Certas ideias, por esdrúxulas, têm vocação para a morte. O armamentismo de Jair Bolsonaro, por exemplo, é uma dessas propostas que começam a morrer antes que o autor as pronuncie.
Em 22 de abril, durante a sessão de strip-tease administrativo que chamou de conselho de governo, Bolsonaro deu vida à tese segundo a qual é preciso armar o povo para evitar um golpe.
Bolsonaro enxergou o fantasma de um golpe atrás da política de isolamento social. Daí a ideia de armar o brasileiro, para que ele desafie a autoridade de governadores e prefeitos.
"Como é fácil impor uma ditadura no Brasil! Como é fácil!", disse Bolsonaro. "O povo tá dentro de casa. Por isso que eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme! Que é a garantia que não vai aparecer um filho da puta pra impor uma ditadura aqui!"
Os brasileiros enxergaram na ideia do presidente tão pouca chance de sobreviver que enviaram uma vistosa coroa de flores. Segundo o Datafolha, 72% dos patrícios rejeitam a distribuição de armas.
É como se os governados fornecessem a Bolsonaro um valioso ensinamento: em meio a uma pandemia que produz cadáveres em escala industrial, quando um hipotético presidente não tem nada a dizer, o melhor a fazer é evitar traduzir em palavras o vazio da sua precariedade.
Por Josias de Souza
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