Tornou-se impossível distinguir o presidente do candidato à reeleição. A sete meses da eleição, criou-se no Planalto uma situação do tipo Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Nessa versão eleitoral do enredo do médico e o monstro, o candidato ocupa o corpo do presidente e usa a máquina administrativa e seus cofres indiscriminadamente. É nesse contexto que se insere a intenção do governo, revelada por Paulo Guedes, de liberar cerca de R$ 20 bilhões do FGTS para que 40 milhões de eleitores endividados paguem as suas dívidas. O esforço para vitaminar Bolsonaro nas pesquisas eleitorais inclui outras medidas.
O governo prepara para depois do Carnaval o anúncio de pacote de crédito de R$ 100 bilhões para pequenas e médias empresas. Vem aí redução de 25% do IPI para estimular a compra de bens como geladeiras e máquina de lavar. Começam a ser renegociadas em 7 de março as dívidas de 1,2 milhão de estudantes encalacrados no Fies, o fundo de financiamento estudantil do MEC. Juntos, devem R$ 38,6 bilhões.
Estuda-se a concessão de um reajuste linear de R$ 400 para todos os servidores federais. Viria na forma de auxílio refeição. O custo para o Tesouro seria de R$ 5 bilhões. Encontra-se sobre a mesa também a ideia de enviar ao Congresso proposta de empréstimo consignado do Auxílio Brasil. Se aprovado, os brasileiros miseráveis que recebem socorro mensal de R$ 400 seriam autorizados a contrair empréstimos com desconto automático no benefício.
O populismo do governo é proporcional ao desafio eleitoral de Bolsonaro. A estratégia traz as digitais do centrão. Os caciques do grupo se esforçam para transferir os holofotes da língua tóxica de Bolsonaro para a caneta do presidente. Animados com o favoritismo de Lula, petistas e aliados desdenham das chances do rival. Mas Bolsonaro está decidido a vender caro a sua derrota. Até porque não é ele quem paga a conta.
Por Josias de Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário