A CPI da Covid entrou na rotina do governo Bolsonaro na forma de uma versão virótica da célebre Lei de Murphy: "Quando uma coisa pode dar errado, ela dará errado."
Quando Randolfe Rodrigues começou a coletar assinaturas para um pedido de CPI sobre a pandemia, o Planalto imaginou que o senador não alcançaria o número regimental de 27 apoiadores. Ultrapassou.
Avaliou-se que certos senadores não resistiriam ao a$$édio do Planalto para retirar as rubricas do requerimento. Resistiram.
O Supremo não ousaria arrancar a CPI da gaveta de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado. Arrancou.
Aconteceu o que Bolsonaro, com seus 27 anos de janela parlamentar, imaginava ser impossível. E continua acontecendo.
Num instante em que Bolsonaro imaginava que esvaziaria o interesse pela CPI jogando governadores, prefeitos e togas no ventilador, alguns dos principais pajés do Senado esboçam uma reação conjunta.
Dos 11 senadores que compõem a bancada da CPI como titulares, apenas quatro têm viés governista. Os demais tramam a constituição de um G7 cujo principal propósito será servir a Bolsonaro o pão que o coronavírus amassou.
Estreitam inimizades e aproximam diferenças em nome do objetivo comum de infernizar Bolsonaro: Renan Calheiros (MDB-AL), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Eduardo Braga (MDB-AM), Omar Aziz (PSD-AM), Otto Alencar (PSD-BA), Humberto Costa (PT-PE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
A turma do G7 está pintada para a guerra. Para desassossego de Bolsonaro, solidifica-se a perspectiva de Renan Calheiros ser acomodado na poltrona de relator, a função mais relevante de uma CPI.
Na definição do tucano Tasso Jereissati, a CPI sobre a pandemia é "a mais importante da história".
O Planalto providencia dossiês com os "podres" dos seus rivais. Considerando-se que o principal soldado do Planalto na CPI é Ciro Nogueira (PP-PI), expoente do centrão, o governo se arrisca a bater bumbo sob um imenso telhado de vidro.
Numa conversa telefônica com um membro do G7, um dos generais de pijama que comandam escrivaninhas no Planalto perguntou na noite de quarta-feira: "Acha que o presidente Bolsonaro precisa mesmo se preocupar com essa CPI?"
E o senador, caprichando na ironia: "Acho que não, a menos que Bolsonaro tenha cometido algum erro na condução da pandemia."
Por Josias de Souza
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