No dia em que o Brasil supera em muito os mil registros de morte por dia (1.179), sendo já o terceiro país com maior número de contaminações no mundo, o presidente Jair Bolsonaro participou de uma entrevista/live com o jornalista Magno Martins, de Recife.
Sugeriu que, se a cloroquina tivesse sido usada antes, vidas teriam sido salvas. Isso é tão verdadeiro como afirmar que, se mais gente tivesse tomado chá de erva doce, o número de mortes seria menor. Trata-se de uma mentira. Associações médicas do Brasil e do mundo jamais referendaram o uso da droga. Ao contrário: o que se destaque são os efeitos colaterais nefastos.
Uma das farsas do bolsonarismo consiste em acusar os adversários de ideologizar a doença. Esta terça-feira foi muito esclarecedora nesse particular.
Na entrevista, Bolsonaro cravou mais uma frase para a história sobre a Covid-19 e a cloroquina
- "E outra: toma quem quiser. Quem não quiser não toma. Quem for de direita toma cloroquina. Quem for de esquerda toma tubaína".
Riu muito da própria piada.
Mal se dava conta de que, ao estabelecer tal paralelo, apenas distinguia, então, o suposto gosto da direita do suposto gosto da esquerda no terreno das ingestões, digamos, ideológicas. Ou por outra: de fato, no que respeita ao coronavírus e à Covid-19, ele tem razão! A cloroquina está para a direita como a tubaína está para a esquerda: são inócuas. Com a diferença de que uma delas pode matar; a outra, no máximo, engorda um pouco se consumida em excesso.
Se ele ler o parágrafo acima, tenho certeza de que não vai entender.
A propósito: o centro faz o quê contra o coronavírus? Bebe vodca, como recomenda Alexander Lukashenko, ditador da Belarus? Bem pensado, é um pouco mais responsável do que o presidente brasileiro.
O interlocutor tenta tocar adiante a amena conversa, também rindo, buscando colher uma observação sua sobre vacina. Bolsonaro julgou que estava diante de um achado genial e insistiu:
- Viu como eu sou educado?
E repetiu o gracejo, daquele seu jeito, aos soquinhos, com o devido cuidado para não esquecer a estupenda rima que acabara de sair de sua mente inquieta, com óbvios pendores para a literatura — a poesia em particular... A memória não é exatamente o seu forte.
CONCLUINDO
Se o espírito de porco baixasse em mim, eu poderia até dizer: "Isso, bolsonaristas, tomem muita cloroquina, sigam o seu líder!" Mas não o farei e, de fato, não consigo me entregar a tal torcida. Convém que a gente não se deixe contaminar pelo mal.
Nota: durante a entrevista, Bolsonaro passa várias vezes a mão no nariz, buscando, fica visível, administrar o muco, que insiste em ter vontade própria, lutando para escapar-lhe das fossas nasais. Já se tornou um clássico cumprimentá-lo com o cotovelo. Quem inaugurou a tradição foi o general Edson Leal Pujol, comandante do Exército.
Questão de prudência.
Por Reinaldo Azevedo
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