A sucessão de 2022 ainda é um ponto longínquo no calendário. Pesquisas eleitorais feitas com muita antecedência servem apenas como sinalização de tendências. Assim deve ser lida a sondagem do instituto Paraná Pesquisas, divulgada pela revista Veja. Revela que, se a eleição presidencial fosse hoje, Jair Bolsonaro e Sergio Moro teriam boas chances de disputar um segundo turno.
No cenário mais provável, o presidente tem 29% das preferências do eleitorado. O ex-ministro ficou com 17,1%. Fernando Haddad, Ciro Gomes, Luciano Huck, João Amoêdo, João Doria, Guilherme Boulos e Wilson Wietzel têm, juntos, 38,9%. Esse percentual, somado ao total dos que dizem não ter nenhum candidato ou não sabem em quem vão votar, vai a 53,8%. Significa dizer que mais da metade do eleitorado estaria disponível num segundo turno.
Quais são as duas sinalizações mais fortes da pesquisa? A primeira delas é a capacidade de Bolsonaro de resistir à tempestade que despeja raios e trovões sobre a conjuntura política e econômica. O vale-vírus de R$ 600 tem grande papel nisso. A segunda sinalização é o desejo de parte do eleitorado de despolarizar a próxima sucessão presidencial, colocando alguém no meio da briga entre o bolsonarismo e o petismo. No momento, a principal ameaça à reeleição de Bolsonaro não é o PT, mas o ex-juiz da Lava Jato.
Num hipotético segundo turno entre Bolsonaro e Moro, o presidente largaria com 44,7% das preferências, 9,7 pontos percentuais à frente do seu ex-ministro da Justiça, que aparece com 35%. Os dois iriam disputar aqueles 53,8% dos votos despejados nas candidaturas que ficariam para trás no primeiro turno.
Nesse ponto, Bolsonaro teria de lidar com a rejeição ao seu nome. Segundo a pesquisa, 48,1% dos brasileiros desaprovam a gestão de Bolsonaro. Ou seja: o presidente teria que molhar a camisa para evitar que Moro fosse beneficiado pelo voto útil —aquele voto que o eleitor dá a um candidato não por gostar dele, mas para evitar a vitória do outro.
Isso explica porque Sergio Moro tem sido tão atacado pelos bolsonaristas. Chamam-no de "traidor". Hoje, interessa a Bolsonaro restabelecer a polarização com o PT. De resto, é preciso levar em conta um ator que terá papel muito relevante na próxima eleição: o doutor imponderável.
A influência do imponderável vai depender, por exemplo, da dimensão da crise econômica e dos movimentos da língua de Fabrício Queiroz. Ou da disposição do eleitor de centro para acreditar na veracidade desse Bolsonaro light que está em cena e na capacidade de Moro de lidar com problemas que extrapolem a pauta judicial de combate à corrupção. Muita água passará por baixo dessa ponte.
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