo (leia entrevista com a deputada aqui).


ISTOÉ descobriu que essa quadrilha digital é integrada por diversos membros, espalha-se pelo País e o seu chefão atende pelo nome de Dudu Guimarães – ele é assessor parlamentar… adivinha de quem… de Eduardo. Dudu é o responsável pelo falso perfil Snapnaro, e há outros perfis, igualmente falsos, comandados pelos Bolsonaros – como Bolsofeios, Bolsonéas e Pavão Misterioso. Joice conta que um esquema similar é mantido pelos filhos numa sala instalada no quarto andar do Palácio do Planalto, conhecida como “gabinete do ódio” ou “gabinete das maldades”. Esse grupo, coordenado pelo vereador Carlos Bolsonaro e pelo assessor internacional da Presidência do Brasil, Filipe Martins, é composto por três funcionários públicos que operam na criação de notícias favoráveis ao presidente, mas também produzem fake news e dossiês contra desafetos, estejam eles dentro ou fora do governo. Isso aconteceu com o vice-presidente Hamilton Mourão e o ex-ministro Santos Cruz. Esses assessores têm nome e sobrenome: Tércio Arnaud Tomaz, José Mateus Salles Gomes e Mateus Matos.

Depois que passou a denunciar os filhos do presidente, Joice sente medo de ser alvo de pesadas represálias e, por isso, passou a “morar” na casa de uma amiga que lhe ofereceu segurança privada. Outros deputados do PSL, que desafiaram Eduardo, como Junior Bozela (PSL-SP), também temem pela própria vida. Bozela afirma que funcionários do gabinete de Eduardo ameaçaram-no de morte. Ele chegou a registrar boletim de ocorrência na Polícia Legislativa e denunciou à ISTOÉ: “Eduardo usa como seguranças pessoais policiais ligados à milícia carioca”. Agora ficou bastante claro o que a deputada quis dizer quando sabia o “que eles fizeram no verão passado”.

Na ISTOÉ