Bandeira de partido neonazista da Ucrânia na manifestação de bolsonaristas em São Paulo; no canto superior esquerdo, Sara Winter quando cortava o pênis de boneco de Bolsonaro; abaixo dela, Cara Zambelli, também do "Femen". Agora, são mulheres de família. Da família Bolsonaro |
Negar os apelos dos grupos bolsonaristas mais radicais ao nazismo, ao fascismo e derivados de extrema direita corresponde a ignorar o óbvio. Na manifestação em São Paulo, pessoas portavam duas bandeiras que faziam referência à Ucrânia: uma delas trazia as cores do país, azul e amarelo, com o brasão, e outra, em vermelho e preto, era uma homenagem ao partido Pravyi Sektor, que é uma milícia armada, de inspiração neonazista .
No dia 20 de abril, Sara Winter, a tal líder do Acampamento dos 300, escreveu no Twitter: "Fui treinada na Ucrânia e digo: chegou a hora de ucranizar!" Ex-prostituta, foi, de fato, a Kiev, capital daquele país, para receber lições do grupo feminista "Femen", que ajudou a trazer ao Brasil. A também bolsonarista Carla Zambelli, deputada federal, pertenceu à turma, o que ela nega, embora fotos digam o contrário.
Do "sextremismo", o feminismo extremista, Sara Fernanda Giromini se tornou uma bolsonarista roxa. Em 2014, num protesto em Copacabana, ela participou de uma performance, com os seios à mostra, em que, ao lado de uma colega, cortava o pênis de um boneco que representava o então deputado federal Jair Bolsonaro. Tudo ficou para trás. Ela agora é "de família".
O que é "ucranizar" num primeiro momento? Corresponde a seguir as lições de Olavo de Carvalho. Num vídeo, a ex-prostituta e ex-feminista convertida à "bolsucrazanização" explica como devem ser tratadas as autoridades do Congresso e do Supremo:
"Eu consigo deixar esses caras com vergonha, eu consigo desestabilizá-los emocionalmente. E eu consigo, principalmente, mostrar para a imprensa que está cobrindo (...) que o povo já não os reconhece mais como autoridades. Quando eu consigo desmoralizá-los diante do próprio povo, é o primeiro passo para quebrar o poder que eles têm: a quebra da autoridade. Então, gente, o que eu estou ensinando? Táticas de guerra não violenta. Eu não sei nada sobre guerra. Mas eu sei muito de guerra não violenta. É o que eu estou fazendo. Primeiro passo: desmoralizá-los com atos, com palavras. O primeiro passo é você humilhá-los, ridicularizá-los. Para que a gente possa tirar a autoridade dessas pessoas e mostrar que o povo está reagindo".
Isso, obviamente, não é Sara Winter. É Olavo de Carvalho. "Ah, para que dar tanta atenção a essa moça, uma espécie de rascunho da cópia de Joice Hasselmann, de quem tenta roubar até a entonação da fala e as pausas dramáticas?" Porque gente assim, que tem um passado a perder e um eventual futuro a ganhar, mostra-se disposta a tudo. Não é uma comparação, claro!, mas um alerta sobre o risco de desprezar a mediocridade violenta. Hitler só se mudou da Áustria para a Alemanha aos 24 anos. Aos 34, já tinha tentando dar um golpe de Estado. Antes de completar 44, o pintor frustrado e provável ex-prostituto masculino, com sugestões de que pudesse ser pedófilo (by "A Mente de Adolf Hitler", de Walter C. Langer) —, se tornou chanceler da Alemanha.
Se as instituições se deixam desmoralizar, esses tipos avançam.
O grupo de Sara Winter, que parece dar de ombros para o fato de que está sendo investigada, organizou um protesto em frente ao Supremo no sábado. Não havia 300 lá. Quando muito, 30. Todos com tochas acesas, ao som de uma música que convocava as forças do caos. Era a mímica da Ku Klux Klan. Ela mesma já admitiu que o seu acampamento comporta pessoas armadas.
Essas aberrações poderiam estar em curso, vá lá, mas sem conexão com o poder.
Mas está! O presidente sobrevoou a Praça dos Três Poderes, em companhia do ministro da Defesa, em helicóptero escancaradamente militar, para saudar os seus bambas. André Mendonça, ministro da Justiça, cometeu o despropósito de entrar com um habeas corpus para impedir que bolsonaristas, incluindo Sara, com uma extensa ficha de crimes prestados contra o Supremo e contra a democracia, sejam investigados.
Não me venham com a conversa mole de que não existe nazista sem nazismo nem fascista sem fascismo. Tentem surpreender um tantinho a inteligência alheia. Existem os valores do nazismo e os valores do fascismo. Estão no discurso e na prática de grupos bolsonaristas, incluindo o presidente da República. Mundo afora, tentam milicianizar a democracia e destruir os fundamentos do próprio regime.
O Brasil é a prova de que estupidez não deve ser subestimada.
Por Reinaldo Azevedo
Um comentário:
Ontem, Bolsonaro fez um passeio a cavalo e disse, "Estarei onde o povo estiver". Já estaria se preparando para dar um novo grito da independência? Populismo à la Simon Bolívar de dar vergonha até no corno amigo do Varti.
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