terça-feira, 19 de maio de 2020

Que Saúde fique com militares. Qual o medo? Mortos já lhes pesam nos ombros


General Eduardo Pazuello, interino na Saúde. Que fique logo com a Pasta. Os mortos já estão nos ombros dos militares. E alternativa pode ser pior - Foto: José Dias/PR

Os generais que despacham no Palácio do Planalto têm de convencer Jair Bolsonaro a manter no ministério da Saúde o seu colega de farda Eduardo Pazuello, secretário-executivo exercendo a interinidade, dado o pedido de demissão de Nelson Teich. Qual é o temor? Que os mortos venham a assombrar a memória das Forças Armadas? Tarde demais. Já era!

O governo já foi colonizado pelos militares, pelo Exército em particular. Há mais uniformizados da ativa na gestão Bolsonaro do que em qualquer fase dos governos da ditadura. Os senhores fardados têm como herança o futuro próximo do país. Não será bom. Depois da redemocratização, foram necessárias duas décadas para que limpassem o uniforme das nódoas de um regime de força. Ao fim do bolsonarismo, dure quanto durar, terão de passar as duas décadas seguintes tentando reescrever a história. Não será fácil. 

Não contarão, desta feita, nem mesmo com a fantasia de que combatiam a ameaça comunista e a corrupção. Comunismo não há mais. E o combate à corrupção acaba de ganhar um símbolo com a nomeação de um preposto de Valdemar Costa Neto, presidiário do mensalão, para um cargo importante no Ministério da Educação. Mas volto ao leito.

Vejam lá. Pazuello vai assinar um protocolo para o uso da cloroquina já na fase inicial da doença. Por quê? Porque Bolsonaro quer. É um caso de obediência indevida. Inexistem evidências técnicas apontando a eficiência da droga no combate ao vírus. Quando confrontados com os dados, alguns médicos ainda tocados pela mística bolsonarista falam em "estudos observacionais" que apontariam uma possível eficácia.

É o que faz, por exemplo, Nise Yamaguchi. Então ficamos assim: sem que feiticeiros consigam explicar, do ponto de vista bioquímico, por que a cloroquina seria eficaz, opta-se pelos estudos observacionais. Ocorre que os há em muito maior número a evidenciar a ineficácia. Se cloroquina fosse chá de erva-doce, vá lá... Bem não faria, mas seria inócuo para a saúde.

Mas por que a fixação de Bolsonaro? Pretende brandir o protocolo para anunciar que as pessoas já podem se expor à vontade por aí porque, afinal, existiria um remédio. E os militares estão coonestando a falácia. Então que fiquem com a pasta de vez. Pouco poderão fazer de mais grave.

Pazuello participou da 73ª Assembleia Geral da Saúde, da ONU, uma videoconferência global. Na sua vez de falar, afirmou:
"O Governo Federal conduz avaliações diárias das situações de risco em cada localidade, reforçando estados e municípios com os recursos necessários, financeiros, materiais e pessoal". Disse mais: "Além disso, o Ministério da Saúde também está ajustando seus protocolos e diretrizes com base em evidências científicas e nas experiências exitosas nacionais e internacionais dos lugares mais afetados."

Era a voz do oficialismo contra os fatos. O governo federal enviou apenas 11% dos kits de UTI prometidos aos Estados. Não só. Entregou até esta segunda-feira apenas 823 dos 14.100 respiradores prometidos em abril: espantosos 6%. E as experiências internacionais citadas pelo general não o autorizariam a assinar o escandaloso protocolo da cloroquina. 

De resto, atentem para este raciocínio: Pazuelllo não é médico — logo, sempre pode alegar ignorância específica —, mas consta que tem experiência em logística, importante em momentos assim. Qualquer médico que aceite o cargo, subordinando-se às exigências de Bolsonaro, será alguém sem a experiência que tem o militar, que pode ser útil à Saúde, e que, para arremate dos males, aceita fraudar o conhecimento científico para fazer as vontades de quem o nomeia.

Nessas circunstâncias, melhor um general que nada entende de medicina, com cara e porte de interventor do Estado Novo, do que um vigarista que ostente um diploma e aceite rasgá-lo para fazer as vontades do chefe.

Por Reinaldo Azevedo

Um comentário:

AHT disse...

“BRASIL JÁ E O TERCEIRO PAÍS DO MUNDO EM NÚMERO DE INFECTADOS PELO COVID-19”[
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− É campeão, é campeão! – vibrava o locutor, vibrava a nação.

Brasil pentacampeão mundial de futebol, tricampeão mundial de vôlei, bicampeão mundial de basquete, 8 títulos na fórmula 1, atletas campeões e recordistas mundiais em outros esportes.

Porém, em Saúde, Educação, Segurança, Transportes, Saneamento Básico, Ambientais, Infraestrutura, Investimentos, Geração de Empregos e consequentes crises sociais e econômicas, o quadro não é para alegria, vibração e orgulho: está entre os medianos e a rabeira do Campeonato Mundial Pela Vida e Bem Estar Econômico e Social.

Com o Covid-19 esses descalabros estão mais evidenciados, assustadoramente refletindo o criminoso desmazelo com a Nação, após uma sequência de governos intensamente contaminados por corruptos, incompetentes, negligentes, muitos insensíveis e impiedosos. Muitos desses, quando interpelados pelos graves problemas, por mais que tentem dissimular sentimentos de bronca pela pergunta, dá para ler seus pensamentos, "O meu está garantido. O povo que se exploda!" - e, então, respondem e cortam o diálogo com um curto e grosso, "E DAÍ?"

"E DAÍ?"
Esse é um dos traiçoeiros e potentes coices recebidos pelos cidadãos, sempre os culpados: poderiam ter evitado no momento de digitar e confirmar o voto. Quando decidirem aprender como evitar, talvez será tarde demais..


AHT
19/05/2020