segunda-feira, 25 de maio de 2020

Humilhação histórica das Forças Armadas. O enigma: "liberdade = hemorroida"


O momento em que Bolsonaro diz por que quer armar todos os brasileiros. Nada tem a ver com autodefesa. Pensa em guerra civil. E fez essa revelação entre dois generais. Humilhação inédita - Reprodução/UOL
O momento em que Bolsonaro diz por que quer armar todos os brasileiros. Nada tem a ver com autodefesa. Pensa em guerra civil. E fez essa revelação entre dois generais. Humilhação inédita

A imagem que vocês veem acima flagra o exato momento em o presidente Jair Bolsonaro diz querer que todo mundo se arme no Brasil. E deixa claro que isso nada tem a ver com o enfrentamento de bandidos ou com a defesa pessoal. Raramente, ou nunca, as Forças Armadas passaram por tamanha humilhação.

À esquerda do presidente e à direita na foto, está o general Hamilton Mourão, vice-presidente. Do outro lado, o general Braga Netto, chefe da Casa Civil e até havia outro dia chefe do Estado Maior das Forças Armadas. 

Ambos sabem que o presidente havia exonerado o general Eugênio Pacelli, do Comando de Logística do Exército. Ele teve de deixar a Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército porque Bolsonaro se zangou com o militar. Seu erro: ter criado regras para rastrear armamentos e munições nacionais e importados. Seu terro: ter feito a coisa certa.

Bolsonaro não quer rastrear nada. Ele revogou as portarias. Assim, desaparece o controle de armas e munições no país. Mais: é no momento desse flagrante que o presidente dá ordem a Sergio Moro e a Fernando Azevedo e Silva para que baixem outra portaria multiplicando por 33 a quantidade de munição que pode ser comprada por um civil: de 200 unidades por ano para 55 POR MÊS. E, com efeito, no dia 23, a portaria veio à luz.

Reproduzo a fala inteira referente a armas, que tem um rasgo poético até agora incompreendido por quantos tenham tentado interpretá-la: a hemorroida como metáfora de liberdade. Leiam. Volto em seguida:

"Um bosta de um prefeito faz um bosta de um decreto, algema, e deixa todo mundo dentro de casa. Se tivesse armado, ia pra rua. E se eu fosse ditador, né? Eu queria desarmar a população, como todos fizeram no passado quando queriam, antes de impor a sua respectiva ditadura. Aí, que é a demonstração nossa, eu peço ao Fernando e ao Moro que, por favor, assine essa portaria hoje que eu quero dar um puta de um recado pra esses bosta! Por que que eu tô armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura! E não da pra segurar mais! Não é? Não dá pra segurar mais.

(...)
É escancarar a questão do armamento aqui. Eu quero todo mundo armado! Que povo armado jamais será escravizado.
(...)
Que os caras querem é a nossa hemorroida! É a nossa liberdade! Isso é uma verdade"

RETOMO
Generais conhecem muito bem a implicação de um eventual armamento generalizado da população, ao arrepio de qualquer controle.

Ao lado do presidente, Braga Netto sabe mais do que outros: foi ele o interventor na segurança púbica do Rio de Janeiro.

Já hoje, com algum controle, as milícias e o narcotráfico dão uma sova no Estado brasileiro — e não deixa de ser uma humilhação às Forças Armadas também, convenham — porque armados até os dentes.

Imaginem sem controle nenhum.

Mas Bolsonaro considera ser esse o caminho para preservar a liberdade. E a hemorroida.

Duvido que haja qualquer estudo na biblioteca das Três Forças que justifique esse ponto de vista. Duvido que algum militar responsável consiga defendê-lo à luz da segurança interna.

De combatentes contra a subversão, as Forças Armadas do Brasil se transformaram em promotoras passivas da guerra civil.

Levarão muitas décadas para se livrar dessa nódoa moral e ética.

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