quinta-feira, 23 de julho de 2020

Bancos: proteger a Amazônia do militarismo jacu e do reacionarismo bandido


Queimada em Santo Antonio do Matupi, sul do Amazonas, em 27 de agosto do ano passado. As queimadas, neste ano, superam as do ano passado - Gabriela Biló/Estadão
Queimada em Santo Antonio do Matupi, sul do Amazonas, em 27 de agosto do ano passado.
As queimadas, neste ano, superam as do ano passado. Imagem: Gabriela Biló/Estadão

Vamos ver se os bancos conseguem, com o peso que tem o setor na economia e junto aos formadores de opinião, fazer o que a ciência, o bom senso, a decência e, por que não?, a vergonha na cara não conseguiram até agora, a saber: tirar o país da rota do desastre ambiental e impedir que venha ser alvo de graves sanções internacionais. E estamos a um passo disso.

Informa o Estadão:
Em meio à cobrança global para que o Brasil aumente seu comprometimento em relação aos temas ligados à mudança climática, os três maiores bancos privados do País, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander, lançaram um plano conjunto para promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia. A proposta inclui dez medidas, entre elas o estímulo às cadeias sustentáveis na região e a viabilização de investimentos em infraestrutura básica para o desenvolvimento social e ambiental. O cronograma prevê a implementação dos itens ainda neste ano.

Aplausos às três instituições. Que consigam, com a sua influência e sem trocadilho, oxigenar o debate. A área ambiental do governo junta três matérias tóxicas que nos empurram para o abismo:
a: incompetência pura e simples;
b: nacionalismo bocó de extração militar: são os Policarpos Quaresmas de coturno;
c: estupidez ideológica.

Há pouco a acrescentar à palavra "incompetência". O governo junta uma grei de neófitos arrogantes e deslumbrados que seguem a divisa máxima do líder, Jair Bolsonaro: este afirmou ao menos duas vezes depois de eleito que havia no país mais coisas a desfazer do que a fazer. De algum modo, cumpre o que pareceu ser um vaticínio.

O militarismo jacu vê a Amazônia como uma espécie de território a ser protegido da cobiça estrangeira. Tanto quanto teme o que chama de "internacionalização" da região, queda-se num misto de imobilismo e de incentivo irresponsável à ocupação da floresta, sem nenhum compromisso com o desenvolvimento sustentável.

Essa tacanhice vê as propostas de preservação e o trabalho de ONGs e de organismos multilaterais em defesa do meio ambiente como uma ameaça à soberania nacional. Há nessa conversa o cheiro indisfarçável dos anos da ditadura. Entregou-se o consórcio da Amazônia ao vice-presidente, general Hamilton Mourão, e os governadores da região foram alijados do debate. Não têm assento no Conselho.

Quanto à estupidez ideológica, dizer o quê? O governo Bolsonaro ainda não descobriu o capitalismo verde. Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, expressa o que pode haver de mais reacionário e atrasado no setor. A pasta fala menos ao agronegócio de ponta, que traz divisas para o Brasil, do que a madeireiros ilegais e a invasores de terras indígenas.

O país paga o preço do discurso irresponsável do candidato e do presidente Jair Bolsonaro e do desmonte dos órgãos de fiscalização — particularmente do Ibama. O centrão, que congrega boa parte da bancada ruralista, quer fazer um bem ao país? Peça a cabeça de Salles. Melhor ter na pasta a caveira de um burro ou uma motosserra, desde que desligada, do que um agente deletério, que hoje serve à difamação do país.

Informa ainda o Estadão:
Para dar prosseguimento ao planejamento, os bancos formarão um conselho de especialistas com diferentes experiências e conhecimentos sobre as questões sociais e ambientais envolvendo a Amazônia. "Este projeto une Bradesco, Itaú e Santander pelo propósito de contribuir para um mundo melhor. A ideia é que todos precisam assumir sua parcela de compromisso com as futuras gerações (...)", afirmou, em nota, o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior. (...) O presidente do Itaú Unibanco, Cândido Bracher, que há cerca de duas semanas participou de uma reunião, ao lado de um grupo de empresários, para tratar do tema com Mourão, disse, também em nota, que os bancos têm a responsabilidade "como agentes importantes do sistema financeiro" e que compartilham "as mesmas preocupações a respeito do desenvolvimento socioeconômico da Amazônia e da conservação ambiental".(...) Já o presidente do Santander, Sergio Rial, afirmou que o desafio em relação ao tema "impõe uma atuação firme e veloz a todos os atores que puderem participar da construção de um modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia. Com a união de esforços da nossa indústria, conseguiremos fazer ainda mais por essa região, que tem um valor inestimável não só para o País, mas para todo o planeta".

Mas em que os bancos podem efetivamente ajudar? A reportagem responde:
"Além do estímulo às cadeias sustentáveis na região por meio de linhas de financiamento diferenciadas e ferramentas financeiras e não financeiras e a viabilização de investimentos em infraestrutura básica para o desenvolvimento social e ambiental, o plano dos três bancos inclui o fomento de um mercado de ativos e instrumentos financeiros de lastro "verde", a atração de investimentos e promoção de parcerias para o desenvolvimento de tecnologias que impulsionem a bioeconomia e apoio para atores e lideranças locais que trabalhem em projetos de desenvolvimento socioeconômico na região.

Que assim seja. Mas há obstáculos. Enquanto Salles estiver no Meio Ambiente e Ernesto Araújo no Ministério das Relações Exteriores, a questão ambiental será sempre uma tramoia de comunistas para dominar o mundo, de que os bancos também fariam parte, já que, segundo bolsolavismo xucro, também são dominados por... perigosos esquerdistas e globalistas!!! Porta-vozes do Ocidente cristão são os desmatadores e garimpeiros ilegais de terras indígenas, não é mesmo?

O país já paga um preço alto por tamanha estupidez. Que a atuação dos três grandes bancos contribua para conter os Policarpos Quaresmas de má consciência e a pistolagem ideológica.

Por Reinaldo Azevedo

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