quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Bolsonaro ataca juízes para preparar um tumulto



Aproveitando-se de uma declaração inadequada de Edson Fachin, Bolsonaro fez novo ataque ao Judiciário. Declarou que Fachin, Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso se comportam "como adolescentes" e atuam com o deliberado propósito de prejudicar sua candidatura à reeleição para favorecer a vitória de Lula. A nova investida potencializa a impressão de que Bolsonaro se comporta como delinquente. Com o mandado ameaçado, prepara uma confusão.

Fachin havia manifestado preocupação com ataques cibernéticos. Declarou que "a Justiça Eleitoral já pode estar sob ataque de hackers, inclusive de países como a Rússia, que reluta em "sancionar os cibercriminosos que buscam destruir a reputação da Justiça Eleitoral e aniquilar com a democracia".

As declarações chegaram a Bolsonaro quando ele visitava Moscou. E o presidente vestiu a carapuça. Acusou Fachin de produzir "fake news". "Não é verdade que eu estou na Rússia para programar um ataque 'hacker' aos computadores do TSE", disse Bolsonaro, defendendo-se de uma acusação que o ministro não fez.

Bolsonaro poderia ter feito uma crítica pertinente a Fachin, que assumirá a presidência do TSE na próxima semana. Bastaria perguntar o seguinte: Se Fachin acha que a Justiça Eleitoral já pode estar sob ataque de hackers, por que não requisitou abertura de inquérito à Policia Federal?

Em vez de levantar o questionamento justificável, Bolsonaro preferiu deturpar o comentário do ministro para reiterar que Fachin, Barroso e Moraes agem com o objetivo de desgastá-lo. Bolsonaro disse que os três magistrados "têm partido político." Por isso, "não querem o Bolsonaro lá e querem o outro, que esteve há pouco tempo no xadrez."

Por trás dos reiterados ataques de Bolsonaro aos ministros do TSE e do Supremo há o projeto de causar tumulto. O candidato à reeleição não implica com magistrados ou com as urnas. Sua implicância é com a perspectiva de derrota.

Diante do risco de insucesso, Bolsonaro arma o cenário para questionar o resultado das urnas, acusando os presidentes do TSE —o ex, o atual e o futuro— de participar de uma hipotética fraude. A balbúrdia não impedirá a troca de comando em caso de eventual derrota de Bolsonaro. Mas não ajudará a curar o surto de ódio que envenena o Brasil.

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