quarta-feira, 28 de abril de 2021

"Na universidade pública, há maconha e sexo para crianças"



O ministro Paulo Guedes, da Economia, estava inspirado nesta terça. Ele resolveu atacar a China, diminuir os investimentos no SUS, mandando o pobre para o Einstein com um voucher, e, para demonstrar que tem horizontes largos, refletir também sobre a educação pública.

Sobre esse último setor, afirmou:
"Hoje 77% dos jovens em universidades brasileiras estão no setor privado. O setor público não tinha capacidade de acompanhar o ritmo".

E como o doutor enxerga as universidades públicas?

Serviriam apenas para ensinar Paulo Freire e "sexo para crianças de cinco anos". Apontou ainda a circulação livre de drogas nessas instituições.

Qualquer semelhança com o discurso da extrema direita bolsonarista não é mera coincidência. E, como se sabe, o ministro tentou acabar também com as verbas constitucionalmente definidas para a Educação.

Não tenho, obviamente, nada contra a existência de um sistema privado de ensino superior. Desde que preste. Aliás, o ProUni é, à sua maneira, uma espécie de voucher para a educação, certo? A questão é saber que tipo de ensino prosperou nesse tempo. Mas isso fica para outro artigo. O ponto aqui é outro.

Essa fixação em Paulo Freire é fruto apenas da mais arrematada ignorância. Duvido que Guedes saiba sobre o quê e sobre quem está falando.

A propósito: que instituição promove sexo para crianças de cinco anos? O ministro está obrigado a dizer para que se tomem as devidas providências. Recomendo que se mantenham livros de Freud longe de Guedes, ou ele manda chamar a polícia. Numa leitura muito "guediana", é possível sustentar que "aquele cara" trata do sexo dos bebês...

DESEMPENHO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS
Saibam: 90% da produção científica das universidades vêm das instituições públicas -- 15 delas respondem por 60% do total, e a USP sozinha, por 20%. Um outro ranking de pesquisa científica, este elaborado pela Folha, aponta que há apenas 4 universidades privadas entre as cinquenta que mais produzem pesquisa científica. Caso se levem em conta as 100 primeiras, há apenas 26 que não são públicas -- entre estas, a maioria é ligada à Igreja Católica.

Entre 2013 e 2018, apesar de tudo, o Brasil ficou em 13º lugar entre os países que mais publicaram trabalhos científicos. Os dados são da empresa Clarivate Analytics.

Um ministro que estivesse interessado em construir alternativas — não em destruir o que se tem, a exemplo de seu chefe — estaria pensando maneiras de aproximar ainda mais as universidades e as empresas para aumentar as fontes de financiamento do ensino público.

A afirmação é uma generalização estúpida e irresponsável, própria de quem, não sabendo para onde vai nem o que fazer, prefere a depredação.

Ademais, se Guedes estivesse certo e dadas as informações sobre pesquisa, seria o caso de sugerir o aumento do consumo de maconha nas instituições universitárias privadas?

Por Reinaldo Azevedo

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