Apenas quatro dias depois de Bolsonaro ter desafiado a autoridade de Alexandre de Moraes, abstendo-se de cumprir ordem judicial para depor à Polícia Federal, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, discursou na sessão virtual que marcou o início do ano do Judiciário. Embora a instituição que comanda esteja novamente sob ataque, Fux evitou confrontar-se com o capitão. Falou de "estabilidade" e "tolerância".
Bolsonaro deixou de ser um presidente imprevisível. Tornou-se um personagem tristemente previsível. Oferece a quem o observa a mesma vantagem das esculturas. Com seus propósitos petrificados, o presidente não pega ninguém desprevenido. Sabe-se de antemão que ele vive da crise, pela crise e para a crise.
A alturas tantas, Fux soou como se vivesse num país paralelo: "Este Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição, concita os brasileiros para que o ano eleitoral seja marcado pela estabilidade e pela tolerância, porquanto não há mais espaços para ações contra o regime democrático e para violência contra as instituições públicas."
Foi como se Fux mostrasse os dentes no pressuposto de que Arthur Lira ou Augusto Aras pudessem morder Bolsonaro, desengavetando um pedido de impeachment ou providenciando uma denúncia criminal. Ingenuidade. Impune, o capitão leva adiante o plano de reviver no Brasil a pantomima encenada por Donald Trump nos Estados Unidos.
Por trás dos ataques a Moraes, futuro presidente do TSE, e da desqualificação das urnas há o projeto de causar tumulto. Bolsonaro não implica com o sistema eleitoral eletrônico. Sua implicância, como a de Trump, é com a perspectiva da derrota. O Judiciário demora a desmontar o palco. No discurso desta terça-feira, Luiz Fux reagiu aos movimentos da estátua do Planalto com o pior tipo de excesso: o excesso de moderação.
Por Josias de Souza
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