Pela lei, a realização de comícios e a propaganda eleitoral na internet só serão permitidas daqui a seis meses, em 16 de agosto. Mas Bolsonaro intensificou sua campanha. Viola a legislação em três frentes. Numa, converte hipotéticas inaugurações em eventos eleitorais. Noutra, utiliza a estrutura da Presidência para cumprir sua agenda de candidato. De resto, espalha propaganda nas redes sociais. A difusão ocorre nos perfis do próprio Bolsonaro, dos seus filhos, de ministros e de aliados.
A viagem de Bolsonaro ao Nordeste escancarou a atmosfera de campanha extemporânea. A pretexto de "inaugurar" trechos da transposição das águas do Rio São Francisco, uma obra que permanece inacabada há quatro governos, Bolsonaro xingou adversários em comícios, desfilou suas pretensões eleitorais em cima da carroceria de caminhonetes, posou para fotos e liderou uma "jeguiata".
Membro da comitiva de Bolsonaro, o ministro Fábio Faria (Comunicações) levou às redes sociais um videoclipe estrelado por Bolsonaro. Nele, ouve-se um jingle que apresenta o capitão como salvador do Nordeste. "Obrigado, meu querido presidente, pela água que o senhor mandou pra gente", entoa o cantor, em ritmo de forró. "Pra brotar água, leite, pão e mel precisava um Messias pra fazer..." O primogênito Flávio Bolsonaro repostou o clipe. Foi imitado por outros parlamentares bolsonaristas.
Chamado de "pau de arara" e "cabeça chata" por Bolsonaro, o nordestino ainda não enxergou o salvador que se esconde atrás do candidato. No Nordeste, segundo o Datafolha, a taxa de reprovação do governo é de 58%. E a aversão eleitoral a Bolsonaro bate em 67%. Quase sete em cada dez "cabras da peste" rejeitam a ideia votar no capitão.Nesta quarta-feira, num dos comícios travestidos de atos oficiais de governo, o ex-senador Magno Malta (PL-ES) dirigiu à plateia um pedido explícito de voto. Algo expressamente vedado pela legislação eleitoral. "Precisamos reconduzir esse homem ao poder, à reeleição", declarou Malta, tendo Bolsonaro do seu lado. "Depois dele, outro conservador e depois outro conservador."
Em dois dias, Bolsonaro percorreu quatro estados do Nordeste, reduto de Lula. Antes de viajar, disse no cercadinho do Alvorada que só a despesa a ser lançada nos cartões corporativos da Presidência durante a viagem ficaria em algo como R$ 300 mil.
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