Inquilino do Planalto por dois mandatos, o tucano Fernando Henrique Cardoso aprecia uma analogia que diz ter ouvido do líder socialista da Espanha Felipe González: "Ex-presidentes são como vasos chineses. Todo mundo acha lindo. Mas ninguém sabe onde colocar." Dilma Rousseff vive a síndrome do vaso chinês. Em campanha pelo terceiro mandato, Lula não sabe onde colocar sua criatura.
Num instante em que o ex-ministro petista Guido Mantega prepara, por encomenda de Lula, um documento com antídotos para combater o veneno que os adversários recolhem nas ruínas da gestão Dilma, a ex-gerentona foi às redes sociais. Escreveu: "Não me sinto isolada pelo PT." Esclareceu: "Não sou candidata a nenhum cargo."
A primeira afirmação indica que Dilma não perdeu o otimismo. Decerto avalia que Lula logo colocará o seu vaso chinês na sala de visitas da campanha presidencial. A segunda declaração sinaliza que madame conserva um pingo de juízo. Em 2018, ralou numa candidatura ao Senado por Minas Gerais. Obteve um constrangedor quarto lugar.
Dilma deveria observar o caso tucano. O PSDB demorou a retirar FHC do armário. O tucanato só redescobriu o seu líder depois que amargou três derrotas para o PT. Quando fez aniversário de 81 anos, em 2012, o 'vaso' tucano voltou para o centro do ninho. Hoje, aos 90, recebe o tratamento que costuma ser dispensado aos sábios da tribo. No seu caso, uma tribo à beira da acefalia.
Como de hábito, Dilma atribui seus dissabores à imprensa, não a si mesma ou ao seu criador. "Não adianta quererem fazer intriga entre mim e o presidente Lula", anotou. "Nossa relação de confiança já foi testada inúmeras vezes e é inabalável."
Tanta "confiança" ajuda a explicar a "inabalável" resistência com que o vaso petista assiste às articulações de Lula para enfiar o ex-tucano Geraldo Alckmin em sua chapa, agendar novo encontro com FHC e trazer de volta para a caravana petista ex-golpistas do porte de Renan Calheiros.
Por Josias de Souza
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