domingo, 17 de maio de 2020

BOMBA 1: Ex-aliado diz que PF avisou a Flávio que Queiroz seria investigado


Paulo Marinho, Jair Bolsonaro e Luiz Marinho, filho do Paulo. O QG da campanha era na mansão do empresário. Agora o amor acabou. - Reprodução/Facebook
Paulo Marinho, Jair Bolsonaro e Luiz Marinho, filho do Paulo. O QG da campanha era na mansão do empresário. Agora o amor acabou.

Se o único problema de Jair Bolsonaro fosse a acusação feita por Sérgio Moro, de que a fita com a já famosa reunião ministerial do dia 22 de abril é parte, ele estaria em situação mais ou menos confortável. Do que se conhece, resta claro que o presidente queria, sim, mudar comandos na PF para proteger família e amigos, mas, se a transcrição apresentada pela AGU está correta, trata-se de uma dedução. Precisaria muito mais do que aquilo que se tem para que Augusto Aras, procurador-geral da República, apresentasse uma denúncia.

Era assim até o fim da noite deste sábado. Não é mais. A tranquilidade acabou. Há agora uma bomba armada no caminho do presidente. E o potencial de estrago é gigantesco. Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro e ex-aliado do presidente — sua casa serviu de QG da campanha —, faz uma revelação em entrevista a Mônica Bergamo, na Folha, que terá de ser necessariamente incorporada ao inquérito que investiga se Bolsonaro fez intervenções na Polícia Federal para proteger familiares e amigos seus. E se abre um novo território de investigação. O que conta Marinho? 

A REVELAÇÃO BOMBÁSTICA
Segundo o empresário, Flávio lhe revelou, na presença de três outras pessoas, que, entre o primeiro e o segundo turnos das eleições de 2018, recebeu um aviso de que a Polícia Federal iria deflagrar uma operação e de que um dos alvos era Fabrício Queiroz.
Pior 1: o alerta foi feito pessoalmente por um delegado da PF, simpatizante da candidatura de Bolsonaro. Pior 2: a operação estava pronta para ser deflagrada, mas foi adiada para não prejudicar a candidatura do "Mito".

O QUE ISSO TEM A VER COM O INQUÉRITO DO STF?
O que isso tem a ver com o inquérito do STF? Apenas tudo! O que mesmo se investiga lá? Entre outras coisas, se Bolsonaro interveio na Polícia Federal do Rio e na direção-geral do órgão para proteger interesses de sua família e de amigos.

BOLSONARO FOI AVISADO
Segundo Marinho, o então candidato Jair Bolsonaro foi avisado. A ser assim, a gravidade aumenta.

O QUE CONTA MARINHO: AS CIRCUNSTÂNCIAS
1: No dia 12 de dezembro de 2018, Marinho recebeu uma ligação de Flávio, que estava transtornado. A Operação Furna da Onça, deflagrada no dia 8 de novembro, trouxera a público o extrato da conta de Fabrício Queiroz;

2: Marinho liga para o advogado Antônio Pitombo, que indica para o caso o também advogado Christiano Fragoso;

3: no dia seguinte, 13 de dezembro, às 8h30, reunião na casa de Marinho para tratar do assunto junta Flávio, os advogados Fragoso e Victor Alves — que trabalhava do gabinete do filho de Bolsonaro — e o proprietário da casa;

4: Flávio conta, então, que, uma semana depois do primeiro turno, em outubro, o coronel Miguel Braga, que trabalhava em seu gabinete na Assembleia, recebeu o telefonema de um delegado da PF afirmando que tinha informação importante para passar ao já então senador eleito;

5: Braga dá o aviso a Flávio, que autoriza o coronel a se encontrar com o tal delegado;

6: o encontro se deu na calçada da Superintendência da PF no Rio. Falaram com o delegado o próprio Braga, o advogado Victor Alves e Val Meliga, pessoa da confiança de Flávio e irmã de dois milicianos presos na Operação Quatro Elementos;

7: segundo Marinho, Flávio contou aos presentes que o delegado teria dito então a Braga, Alves e Val o seguinte: "Vai ser deflagrada a Operação Furna da Onça, que vai atingir em cheio a Assembleia Legislativa do Rio. E essa operação vai alcançar algumas pessoas do gabinete do Flávio. Uma delas é o Queiroz, e a outra é a filha do Queiroz [Nathalia], que trabalha no gabinete do Jair Bolsonaro, em Brasília'. 

8: o delegado teria sugerido que os Bolsonaros se livrassem de pai e filha;

9: de fato, no dia 15 de outubro, entre o primeiro e o segundo turnos e antes de ser deflagrada a Operação Furna da Onça, Queiroz pai foi exonerado do gabinete do Bolsonaro filho, e a Queiroz filha foi exonerada do gabinete do Bolsonaro pai;

10: Flávio conta, sempre segundo Marinho, que mantinha, sim, contato com Queiroz, que estava sumido nesse período, por intermédio do advogado Victor Alves;

11: Fragoso indica o advogado Ralph Hage Vianna para cuidar do amigão da família. Naquela mesma quinta, Queiroz se encontra com Vianna e leva junto o onipresente Alves;

12: Marinho vai para São Paulo e se reúne com os advogados Pitombo, Alves (o contato de Flávio com Fabrício), Hage (então possível defensor do ex-faz-tudo da família) e Gustavo Bebianno; 13: A reunião ocorreu no Hotel Emiliano, às 14h30 do dia 14;

14: No dia 18, sexta-feira, Flávio se encontra com Marinho na churrascaria Esplanada Grill, em Ipanema, às 13h30, e diz que o próprio Bolsonaro havia optado por "outro esquema jurídico".

ROTEIRO DE INVESTIGAÇÃO
Marinho, que é suplente de Flávio Bolsonaro e se filiou ao PSDB -- é hoje um entusiasta da candidatura de João Doria, governador de São Paulo, à Presidência -- fornece um verdadeiro roteiro de investigação.

1: Quando indagado por que acha que Bolsonaro tem tanto interesse na PF do Rio, ele responde: "Eu tenho até datas anotadas e vou ser bem preciso no relato que vou fazer, porque talvez ele explique a sua pergunta";

2: cita uma penca de testemunhas dos encontros, como se pode notar. Ainda que advogados tenham o dever do sigilo, não se está pedindo que violem nenhuma regra — não, ao menos, quanto à existência das reuniões;

3: a casa de Marinho era uma das mais bem-guardadas do Brasil. Certamente havia câmeras de segurança registrando a reunião;

4: da mesma sorte, fornece data e local exato da reunião em São Paulo: Hotel Emiliano;

5: também seu encontro com Flávio no Rio tem hora e local;

6: Há as testemunhas de seus encontros e aquelas envolvidas diretamente com o suposto crime cometido pelo delegado da PF que vazou a operação: Victor Alves, o Coronel Miguel Braga e Val Meliga, a irmã dos milicianos.

Não há como isso tudo não ser incorporado ao inquérito que corre no Supremo, de que é relator o ministro Celso de Mello. E eu explico no post abaixo por quê.

Por Reinaldo Azevedo

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