Seis pré-postulantes à Presidência da República resolveram assinar um manifesto conjunto em defesa da democracia. Cinco deles têm inequívoca proximidade ideológica: os tucanos Eduardo Leite e João Dória, João Amoedo (Novo), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Luciano Huck (sem partido).
Aquele que aparece encimando a lista em razão da ordem alfabética, no entanto, fala uma língua econômica bastante distinta dos demais: Ciro Gomes (PDT). Também é o único que anunciou voto em Fernando Haddad em 2018. Os outros preferiram Jair Bolsonaro — Huck não chegou a ser claro, mas acho que não deu para esconder.
Quem agitou a turma foi Mandetta. O texto, claro!, tem como primeiro alvo os desatinos golpistas do presidente. Vejam a íntegra ao pé deste artigo. Há mais do que um simbolismo vago no fato de que tenha vindo à luz no dia 31 de março com o título "Manifesto pela Consciência Democrática". Trata-se de um repúdio ao golpismo. O ex-presidente Lula, no entanto, não foi convidado. Logo, há mais na inciativa do que simplesmente repulsa à truculência de Bolsonaro.
O manifesto é essencialmente correto e sugiro apenas que se troque a palavra "intimidamento" por "intimidação". O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa não reconhece essa variante.
O ressurgimento de um Lula elegível no cenário político força, desde já, uma reacomodação daqueles nomes que transitavam entre a direita-democrática e o centro. Repetir a fragmentação de 2018 anuncia o encontro com a irrelevância eleitoral. Ciro, por sua vez, vem tentando uma articulação com o PSB, mas com os olhos voltados à sua direita. Viu facilitada a interlocução com o campo mais centrista e conservador.
Obviamente, é cedo para dizer que esse grupo estará unido em torno de um nome. Mas parece que a eventual possibilidade da polarização entre Lula e Bolsonaro pode forçar uma nova estratégia: em vez de buscar tirar o petista do Segundo Turno, pode-se tentar ampliar o leque de alianças da direita democrática à centro-esquerda para tentar excluir o dito "Mito" do embate final.
Ciro foi o entrevistado do "Ziriguidum de Demori e Reinaldo" no dia 9 de março, no ClubHouse. Edson Fachin tinha anulado as condenações de Lula no dia anterior. Indagado se o fato lhe abria uma janela de oportunidades para alianças no terreno mais centrista e conservador, o pedetista respondeu cantarolando Roberto Carlos: "Esse cara sou eu".
Se esse ajuntamento dá samba ou não, bem, é impossível dizê-lo agora. Por ora, o manifesto parece traduzir o entendimento de que, cada um por sua conta, terminam todos esturricados ao sol, na praia.
Ah, sim: Sergio Moro foi convidado, mas alegou que o contrato com a empresa de que é sócio — a americana Alvarez & Marsal — o impede de manifestações do gênero. Melhor assim, né? Ou o manifesto já nasceria desacreditado.
Leiam a íntegra do texto.
Manifesto pela Consciência Democrática
Muitos brasileiros foram às ruas e lutaram pela reconquista da Democracia na década de 1980. O movimento "Diretas Já", uniu diferentes forças políticas no mesmo palanque, possibilitou a eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República, a volta das eleições diretas para o Executivo e o Legislativo e promulgação da Constituição Cidadã de 1988. Três décadas depois, a Democracia brasileira é ameaçada.
A conquista do Brasil sonhado por cada um de nós não pode prescindir da Democracia. Ela é nosso legado, nosso chão, nosso farol. Cabe a cada um de nós defendê-la e lutar por seus princípios e valores.
Não há Democracia sem Constituição. Não há liberdade sem justiça. Não há igualdade sem respeito. Não há prosperidade sem solidariedade.
A Democracia é o melhor dos sistemas políticos que a humanidade foi capaz de criar. Liberdade de expressão, respeito aos direitos individuais, justiça para todos, direito ao voto e ao protesto. Tudo isso só acontece em regimes democráticos. Fora da Democracia o que existe é o excesso, o abuso, a transgressão, o intimidamento, a ameaça e a submissão arbitrária do indivíduo ao Estado.
Exemplos não faltam para nos mostrar que o autoritarismo pode emergir das sombras, sempre que as sociedades se descuidam e silenciam na defesa dos valores democráticos.
Homens e mulheres desse país que apreciam a LIBERDADE, sejam civis ou militares, independentemente de filiação partidária, cor, religião, gênero e origem, devem estar unidos pela defesa da CONSCIÊNCIA DEMOCRÁTICA. Vamos defender o Brasil.
Ciro Gomes,
Eduardo Leite,
João Amoêdo,
João Doria,
Luiz Henrique Mandetta,
Luciano Huck.
Por Reinaldo Azevedo
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