Em 10 de março, discursando para empresários brasileiros em Miami, nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro chamou de "fantasia" o noticiário sobre o coronavírus. Decorridos dois meses e meio, o presidente americano Donald Trump proibiu a entrada de brasileiros no seu país. Fez isso porque a "fantasia" de Bolsonaro virou um flagelo do qual seu "amigo" prefere se abster.
A Casa Branca resumiu assim a decisão de Trump: "Hoje, o presidente tomou uma ação decisiva para proteger nosso país suspendendo a entrada de estrangeiros que estiveram no Brasil durante o período de 14 dias antes de buscarem entrar nos EUA. Até o dia 23 de maio de 2020, o Brasil tem 310.087 casos confirmados de Covid-19, o terceiro maior número de casos confirmados no mundo. A ação de hoje vai ajudar a garantir que estrangeiros que estiveram no Brasil não se tornem uma fonte adicional de infecções em nosso país."
O problema não é a facilidade com que Trump fechou as fronteiras para os brasileiros, mas a dificuldade do governo do Brasil para desembarcar do enredo da gripezinha sem reconhecer o vexame.
Ao comentar a decisão, o Itamaraty ignorou o negacionismo de Bolsonaro para dar razão a Trump. "A decisão do governo dos EUA baseou-se em critérios técnicos, que levam em conta uma combinação de fatores tais como os casos totais, tendências de crescimento, volume de viagens, entre outros".
Em algum momento, Bolsonaro terá de fazer algo que se pareça com uma autocrítica. Depois do discurso da "fantasia", o capitão retornou ao Brasil trazendo em sua comitiva mais de duas dezenas de contaminados. Em 15 de março, o presidente participou de manifestação em Brasília. Confraternizou com apoiadores.
Dois dias depois, em 17 de março, morria a primeira vítima do coronavírus no Brasil. Isso foi há 69 dias. Hoje, os mortos são contados em quase 23 mil. Bolsonaro faria um bem ao país e a si mesmo se aproveitasse a decisão de Trump para virar parte da solução da pandemia no Brasil.
Por Josias de Souza
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