segunda-feira, 8 de junho de 2020

Bolsonaro vira cultor do terraplanismo estatístico



Jair Bolsonaro não é mais imprevisível. Tornou-se um presidente tristemente previsível. A tentativa de ajeitar a pilha de cadáveres do coronavírus não é a primeira pedalada estatística de Bolsonaro. Sempre que um dado oficial traz alguma verdade incômoda, Bolsonaro age para demonstrar que, no seu governo, a única coisa que as estatísticas provam é que as estatísticas não provam nada. Hoje, a atribuição que restou ao Ministério da Saúde na pandemia é compilar o número de mortos. E o governo conseguiu avacalhar essa derradeira tarefa. 

Em abril do ano passado, Bolsonaro questionou a metodologia adotada pelo IBGE para medir a taxa de desemprego. "É uma coisa que não mede a realidade. Parecem índices que são feitos para enganar a população." No final de julho de 2019, o presidente questionou os dados do INPE sobre o desmatamento. Disse que, se fossem verdadeiros, a floresta amazônica "já teria se extinguido." Acusou o então chefe do INPE, o cientista Ricardo Galvão, de estar "a serviço de alguma ONG."

Agora, Bolsonaro brinca de esconde-esconde com os mortos do coronavírus. O Brasil se encaminha para a marca dos 40 mil corpos. Essa estatística não combina com a fantasia da "gripezinha". O presidente prefere que o Ministério da Saúde oculte a soma. Não quer tantos corpos nas planilhas oficiais. O problema é que os defuntos estão aí. Nada está tão aí como essa pilha de corpos do coronavírus. Bolsonaro solidifica sua imagem de cultor do terraplanismo estatístico sem se dar conta de que a realidade, por inacreditável, se impõe. Se há um consenso hoje no Brasil é o de que o número de mortos da pandemia está subestimado, porque o país realiza poucos testes.

Em vez de bater continência para a ordem de ajeitar as estatísticas, o general Eduardo Pazuello, ministro interino da Saúde, deveria ter apresentado a Bolsonaro uma dúvida de Garrincha: "O senhor combinou tudo isso com os russos?" Até agora, Bolsonaro não conseguiu fazer com que "os russos" se comportassem como antevia o técnico Vicente Feola. O presidente esquece que numa pandemia, como numa partida de futebol, a coisa se complica pela presença em campo do time adversário. Na crise sanitária, o adversário é invisível, avança em todas as frentes e ganha de goleada. O pior que um governante pode fazer em relação à verdade é virar as costas. Bolsonaro faz isso desde o início da pandemia. Transforma seu negacionismo num processo de desmoralização internacional do Brasil.

Por Josias de Souza

Um comentário:

Anônimo disse...

*Na Terra dos Pedrobós*
Em números redondos, resumindo o grande problema do Mito: a) ele tem 762 inimigos reais e que não o assustam nem um pouco; b) o que está levando o Mito à loucura são os 7.620.533.666 inimigos imaginários que ele tem no planeta Terra. Qual a melhor solução para aliviar os sofrimentos mentais do Mito?