sexta-feira, 8 de maio de 2020

Bolsonaro é capaz de tudo, menos de presidir a crise


Depois de limpar nariz escorrendo, Bolsonaro pega na mão de idosa ...

Nas últimas horas, Brasília esteve mais surrealista do que o habitual. Bolsonaro juntou um grupo de ministros para receber uma comitiva de empresários de setores que respondem por mais de 40% do PIB. Os visitantes se queixaram de que o isolamento social está levando as empresas para a UTI. O que fez o presidente? Decidiu se queixar ao bispo. Na falta de uma batina, foi ao encontro da toga.

Numa marcha cenográfica, Bolsonaro, os ministros e os empresários cruzaram a Praça dos Três Poderes, em direção ao Supremo Tribunal Federal. Despejaram suas queixas em reunião de emergência com o presidente da Corte, Dias Toffoli. Que respondeu o óbvio: cabe ao Poder Executivo inaugurar um comitê de crise e negociar uma solução com governadores e prefeitos. 

Na saída, numa entrevista improvisada, o ministro Paulo Guedes, da Economia, despejou sobre os microfones um tema que deixou a cena ainda mais surreal. Guedes disse ter pedido a Bolsonaro o veto do trecho do projeto de socorro a estados e municípios que livrou várias corporações de servidores públicos do congelamento de salários. Algo que foi aprovado com o apoio de Bolsonaro.

O líder do governo, deputado Vitor Hugo, disse da tribuna da Câmara que orientou os governistas a aprovarem as exceções ao congelamento salarial a mando de Bolsonaro. Chegou mesmo a desdenhar da equipe econômica: "Eu sou líder do governo e não líder de qualquer ministério". Mas ali, ao lado de Guedes, Bolsonaro prometeu vetar aquilo que mandou aprovar.

Para completar a irracionalidade, faltou um personagem à pantomima de Brasília. Não ocorreu ao presidente chamar para a pajelança o ministro da Saúde, Nelson Teich. O mesmo que, na véspera, ao falar sobre o recorde de mortos do coronavírus, admitiu que o lockdown, mais draconiano do que o isolamento social, pode ser necessário em algumas localidades. Ou seja: Bolsonaro revela-se capaz de tudo, menos de presidir uma saída planejada da crise. O país precisa conhecer o Plano Bolsonaro de volta à hipotética normalidade.

Por Josias de Souza

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