É claro que Alexandre de Moraes faz a coisa certa. Não é mais possível ficar apenas na defesa retórica das instituições. As pessoas que são alvos da recente decisão do ministro perderam, ou nunca tiveram, noção de institucionalidade. Há uma diferença nada ligeira entre ser duro na crítica, entre expor com clareza uma ideia ou propor uma resistência ativa a uma determinada decisão de um Poder e insuflar as pessoas à violência, convocar militantes para uma guerra, pregar o fechamento de Poderes constituídos, com apelos nada sutis ao uso da violência.
"Eles não vão me calar. De maneira nenhuma. Pelo contrário. Eu sou uma pessoa extremamente resiliente. Pois agora... Meu! Pena que ele mora em São Paulo! Se estivesse aqui, eu já estava lá na porta da casa dele, convidando ele para trocar soco comigo. Juro pode Deus! Essa é a minha vontade. Eu queria trocar soco com esse filho da puta, desse arrombado. Infelizmente, eu não posso. Mas eu queria. Ele mora lá em São Paulo, né? Pois ele me aguarde. O senhor nunca mais vai ter paz na vida do senhor. A gente vai infernizar a tua vida. A gente via descobrir os lugares que o senhor frequenta. A gente vai descobrir quem são as empregadas domésticas que trabalham para o senhor. A gente vai descobrir tudo da sua vida. Até o senhor pedir para sair. Hoje, o senhor tomou a pior decisão da vida do senhor. Foi a pior decisão que você tomou. A pior".
Essa moça organiza o que ela chama de "acampamento", em Brasília, que faz treinamento com o objetivo declarado de eliminar a esquerda. A ação, claro!, seria pacífica. Outra pretensão, dizem, é desmoralizar as autoridades. São lições aprendidas com o Bruxo do Virgínia, de que esta pensadora virou discípula. Ocorre que ela admitiu que há pessoas armadas no tal lugar — "para a defesa pessoal". Sei...Moraes só não manda prender se não quiser. Trata-se de um flagrante óbvio de ameaça terrorista. Uma coisa é a moça dizer que, se encontrar com o ministro na rua, dá um soco nele. Outra, distinta, é afirmar que vai até a casa dele — ou, entende-se, alguém vai em seu lugar —; que pretende cercá-lo; que tem a intenção de identificar suas empregadas. A propósito: esse é o trecho mais intrigante da mensagem. Identificá-las com que propósito? Só há um: usá-las como instrumentos para entrar na casa do ministro.
"Ah, é só uma coitada, só uma doida..." Não é, não! É hoje uma figura de proa do bolsonarismo. E, obviamente, é financiada. Por quem? Quem dá dinheiro a uma senhora que confessa o propósito de perseguir o ministro, que faz ameaças, que anuncia que vai violar a sua intimidade? Ora, quem financia, convenham, também pratica crime.
PASSARAM DOS LIMITES
Isso há muito passou dos limites. Não há nada parecido desde a redemocratização. A rigor, nem antes. A esquerda desarmada, organizada em seus vários grupos, nunca ousou nada parecido. A propósito: observo que os bolsonaristas escalam o extremismo sem encontrar adversários. Não estão em confronto com ninguém. Seu único adversário são as instituições.
Como ofendem cotidianamente as leis, buscam, a cada dia, novos limites. Até, parece, que o mais ousado deles resolva, uma hora dessas, partir para o ataque. Seu grande líder ocupa nada menos do que a Presidência da República. Ocorre que ele pretende ser, a um só tempo, Executivo, Legislativo e Judiciário. Acha que arrancou das urnas a licença para ser ditador.
E, obviamente, isso não aconteceu. A reação, se querem saber, é até tardia. E, como sempre, é preciso seguir a frase que se tornou até um clichê a partir do filme "Todos os Homens do Presidente", de Alan Pakula, de 1976: "Follow the Money".
Seguindo o dinheiro, chega-se aos reais promotores da patuscada fascistoide, de que algumas figuras buliçosas são apenas a fachada argentária. É preciso chegar aos reais autores. E metê-los na cadeia.
Por Reinaldo Azevedo
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