Bolsonaro conquistou na sua viagem internacional o que desejava: imagens para usar na campanha à reeleição. A constatação conduz a uma interrogação: Qual será o efeito político desse material? Convidado a responder, um líder do centrão com acesso ao gabinete presidencial foi sucinto:
"O presidente não precisaria ter levado Carlos Bolsonaro e o celular dele para a Rússia e a Hungria. Do ponto de vista estritamente eleitoral, a imagem de Bolsonaro tomando uma dose de vacina no Brasil seria muito mais eficaz do que duas fotos com Vladimir Putin e Viktor Orbán".
Depois de deixar a Rússia sem celebrar nenhum acordo formal, Bolsonaro foi à Hungria, uma espécie de Eurodisney ideológica do bolsonarismo. Ali, o objetivo é fazer pose ao lado do premiê húngaro Viktor Orbán, autocrata de estimação da extrema-direita.
Bolsonaro prestigia um personagem que se define como um líder político iliberal, controla o Parlamento, aparelha o Judiciário, censura a imprensa, persegue opositores e briga com democracias europeias, que o acusam de violar princípios democráticos.
Esse Bolsonaro que fornece material para memes nas redes sociais ao estimular a piada de que Putin reduziu a presença militar na fronteira com a Ucrânia, "coincidência ou não", durante sua agenda na Rússia e que visita um líder tóxico em Budapeste com a animação de uma criança que encontra Mickey Mouse pode ser um mito para os seus convertidos. Mas o passeio internacional não seduz o eleitorado de fora do cercadinho. Daí a percepção do líder do centrão de que uma rendição de Bolsonaro à vacina teria maior eficácia eleitoral.
Por Josias de Souza
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