sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Moro deixa miliciano ligado a gabinete de Flávio Bolsonaro fora de lista de mais procurados



O Ministério da Justiça e Segurança Pública não incluiu na lista dos mais procurados do Brasil o ex-capitão Adriano da Nóbrega, acusado de comandar a mais antiga milícia do Rio de Janeiro e suspeito de integrar um grupo de assassinos profissionais do estado.

Foragido há mais de um ano, o ex-PM também é citado na investigação que apura a prática de "rachadinha" no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

De acordo com o Ministério Público, contas bancárias controladas por ele foram usadas para abastecer Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador, suposto operador do esquema no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro. Queiroz é amigo do presidente da República.

Adriano teve duas parentes nomeadas no antigo gabinete do senador Flávio. Mensagens interceptadas com autorização judicial mostram ele discutindo a exoneração da mulher, Danielle da Nóbrega, do cargo.

Ele também foi defendido pelo presidente Jair Bolsonaro em discurso na Câmara dos Deputados, em 2005, quando foi condenado por um homicídio. O ex-capitão seria absolvido depois em novo julgamento.

Enquanto estava preso preventivamente pelo crime, foi condecorado por Flávio com a Medalha Tiradentes.

O ministro Sérgio Moro divulgou a lista sem o acusado em sua rede social. "A SEOPI/MJSP [Secretaria de Operações Integradas da pasta] elaborou, com critérios técnicos e consulta aos Estados, a lista dos criminosos mais procurados. A lista ajudará na captura, e segue a orientação do PR @jairbolsonaro de sermos firmes contra o crime organizado", diz o texto no perfil do ministro no Twitter.

De acordo com o Ministério da Justiça, o ex-capitão não foi incluído porque "as acusações contra ele não possuem caráter interestadual, requisito essencial para figurar no banco de criminosos de caráter nacional".

De fato, 25 dos 27 que compõem a lista são apresentados pelo ministério como tendo uma atuação regional ou nacional.

Há na lista de Moro, porém, dois integrantes de uma milícia de outro bairro da zona oeste. Em seus perfis publicados na página da pasta, sua área de atuação indicada é apenas o Rio de Janeiro. São eles: Wellington da Silva Braga, o Ecko, e Danilo Dias Lima, o Tandera, seu braço direito. Os dois atuavam em Campo Grande.

Não é a primeira vez que o ex-PM fica fora de uma lista de foragidos. Ele esteve por meses fora do programa "Procurados”, do Disque-Denúncia, que oferece recompensa pela informação de criminosos. Sua inclusão ocorreu apenas depois de a Folha apontar a ausência.

Adriano é investigado de participação em diversos homicídios no Rio de Janeiro, suspeito de ser sócio no jogo de máquinas caça-níqueis e chamado de "patrão" por integrantes da milícia de Rio das Pedras, a mais antiga e estruturada do Rio de Janeiro.

Ele está foragido desde janeiro de 2019 quando foi deflagrada a Operação Os Intocáveis, contra acusados de integrar a milícia de Rio das Pedras.

Meses antes da operação, ele trocou mensagens com a mulher Danielle da Nóbrega sobre sua exoneração do cargo. Quando a ex-assessora de Flávio se queixa de sua exoneração em novembro, Adriano afirma que “contava com o que vinha do seu tmbm [também]”. Para o Ministério Público, a frase revela que o ex-capitão também ficava com parte do salário dela.

Em outro diálogo, Adriano afirma que iria conversar com Queiroz sobre a exoneração, a fim de evitá-la. O ex-assessor de Flávio é chamado apenas de “amigo”.

Apesar das transações financeiras, as mensagens também mostram que a família Bolsonaro se preocupava com a eventual vinculação do gabinete de Flávio com o ex-capitão.

"Sobre seu sobrenome... Não querem correrem risco, tendo em vista que estão concorrendo e visibilidade que estão. Eu disse que vc está separada e está se divorciando", escreveu Queiroz para Danielle em dezembro de 2017.

A ex-assessora explica que permanecem casados, mas "separados de corpos" e pede para ser mantida no cargo. Ela ficou até novembro de 2018.

Na ocasião desta troca de mensagens, Adriano não era considerado foragido e não respondia mais a ações penais. Ele já havia sido expulso da Polícia Militar em 2014 porque, para a corporação, ele atuou como segurança de um bicheiro.

Não há nas mensagens nenhuma indicação de que Queiroz e a família Bolsonaro soubessem da atuação de Adriano com a milícia de Rio das Pedras.

Na Folha

Profissionalismo é isso aí (A cada novo governo muda a História do país)



Ninguém sabe o autor, mas algum machista debochado cunhou a célebre máxima da falta de profissionalismo dos brasileiros: “É o país onde puta goza e cafetão tem ciúmes”.

Mas hoje a pergunta é: qual o problema se elas conseguem unir o útero ao agradável? O cliente só tem a ganhar, em prazer e orgulho de sua virilidade.

E o que impediria um cafetão de se apaixonar por uma agenciada? Ou só elas podem se apaixonar por eles, como no velho clichê de bas-fond?

Com a explosão da cocaína e do tráfico no Rio nos anos 80, foi acrescentada à lista de falta de profissionalismo nacional mais um item: “onde o traficante é viciado”.

E Tim Maia completou: e pobre é de direita.

Atualizando. É onde o presidente diz que o nazismo era de esquerda. E um secretário de Cultura queria criar um nazicristianismo tropical. E 11 milhões de cidadãos acreditam que a Terra é plana. E outros milhões que a ditadura foi boa para o Brasil.

A cada novo governo muda a História do país. Até para trás. Aqui até o passado é incerto, ensina o professor Pedro Malan.

É onde os bandidos querem julgar os juízes e prender os xerifes. E juízes perdem o juízo. E muitos deles ganham, e outros também querem, ganhar muito mais que o presidente da República.

E o castigo de juízes corruptos condenados é aposentadoria com salário integral.

E funcionários têm aumentos e vantagens por tempo no serviço público, quinquênios, decênios, licença-prêmio, como se fosse um esforço extra, quando só estão cumprindo seu contrato de trabalho. E qualquer aspone tem carro com motorista.

Agora chegamos a novos patamares, com um ministro da Educação sem educação, que só deseduca com seus erros de português e suas mentiras bisonhas e sempre desmentidas. O seu exibicionismo canhestro lembra o sábio provérbio rural mineiro: “Macaco que muito mexe quer chumbo.” E o Abraham sai sempre chamuscado. Mas esse já está pela bola sete.

Millôr Fernandes, sempre ele, disse tudo: “O Brasil é o único país em que os ratos põem a culpa no queijo.”

Por Nelson Motta

Diminuto!


Um governo em vertigem



Uma vez que o presidente Jair Bolsonaro foi capaz de demitir o mesmo funcionário duas vezes em menos de 24 horas, é arriscado dizer que ela fará isso ou aquilo. De resto, gosta de contrariar previsões. É capaz de adiar o que faria de imediato só para que não digam que ele agiu pressionado. Cada um com suas manias.

Depois de demitir o 02 da Casa Civil da presidência da República por causa do ato “complemente imoral” de voar à Europa e à Ásia em jatinho da FAB, Bolsonaro voltou a empregá-lo a pedido dos filhos. Tão logo seu gesto foi reprovado nas redes sociais que ele tanto preza, acabou convencido a demiti-lo outra vez.

E foi então que aproveitou o momento para esturricar o 01 da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que estava de férias nos Estados Unidos e que, ali, aproveitou o ócio para visitar o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o guru dos Bolsonaro. Lorenzoni foi o primeiro político a comprar ações da candidatura de Bolsonaro a presidente.

Mas o que isso importa a essa altura? Amizade e política nem sempre andam juntas – salvo quando se trata de parentes. Bolsonaro começou a desidratar Lorenzoni ao subtrair-lhe sua mais importante função – a de coordenador político. Ontem, esvaziou o resto dos seus poderes.

Isso quer dizer que Lorenzoni está fora do governo? Em um governo normal estaria. Mas esse é tudo menos um governo normal como está farto de provar. Lorenzoni deu por finda suas férias e espera ser recebido, hoje, por Bolsonaro. Adiantou que não pedirá demissão. Bolsonaro poderá lhe oferecer outro emprego.

O presidente acha que todo homem tem um preço. Ao demitir, a pedido do filho Carlos, o ministro Gustavo Bebbiano da Secretaria da Presidência, ofereceu-lhe um lugar na diretoria de Itaipú. O salário era alto. E o trabalho, pouco. Bebbiano bateu a porta do gabinete de Bolsonaro e foi embora. Virou adversário dele.

A comportar-se como de costume, Bolsonaro não entregará por enquanto a cabeça de Abraham Weintraub, o ministro da Educação, alvo de ataques há dois dias do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara. Se dependesse de ministros que cercam Bolsonaro, Weintraub teria sido degolado há meses.

Não faltam peças estragadas no governo, nenhuma que careça de conserto. O ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, é uma. Tendo perdido a interlocução com seus pares internacionais, esquenta a cadeira à espera do seu substituto. Com o vice-presidente à frente das ações na Amazônia, tornou-se dispensável.

Presidentes só promovem reformas em larga escala quando o governo vai muito mal, ou quando é atingido por uma crise. Não querem dar a impressão de que enfrentam dificuldades. Bolsonaro poderá copiá-los. Ou não.

Crise no STF pode tirar apoio de colegas à eleição de Fux



Uma crise com alto poder de combustão toma conta do Supremo Tribunal Federal nestes dias que antecedem a volta dos ministros ao trabalho.

Depois de derrubar uma decisão de Dias Toffoli no recesso, Luiz Fux virou alvo de uma ala de ministros nos bastidores do tribunal.

Nesse meio, fala-se em resgatar supostos fatos desabonadores de Fux e de um ex-assessor para tentar inviabilizar a eleição dele a presidente do STF.

Se o movimento vingar, diz um ministro, a votação em setembro poderá quebrar a tradição da escolha amigável do vice-presidente e eleger outro nome no lugar de Fux. “Pode ser que até lá tenhamos maioria para isso. Certamente vai ter muita gente votando contra ele”, diz um ministro ao Radar, sob a condição de anonimato.

A suposta subserviência de Fux ao Ministério Público e à Lava-Jato, por causa do seu suposto “telhado de vidro”, é o argumento capital para que os colegas se recusem a entregar a ele o controle do tribunal.

No Radar da Veja

“Guedes quer uma CPMF”, diz Marcos Cintra, ex-secretário da Receita



Não se pode dizer que o ex-secretário da Receita Federal Marcos Cintra não seja um idealista. Demitido em setembro, depois de a discussão sobre a implementação de um novo imposto nos moldes da antiga CPMF — o famigerado e extinto “imposto do cheque” — ganhar corpo, ele continua inabalável em seus princípios. Ao falar a VEJA em seu escritório na Fundação Getulio Vargas, em São Paulo, o economista chegou a ficar com os olhos inundados quando abordou o tema. Para Cintra, o tal imposto é a única saída para o sistema tributário brasileiro. Aos 74 anos, o ex-secretário garante que não sente mágoa por ter sido desligado do governo e que continua atuando em congruência com o ministro da Economia, Paulo Guedes, com quem seus ideais são bem alinhados — inclusive, assegura, quanto a uma nova CPMF. Isso, apesar do veto de Jair Bolsonaro a qualquer tipo de imposto sobre pagamentos. Cintra, aliás, critica a postura do presidente. Queixa-se de que ele poucas vezes o chamou para conversar a respeito da reforma tributária. Em outras oportunidades, porém, Bolsonaro o teria convocado para tratar das investigações que a Receita fazia sobre seus familiares. 

Leia na Veja.com a entrevista com Marcos Cintra.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Onyx agora usa Davi Alcolumbre para ameaçar Bolsonaro


O presidente Jair Bolsonaro e o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni
Bolsonaro e Onyx: ameaças e intrigas Antonio Cruz/Agência Brasil

Tentando estancar sua perda de poder na Casa Civil, Onyx Lorenzoni começou a cobrar algumas dívidas.

O primeiro a quitar uma grande promissória nesta quinta foi Davi Alcolumbre.

O presidente do Congresso chegou ao posto em parte pelas articulações de Onyx, no início de 2019, e hoje plantou notas nos blogs bolsonaristas para ameaçar Jair Bolsonaro.

Se o padrinho gaúcho cair, Davi promete usar o controle que tem sobre a pauta do Senado para retaliar Bolsonaro. O chefe da Casa Civil conviveu tempo suficiente com o presidente para saber como ele reage quando ameaçado.

Esse é mais um político nocivo prestigiado pelo povo!


Bolsonaro recua e cancela recontratação de amigo dos filhos para Casa Civil


Vicente Santini (agachado, de azul, ao centro) em momento de lazer com Eduardo e Flávio, filhos do presidente Bolsonaro, em setembro de 2019
Vicente Santine (agachado, no centro, de azul) em momento de lazer com Eduardo e Flávio filhos
do presidente Bolsonaro, em setembro de 2019.

O presidente Jair Bolsonaro recuou ao anunciar em rede social na manhã desta quinta-feira (30) que vai "tornar sem efeito" a admissão de Vicente Santini, nomeado um dia antes pelo Palácio do Planalto para um novo cargo na Casa Civil. No início da semana, ele havia sido destituído pelo próprio Bolsonaro da secretaria-executiva da pasta, após fazer voo exclusivo em jatinho da FAB (Força Aérea Brasileira) para a Índia na semana passada.

A primeira destituição de Santini havia sido anunciada por Bolsonaro na manhã de terça (28), ao desembarcar em Brasília da Índia. O presidente disse ter sido inadmissível o fato de ele ter usado uma aeronave oficial com apenas três passageiros (ele e duas assessoras) para voar de Davos, onde participava do Fórum Econômico Mundial, para Déli. (...)

(...)

Amigo da família Bolsonaro, Santini foi nomeado na noite passada assessor especial da Secretaria Especial de Relacionamento Externo da Casa Civil. A decisão foi tomada após os filhos do presidente intercederem pela permanência do ex-secretário no governo federal.

"Informo que em Diário Oficial será publicado: Tornar sem efeito a admissão do servidor Santini", escreveu o presidente nesta quinta, em rede social. O presidente disse ainda que vai exonerar o interino da Casa Civil e "passar a PPI da Casa Civil para o Ministério da Economia". 

A nomeação de Santini para um novo cargo foi assinada por Fernando Wandscheer de Moura Alves, que o substituiu na secretaria-executiva da Casa Civil e responde interinamente pela pasta, já que o titular, Onyx Lorenzoni, está de férias.(...)

Na Folha.

Fim da pantomima: Regina aceita o cargo. Agora é só esperar pelo óbvio


Regina Duarte, nova secretária de Cultura; atrás, a sua segunda na pasta, a reverenda Jane Silva - Sérgio Lima/Poder 360
Regina Duarte, nova secretária de Cultura; atrás, a sua segunda na pasta, a reverenda Jane Silva

Regina Duarte pôs fim à sua novelinha infantiloide de noivinha da extrema-direita brucutu e aceitou o cargo de secretária da Cultura do governo Bolsonaro. Já não era sem tempo. Ninguém aguentava mais a metáfora do noivado. Torçamos para que os bufões nos poupem dos detalhes sórdidos da primeira noite de convergência ideológica. 

Aqui e ali, ouço muxoxos: "Dos males, o menor!" Será mesmo? A julgar por aquilo que a atriz andou publicando em suas redes sociais, o autoritarismo virá num invólucro de ignorância que aspira à ingenuidade. E eu não tenho tempo para as tolices de uma senhora de 72 anos, que teve todas as chances de aprender. E que não aprendeu nada. Como se vê.

Regina andou reproduzindo boçalidade sobre marxismo cultural. Se alguém pedir a ela que redija três linhas, sem cola, sobre quem foi Marx, duvido que consiga se desincumbir da tarefa, mas está lá prestando servicinho à sua nova turma. Sob seu guarda-chuva, há responsáveis por áreas da cultura que ficariam melhor no papel de psicopatas. Só não merecem tal designação porque até seu extremismo de direita é falso. Trata-se apenas de um jeito de ganhar a vida e de obter alguma projeção nestes dias miseráveis.

Bolsonaro, de boca própria, já anunciou a recomendação que deu à sua secretária especial: sem essa de cultura de minorias. Ah, tá... 

Por que confiar em Regina Duarte? Ela está apenas emprestando seu rosto popular e a admiração que setores consideráveis do país ainda têm pelo seu trabalho a uma maçaroca de conceitos mal digeridos.

Não por acaso, a segunda na pasta é a notória reverenda Jane Silva. A intimidade desta senhora com a cultura corresponde, leitor, à sua fluência em javanês... 

Deixe a esperança do lado de fora, leitor!

Por Reinaldo Azevedo

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Ex-secretário-executivo, demitido de forma teatral por Bolsonaro, ganha novo cargo na Casa Civil


José Vicente Santini, secretário-executivo exonerado da Casa Civil Foto: Rosinei Coutinho / STF
José Vicente Santini, secretário-executivo exonerado da Casa Civil Foto: Rosinei Coutinho / STF

Exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro do cargo de secretário-executivo da Casa Civil, José Vicente Santini foi nomeado como assessor especial de relacionamento externo da pasta nesta quarta-feira. A decisão foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União desta quarta-feira, mesmo dia em que foi publicada sua demissão.

A nomeação ao novo cargo atende a um apelo dos filhos de Bolsonaro: o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e com o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ). Amigo de infância de Santini, Eduardo Bolsonaro pediu para que o funcionário fosse mantido em outro cargo dentro do governo, como mostrou o GLOBO.

Santini foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro na terça-feira após usar um jato da FAB (Força Aérea Brasileira) para uma viagem para a Índia. Bolsonaro considerou “inadmissível” o uso da aeronave em um voo para três servidores.

— O que ele fez não é ilegal, mas é completamente imoral. Ministros antigos foram de avião comercial, classe econômica. Eu mesmo já viajei no passado, não era presidente, para a Ásia toda de classe econômica — lembrou Bolsonaro no Palácio do Alvorada.

Em Brasília, Santini estudou em colégio militar e conviveu com Eduardo Bolsonaro e Flávio Bolsonaro por ser filho de general do Exército. No governo desde janeiro, Santini participava de churrascos e festas com a família do presidente e fazia questão de divulgá-las em suas redes sociais.

No sábado, o presidente deu uma bronca no funcionário ao descobrir que ele havia chegado à Índia em um voo da Força Aérea Brasileira enquanto outros ministros haviam usado voo comercial para se deslocar. A informação foi antecipada na coluna de Bela Megale. Número dois na Casa Civil, ele chegou à Índia acompanhado da secretária especial de Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Martha Seillier e da diplomata Bertha Gadelha. Antes, Santini estava em Davos e Zurique, na Suíça, para participar do Fórum Econômico Mundial.

Em O Globo

Saiba por que a Embraer é tão importante para a Boeing


Jato E190-E2 da Embraer em feira de aviação de Farnborough, no Reino Unido, em 2016. Foto: Simon Dawson / Bloomberg
Jato E190-E2 da Embraer em feira de aviação de Farnborough, no Reino Unido, em 2016. Foto: Simon Dawson / Bloomberg

O acordo da Boeing com a Embraer é estratégico para a empresa americana não só porque amplia sua presença no exterior como também porque permite à empresa entrar no mercado de aeronaves de médio e pequeno porte. Além disso, reforça sua posição para competir com a europeia Airbus, num momento em que o duopólio das duas gigantes da aviação mundial começa a sofrer concorrência de rivais de Rússia, Japão e China.

Além disso, ao acrescentar os jatos da família E da Embraer ao seu portfólio, a Boeing aumenta o arsenal para sua mais recente batalha com a Airbus: o mercado de aeronaves de 100 lugares. A gigante aeroespacial europeia assumiu o controle da família de jatos C-Séries da canadense Bombardier em julho do ano passado, por meio de uma joint-venture, deixando a Boeing sem presença neste mercado. Enquanto a Embraer, rival tradicional da Bombardier, viu-se diante de um concorrente com renovado poder de fogo, graças à forte presença global da Airbus.

Por décadas, Boeing e Airbus mantiveram o foco em aeronaves maiores e mais lucrativas, evitando se aventurar no mercado de regionais, que exigem custos semelhantes de desenvolvimento, mas são vendidos por preços menores. Mas o acordo da Airbus com a Bombardier e, agora, a parceria entre Boeing e Embraer mostram que as gigantes do setor não querem deixar espaço neste lucrativo e estreito mercado para novos e ambiciosos players, como a Commercial Aircraft Corp. of China.

A Embraer trará para a Boeing uma expertise em engenharia que a gigante americana poderá usar no projeto de seu novo jato comercial de médio porte, apelidado por analistas de 797. A fabricante brasileira também tem uma capacidade de produção a custo menor que a Boeing e que poderá ser usada para fabricar componentes como trens de pouso e sistemas de partidas. Isso permitirá à Boeing internalizar uma maior parte de seus suprimentos, avalia Ken Herbert, analista da Canacoord Genuity.

Embraer é conhecida por cumprir prazos e orçamentos

A Embraer superou a Bombardier como maior fabricante de jatos regionais e goza de uma reputação internacional pelas suas proezas em engenharia. Numa indústria na qual os atrasos em novos projetos são a regra, a Embraer introduziu dez modelos inteiramente novos de aeronaves nos últimos 15 anos, quase sempre dentro do prazo e do orçamento previstos, conforme destacou em análise a clientes o especialista Ron Epstein, do Bank of America Corp. no início deste ano.

Em São José dos Campos, sede da Embraer, a empresa apresentou este ano seu primeiro jato da nova série da família E2. O jato E190-E2 é concorrente direto da menor aeronave C-Series da Bombardier, com capacidade para até 114 passageiros e com turbinas fornecidas pela Pratt & Whtiney, mesma fornecedora da canadense.

O acordo entre Airbus e Bombardier foi um incentivo importante para o negócio anunciado em Embraer e Boeing. A Airbus comprou fatia majoritária do programa de aeronaves C Series da Bombardier. Um dos pontos centrais para o fechamento da aliança entre a canadense e a europeia é a discussão sobre subsídios de Estados a fabricantes de aeronaves. A Embraer já abriu processo junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) no qual questiona o apoio do governo canadense à Bombardier para a comercialização dos C Series. Os Estados Unidos ameaçavam impor tarifas de até 300% aos jatos da fabricante canadense pois consideravam que a empresa se beneficiava de incentivos que afetavam a competição com a Boeing. Com a parceria entre Airbus e Bombardier, os aviões C Series poderão ser construídos na fábrica da Airbus no Alabama, o que acabaria com as tarifas de importação.

Para a Bombardier e o programa C Series, desenvolvido a um custo de US$ 6 bilhões, a aliança representa a chance de ganhar economia de escala e melhor estratégia de vendas. A fabricante canadense não vendia aeronaves do C Series há quase dois anos. A expectativa é que a parceria pode mais do que duplicar o valor da família de aviões de 110 a 130 lugares.

No O Globo (em 05/07/2018)

Humorista!!!


Teatro da queda do chefe do INSS foi mal ensaiado


Foto: Lucas Borges Teixeira; Edição: Maria Carolina Abe

A saída de Renato Vieira da presidência do INSS veio bem e chegou tarde. Armou-se em torno do personagem um teatro ofensivo e inútil. A coreografia ofende porque tenta passar a ideia de que a novidade não tem nada a ver com as filas que se formaram na porta das agências do órgão. Revela-se inútil porque os 2 milhões de brasileiros que aguardam a análise de pedidos de aposentadoria ou auxílio doença não foram adequadamente ensaiados para fazer o papel de bobos.

Incapaz de planejar soluções para o previsível congestionamento que sobreveio à reforma da Previdência, a burocracia presidida por Renato Vieira revelou-se genial na organização do caos. O descalabro pedia demissão. Porém, providenciou-se para que o gestor da inépcia saísse "a pedido", por "razões pessoais".

Rogério Marinho, o secretário de Previdência do Ministério da Economia, formalizou a pantomima assim: "Hoje tivemos uma conversa com o presidente Renato Vieira, e ele consolidou sua posição de sair do INSS, a pedido. Foi uma conversa amadurecida ao longo dos últimos 15 dias. O Renato acha que precisa se dedicar a seus projetos e nós aceitamos sua demissão".

Um repórter chato ainda perguntou se a coisa não tinha relação com as filas. E Marinho: "Razões particulares". Por uma trapaça da sorte, os patrícios que se acotovelam na fila do INSS não têm a prerrogativa de dizer que enfrentam o suplício por razões "pessoais" ou "particulares". Prefeririam não ficar velhos ou doentes. Aceitando o inevitável, gostariam de receber tratamento digno. Submetidos à indignidade, não mereciam ver uma solução óbvia —a demissão do responsável— convertida num afastamento farsesco.

Por Josias de Souza

INSS e Bolsa Família evidenciam como Bolsonaro e Guedes veem os pobres


INSS: as filas em busca do benefício só fazem crescer. Já são dois milhões de pessoas ainda sem atendimento - Rivaldo Gomes/Folhapress

Não convém chamar para o mesmo banquete os pobres e o governo Bolsonaro. Até agora, essas duas expressões da realidade não conseguiram estabelecer uma conexão. A confusão no INSS, que resultou na demissão do presidente do órgão — já chego lá — deriva dessa incompatibilidade essencial. Há explicações. 

Bolsonaro fez sua carreira atacando todas as políticas de reparação. Engana-se quem acha que ele enrosca apenas com gays ou feministas. A minoria mais vistosa, a mais saliente, a que mais cobra uma resposta de quem prefere se acomodar no conforto das maiorias silenciosas, é mesmo formada pelos pobres.

A título de exemplo, lembro que o presidente, nesta terça-feira, ao resumir a orientação que deu a Regina Duarte para atuar à frente da Secretaria de Cultura, afirmou o seguinte: "Conversei com ela. Como tratar a questão da cultura no Brasil sem o viés de esquerda que tinha aí, só dava minoria". Entenderam? Na cabeça de Bolsonaro, ocupar-se de minorias ou dos mais vulneráveis é coisa da esquerda. Por contraste, a direita que ele representa prefere lidar com pessoas que não precisam de nada. No Brasil, costumam ser, de todo modo, as mais privilegiadas pelo Estado e as que pagam menos impostos. Mas isso fica para outra hora. Voltemos.

Dia desses o presidente também falava sobre a tragédia das enchentes. Lembrava que eram muitos milhares os desabrigados. E afirmou, com ar involuntariamente entediado, que o governo faria o possível, deixando no ar a sugestão de que não seria muita coisa. Nada de palavras de solidariedade, empatia, identificação, afeto... 

Com Paulo Guedes, ministro da Economia, não é diferente. A rapidez com que ele aventou a hipótese de sobretaxar "os pecados" — cigarro, álcool e doces — impressionou. Com meia-dúzia de palavras, culpou parcela considerável dos doentes pela doença, enquanto ameaçava lhes enfiar a mão do bolso. Não fumem, não bebam e não comam pudim e não ficarão doentes nem vão onerar os serviços públicos de saúde.

Também ele tem uma visão dos necessitados que carrega, em essência, algo de hostil. Parecem existir para desafiar o equilíbrio das contas e para impedir orçamentos atraentes para investidores. Não estranha que, ao pensar o meio ambiente, acabe vendo uma espécie de bando de vorazes a devastar a natureza para comer. 

A composição Bolsonaro-Guedes acaba sendo perigosa. Um comete o equívoco de achar que políticas inclusivas ou compensatórias são coisas de esquerdistas. E o outro é um liberal à moda antiga, meio démodé, que parece ver na assistência não mais do que uma das disfuncionalidade do mercado. Não tivesse havido a chance da mamata, em vez de estar buscando um benefício, o pobre teria dado um jeito de empreender.

Na soma dessas duas formas de alienação, temos uma fila de mais de dois milhões de pessoas à espera dos benefícios do INSS. Foi ela que derrubou Renato Vieira, presidente do órgão. Ocorre que o problema não vem de agora. Não é só a prestação do serviço que está atrasada. Os procedimentos também perderam qualidade, e cresce o número de ações judiciais.

Sim, eis aí aquela gente pobre que, visivelmente, incomoda esse governo e não consegue, vamos dizer, mobilizar em Guedes ou em Bolsonaro os humores da empatia. Tenta-se fazer alguma coisa, chamando servidores aposentados e militares da reserva, porque não fica bem aquela fila de velhinhos ao Deus-dará. Na melhor das hipóteses, prevê-se que haverá uma normalização no atendimento no prazo mínimo de um ano. Os novos atendentes estarão prontos para o serviço, estima-se, em três ou quatro meses. A pobreza não surgiu ontem. Pode esperar, certo?

O Bolsa Família também sumiu da vista de parcela considerável dos muito pobres. A fila à espera de benefícios já reúne 500 mil pessoas, depois de ter sido zerada em 2018. O governo diz estar em curso uma reformulação do programa. Não diz exatamente qual. O falto é que os R$ 32 bilhões gastos em 2019 se transformaram numa previsão de R$ 29 bilhões neste ano. 

Fala-se aqui de um tipo de pobre distinto daquele que fica penando na fila do INSS. Os beneficiários do Bolsa Família são pessoas que vivem na extrema pobreza. Quaisquer que sejam as urgências para diminuir o déficit público, jamais se poderia tocar num programa como esse. Mas sabem como é... 

É assim que Bolsonaro entende que se faz um governo sem viés de esquerda.

Por Reinaldo Azevedo

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Comissão de Ética da Presidência adverte Weintraub por quebra de decoro


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A Comissão de Ética da Presidência da República concluiu que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, desrespeitou o decoro do cargo e aplicou a ele uma sanção de advertência. 

Em reunião nesta terça-feira (28), o órgão colegiado concluiu, por unanimidade, que o ministro infringiu o artigo terceiro do Código de Conduta da Alta Administração Federal, segundo o qual autoridades públicas devem se pautar por padrões da ética. 

Em junho, o ministro comparou nas redes sociais os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff com substâncias entorpecentes. Ele tentou fazer uma piada ao associar os petistas à apreensão de 39 kg de cocaína em uma aeronave da comitiva do presidente Jair Bolsonaro.
(...) 

Na Folha

Procuradoria pede à PF que investigue Wajngarten por corrupção e peculato


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O Ministério Público Federal em Brasília pediu à Polícia Federal a abertura de inquérito criminal para investigar suspeitas sobre o chefe da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República), Fabio Wajngarten.

O objetivo é apurar supostas práticas de corrupção passiva, peculato (desvio de recursos públicos feito por funcionário público, para proveito pessoal ou alheio) e advocacia administrativa (patrocínio de interesses privados na administração pública, valendo-se da condição de servidor). 

As penas previstas para os dois primeiros crimes variam de 2 a 12 anos de prisão, além de multa. No último caso, aplica-se detenção de um mês a um ano.

A solicitação do MPF foi motivada por reportagens da Folha, publicadas desde o último dia 15, que mostraram que Wajngarten é sócio majoritário de uma empresa que recebe dinheiro de emissoras de TV (entre elas Record e Band) e de agências de publicidade contratadas pela própria Secom, ministérios e estatais do governo Jair Bolsonaro. 

Na gestão de Wajngarten, essas empresas passaram a receber fatias maiores da verba publicitária da Secom. 

O despacho requerendo a investigação da PF foi assinado nesta segunda-feira (27) pelo procurador Frederick Lustosa, da Procuradoria da República no Distrito Federal, após o órgão receber representações de diversos cidadãos, baseadas nas notícias. O caso correrá em sigilo. 

A nova frente de apuração é a primeira de caráter criminal a ser aberta. Procurado nesta segunda-feira, Wajngarten não se manifestou. Ele tem negado irregularidades. 

Wajngarten, que não tem foro especial no Supremo Tribunal Federal, também é alvo de processo administrativo no TCU (Tribunal de Contas da União) por suposto direcionamento político de verbas de propaganda para TVs consideradas próximas do governo, principalmente Record, SBT e Band. Isso afrontaria princípios constitucionais, entre eles o da impessoalidade na administração pública. 

Quando constata irregularidades, a corte aplica ao gestor sanções como multas e afastamento de cargos públicos. Também pode impor o ressarcimento de eventuais prejuízos à União. 

A Comissão de Ética Pública da Presidência, por sua vez, avaliará a atuação dele por possível conflito de interesses público e privado. 

A legislação que trata do tema proíbe integrantes da cúpula do governo de manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões. Entre as penalidades previstas está a demissão do agente público.

A prática também pode configurar ato de improbidade administrativa, se demonstrado o benefício indevido. 

A comissão enviou um ofício ao chefe da Secom para que ele se pronuncie sobre o caso. O documento foi assinado na última quarta-feira (22) e concede um prazo de dez dias, contado a partir da intimação, para a resposta. 

Com esse período de defesa prévio, a decisão da comissão sobre abertura de inquérito contra Wajngarten por conflito de interesses não deve ser tomada na reunião desta terça-feira (28), ficando para 19 de fevereiro.

O ofício é de autoria do conselheiro Gustavo do Vale Rocha, relator de três das quatro denúncias apresentadas contra o chefe da Secom. Elas partiram de PT, PSOL e PC do B.

A quarta tem como relator o presidente da comissão federal, Paulo Henrique dos Santos Lucon, que também deve respeitar o prazo de resposta de Wajngarten.

A Folha apurou que, atualmente, a maioria dos integrantes da comissão avalia que o secretário incorreu em conflito de interesses. 

Em caráter reservado, eles identificam indícios de irregularidade, o que justificaria a aplicação de uma penalidade ética. 

Caso ele seja considerado responsável, são previstas punições como advertência pública, censura ética ou, em casos mais graves, recomendar ao presidente a exoneração do servidor. Cabe ao presidente seguir ou não a sugestão. 

Questionado em mais de uma oportunidade sobre o caso, Bolsonaro reagiu com irritação e chegou a mandar uma repórter da Folha calar a boca. 

O presidente tem resistido a pressões para exonerar o secretário. "Se foi ilegal, a gente vê lá na frente", afirmou em 16 de janeiro, um dia após a publicação da primeira reportagem. 

Como noticiou a Folha, Wajngarten assumiu o comando da pasta em abril de 2019 e, desde então, se mantém como principal sócio da FW Comunicação, que fornece estudos de mídia para TVs e agências, incluindo mapas de anunciantes do mercado. Também faz o chamado checking, ou seja, averiguar se peças publicitárias contratadas foram veiculadas. 

Record e Band são clientes da empresa; o SBT a contratou até o primeiro semestre do ano passado. Na gestão do secretário, as três emissoras passaram a ter percentuais maiores da verba publicitária para TVs, enquanto a Globo —líder de audiência e tratada como adversária pelo governo Bolsonaro— viu suas receitas despencarem a um patamar mais baixo que o das concorrentes. 

A FW também recebe de três agências responsáveis pela publicidade da Caixa Econômica, a título de fazer a checagem da veiculação de anúncios. As três têm contratos com vários órgãos do governo. 

A Artplan é uma das três contratadas da própria Secom e, após Wajngarten assumir o cargo, passou a ser a líder em recursos da pasta. 

O secretário se cercou, no governo, de auxiliares ligados à sua própria empresa ou com vínculos no mercado privado de publicidade. 

Escalou para a função de secretário-adjunto, número dois na hierarquia da Secom, o empresário Samy Liberman, irmão do administrador da FW, Fabio Liberman. 

Wajngarten sustenta que não há conflito de interesses em sua atuação. Argumenta que os contratos de FW com as fornecedoras do governo são antigos. 

Afirma ainda que está de acordo com a lei que prevê o regime jurídico dos servidores públicos, pois passou a administração de sua empresa a Liberman antes de assumir o cargo na Secom. 

O secretário se diz vítima da perseguição de grupos de mídia monopolistas, os quais não nomeia, e acusa a Folha de fazer mau jornalismo. 

Questionado pela reportagem em mais de uma oportunidade, o secretário não apresentou a lista completa dos clientes de sua empresa, bem como os valores que recebe de cada um.

Na Folha.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Secom: Ação publicitária favoreceu clientes de Wajngarten e TVs religiosas


Bolsonaro ao lado de Edir Macedo, dono da Record (à esq.), e Silvio Santos, do SBT, durante desfile do Sete de Setembro em Brasília
Bolsonaro ao lado de Edir Macedo, dono da Record (à esq.), e Silvio
Santos, do SBT, durante desfile do Sete de Setembro em Brasília


Sob o comando de Fabio Wajngarten, a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) fez mudanças na estratégia da campanha de publicidade sobre a reforma da Previdência, a maior e mais cara do Planalto no ano passado, privilegiando na distribuição de verbas TVs que são clientes de uma empresa do secretário e emissoras religiosas, apoiadoras do presidente Jair Bolsonaro.

A campanha foi feita em fases. Na primeira, de R$ 11,5 milhões, veiculada de 20 de fevereiro a 21 de abril, o plano de mídia —documento que embasa a estratégia da ação publicitária e detalha investimentos— definiu que a TV mais contemplada com recursos seria a Globo nacional, líder de audiência e que atinge maior público. 

A partir de abril, após Wajngarten assumir o cargo, a Secom mudou a orientação. Na segunda etapa da campanha, aprovada na gestão dele, o plano de mídia excluiu a Globo nacional da lista de contratadas, mantendo apenas praças regionais da emissora, cujos anúncios são mais baratos.
(...) 

Na Folha

Cade aprova compra da Embraer pela Boeing


Cade aprova compra da Embraer pela Boeing Foto: Arquivo

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou nesta segunda-feira a compra de parte da Embraer pela Boeing. O negócio foi aprovado sem restrições pela Superintendência Geral do órgão, responsável por garantir que fusões desse tipo não resultem em monopólios.

O acordo entra as duas fabricantes foi anunciado em julho de 2018, quando foi avaliado em cerca US$ 4 bilhões. A operação é formada por duas transações. Em uma delas, a Boeing comprou 80% do braço de aviação comercial da Embraer. Na segunda, as duas companhias formaram uma joint-venture para produzir uma aeronave militar. As duas foram aprovadas sem restrições.

O Cade entendeu que, em nenhum dos dois negócios, há risco à concorrência no setor. No segmento comercial, o conselho destacou que a Embraer tem baixa participação no segmento onde a Boeing atua, de aviões entre 100 e 200 assentos. Já na transação militar, a autarquia concluiu que as duas empresas não unirão seus portfólios, mas apenas trabalharão em um projeto comum.

A operação já foi aprovada por autoridades de defesa da concorrência dos EUA e da China. Na União Europeia, no entanto, ainda enfrenta resistência, já que as autoridades locais afirmam que não receberam informações suficientes das duas fabricantes.

O Globo

Bolsonaro vê competência na lambança do MEC


REUTERS/Ueslei Marcelino

Cutucado pelos repórteres, Jair Bolsonaro disse meia dúzia de palavras sobre a lambança que enodoa o primeiro Enem de sua administração. 

O capitão soou resignado: "Erros no Enem, sempre há." Espanto! Exibiu complacência: Abraham Weintraub "é extremamente competente". 

Estupefação! Terceirizou responsabilidades: "É a Justiça que decide" se cancela ou não o exame." Assombro! 

A experiência ensina que promessa de candidato é uma coisa, realidade de governante é outra bem diferente. Mas Bolsonaro exagera.

Prometeu um "ministério técnico", capaz de "evitar os erros do passado". Não tem mais obsessão pelo acerto. E já começa a se afeiçoar ao erro. 

Enaltece Weintraub, o 'imprecionante', num instante em que o ministro da Educação exerce sua incompetência com extrema competência. 

Horas depois de Bolsonaro ter empurrado o Enem bichado para o colo do Judiciário, a desembargadora Therezinha Cazerta, presidente do TRF-3, ministrou-lhe uma aula gratuita. 

A doutora lecionou: "O Poder Judiciário não é esteio para a solução dos problemas administrativos que o Poder Executivo enfrenta, mas garantidor de direitos, que exerce sua atribuição quando protege os indivíduos do arbítrio do Estado".

A desembargadora Therezinha negou pedido do governo para derrubar liminar que suspendera a divulgação do resultado do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). As inscrições foram encerradas às 23h59 deste domingo (26/01). 

Bolsonaro está na Índia. Para pilotar o avião que o levou, só se habilita gente sabidamente competente. Mas para dirigir o MEC —ou o Brasil— qualquer um se acha capacitado.

Por Josias de Souza

domingo, 26 de janeiro de 2020

Bolsonaro e Lula veem Moro como presidenciável


 Agência Brasil .

Faltando dois anos e nove meses para a próxima sucessão, Jair Bolsonaro cuida da reeleição como se outubro de 2022 já estivesse na virada da folhinha. Alheio à sua ficha suja, Lula faz pose de candidato como se nada tivesse sido descoberto sobre ele. Estilhaçadas, as forças políticas de centro demoram a produzir alternativas. E Sergio Moro já é tratado como presidenciável por Bolsonaro e Lula.

Avalia-se que o ministro da Justiça e da Segurança Pública, dono de uma popularidade superior à do chefe, tem potencial para firmar-se como um adversário duro de roer. O receio é que Moro se lance na disputa como alternativa capaz de quebrar o jogo viciado da polarização. Um jogo que interessa tanto a Lula quanto a Bolsonaro. Tomado pelas palavras, a aversão de Moro às urnas é apenas retórica.

Na última sexta-feira (24/01), Bolsonaro e Lula citaram Moro num par de entrevistas. Ao desembarcar em Nova Dhéli, o presidente virou seu ministro na frigideira, negando o plano de retirar a segurança pública de sua pasta. Algo que admitira na véspera, antes de voar para a Índia. De passagem por Belo Horizonte, Lula falou à Rádio Itatiaia: "Eu acho que o Moro quer estar nas urnas, sim."

Quatro dias antes, espremido no programa Roda Viva, Moro reiterou que não cobiça o Planalto: "Não tenho esse tipo de ambição." Na sequência, torceu o nariz para a sugestão de descartar uma futura candidatura por escrito. "Não faz o menor sentido assinar um documento desses, porque muitas pessoas assinaram esses documentos e depois rasgaram."

O projeto Moro-2022 começa a ficar em pé sem que o ministro faça muito esforço. Bolsonaro, além de antecipar o debate sucessório, encurralou Moro. Primeiro, roeu o compromisso de indicá-lo a uma vaga no STF. Depois, submetido à necessidade de proteger o primogênito Flávio, investigado por peculato e lavagem de dinheiro, firmou uma aliança tácita com a oligarquia que joga água no chope da Lava Jato.

Na entrevista de sexta-feira, Lula disse estar convencido de que Moro será candidato por conta do veredicto emitido no caso do tríplex, que o levou à cadeia. "A sentença contra mim já mostrava que ele era político. Um juiz político que me condenou por atos indeterminados. Ou seja, nem ele sabe porque me condenou". 

Longe de enfraquecer, os ataques de Lula tendem a vitaminar uma eventual candidatura de Moro. A Presidência de Bolsonaro é o resultado de dois fenômenos: o antipetismo e a falência das forças políticas de centro.

Em 2022, se tiver resultados econômicos a exibir, Bolsonaro será um candidato competitivo. Do contrário, os vícios do capitão, acumulados em 28 anos de vida parlamentar, podem aparecer na vitrine em primeiro plano. E o pedaço do eleitorado que tem ojeriza a Lula e ao PT pode buscar fora da política uma novidade genuína. Moro entra nesse jogo ao lado do apresentador Luciano Huck. 

Interessada em preservar a polarização, Gleisi Hoffmann, a presidente do PT, costuma dizer que "é nas ruas" que seu partido "vai vencer essa pauta de retrocesso" do governo Bolsonaro. Ela ainda não se deu conta. Mas o PT não perdeu apenas o monopólio do asfalto. Vem perdendo votos.

Nas eleições presidenciais de 2002 e 2006, Lula prevaleceu com 61% dos votos válidos. Em 2010, Dilma ganhou o trono com 56%. Em 2014, a pseudo-gerentona foi reeleita com 52%. Na sequência, foi enviada mais cedo para casa. 

Em 2018, com Lula na cadeia, Fernando Haddad obteve 44,8% dos votos válidos no segundo turno contra Bolsonaro. De saco cheio do petismo, os brasileiros optaram por içar Bolsonaro do baixíssimo clero da Câmara para o Planalto.

As pesquisas demonstram que uma parte do eleitorado de Bolsonaro já se arrependeu. Mas esse eleitor não faz fila na porta do PT. Parece desejar o cometimento de erros novos em 2022. É nesse contexto que Sergio Moro emerge como mais uma opção.

Por Josias de Souza

Tem quem aprecie!


sábado, 25 de janeiro de 2020

E se Sergio Moro chamar o caminhão de mudança?


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No jogo de gato e rato que trava com Sergio Moro, Jair Bolsonaro se deu conta de que pode ter mais a perder do que o seu ministro. Menos de 24 horas depois de declarar que cogita desmembrar o Ministério da Justiça, retirando de Moro a área da Segurança Pública, Bolsonaro afirmou que a chance de algo assim acontecer "é zero". Diz-se que o presidente recuou. Engano. Na frase seguinte, Bolsonaro esclareceu que essa é apenas a sua posição momentânea. "Não sei o amanhã, porque na política tudo muda", disse ele.

Entre uma posição e outra, Bolsonaro foi submetido a uma avalanche de críticas nas redes sociais, seu habitat natural. Os gênios que cercam Bolosonaro no Planalto começaram a fazer em voz alta uma pergunta singela: o que acontecerá se Sergio Moro chamar o caminhão de mudança e sair batendo a porta? A pergunta indica que Bolsonaro meteu-se numa enrascada.

Tendo ciência de que o passado político da primeira-família estava encostado em rachadinhas e nas relações perigosas com Fabrício Queiroz e milicianos do Rio, Bolsonaro chamou o xerife da Lava Jato para cuidar do combate à corrupção e ao crime organizado. Agora, tenta cortar as asas de Moro. Ironicamente, o ex-juiz contribui para a própria fritura. Moro esqueceu de traçar limites a partir dos quais ele não recuaria. Sofre calado uma sequência de humilhações.

No caso de Sergio Moro, Bolsonaro evolui da fritura para o esquartejamento. Arrancou-lhe o braço do Coaf. Manteve os os dedos da direção-geral da Polícia Federal, mas substituiu o anel da superintendência da PF no Rio de Janeiro, onde Flávio Bolsonaro enfrenta sua tormenta judicial. Quebrou o pé do minsitro ao sancionar o juiz das garantias. Agora, adia a amputação da Segurança Pública por razões estratégicas.

Quem olha de longe fica com a impressão de que Bolsonaro e Moro, ambos infectados pelo vírus de 2022, perdem o rumo. Engano. Há um rumo na encrenca. O rumo da crise. O risco que Bolsonaro corre é o de inverter o jogo. Chamou Moro para o governo com o argumento de que daria a ele condições para melhorar sua biografia. Agora, oferece a Moro a oportunidade de ganhar respeito pedindo o boné.

Abraham Weintraub injetou ideologia no vexame


Divulgação

Estava demorando. A encrenca iniciada com o erro na correção das notas do "melhor Enem de todos so tempos" já durava uma semana e Abraham Weintraub, o ministro 'imprecionante', ainda não havia apertado o botão ideológico. Nesta sexta-feira, o chefe do MEC voltou ao seu estado (a)normal. Enfiou ideologia dentro do vexame.

Estudantes postaram nas redes sociais uma reclamação: candidatos que obtiveram notas altas no Enem estão ocupando as vagas nas duas opções de curso que registram no Sisu. Em anos anteriores, o sistema eliminava a segunda opção sempre que os alunos asseguravam vaga no curso escolhido na primeira opção. Como os alunos farão apenas um curso, a duplicidade eleva artificialmente a média de pontos exigida no preenchimento das vagas inflacionadas com as segundas opções que deixaram de ser excluídas.

Estudantes postaram nas redes sociais uma reclamação: candidatos que obtiveram notas altas no Enem estão ocupando as vagas nas duas opções de curso que registram no Sisu. Em anos anteriores, o sistema eliminava a segunda opção sempre que os alunos asseguravam vaga no curso escolhido na primeira opção. 

Como os alunos farão apenas um curso, a duplicidade eleva artificialmente a média de pontos exigida no preenchimento das vagas inflacionadas com as segundas opções que deixaram de ser excluídas.

Em resposta, Weintraub veiculou um vídeo nas redes sociais (aqui). Não respondeu às dúvidas dos internautas. E ainda ofendeu a clientela do MEC. "A gente vê inclusive que, muitas reclamações que estão sendo feitas, quando você entra no perfil da pessoa, você vai ver que é vinculada a um partido radical de esquerda, que a pessoa gosta de certos indivíduos que gostam de colocar terror nas pessoas", disse Weintraub. "Não se levem por gente que quer causar o mal de vocês..."

Dois perfis monopolizaram as atenções nas postagens sobre o problema observado nas opções de cursos do Sisu. Um no Instragram, outro no Twitter. Não há nos dois endereços eletrônicos vestígio de menções a partidos ou movimentos de esquerda. 

Weintraub ainda não se deu conta. Mas a ideologia é o caminho mais longo entre um serviço público e sua realização. Enquanto o ministro desperdiçava o seu tempo, o Ministério Público Federal protocolava na Justiça um pedido de suspensão das inscrições no Sisu. Alega-se a necessidade de fazer nova checagem nas notas do Enem.

O MEC sustenta que os erros afetaram 5.974 estudantes, cujas notas já foram revisadas. Mas há outros 172 mil pedidos de revisão feitos por candidatos que se consideram prejudicados. A resolução desse tipo de problema exige trabalho e transparência, não lero-lero ideológico.

Por Josias de Souza

O grito do Brasil a Bolsonaro: nazismo, não!



No momento em que o Brasil tem uma das imagens mais baixas no cenário mundial pelo atual Governo de extrema-direita com adornos nazifascistas, é um dever destacar dessa vez a surpresa da reação de todo o país, de todas as suas instituições, incluindo a militar, contra o escorregão de cunho nazista do secretário de Cultura do Governo, Roberto Alvim, que atravessou a linha proibida ao copiar as palavras e o ritual do ministro de Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels. O presidente de extrema-direita, Bolsonaro, se viu cercado por um clamor nacional e não esperou 24 horas para demitir seu ministro amigo.

Dessa vez vários liberais que apoiaram Bolsonaro para derrotar Lula e o PT reagiram contra os arroubos nazistas do secretário da Cultura do Governo. Foi um teste importante ver mobilizados, imediatamente, não só todo o mundo da cultura e da ciência e de todos os partidos democráticos, incluindo os liberais do Governo, como também todas as instituições do Estado, como o Congresso, o Senado e o Supremo, junto com as principais associações civis como a de advogados, promotores e juízes e dezenas de instituições democráticas, assim como a imprensa nacional que denunciou que o Governo havia cruzado a linha vermelha da democracia.

Dessa vez não foi uma reação da esquerda contra a ultradireita. O protesto ultrapassou os partidos e as ideologias, para gritar um não do país a tudo o que tenha referência ao nazismo hitleriano dos campos de concentração e do Holocausto.

Há somente um ano eu alertava aqui do perigo de que o Brasil poderia estar entrando em um estado de pré-nazismo e pré-fascismo, após a entrada do furacão de Bolsonaro com seus ódios a todos os diferentes, sua exaltação de um nacionalismo de cunho fascista e sua consigna de “Brasil acima de tudo”, copiada dos tempos do nazismo: “Alemanha acima de tudo”. E das tentativas de criar uma teocracia evangélica em substituição ao Estado laico assim como uma cultura e uma educação entranhadas nos valores militares e medievais.

Dessa vez uma parte do Governo viu com preocupação os arroubos nazistas dos bolsonaristas mais rígidos. Como demonstra, por exemplo, a satisfação do general do Exército, Augusto Heleno, que faz parte do Governo e é um dos assessores mais próximos ao Presidente e que também ele havia flertado com medidas extraordinárias no caso do Brasil se transformar em um novo Chile. Heleno, dessa vez, assustado com o escorregão nazista do secretário da Educação, elogiou a reação positiva do Brasil. Chegou a felicitar a reação da sociedade com essas palavras: “Fantástica e até emocionante a reação de intelectuais, artistas, historiadores, professores, estudantes, militares e da Nação como um todo, ao infeliz resgate de pensamentos nazistas”. E acrescentou que isso “mostra uma face da convicção e do apego de nosso povo à democracia e às liberdades individuais”. Até o importante militar entendeu que o Governo poderia estar se dirigindo à barbárie.

A reação democrática da sociedade brasileira e de todas as instituições do Estado às tentações nazistas e fascistas que começaram a levantar a cabeça em várias áreas do Governo é fundamental. O perigo de involução, de fato, existe, já que vemos aflorar a cada dia mais saudades dos tempos da ditadura que levam Bolsonaro a tomar medidas drásticas e antidemocráticas quando, segundo eles, o Congresso e o Supremo não se dobram aos seus caprichos autoritários. O fato de o Brasil dizer não a essa loucura significa um acréscimo de esperança na defesa dos valores democráticos.

E não foi por acaso ter sido no delicado e importante campo da cultura o local em que os brasileiros de todas as crenças disseram não a essa tentação do Governo de dar lugar no Brasil a uma única forma de criar e de ensinar, de fazer arte, e do perigo de ver castrada a liberdade de pensamento. Os brasileiros, conservadores em hábitos e costumes, não aceitam a imposição de um único tipo de cultura, muito menos de cunho nazista.

O brasileiro, historicamente, está acostumado a uma grande pluralidade cultural que surge da mistura de todas as expressões e as correntes mais livres de criar e de fazer cultura que leva em suas veias. Não por acaso é um dos povos com tradições populares mais fortes e arraigadas às que dificilmente renuncia, muito menos em benefício de uma ideologia.

Essa reação inesperada e feliz da sociedade brasileira às tentações nazistas de alguns dos ministros do Governo, e do próprio presidente, abre um caminho de esperança aos democratas de coração, os que amam as liberdades, sejam de direita e de esquerda, porque somente em um húmus de democracia consolidada se constrói uma sociedade livre e feliz. No Brasil, de fato, o peso de uma escravidão nunca resolvida deixou marcas profundas de desigualdade social, de dor e de discriminação racial que dura até nossos dias.

Dessa vez, felizmente, é como se o Brasil tivesse despertado para dizer não aos bárbaros e para dar o alerta de que tudo tem um limite e que não importa se governa a direita, a esquerda e o centro, mas nunca os filhos bastardos de nostalgias de campos de extermínio.

A reação da sociedade brasileira à injúria nazista de quem deveria velar pelas liberdades que defendem ou criar cultura em liberdade e sem marcas ideológicas, não pode, entretanto, nos fazer dormir em nossos louros. É verdade que a reação imediata do presidente em demitir o secretário da Cultura, algo que a maior das manifestações não teria conseguido, não pode nos deixar totalmente tranquilos. Bolsonaro viu que todas as forças vivas ficavam contra ele e ratificavam não querer entrar nos corredores de morte do nazismo, e dessa vez reagiu com rapidez e sem hesitação. Isso não significa, entretanto, que tenha se arrependido da política racista da qual está imbuído. Não foi uma conversa. Foi obrigado pelo grito de uma sociedade que começa a dizer: “Daqui não se passa”. E hoje sabemos, além disso, que por ele teria esperado para decidir a demissão do secretário da Cultura. Foram os militares de dentro do Governo que o obrigaram a não esperar sequer mais uma hora.

Pensar que Bolsonaro pode mudar é, na verdade, uma vã utopia. Como Hitler não mudou, a quem o presidente gosta de imitar em sua linguagem e até no corte de cabelo. Quem precisa continuar firme é a sociedade e suas instituições para que continuem detendo-o sempre que tentar atropelar as liberdades e nos introduzir no túnel escuro do autoritarismo. Está claro que ele não irá mudar. Seu repúdio e desprezo por todos os diferentes como nos tempos de Hitler dessa vez começando pelos afrodescendentes, dos quais chegou a dizer, após visitar um quilombo: “o mais leve pesava sete arrobas. Não fazem nada. Acho que nem como procriadores eles servem”. Não suporta a diversidade de gênero e já avisou que preferia um filho morto do que vê-lo chegar em casa “com um bigodudo”. Não suporta as mulheres e até se lamenta de que dos cinco filhos um, o último, nasceu mulher. O que os judeus eram para Hitler, para Bolsonaro o são todos os diferentes, aos quais acrescentou os jornalistas de quem chegou a ofender as mães.

Quero acabar essa coluna que se move entre a esperança e o medo, com as palavras de Reinado Azevedo que escreveu que não podemos dormir, já que para Bolsonaro que, terrível paradoxo, se revela amigo dos judeus, o que para os nazistas de Hitler eram os judeus hoje no Brasil o são os negros, as mulheres, os LGBTs, os índios, os jornalistas e todos os que não se ajoelham diante dele.

A sociedade brasileira deu seu primeiro grito. Se ele continuar em sua fúria iconoclasta contra todos os valores democráticos, de costas à liberdade de ação de pensamento que são os que criaram as melhores e mais livres sociedades do mundo, o segundo grito pode ser: “Agora chega!”.

O Brasil pode e ainda está em tempo. Amanhã talvez possa ser tarde demais e de nada adiantaria chorar lágrimas de crocodilo. Se já se disse um dia de Paris que ela bem valia uma missa, o Brasil, com tantos ou mais motivos bem vale esse despertar contra os pesadelos que lhe querem impor insensatas tentações de assassinar e manipular a cultura e as liberdades.

Mais do que o lema bolsonarista de “Brasil acima de tudo”, o que precisamos é de um Brasil que seja de todos e para todos, em que ninguém se sinta superior e desprezado, ou não será de ninguém. E então nos restariam somente os escombros.

Por Juan Arias

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Número 2 da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da Republica é acusado de fraude e crime tributário


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A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional acusa o atual número 2 da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Samy Liberman, de participar de um esquema empresarial de fraudes e crimes tributários. Ele está com bens bloqueados pela Justiça. Segundo a ação, Samy está no centro de irregularidades encontradas pela Receita Federal que incluem criação de empresas fantasmas, emissão de notas fiscais falsas, simulação de contratos e sonegação de impostos nos anos de 2014 e 2015. As multas aplicadas pelo fisco no caso somam R$ 55 milhões.(...) 

Na Folha

Por erros no Enem, MPF pede a suspensão do Sisu, Prouni e Fies


Enem 2018 tem gabarito divulgado

O Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação na Justiça Federal em Minas Gerais pedindo a suspensão das inscrições no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e do Programa Universidade para Todos (Prouni) por conta das falhas identificadas nos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A solicitação é que os editais sejam interrompidos até que todas as provas passem por uma auditoria especializada. Caso o recurso seja aceito, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) pagará uma diária no valor de 10 milhões de reais por descumprimento da medida.

A ação pede também que o Inep confira novamente os gabaritos de todos os 3,9 milhões de candidatos. Após a nova publicação do resultado das provas, os estudantes deverão ser comunicados oficialmente da abertura de prazo para solicitação de verificação de eventuais falhas. Todos os pedidos de correção devem receber uma resposta formal. Para a promotoria, o Ministério da Educação (MEC) e o Inep teriam violado o Código de Usuário do Serviço Público ao não emitir comprovantes ao e-mail pessoal dos candidatos, não demonstrar ciência do problema aos usuários e não analisar todas as solicitações feitas.

Carta a Regina Duarte, a noivinha do Brasil


A atriz Regina Duarte, com o sorriso que é sua marca registrada, busca saber qual será sua autonomia na Cultura

Prezada Regina Duarte, não se case com Jair Bolsonaro. Aceite a pasta da Cultura, com letra maiúscula e autonomia, mas não se torne esposa, porque o marido exigirá obediência cega e surda até que a morte os separe. Ele já provou que não é “um cara doce”. Doce é você. Por seu talento e pelos sorrisos abertos que distribui, o Brasil caiu de amores há décadas. Não importa agora que você seja conservadora. Importa que seja humana e sensata. Não coloque a religião à frente de suas decisões. Não seja desagradável ou preconceituosa. 

O preconceito e a patrulha não são privilégio da direita ou da esquerda. “Em 2002 (na primeira eleição de Lula), fui chamada de terrorista e hoje sou chamada de fascista, olha que intolerância”, disse em Conversa com Bial. “E eu achando que vivia em uma democracia, onde eu tenho o direito de pensar de acordo com o que eu quero. Eu respeito todo mundo que pensa diferente de mim. Não saio xingando as pessoas por aí”.

Não xingar já é um tremendo avanço. Regina, você tem um legado artístico a proteger. A Cultura brasileira está órfã. Pior: no governo Bolsonaro, tornou-se uma filha enjeitada, uma inconveniente, uma borralheira, aquela que leva pontapés e ouve grosserias. Cultura engloba artes plásticas, cinema, teatro, balé, literatura, música. Quando um presidente manda uma repórter calar a boca, ou veta e persegue artistas em nome de Deus e de ideologias, negando-se até a entregar prêmios internacionais, isso não é ser censor. É ser estúpido. Você jamais se comportaria assim. Não se oporia a entregar o prêmio Camões a Chico Buarque. Acho que se sentiria honrada. Arte acima de tudo.

O Brasil só espera que você valorize nossa cultura em tudo que já encanta o mundo. A criatividade, a inventividade, a originalidade, a mestiçagem. Você fez isso inúmeras vezes como atriz de novelas, foi vista e admirada em outros países, como virgem ou prostituta. Foi feminista na série Malu Mulher, de 1980, discutindo temas tabus, embora não se diga feminista na vida real. Você vivia uma situação exatamente igual à da personagem. "Tinha acabado de me separar e estava assustada, machucada, com dois filhos para criar e não mais sob tutela do meu pai. Fazer o seriado me fortaleceu, foi terapêutico”.

Você cumpriu o papel de si mesma, como mãe e avó. Um marido autoritário e ciumento de seu carisma é tudo aquilo de que você não precisa, agora que completa 73 anos em fevereiro como uma mulher independente. Na ditadura militar, você brigou. “Eu corri de cavalos, me enfiei debaixo de porta para fugir da cavalaria, eu participei de palanques ao lado de Lula pelas Diretas Já, pela Anistia Ampla Geral e Irrestrita, Revolução dos Cravos...” Regina sempre assumiu ter medo de Lula. Tem direito de pensar assim. Em entrevista em 2018, disse que “Bolsonaro é fruto do país, é resultado dos erros monstruosos do PT e da falta de mea-culpa”.

Cuidado com as armadilhas. Após o compromisso selado, há o risco de desrespeitos privados e públicos, assédio moral, palavrões, exigências que coloquem suas convicções éticas em xeque. Ao cortejá-la, o noivo se comporta de maneira graciosa. É questão de honra para Bolsonaro que você aceite. Procure saber se poderá destituir os desclassificados nomeados por Alvim. Não troque alianças, da direita para a esquerda. Ou vice-versa. Regina, esqueça os anéis, fique com os dedos.

Por Ruth de Aquino

Fala de Bolsonaro revela preconceito em relação a índios e desconhecimento sobre a questão



A fala do presidente Jair Bolsonaro sobre os índios carrega um preconceito inaceitável. Ele disse na quinta-feira que o índio está evoluindo e que, “cada vez mais”, é “um ser humano igual a nós.” Bolsonaro já falou outras coisas nesse sentido, e desta vez foi explícito. Além do preconceito, o presidente tem deixado evidente que não entendeu a questão indígena.

— O índio mudou, tá evol... Cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós. Então, vamos fazer com que o índio se integre à sociedade e seja realmente dono da sua terra indígena, isso é o que a gente quer aqui — disse o presidente, na transmissão ao vivo pela Internet.

O Brasil cometeu muitos erros com os povos originais e tem uma conta histórica negativa. Na redemocratização, o debate com indigenistas foi mostrando que o melhor caminho era respeitar a maneira como cada tribo quer viver, sem forçar contatos com os povos.

O indigenismo atual surgiu após a ditadura. O período militar cometeu diversos crimes contra os indígenas. Tentou transformá-los em soldados e integrá-los nas cidades. Muitos morreram ou ficaram sem suas raízes culturais. Eles se perderam das mais variadas formas. Essa história terminou em tragédias. 

A Constituição estabeleceu vários poderes para a população indígena. Mas eles não são donos da terra, que é da União. Esse foi o começo do acerto do Brasil com suas populações originais.

O presidente não entende a importância dessa política. Os indígenas cumprem o papel de proteger o meio ambiente, é como se eles prestassem esse serviço ao restante da nação. É possível ver isso, por exemplo, no interior do Maranhão. A mata original foi derrubada. Quando aparece uma floresta, é porque chegamos a um território indígena de recente contato. É a experiência é de ter entrado em um paraíso.

Isso precisa ser entendido. Bolsonaro tem a mesma visão dos governos militares, o que provocou muita morte nos anos 1970. Sempre que o presidente fala do tema é para defender a mineração no território dos índios, se reúne com garimpeiros. A Funai é enfraquecida a cada dia, as coordenadorias regionais são transferidas com frequência. O presidente anterior da Fundação saiu alertando para o desmonte da Funai.

É grave o que está acontecendo. Além do preconceito, a frase revela os erros da política indigenista, que pode nos fazer inúmeros prejuízos em todas as áreas. O mais importante é defender as populações indígenas e entender o processo que levou a uma política mais eficiente e civilizada na relação com povos indígenas que, sim, são seres humanos desde o início, obviamente.

Por Míriam Leitão