O ministro pode ser simpático e, dizem, habilidoso. Mas, em meio à trágica tríplice crise – sanitária, econômica e social -, a ideia de Fábio Faria de ressuscitar a TV Brasil Internacional para melhorar a imagem do país no exterior beira o ultraje. Marquetagem alguma será capaz de inverter um governo que se orgulha de ser negacionista e antiglobalista, contrário a boa parte das agendas que unem a maioria das nações – da saúde ao clima, da democracia à diversidade.
As transmissões do canal internacional não têm o condão de inventar florestas diante do maior desmatamento amazônico da história, de apagar o descaso do presidente Jair Bolsonaro frente à pandemia ou de desdizer impropérios distribuídos a torto e direito contra líderes e organizações mundiais.
Ainda que com dívidas sociais insolventes, educação muito aquém de seus pares e qualidade de vida precária para boa parte de sua população, o Brasil sempre gerou expectativas positivas. Otimismo ampliado no pós-democratização, com ascensão do respeito aos direitos humanos, estabilização da moeda, redução dos índices de mortalidade e da miséria, combate à corrupção.
Imaginar que a visão sobre o Brasil ruiu por “opiniões distorcidas”, como disse Bolsonaro na última reunião do Mercosul, ou pela perseguição da esquerda global, de acordo com os fundamentalistas do presidente, é ignorância ao extremo, insulto à inteligência alheia ou má fé.
A corrosão acelerada da imagem lá fora é fruto amadurecido nos males plantados aqui dentro. Regados pela aversão ideológica aos marcos civilizatórios da sociedade moderna.
Como respeitar um país que forja dados ambientais, ameaça povos indígenas e encoraja o racismo? Que tem à frente do órgão oficial que deveria capitanear ações antirracismo um negro que nega os malefícios da escravidão e um presidente da República que, ao nomeá-lo e mantê-lo no cargo, estimula e concorda com tal acinte? Como crer em um país que desacredita na ciência?
O desdém do presidente ao vírus que infectou 11 milhões de pessoas no planeta, 10% delas no Brasil, onde já subtraiu mais de 60 mil vidas, espanta o mundo. Idolatrado por Bolsonaro, até o negacionista Donald Trump, primeiro a considerar a Covid-19 como gripezinha e a receitar a “milagrosa cloroquina”, passou a criticar o “amigo brasileiro” no combate à pandemia.
Para agravar, Bolsonaro vetou o projeto de lei que obrigava o uso de máscaras em lugares públicos, incentivando a bestice de ideologizar a proteção: esquerda usa máscara, direita não.
A TV Brasil Internacional teria de apresentar ao mundo os motivos da demissão do renomado físico Ricardo Galvão da direção do Inpe, depois de o Instituto revelar as extensões alarmantes das queimadas amazônicas. E explicar as baixarias lançadas pelo presidente brasileiro ao francês Emmanuel Macron e sua mulher, Brigitte, as boçalidades ditas sobre ONGs internacionais ou sobre Leonardo Di Caprio.
Como justificar a confissão do ministro do Meio-Ambiente de que o governo deveria aproveitar as atenções voltadas para a Covid-19 para “passar a boiada” regulatória sem que a imprensa prestasse atenção? Ou a ofensiva desrespeitosa de ministros contra o “vírus chinês”?
Além de ineficaz, a ideia de recriar a TV Brasil Internacional, extinta por Michel Temer, é um acinte para um país que precisa gastar menos e melhor. Em especial para os eleitores de Bolsonaro, que o viram pregar a liquidação da TV Brasil, conhecida como TV Lula, que come mais de meio bilhão por ano dos impostos dos cidadãos e “não serve para nada”, como dizia o então candidato do PSL.
Incluída no faz de conta da privatização bolsonarista em junho deste ano como farsa para satisfazer apoiadores, a TV Brasil, vinculada à Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), não será vendida.
Não por ser deficitária ou pela audiência zero, mas por ter caído no gosto do presidente e dos militares que o cercam, especialmente depois da união com a NBR (TV Nacional do Brasil), canal de divulgação do governo federal. O que já era desperdício no modelo TV pública se transformou em canal legalizado de propaganda estatal, com 1.700 funcionários concursados e outros 400 de livre provimento. Um maná de que dificilmente Bolsonaro abrirá mão.
A mentira não é apenas um detalhe. Até a publicidade oficial do governo é falsa, com fotos compradas em banco de imagens, cenas fajutas de obras. O presidente mentiu na campanha e continua mentindo. Para dentro e para fora. Não há propaganda que salve. Para recuperar a imagem do Brasil seria preciso mudar de governo.
Por Mary Zaidan
Como respeitar um país que forja dados ambientais, ameaça povos indígenas e encoraja o racismo? Que tem à frente do órgão oficial que deveria capitanear ações antirracismo um negro que nega os malefícios da escravidão e um presidente da República que, ao nomeá-lo e mantê-lo no cargo, estimula e concorda com tal acinte? Como crer em um país que desacredita na ciência?
O desdém do presidente ao vírus que infectou 11 milhões de pessoas no planeta, 10% delas no Brasil, onde já subtraiu mais de 60 mil vidas, espanta o mundo. Idolatrado por Bolsonaro, até o negacionista Donald Trump, primeiro a considerar a Covid-19 como gripezinha e a receitar a “milagrosa cloroquina”, passou a criticar o “amigo brasileiro” no combate à pandemia.
Para agravar, Bolsonaro vetou o projeto de lei que obrigava o uso de máscaras em lugares públicos, incentivando a bestice de ideologizar a proteção: esquerda usa máscara, direita não.
A TV Brasil Internacional teria de apresentar ao mundo os motivos da demissão do renomado físico Ricardo Galvão da direção do Inpe, depois de o Instituto revelar as extensões alarmantes das queimadas amazônicas. E explicar as baixarias lançadas pelo presidente brasileiro ao francês Emmanuel Macron e sua mulher, Brigitte, as boçalidades ditas sobre ONGs internacionais ou sobre Leonardo Di Caprio.
Como justificar a confissão do ministro do Meio-Ambiente de que o governo deveria aproveitar as atenções voltadas para a Covid-19 para “passar a boiada” regulatória sem que a imprensa prestasse atenção? Ou a ofensiva desrespeitosa de ministros contra o “vírus chinês”?
Além de ineficaz, a ideia de recriar a TV Brasil Internacional, extinta por Michel Temer, é um acinte para um país que precisa gastar menos e melhor. Em especial para os eleitores de Bolsonaro, que o viram pregar a liquidação da TV Brasil, conhecida como TV Lula, que come mais de meio bilhão por ano dos impostos dos cidadãos e “não serve para nada”, como dizia o então candidato do PSL.
Incluída no faz de conta da privatização bolsonarista em junho deste ano como farsa para satisfazer apoiadores, a TV Brasil, vinculada à Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), não será vendida.
Não por ser deficitária ou pela audiência zero, mas por ter caído no gosto do presidente e dos militares que o cercam, especialmente depois da união com a NBR (TV Nacional do Brasil), canal de divulgação do governo federal. O que já era desperdício no modelo TV pública se transformou em canal legalizado de propaganda estatal, com 1.700 funcionários concursados e outros 400 de livre provimento. Um maná de que dificilmente Bolsonaro abrirá mão.
A mentira não é apenas um detalhe. Até a publicidade oficial do governo é falsa, com fotos compradas em banco de imagens, cenas fajutas de obras. O presidente mentiu na campanha e continua mentindo. Para dentro e para fora. Não há propaganda que salve. Para recuperar a imagem do Brasil seria preciso mudar de governo.
Por Mary Zaidan
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