quinta-feira, 2 de abril de 2020

Mãe Joana administra redes sociais de Bolsonaro


Bolsonaro divulga vídeo fake afirmando que ceasa de BH está ...

As páginas de Jair Bolsonaro nas redes sociais transformaram-se em sucursais eletrônicas da Casa da Mãe Joana. Num dia, o presidente —ou alguém a quem ele cedeu a sua senha— posta um vídeo com edição marota de uma fala do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde. Noutro dia, horas depois de um pronunciamento em rede nacional no qual o presidente propõe um pacto contra o coronavírus, aparece nas suas redes sociais um vídeo cujo conteúdo vale por uma canelada nos governadores. Falava de desabastecimento de alimentos no Ceasa de Belo Horizonte. Descobriu-se rapidamente que o vídeo é mentiroso. E a postagem foi apagada das redes sociais.

Francamente, isso não é coisa de gente séria. Fica difícil levar a sério a proposta de pacto feita por Bolsonaro em rede nacional. No domingo passado, depois de afrontar todas as orientações do Ministério da Saúde num tour pela periferia de Brasília, Bolsonaro declarou que é preciso enfrentar o coronavírus "como homem, não como moleque." Como definir a mania de postar meias verdades e mentiras integrais nas redes sociais senão como uma molecagem?

O problema não está nas mensagens que saem no Twitter, no Facebook ou no Instagram do presidente. O mais dramático é perceber que a exclusão das postagens depois da repercussão negativa não apaga o que está gravado na cabeça de Bolsonaro e do seu filho Carlos Bolsonaro, a quem o presidente às vezes terceiriza o seu quintal virtual. Bolsonaro acredita mesmo que é um proprietário da verdade absoluta sobre todas as coisas, obrigado pelas circunstâncias a lidar com inimigos inescrupulosos. No momento, os inimigos de ocasião são os governadores.

Sob influência de Mãe Joana, Bolsonaro ainda não se deu conta de um detalhe: pode-se ganhar uma eleição pelas redes sociais, mas não se pode governar apenas com elas. Na campanha, submetido a um eleitorado de saco cheio, bastava ao então candidato chutar o balde na internet para ganhar votos. Agora, num instante em que uma pandemia vira do avesso os projetos do mundo, descobre-se que às vezes é preciso desligar as redes sociais para conversar um pouco. Conversa de gente séria, não de moleque.

Veja vídeo: 


Por Josias de Souza

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