segunda-feira, 29 de junho de 2020

Datafolha sepulta ilusões autoritárias de Bolsonaro e pijamas verde-oliva




Jair Bolsonaro, alguns malucos de pijama verde-oliva que pensavam ser ainda uma farda e o crime organizado nas redes sociais acharam que seriam fácil assaltar a democracia brasileira e lhe impor uma ditadura na prática, ainda que simulando mecanismos de tomada de decisão formalmente democráticos. Não foi, não será e não vai acontecer.

Ao contrário: não só a democracia que temos vai sobreviver como se começa a formar — e, tudo indica, ainda será a opinião majoritária — a consciência de que não poderemos mesmo voltar ao antigo normal. O país não pode mais conviver com as iniquidades que se escondiam sob o manto da paz social.

Pesquisa Datafolha publicada no domingo pela Folha traz números eloquentes. E, em certa medida, o professor Bolsonaro tem a ver com resultado tão expressivo: ele deixou claro a milhões de brasileiros como um presidente não deve se comportar, qual é o caminho a não ser seguido, quais escolhas não devem ser feitas, tudo o que não funciona na política. O presidente da República, note-se, vocaliza teses e valores que são rejeitados até por pessoas que aprovam seu governo.

- Para 75%, a democracia é sempre melhor do que qualquer outra forma de governo. É o mais alto índice desde 1989, quando o Datafolha começou a fazer essa pergunta. Só 10% afirmam que, em certas circunstâncias, a ditadura é melhor: é o número mais baixo da série histórica. Para 12%, tanto faz — também o menor número apurado. A pesquisa Datafolha foi feita com 2.016 brasileiros adultos com telefone celular em todos os estados do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A coleta de dados aconteceu nos dias 23 e 24 deste mês.

Vamos lembrar outros números.

- Os brasileiros veem como ameaça à democracia os atos de apoiadores do presidente pedindo o fechamento do Congresso (68% a 29%), as manifestações nas redes sociais com esse conteúdo (66% a 31%) e a divulgação de fake news envolvendo o Supremo e políticos (81% a 17%)

- Para 84%, movimentos sociais precisam respeitar a lei e a ordem; só 14% pensam o contrário.

- Discordam totalmente da afirmação de que o governo deveria ter o direito de fechar o Congresso 59% e discordam em parte 20%. Concordam totalmente com a tese apenas 11%, e 7%, parcialmente.

- Rejeitam totalmente que o governo tivesse o direito de fechar o Supremo 56% — 18%, em parte. Inexpressivos 14% concordam totalmente com essa estupidez; 7%, só parcialmente.

- Discordam totalmente da assertiva de que o governo deveria ter o direito de prender pessoas sem ordem judicial 49% — 20%, em parte. Concordam totalmente com tal violência apenas 17% — 11%, só em parte.

- Nada menos de 65% afirmam que os direitos humanos devem valer para todos, inclusive para criminosos; só 35% lhes negariam essa proteção.

- Não! O governo não deve ter o direito de proibir greve para 55%; 18% discordam parcialmente da proibição. Só 14% concordariam totalmente com tal poder — 10%, em parte.

- Diante da afirmação de que o governo deveria ter o direito de torturar suspeitos para obter uma confissão, a rejeição absoluta é de 73% — em parte, de 13%. Concordam totalmente com a violência inominável míseros 7% — em parte, 5%.

- Mesmo diante da afirmação de que a tortura pode ser praticada se for a única forma de arrancar uma confissão, a rejeição é de 79% — contra apenas 17% que a acatam.

- Opõem-se totalmente à afirmação de que o governo deveria poder censurar os meios de comunicação 64% — 16% em parte. Aceitam totalmente a ideia 10% — 8% em parte.

Como se nota, o bolsonarismo está tomando uma sova que se pode dizer histórica da opinião pública. Depois de um ano e meio de pregação obscurantista e de ataques cotidianos do presidente à institucionalidade, o apreço da população pela democracia cresceu. Também aumentou, em vários requisitos, a adesão a valores próprios aos regimes democráticos.

Não custa lembrar que, mais de uma vez, Bolsonaro afirmou que as Forças Armadas fariam aquilo que o povo desejasse. Ele e outros insanos imaginavam que a pregação golpista seduziria amplas maiorias e que o autogolpe acabaria se impondo como vontade popular.

Deu precisamente o contrário. Seria o caso de dizer ao presidente: "Escute aqui, meu chapa! Quebrou a cara. O que quer que aconteça ao país e a você e filhos se dará dentro da democracia. E será ela a resposta.

O presidente não faz pregação golpista nem ataca a democracia desde o dia 18 deste mês, quando Fabrício Queiroz foi preso. Vamos ver se ele consegue atravessar mais esta segunda sem cair no vício. Será o 12º dia de sua conversão forçada pela prisão do primeiro-amigo. Como se pode perceber, inexiste povo para a sua ladainha golpista.

Por Reinaldo Azevedo

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