sábado, 25 de abril de 2020

Justiça aperta o cerco em torno de Bolsonaro e dos seus filhos



Ao despedir-se, ontem, do governo da maneira belicosa como o fez depois de servi-lo sem grande sucesso nos últimos 15 meses e 24 dias, o ex-ministro Sérgio Moro, da Justiça, cravou uma estaca no coração do presidente Jair Bolsonaro.

O melhor dos cenários que o futuro reserva a Bolsonaro é o de terminar seu mandato em 2022 arrastando correntes. Chegaria ao final como uma espécie de zumbi, sem condições de disputar a reeleição para não colher uma derrota.

Impensável até a semana passada, o cenário que parece o mais provável é o de Bolsonaro ser apeado do poder por meio de um processo de impeachment que poderá ser aberto ainda este ano ou no começo do próximo, tão logo permita o coronavírus.

No exato momento em que o presidente fez mais uma fala à Nação para rebater o que disse Moro e repetir mais uma vez que é ele quem manda, pelo menos duas iniciativas do Poder Judiciário mostraram que ele manda cada vez menos.

Augusto Aras, Procurador-Geral da República, pediu ao Supremo Tribunal Federal a abertura de um inquérito para apurar possíveis crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro – entre eles, falsidade ideológica, prevaricação e obstrução de justiça.

O pedido encontra amparo nas denúncias feitas por Moro. O ex-ministro contou, por exemplo, que Bolsonaro tentou várias vezes interferir em investigações da Polícia Federal em defesa dele mesmo e de políticos que o apoiam ou prometem apoiá-lo.

O relator do pedido de Aras será o ministro Celso de Mello. Seu colega Alexandre de Moraes ordenou à Polícia Federal que os quatro delegados que cuidam de dois processos em curso não sejam removidos dos seus postos nem trocados por outros.

Um dos processos, presidido pelo próprio ministro, tem a ver com a distribuição nas redes sociais de notícias falsas que atingiram a imagem do tribunal e de vários dos seus membros. Bolsonaro teme que o processo complique a vida de alguns dos seus filhos.

O outro processo poderá complicar ainda mais a vida de Bolsonaro. Alexandre de Moraes quer saber quem foi que planejou e financiou manifestações de ruas a favor da volta da ditadura. Bolsonaro participou de uma delas em frente ao QG do Exército.

Não bastasse, na próxima semana a família Bolsonaro amargará outra derrota. O ministro Gilmar Mendes rejeitará o pedido do deputado Eduardo Bolsonaro para que seja encerrada no Congresso a CPI sobre notícias falsas.

Recentemente, o ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça, negou um pedido de habeas corpus do senador Flávio Bolsonaro alegando que “há fortes indícios de materialidade e autoria de crimes” atribuídos ao primogênito de Bolsonaro.

Quando Flávio era deputado estadual no Rio de Janeiro, os funcionários lotados em seu gabinete foram obrigados a devolver parte dos seus salários. Batizado de “rachadinha”, o esquema era administrado por Fabrício Queiroz, chefe do gabinete.

Onde está Queiroz? Sumiu outra vez depois de ter sido localizado em São Paulo pela VEJA. À distância, acompanha as aflições da família que o protegeu durante tantos anos e que foi por ele protegida.

Por Ricardo Noblat

Um comentário:

AHT disse...

EPISÓDIO “BOLSONARO VERSUS MORO”

Primeiramente, "nem tanto ao céu e nem tanto à terra". Quanto ao Moro Juiz Federal, com exceção dos criminosos sentenciados ou prestes a ser, os justos sempre o consideraram um excelente juiz. O perfil dele é para a Justiça, graças ao seu berço, educação, formação e desempenho demonstrado como juiz. Mas se isso é altamente positivo para a Justiça, não significa que ele possa ser um político igualmente bem sucedido, mesmo que eleito pelos seus méritos passados e pelo clamor popular na próxima eleição para Presidente, em 2022. O mesmo clamor que acreditou no mito Bolsonaro, e agora já demonstra decepção e desânimo.

Quanto ao Bolsonaro, quando oficial do Exército teve a ousadia de tentar um motim, e até planejar explodir bombas em quartéis. De imediato, pegou 15 dias de cadeia. Quando o caso chegou ao STM, não foi condenado com a pena que, em outros casos semelhantes não ocorrera a mesma complacência. Talvez, assim procederam em atenção a uma decisão política visando não causar uma possível tensão naquele ambiente nacional de recém redemocratização. A punição para ele: capitão da reserva não remunerada. Sem rumo, apostou nele mesmo e entrou para a política. Foi vereador no Rio de Janeiro, posteriormente foi deputado federal durante 28 anos, pelo RJ. Sempre um deputado do baixo clero, provocando polêmicas para satisfazer e garantir os votos do seu fiel eleitorado. Circunstâncias incríveis o levaram a se candidatar e ser eleito Presidente da República.

O resultado? Como presidente, um excelente provocador de conflitos absurdos. Consegue desarticular o que naturalmente fora articulado pelos seus ministros. Algumas ações bem sucedidas por obra e competência de alguns dos seus ministros, e as poucas reformas aprovadas foram conseguidas justamente pela crítica situação econômica e social do Brasil.

Falta ao Bolsonaro a compostura que o cargo de Presidente da República exige. Falta-lhe pelo menos um tiquinho de traços comuns daqueles que a História registra, na acepção da palavra, como Estadistas. Ele se julga estrategista e comandante - enquanto, na realidade, está mais para chefe possessivo e que detesta que outros ao seu redor possam ofusca-lo. Quando isso acontece, é tomado pela paranoia e não consegue parar enquanto não apagar o facho do suposto concorrente. Os seus três filhos políticos, idem, idem.

Enfim, o Capita quando capota com um ministro que o desagrada, é batata, demite – e, absurdo dos absurdos, até em meio dessa pandemia Covid-19, quando a prioridade máxima do governo é zelar pela proteção e atendimento do povo contra o temível vírus, além da sobrevivência econômica do Brasil. Infelizmente, Bolsonaro e filhos políticos têm obsessão por atender seus próprios objetivos e caprichos tudo pelo poder. A prioridade máxima passa a ser mínima, transparecendo que não se sensibilizam pela real situação da grave crise mundial e, sobretudo, afetando o Brasil.

Capita quando capota pisca para o capeta, se esquece até do versículo João 8:32, ao qual sempre se referia durante a campanha vitoriosa à Presidência da República. Ainda se refere a esse versículo sempre que conveniente, seja em falas oficiais ou de improviso para plateias, ou lives produzidas por seus assessores. Nessas ocasiões, a impressão é que a plateia é induzida a associar a mensagem desse versículo e acreditar que o Bolsonaro representa a Verdade. Por consequência, um outro bom tanto do público brasileiro ao assistir esses encontros, seja através de vídeos e áudios compartilhados pela Internet, ou rádios e TVs, também parece se sugestionar, ficando com a impressão que realmente ele estaria imbuído da vontade de governar e salvar o Brasil. Nessas situações, observa-se que a memória coletiva já esqueceu que o ex-presidente Lula também já recebeu a confiança e os votos de milhões, e soube aproveitar os momentos de glória no papel de salvador da pátria. E, deu no que deu...


AHT
25/04/2020