Bolsonaro não está sendo apenas retórico quando diz que está armando de caso pesando a população pensando em guerra civil. Cada gesto seu nessa área agora tem não uma interpretação, mas um propósito declarado. E, como a reunião deixa claro, o próprio Sergio Moro — que agora posa de São Jorge de casa de tolerância — e o ministro Fernando Azevedo e Silva foram coniventes com esse propósito.
Ao confessar que prepara a guerra civil em nome da liberdade, afirma o presidente:
"Eu peço ao Fernando e ao Moro que, por favor, assine essa portaria hoje que eu quero dar um puta de um recado pra esses bosta! Por que que eu tô armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura! E não dá pra segurar mais! Não é? Não dá pra segurar mais."
Eis aí. De que portaria Bolsonaro fala? Vamos lá.
Quando se refere aos ministros Fernando Azevedo e Silva e Sergio Moro, ele cobra uma portaria, que saiu no dia seguinte. Trata-se de uma aberração. O limite para a compra de munição para quem tem arma legal passou de 200 CARTUCHOS POR ANO PARA 550 CARTUCHOS POR MÊS.
Mais especificamente:
Civis que tenham posse (manter em casa) ou porte (carregar na rua) de arma de fogo, poderão comprar, por mês:
até 300 unidades de munição esportiva calibre 22
até 200 unidades de munição de caça e esportiva nos calibres 12, 16, 20, 24, 28, 32, 36 e 9.1mm;
até 50 unidades das demais munições de calibre permitido
REAÇÃO
Observem que o presidente fala em tom de reação. Queria dar um recado para "esses bosta". Quais "bosta"? Explico
No dia 18 de abril, a Portaria 62 revogou as portarias 46, 60 e 61. Todas elas diziam respeito ao rastreamento de armas e munições. Isto mesmo: o presidente da República, e ninguém entendeu por quê (ou quase ninguém), não queria mais que armas e munições que entrassem no país fossem rastreadas.
Observei aqui e na rádio: isso só interessa ao crime organizado e às milícias. Agora está claro: serve à guerra civil com a qual o presidente sonha.
Quando saiu a Portaria 62, Bolsonaro comemorou no Twitter:
"Atiradores e colecionadores: determinei a revogação das Portarias Colog nº 46, 60 e 61, de março de 2020, que tratam do rastreamento, identificação e marcação de armas, munições e demais produtos controlados por não se adequarem às minhas diretrizes definidas em decretos".
Muito bem! Esse tema tinha custado a exoneração, no dia 25 de março, do general de brigada Eugênio Pacelli, do Comando de Logística (Colog), responsável pela Fiscalização de Produtos Controlados — que supervisiona a produção e comercialização de armas e munições.
ESPANTOSO
É espantoso! O presidente da República demite um general por fazer a coisa certa -- que é cuidar do rastreamento de armas e munições --, metendo-se na rotina do Exército, e, como se nota, a Força engole a brasa acesa. Não! O cargo no Colog não está entre aqueles privativos da Presidência.
Pior do que tudo isso! Em reunião ministerial, revela a sua intenção de armar o povo para a guerra civil e determina que os ministros da Defesa e da Justiça aumentem a munição — SEM RASTREAMENTO —, e, como vimos, a missão foi cumprida.
Note-se o silêncio de Sérgio moro, não? Não fosse, tudo indica, o imbróglio envolvendo o diretor-geral da Polícia Federal, mais essa violência tinha passado na boa. Afinal, o ministro já se calara no caso do rastreamento.
Pergunto: se Bolsonaro não tivesse bulido com a PF, Moro teria pedido demissão ou continuaria a servir a um presidente que confessa apostar na luta armada?
Por Reinaldo Azevedo
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