quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Cultor da raiva, capitão pede juízo e responsabilidade ao repudiar nazismo



Sem pressa, Bolsonaro foi o último presidenciável a se manifestar sobre o caso de apologia ao nazismo. Levou às redes sociais uma postagem ponderada: "A ideologia nazista deve ser repudiada de forma irrestrita e permanente, sem ressalvas...". Pediu tratamento análogo para o comunismo. Recomendou moderação: "Tenhamos mais juízo e responsabilidade." Quem leu teve a impressão de que Bolsonaro, cultor da raiva e fabricante de crises, estava completamente fora de si.

O nazismo voltou ao noticiário depois que um youtuber "bêbado" defendeu, com o assentimento de um deputado "mal interpretado", a existência de um partido nazista no Brasil. Esse tipo de manifestação constitui crime. Dados oficiais revelam que a maluquice, além de não ser pontal, cresceu nos três anos da Presidência de Bolsonaro.

A Polícia Federal abriu 51 inquéritos para apurar manifestações elogiosas ao nazismo entre janeiro e outubro do ano passado. Em 2020, abriram-se 110 inquéritos. Em 2019, foram 69. Esses números, divulgados pelo Globo, superam a marca registrada entre 2010 e 2018, quando a PF abria uma média de 12 investigações do gênero por ano.

O fenômeno não ocorre por acaso. Sob Bolsonaro, os apologistas do nazismo enxergaram estímulos em Brasília. Roberto Alvim, um secretário de Cultura do capitão, ecoou num pronunciamento oficial palavras de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler. Bolsonaro recebeu em audiência no Planalto uma deputada ultradireitista alemã, Beatrix von Storch, neta do ministro das Finanças de Hitler. Filipe Martins, assessor da Presidência, foi filmado no plenário do Senado fazendo um gesto dos supremacistas brancos.

Quando analisados em conjunto, esses fatos revelam que a democracia brasileira adoeceu. Uma das tarefas do próximo governo será desintoxicar a atmosfera. Palavras bonitas escritas por algum assessor e postadas nas redes sociais não farão de Bolsonaro uma solução. Ele é parte do problema.

Por Josias de Souza

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