quinta-feira, 23 de julho de 2020

O beijo, deputada Bia Kicis, é a véspera do escarro e da destituição


Deputada Bia Kicis e o despacho do presidente da República que a destitui da vice-liderança do governo na Câmara. Seu reacionarismo extremo foi premiado pelo "novo Bolsonaro" com a destituição - Reprodução; Sérgio Lima/Poder 360

O "Despacho do Presidente da República" nº 423 veio seco, árido, sem nem suspeita de afago: solicitava ao Congresso Nacional "providências para a dispensa da senhora deputada Beatriz Kicis Torrentis de Sordi da função de vice-líder no Congresso Nacional".

Trata-se da notória Bia Kicis. Não há indigência intelectual e política que este governo tenha praticado até hoje que esta senhora não tenha apoiado com folga e com sobra. Por ela, Bolsonaro seria ainda mais reacionário, mais truculento, mais agressivo.

Ganhou relevo quando Joice Hassellmann (PSL-SP) caiu em desgraça junto ao bolsonarismo — a propósito: estaria em curso um movimento de reaproximação, sei lá... Kicis apoiou os atos dos golpistas em Brasília, endossou a tresloucada cruzada do presidente contra o distanciamento social, costuma inflamar as redes contra o Supremo...

Em suma: parece ter se descoberto mais bolsonarista do que Bolsonaro.

Mas deveria ler Augusto dos Anjos e ter aprendido alguma coisa com a trajetória de Joice, sua colega de bancada: "O beijo, amigo, é a véspera do escarro".

O governo, como escrevi aqui ontem, tentou resistir ao Fundeb. Arthur Lira (AL), líder do PP, lutou para obstruir o quanto pôde a votação a serviço do Planalto. Bolsonaro está em plena fase de aquisição de parlamentares do centrão. Ocorre que o grupo só é o que é porque nunca foi burro. Governista, sim, sempre que possível. Contra a educação, com o risco de gerar uma paralisia num setor que já vive uma realidade dramática, aí não.

Paulo Guedes também tentou emplacar alguns reacionarismos. Não deu certo. Quando viu que iria perder, o governo, então, resolveu negociar e apoiar o texto. Reacionários e oportunistas, sim, mas espertalhões o bastante, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Carla Zambrelli (PSL), por exemplo, votaram a favor da PEC.

Mas um grupo de sete bolsonaristas mais ogros do que o ogro-rei decidiu dizer "não": além de Bia, contam-se Márcio Labre (PSL-RJ), Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (PSL-SP), Júnio Amaral (PSL-MG), Filipe Barros (PSL-PR), Chris Tonietto (PSL-RJ) e Paulo Martins (PSC-PR).

Falando cada vez a menos gente no gargarejo às portas do Alvorada, o presidente afirmou:
"Seis ou sete votaram contra. Se votaram contra, eles devem ter os seus motivos. Só perguntar para eles por que votaram contra. Agora, alguns dizem que a minha bancada votou contra. A minha bancada não tem seis ou sete, não. A minha bancada é bem maior do que essa aí".

Vale dizer: a turma decidiu não ceder e não acompanhou o governo na mudança de posição.

Grandes Varões e varoa de Plutarco! Se é para dar mais dinheiro para a Educação, eles dizem " não" ainda que Bolsonaro mande dizer "sim". Quando era para dar apoio a atos golpistas, aí o presidente nem precisava pedir.

E veio a destituição de Kicis.

O beijo, senhora, é a véspera do escarro.

Por Reinaldo Azevedo

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