sexta-feira, 26 de junho de 2020

Isolando-se do filho, capitão evita Queiroz-vírus




A prisão de Fabrício Queiroz transformou Jair Bolsonaro em adepto do isolamento social. O presidente distanciou-se do próprio filho. Decorridos oito dias, não pronunciou em público uma mísera palavra de solidariedade a Flávio Bolsonaro. Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira revela que, por enquanto, a estratégia funcionou. O Queiroz-vírus ainda não infectou a imagem de Bolsonaro a ponto de enviar sua Presidência para um respirador.

A quantidade de pessoas que não acreditam no envolvimento de Bolsonaro no caso da rachadinha (46%) é superior ao número de eleitores que apostam que o presidente é cúmplice do primogênito (38%). Entre os que se declaram bolsonaristas, a confiança na isenção do presidente é quase absoluta. Oito em cada dez devotos de Bolsonaro declaram acreditar na inocência do mito.

Foi grande o interesse dos brasileiros pela transferência de Queiroz do cafofo mantido em Atibaia por Frederick Wasseff, ex-advogado dos Bolsonaro, para uma cela no Rio de Janeiro. Disseram ter tomado conhecimento da prisão 75% dos entrevistados. Desse total, 64% acham que Bolsonaro sabia do paradeiro de Queiroz. O próprio presidente falou sobre o tema numa live transmitida na semana passada. Associou a presença do amigo em Atibaia a um tratamento contra o câncer.

A despeito de tudo, a popularidade de Bolsonaro se manteve estável. Sua taxa de aprovação, que era de 33% no final de maio, escorregou para 32%. A reprovação oscilou de 43% para 44%. Bolsonaro vai se consolidando como o presidente de um terço dos brasileiros.

Os dados reforçam a impressão de que a blindagem anti-Queiroz, montada por Bolsonaro de improviso, surtiu efeitos. Além de tomar distância do próprio filho, o presidente exibe um comportamento inusual. Já não dá a mesma atenção ao cercadinho do Alvorada. Ergue a bandeira branca para o Legislativo e o Supremo.

Na live desta quinta-feira, após anunciar a prorrogação do pagamento do vale corona por mais três meses —"R$ 500, R$ 400 e R$ 300"— Bolsonaro pediu a um sanfoneiro que tocasse "Ave Maria" em homenagem aos mortos do coronavírus. Mais um pouco e acaba virando um ex-Bolsonaro.

Por Josias de Souza

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