quarta-feira, 14 de abril de 2021

CPI eleva custo político de Bolsonaro e empurra mortos para dentro de 2022


O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), durante a sessão de abertura da CPI da Covid
Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Diante da conversão da CPI da Covid em realidade, Bolsonaro e seus operadores políticos trabalham em duas direções: a primeira é a diversificação de responsabilidades. O governo se esforça para arrastar estados e municípios para dentro do problema em que se meteu a União. A segunda linha da estratégia do Planalto é a protelação. Tenta-se empurrar a investigação da CPI com a barriga. A estratégia do governo embute dois equívocos políticos.

Eis o primeiro erro: é inevitável e necessário que governadores e prefeitos sejam convertidos em parte do problema sempre que a apuração esbarrar em repasses de verbas federais eventualmente mal aplicadas. Mas é uma ilusão imaginar que a responsabilidade de Bolsonaro será diluída. No regime presidencialista, o rosto do presidente é a face da crise. A encrenca sanitária pedia uma imagem de tranquilidade que se revelou incompatível com a personalidade de Bolsonaro.

Eis o segundo erro: toda crise tem um custo. Uma crise com as dimensões da tragédia sanitária que assola o Brasil terá um custo ainda maior. Todo governante precisa saber que parte do custo da crise será debitado na sua conta. Desde o início da pandemia, Bolsonaro convive com a ilusão de que conseguirá terceirizar todas as culpas. Quando o presidente não consegue dimensionar o preço que está disposto a pagar, ele acaba elevando o tamanho do prejuízo político.

De resto, o esforço do governo para retardar o trabalho da CPI produz risco adicional: Ou Bolsonaro tem uma estratégia fabulosa capaz de causar inveja aos mais talentosos estrategistas ou o presidente está numa tática politicamente suicida. O prazo de funcionamento da CPI é de 90 dias, prorrogáveis por igual período. Acionando a barriga, o capitão encosta a investigação no calendário eleitoral. E empurra o debate sobre a responsabilidade pelo elevado número de mortos por covid para dentro da sucessão presidencial de 2022.

Por Josias de Souza

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