quinta-feira, 2 de julho de 2020

Exausto da realidade, Bolsonaro cria país fictício



Jair Bolsonaro divulgou nas redes sociais um vídeo criado para falar bem de si mesmo e do seu governo. Na peça, brasileiros de aparência ordinária conversam por telefone com um presidente extraordinário sobre um Brasil pujante, repleto de obras e realizações. Quem assistiu ficou tentado a pedir para viver no país extraordinário do vídeo, seja ele onde for.

Antes que uma multidão se aglomerasse defronte do Planalto para exigir a localização do Éden, descobriu-se que os diálogos eram falsos. As fotos dos supostos interlocutores do presidente estão disponíveis, a preços módicos, num conhecido banco de imagens.
Um dos retratos, vendido por R$ 45, exibe uma "mulher idosa feliz", que na conversa com Bolsonaro foi identificada como "dona Maria Eulina", da cidade pernambucana de Penaforte.

Outra fotografia, baixada gratuitamente do banco de imagens como "trabalhador" com uma "fábrica ao fundo", virou na conversa com o presidente "Francisco Valmar", do município potiguar de Parnamirim. A mesma imagem havia estrelado outra propaganda oficial.

Pilhado no contrapé, Bolsonaro mandou retirar o vídeo de suas redes sociais. A assessoria do Planalto divulgou nota para informar que o vídeo não passa de "uma peça piloto inacabada que não deverá ser veiculada, não possuindo, portanto, caráter oficial." Hã, hã.

A lambança foi encenada num dia em que Bolsonaro queixou-se do projeto de lei sobre fake news, que criminaliza notícias falsas. Já passou no Senado. Se vingar na Câmara, restará o veto, ameaçou o presidente.

"A fim de sanar qualquer tipo de distorção dos fatos, o vídeo foi retirado do ar", informou a assessoria do Planalto. Ah, bom! Numa hora dessas, gastar dinheiro com a construção de um Brasil hipotético presidido por um estadista presumido é uma variante do velho hábito de jogar o suor do contribuinte pela janela.

Por Josias de Souza

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