Resumir o atual governo talvez não venha a ser difícil para historiadores. Há 20 meses a prioridade de Jair Bolsonaro tem sido a mesma de três décadas na política, proteger a parentela, nutrida no orçamento público. “Defendemos a família”, escreveu no domingo 7 de outubro de 2018, no epílogo da primeira etapa da campanha. “Tratamos criminosos como tais e não nos envolvemos em esquemas de corrupção.”
Lá se foram 80 semanas e o presidente continua refém da agenda que aprisionava o candidato.
Ela começa no uso do erário para acolher parentes e amigos. Vício antigo. Nos últimos 28 anos, ele e seus filhos parlamentares abrigaram mais de uma centena de pessoas com parentesco ou relação familiar.
Somaram a afinidade com lobbies de armas e de cassinos, neste caso refletindo a disputa entre grupos americanos, como o de Sheldon Adelson, e asiáticos, como o Shun Tak. Na campanha Bolsonaro se reuniu com Adelson, financiador do Partido Republicano. Entrou no hotel pela cozinha.
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Até agora, o governo só conseguiu acenar ao país sob pandemia com um futuro baseado na abertura de cassinos e no comércio de armas, com isenção de rastreamento.
A retrospectiva mostra o presidente concentrado na guarida ao filho senador e ao antigo companheiro paraquedista, Fabricio Queiroz, hoje em Bangu-8. Vínculos a Queiroz e ao falecido capitão do Bope, Adriano da Nóbrega, levaram o clã Bolsonaro a introduzir o submundo das milícias na rotina do Planalto e do Congresso.
As iniciativas presidenciais desses 20 meses foram balizadas pela proteção à parentela e amigos. Daí o repentino silêncio sobre o fim da prisão para condenados em segunda instância, a remoção do Coaf da Justiça, os acordos para bloqueio da CPI da Lava Toga, o rompimento com o governador Wilson Witzel e a crise da demissão do ex-ministro Sergio Moro.
Na raiz está uma peculiar visão de Estado, sintetizada pelo filho Flavio numa homenagem a milicianos: “Não podemos generalizar, dizendo que esses policiais, que estão tomando conta de algumas comunidades, estão vindo para o lado do mal. Não estão.”
Por José Casado
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