Já se registra a primeira e consistência perda com a troca de ministros da Saúde: a comunicação diária, transparente e firme que Luiz Henrique Mandetta mantinha com a população. Nelson Teich ganhou o cargo, mas não levou junto as cordas vocais necessárias ao diálogo com a sociedade sobre o andamento dos trabalhos de enfrentamento da crise sanitária.
Patética, não há outra palavra, a figura dele no vídeo exibido ontem (20/04) em substituição à entrevista que o antecessor dava todas as tardes junto com a equipe do ministério. O semblante de olhos caídos, a fala de ritmo cansado e a retórica confusa não contribuíram, mas o principal ali era a lei da mordaça (fisicamente invisível, mas simbolicamente perceptível) a que estava submetido.
A ideia, evidentemente era evitar o inevitável questionamento sobre o mais grave, por suas implicações institucionais, episódio de incentivo a aglomerações patrocinado pelo presidente da República no dia anterior na porta do QG do Exército junto a uma turba de arautos da ditadura.
Como subproduto, o distanciamento permite que o novo ministro não exponha sua falta de familiaridade com a dinâmica do sistema público de Saúde. Em miúdos, trata-se de um ministro desprovido de autonomia. Como convém a Bolsonaro, mas que certamente não é conveniente à biografia do amordaçado.
Bem visto por colegas médicos, Nelson Teich pode ter começado ali a desconstruir uma reputação de vida inteira, por um ato de voluntária prestação de desserviço à sociedade. Credibilidade leva-se muito tempo para ganhar, mas perde-se num átimo de submissão ou vaidade.
Por Dora Kramer
Por Dora Kramer
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