"Teremos três ou quatro grandes privatizações nos próximos 60 ou 90 dias", anunciou Paulo Guedes na noite de domingo (5), em entrevista à CNN Brasil. Sob uma aparência de novidade, o ministro da Economia repete um espetáculo encenado ano passado, só que piorado. É o modelo Zé Keti de privatizações.
A coisa se baseia no lema "este ano não vai ser igual àquele que passou." Todos logo percebem que o tempo das privatizações de Guedes não passa. Já passou. E o ministro reitera a lorota. Ainda não notou. Mas já não há "mais de mil palhaços no salão" dispostos a lhe dar crédito.
Em agosto do ano passado, discursando num evento em São Paulo, o ministro dissera: "Tem gente grande aí que acha que não será privatizada, mas vai entrar na faca".
No dia seguinte, o governo apresentou uma lista de 17 estatais a serem vendidas, das quais oito já estavam na vitrine. Espremendo-se a relação, sobraram nove novidades. Algumas delas —Correios, Telebrás, Serpro e Dataprev, por exemplo— desceram ao balcão sem estudos sobre o modelo de venda.
Na semana passada, o secretário de desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, anunciou que o governo deseja privatizar pelo menos 12 estatais. Citou seis logomarcas daquelas que deveriam ter sido vendidas em 2019. E informou que serão privatizadas não neste ano, mas apenas em 2021.
Quer dizer: em lances de garganta, Paulo Guedes passa na faca "três ou quatro grandes" estatais com uma facilidade inaudita. No mundo real, o ministro lida com cerca de 140 estatais federais fantasiado de canivete cego.
Neste domingo, Guedes apontou a faca para Correios, Caixa e os setores elétrico, de água e saneamento, de petróleo, de gás e de navegação de cabotagem. Esqueceu de mencionar que parte dos negócios depende de autorização do Congresso.
Antes do Carnaval de 2021, a equipe do Posto Ipiranga entoará a velha marcha: "Este ano não vai ser igual àquele que passou." E os palhaços, num uníssono cético: "Hã, hã..."
Por Josias de Souza
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