quinta-feira, 8 de abril de 2021

Em Chapecó, o Bolsonaro negacionista, com um salve a Conká: peça "vistas"


Bolsonaro à frente de um painel mentiroso em Chapecó: cidade não está vencendo a Covid-19 e tem uma taxa de mortalidade pela doença 54% superior à média do país Imagem: Alan Santos/PR

O presidente Jair Bolsonaro começou o dia, nesta quarta, em Chapecó, em Santa Catarina, e terminou em São Paulo, num jantar com empresários — num momento específico, foi aplaudido (leia post). Na parte da manhã, foi prestigiar o prefeito João Rodrigues (PSD), que incentiva o uso do kit de drogas inúteis (mas n ão inócuas) para Covid-19, conforme a predileção de Bolsonaro. Aproveitou ainda para tentar pautar Kássio Nunes Marques, o Kássio Conká. Não custa lembrar: a cidade está com 100% dos leitos de UTI ocupados e conta com 243 mortos por 100 mil habitantes —a média, no país, é 157,7.

Vamos com um pouco de matemática? Chapecó virou a cidade dos sonhos do digníssimo mandatário. O prefeito ignora o distanciamento social e enfia cloroquina na turma. A mortalidade, como se nota, é 54% superior à média nacional. Projetado esse número para todo o país, fosse uma constante, em vez dos já estupefacientes 340.776 mortos (números do Ministério da Saúde), o país contaria, no mínimo, com 524.792. Sim, é provável que o morticínio fosse muito maior porque é preciso pensar nas circunstâncias das grandes cidades, com imensas populações em moradias inadequadas, o que impede um distanciamento social mínimo.

De toda sorte, que fique claro: se o resto do Brasil matasse como Chapecó, a cidade-modelo do presidente, os cemitérios estariam fazendo covas coletivas país afora. Mas esse é o modelo de que ele gosta. Esse é o modelo que ele quer. Na cidade catarinense, falou bem de si mesmo e do seu governo, atacou o lockdown — que não existe —; assegurou que tudo seria pior com o PT no poder e voltou a dizer que "o nosso Exército" não vai impor medidas restritivas.

Essa fala, diga-se, traz o lado oculto, mas não misterioso, de suas perorações. Estados não precisam do Exército para impor medidas restritivas. Nos casos extremos, as Polícias Militares dão conta do recado. Sempre que fala no Exército, Bolsonaro está pensando num cenário de confronto da população com a Polícia, que fugisse do controle. Nesses casos, a Constituição prevê o auxílio das Forças Armadas na Segurança Pública.

Ocorre que isso não está no horizonte. Eis o busílis. Parece que o presidente sonha com isso. O despropósito é tal que o novo ministro da Justiça, o delegado Anderson Torres, falou em usar "forças de segurança" — não disse quais — para garantir o direito de ir e vir. Mais uma vez, como se vê, há o aceno para o confronto.

KÁSSIO CONKÁ
O presidente parece estar mesmo certo de que basta mandar -- ou sugerir --, e Kássio obedece.

O Supremo começou a votar nesta quarta a ADPF movida pelo PSD contra o decreto que proíbe, por enquanto, o funcionamento de templos religiosos em São Paulo.

Pois acreditem: lá de Chapecó, o presidente mandou um recado para o "seu" ministro. Disse esperar que alguém peça "vistas" (sic) — quem será? — para que se tenha mais tempo de decidir a questão.

A fala do presidente foi lida por seus seguidores como uma senha para Kássio Conká — que, em tese ao menos, vota nesta quinta.

Por Reinaldo Azevedo

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