Ouviram-se no cercadinho do Alvorada duas expressões que definem com precisão o drama do setor educacional. Uma apoiadora do presidente disse que a Educação "está definhando no Brasil". E Bolsonaro, num rasgo de lucidez, reconheceu que "a Educação está horrível".
Percebe-se que o presidente não ignora o problema. A escolha do próximo ministro da Educação revelará se Bolsonaro deseja transformar o seu governo, finalmente, em parte da solução. Até aqui, o MEC foi o motor da encrenca.
O definhamento educacional brasileiro é coisa antiga. Não se chega a uma Educação horrível por acaso. O Brasil foi se acostumando com o descalabro. A raiz do vexame aparece sempre que surge um indicador que possa ser tomado a sério.
A última fotografia do atraso apareceu no Pisa, o programa internacional de avaliação de estudantes. O resultado mais recente saiu em dezembro do ano passado, já no governo Bolsonaro. Mas os dados se referiam ao ano de 2018, quando o presidente era Michel Temer.
Verificou-se que quatro em cada dez alunos brasileiros na faixa dos 15 anos não entendem o que leem, não sabem fazer contas básicas e não compreendem conceitos elementares de ciência. Esses indicadores estão estagnados há uma década.
Ou seja: faz dez anos que a educação do Brasil está exposta na vitrine internacional do Pisa de ponta-cabeça. Num ranking de 79 países, o teste fechado em 2018 colocou os alunos brasileiros nas 20 piores posições.
Quando esses dados foram divulgados, o ministro da Educação era Abraham Weintraub, o ruinoso. Ele disse duas coisas: 1) O Pisa de 2018, não se refere ao governo Bolsonaro. 2) A culpa é do PT e da sua "doutrinação esquerdófila". Faltou informar para onde a gestão Bolsonaro levaria a Educação. Em um ano e meio de governo, essa resposta ainda não apareceu.
O discurso da herança maldita perdeu o prazo de validade. Bolsonaro está prestes a escolher o seu quarto ministro da Educação. Precisa selecionar alguém capaz de afastar sua administração da maldição ideológica. Sob pena de consolidar seu próprio legado maldito. O governo pode ser conservador. O que não se admite é que seja tão visceralmente ineficaz.
Por Josias de Souza
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