Está evidente que o governo enfrenta um incêndio na área ambiental e um apagão no setor da saúde. Os flagelos têm nome e sobrenome. Convencionou-se chamá-los de Ricardo Salles e Eduardo Pazuello. Se fosse verdade, a solução seria simples. Com um movimento de caneta, a gestão do ministro antiambiental seria cortada pela raiz. Com outro, o general que comanda a intervenção militar na pasta da Saúde seria devolvido ao quartel. O diabo é que estão todos equivocados. Chama-se Jair Bolsonaro o verdadeiro problema.
Outros presidentes precisavam tourear opositores. Como a oposição briga consigo mesma, Bolsonaro administra autocrises. Ele fabrica seus próprios tropeços. Na tradicional live de quinta-feira, o presidente declarou que Salles e Pazuello permanecem nos respectivos cargos. Seria uma injustiça a atribuir à dupla todas as mazelas ambientais e sanitárias. Está entendido que Bolsonaro acumula as funções de presidente com as atribuições de ministro do Meio Ambiente e da Saúde.
Salles foi escalado para "passar a boiada". Mas é Bolsonaro quem indica os bois. Pazuello explica para Gilmar Mendes, pelo telefone, as omissões do governo na crise sanitária. Mas é o presidente quem determina que Brasília se abstenha de articular com governadores e prefeitos um comitê nacional de gerenciamento da pandemia.
Ao prestigiar Salles, Bolsonaro esvazia o esforço do vice-presidente Hamilton Mourão para convencer investidores de que o Brasil leva a sério a preservação do Meio Ambiente. Ao manter Pazuello, o presidente gruda na imagem das Forças Armadas os mortos da Covid-19. Mas de uma coisa Bolsonaro não se livra: o rosto do presidente é a cara da crise.
Por Josias de Souza
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